O estádio era uma enorme estrutura circular, com o topo aberto para o céu da manhã, e capacidade para oitenta mil pessoas.
As arquibancadas já estavam ocupadas. Não era nenhuma surpresa. Não eram apenas estudantes e familiares, haviam muitas pessoas importantes que vinham para assistir o torneio; oficiais vindos de outras unidades em busca de jovens talentos, empresários atrás de mercenários e pessoas que usavam o torneio para fazer política.
Para o espetáculo de abertura, o diretor contratou uma banda de garotas famosas vindas de algum planeta na região segura da Federação, onde a guerra não existia.
Stefan estava em uma sala própria, esperando a sua primeira batalha enquanto revisava táticas. Não tinha conseguido treinar nos simuladores, já que os outros candidatos tinham monopolizado o seu uso, então isso era tudo que ele podia fazer.
"Nesse ritmo eu vou acabar enferrujando", ele pensou, com as mãos tremendo enquanto segurava a sua prancheta digital.
Mas tinha uma pessoa que não estava nem um pouco preocupada ou ansiosa.
Chloe estava sentada na sua frente, apoiando o queixo nas mãos, enquanto bebia um milkshake com canudinho, com aqueles olhos verdes que brilhavam enquanto ela sorria para ele. Ela tinha estado muito feliz ultimamente.
— O que foi? — ele perguntou.
— Eu ainda não acredito que você fez mesmo isso.
— Eu disse que ia fazer, não é?
Ela não respondeu, só continuou sorrindo.
Ele olhou para a TV que havia na sala, e viu que as garotas tinham terminado de cantar e dançar. Estava na hora. A primeira batalha seria a sua, então ele se levantou da mesa e sentiu as suas pernas tremerem.
Ele respirou fundo e virou para a Chloe.
— Eu tô indo.
Ela se levantou rapidamente e deu um beijo na sua bochecha.
— Eu te dou outro quando você vencer.
Um professor abriu a porta, avisando que ele era o próximo, então Stefan o seguiu pelo corredor, até chegarem ao hangar onde estava seu robô.
Como era só um torneio, aquele era apenas um robô de treino, com pouco mais de dez metros de altura, mas era uma réplica perfeita dos modelos atualizados que os pilotos da Federação usavam em combate.
O professor ajudou Stefan a entrar na cabine que ficava no peito do robô. Os cabos conectando o robô aos aparelhos se desprenderam enquanto ele começava ligar os equipamentos, tendo cuidado para checar o funcionamento dos seus controles. Mas as suas mãos estavam tremendo tanto que foi um pouco difícil e ele acabou fazendo o robô se mover antes da hora, assustando os mecânicos que ajustavam as últimas coisas.
"Se acalma. É só um duelo. Você já fez isso um milhão de vezes." Ele respirou fundo e contou até dez, mas não se acalmou. Seu coração ainda estava batendo muito rápido e ele suava em seco. Se fizesse feio ali, na frente dos oficiais, ele nunca entraria para os Cavaleiros Negros. Não importa o quê, ele tinha que vencer pelo menos essa sua primeira batalha.
— Pronto? — o professor perguntou pelo rádio.
— Pronto.
As portas do hangar se abriram, iluminando o lugar por completo.
Stefan levou o seu robô para a frente, mas pisou fundo demais no acelerador e avançou rápido demais. Quando saiu, já estava no meio da arena e as portas blindadas do hangar se fecharam atrás dele.
A multidão comemorou, enquanto ele ia para o centro. Ele imaginou que eles não soubessem que era ele no robô, ou talvez estivessem apenas aplaudindo seu adversário, não ele. De qualquer forma, aquilo o deixou ansioso.
Alguns torcedores mais animados até montaram um hino para o seu adversário, mas Stefan não tinha ideia do que estavam dizendo, o robô abafava praticamente todos os ruídos externos.
Quando chegou ao centro da arena, ele viu o seu adversário. Ou melhor, o seu robô. Ao contrário do robô dele, que era azul, o do seu oponente era vermelho, provavelmente para ficar mais fácil os espectadores identificarem quem era quem.
Ele pegou o cabo da sua espada de energia e o ativou, fazendo uma lâmina feita de luz azul surgir, com mais de sete metros de comprimento. O seu adversário fez o mesmo.
— Com medo, vira-lata? — a voz daquele que devia ser o seu adversário invadiu o rádio do seu robô. — Não se preocupe, vai acabar rápido.
Stefan o ignorou. Um apito soou. Os seus joelhos tremeram, roçando nos pedais. O segundo apito soou. Sua respiração ficou pesada e a garganta seca, enquanto seu adversário assumiu posição de combate, mas ele estava tenso demais para fazer o mesmo. O terceiro apito soou. O seu pé se moveu por instinto e ele pisou fundo no acelerador.
Antes que percebesse o que estava fazendo, ele já estava cara-a-cara com seu oponente, vendo a lâmina de energia vermelha dele vindo na direção da sua cabine.
Os braços de Stefan se moveram sozinhos e ele puxou as alavancas, pressionou os botões e seus pés trocaram de pedais em um instante.
O seu robô soltou gás quando ele usou os seus propulsores laterais, criando uma cortina de poeira que cobriu ambos. Seu robô desviou para o lado, enquanto seu adversário passava direto por ele.
Stefan esqueceu de ligar os equipamentos de análise do robô, mas conseguia ver muito bem a trajetória pela tela. Ele girou as alavancas e seu robô girou com a lâmina, atravessando o robô do seu oponente ao meio; do ombro direito até a lateral esquerda do estômago.
A lâmina era feita de energia, então não machucou o piloto, mas o golpe foi marcado, desativando a área atingida e o robô do seu oponente caiu no chão, imóvel.
O estádio caiu em silêncio.
"M-merda… Será que eu fiz uma falta? Droga. Droga. Droga. Droga."
Ele começou a olhar ao seu redor, atrás de uma resposta. A multidão estava em silêncio. Era como se todos tivessem desaparecido do nada. Mas eles estavam lá. Só não falavam nada.
Finalmente, uma voz surgiu no seu rádio:
— O-o vencedor da primeira batalha do torneio é… Stefan Köhler…
Não houve comemoração. Algumas pessoas até aplaudiram, enquanto Stefan voltava para o hangar, mas pararam quando perceberam que mais ninguém estava aplaudindo.
Stefan estacionou o seu robô de volta no hangar e passou pelo próximo competidor que iria usar o seu robô; uma garota loira que o olhou de boca aberta, sem conseguir dizer nada. Ele passou por ela e a sentiu segui-lo com os olhos.
— Você conseguiu — a Chloe gritou e pulou nos seus braços quando ele voltou para a sua sala. — E você tava aí todo nervoso. Aquilo deve ter sido um novo recorde ou algo do tipo.
Ela não parava de sorrir.
Foi só quando ele olhou os apresentadores que comentavam a respeito da reprise da sua luta, que a ficha caiu.
— Eu venci.
Na TV parecia tão rápido. Tão fácil. Ele virou para o lado e cortou o seu adversário ao meio. Fim da luta. Não tinha durado nem cinco segundos.
— Eu venci. — Ele sorriu e abraçou a Chloe com força. — Eu venci.
Ainda lendo a minha obra? Muito obrigado. Vou fazer o meu melhor para garantir que a qualidade só aumente.