Eles prenderam as mãos de Stefan para atrás e o sentaram em uma cadeira de metal.
A sala estava completamente escura, iluminada apenas por uma velha lâmpada que pendia meio solta no teto, balançando de um lado para o outro, fazendo as sombras dançarem.
Do outro lado da porta vermelha de metal, dava para ouvir eles conversarem; ele não sabia o que estavam dizendo, mas reconheceu as vozes dos seus professores.
Stefan nunca imaginou que chegaria a esse ponto.
Depois da sua primeira vitória, houveram vários escândalos. Os professores tinham até mesmo rodado programas especiais e chamado técnicos especializados para descobrir se houve algum tipo de adulteração nos sistemas dos robôs. Tinha até mesmo aqueles que diziam que teriam de refazer a primeira luta, mas o tenente-coronel proibiu.
Stefan pensou que o pior tinha passado, e que as suas vitórias seguintes no torneio haviam deixado claro que ele venceu por habilidade. Mas não foi o que aconteceu. Ameaças de morte, ataques, e todo o tipo de agressões; tanto competidores, quanto seus familiares e fãs começaram a vir atrás dele. Mas depois que os guardas da academia executaram o irmão mais velho de um dos alunos, que tinha esfaqueado Stefan no terceiro dia do torneio, as ameaças pararam.
Era um crime sério tentar assassinar um oficial militar e, por mais que eles odiassem admitir, ele era um. Mesmo que ainda não tenha se formado.
O diretor passou pela porta; um homem grisalho, bem para lá dos seus sessenta anos, mas tão alto e musculoso como um homem com metade da sua idade. Ele se sentou em uma cadeira na frente de Stefan e mais cinco professores vieram atrás dele, se espalhando pela sala como cães de caça ao redor da sua presa.
— Como você está fazendo isso? — o diretor perguntou.
— O quê?
Stefan só viu o tapa quando seu rosto virou para o lado abruptamente. Sua bochecha começou a arder onde o diretor o esbofeteou, e ele ficou confuso por um instante, mas logo entendeu.
"Então é assim que vai ser. Eles acham que eu roubei."
Ele virou o rosto, voltando a olhar nos olhos do diretor, e se esforçou para manter a calma. Não iria deixar sua fraqueza transparecer. Por algum motivo, isso pareceu irritar o diretor.
— Vou perguntar de novo. Como você venceu as suas lutas?
— Eu só venci.
Outro tapa, dessa vez na outra bochecha.
— Acha que isso é uma piada? Eu quero saber o que você está fazendo. Não tem como um merda que nem você derrotar sete dos nossos melhores alunos.
"Talvez eu seja melhor do que eles", era o que ele queria dizer. Mas o diretor já parecia muito irritado e ele ainda não tinha enlouquecido. Ao invés disso, se manteve em silêncio.
— Não toleramos trapaceiros nessa academia. Que truque sujo você está usando?
— Eu não estou usando truque nenhum.
— Mentira!
— …
— Eu vi as suas notas. Você é um aluno mediano, na melhor das hipóteses. Você nunca se destacou em nada. Só entrou nessa academia por causa do sistema de cotas para refugiados. Não tem como você vencer um piloto de verdade. Então como você fez isso?
— Eu não sei. Eu só venci. Eles não eram tão bons assim.
O diretor levantou da cadeira com o rosto vermelho de raiva.
— Você vai me contar como fez isso!
E então veio. O que Stefan estava esperando. O diretor fechou a mão em um punho e o soco foi direto no seu nariz, fazendo ele cair para trás e bater a cabeça no chão, mas o pior foi o peso do seu corpo machucando as mãos algemadas nas suas costas. Ele se virou para o lado.
— Eu não trapaceei…
Ele sentiu a bota de couro dura do diretor acertar as suas costelas com força, e perdeu o fôlego por um instante, respirando com dificuldade.
Mais chutes vieram, e Stefan ouviu as vozes dos professores ao seu redor. Não tinha certeza do que diziam, mas pareciam bem satisfeitos com a situação.
Essa hostilidade não era normal, pelo menos não com a maioria dos alunos. A Federação tinha sua própria elite social; uma ditadura partidária com o Movimento Integridade no topo. Sempre prontos para aprovar leis e decretos em favor dos párias, desde que eles se mantivessem tão longe quanto possível.
Para eles, pessoas como o Stefan, um refugiado vindo na orla exterior, a parte mais pobre de toda a Federação, sua presença era um insulto.
— Veja, nós somos muito legais, não é? Estamos permitindo que você pise no nosso planeta. Seja grato. Nos adore. Se não, nós mandamos você de volta pro lugar de onde veio — era isso o que todos eles pareciam querer dizer.
Para eles, a vitória de Stefan no torneio não era nada diferente de um crime. Uma afronta contra eles. Um desafio. Rebeldia.
Ele já estava acostumado.
Quando o diretor terminou, Stefan mal sentia seu corpo. Ele olhou para o chão e viu que estava sangrando, mas não sabia como.
— Ele não vai falar.
— Vamos só tirar ele do torneio.
— Agora não dá mais, o coronel quer ver ele lutar.
— Merda. A gente não devia ter deixado ele participar do torneio.
— Mas e então? O que a gente vai fazer? Tá na cara que ele vai trapacear de novo. Por isso eu odeio essa gente.
— Tá tudo bem, eu vou checar o robô dele antes da luta. Não vou deixar passar nada.
— É bom mesmo, se esse moleque vencer amanhã, isso vai manchar pra sempre a reputação da nossa escola.
— Isso não vai acontecer.
— E o que a gente faz com ele? A próxima luta é em algumas horas.
— Limpem ele, troquem as roupas e mandem de volta pro seu quarto. Não deixe ninguém ver ele assim.
— Sim, senhor.