Tudo relacionado aos Dorminhocos estava localizado no mesmo prédio. Ariandel seguiu as instruções enviadas ao seu comunicador e rapidamente encontrou os dormitórios, situados em um dos níveis mais baixos.
Em seu quarto, havia uma cama com um colchão macio, uma mesa, uma cômoda e um banheiro separado.
Os móveis eram novos e esteticamente agradáveis; o ar, limpo e estéril.
A temperatura estava agradável, e a parede externa possuía uma tela oculta que imitava perfeitamente uma janela ampla, com vista para um parque coberto de neve.
Vários conjuntos de roupas com o emblema da Academia, fornecidos gratuitamente, também estavam disponíveis.
'Que agradável', pensou comovido.
Racionalmente, ele não via nada de extraordinário; essa era uma qualidade de vida que ele já conhecia, mesmo em suas circunstâncias humildes. No entanto, para seu coração — que, mesmo sem memórias, ainda carregava sentimentos de alguém que um dia vagou pelas periferias deste mundo —, aquele quarto era um luxo.
Ele levou a mão ao peito, sentindo o tremor que percorria seu corpo.
Ariandel suspirou, os olhos umedecidos.
"Acho que, antes do meu despertar, eu sonhava com uma vida melhor, longe da periferia..."
Ele olhou ao redor do quarto, então sorriu e soltou uma risada gentil, quase nostálgica.
"Parece que estamos subindo na vida, certo, Sem Nome?" falou, como se dirigisse ao seu antigo eu — aquele que, na realidade, nunca deixou a delegacia onde enfrentou seu Pesadelo.
— AhaHaha!
Riu mais, mas não era apenas devido à animação; era um lembrete de que precisava viver pelas duas vidas que já perdera.
Aos poucos, o som foi se dissipando, e ele forçou a si mesmo a voltar ao presente, deixando seus pensamentos dispersos retornarem ao aqui e agora.
Ele manifestou suas roupas sobre o corpo e se observou no espelho, tendo dificuldade em acreditar que agora possuía uma beleza digna de um conto de fadas.
Todo o conceito que o envolvia parecia onírico e fantasioso.
Cabelos, sobrancelhas e cílios de uma brancura irreal. Pele limpa, luminosa e sem manchas. Proporções esbeltas e traços que harmonizam suavidade e firmeza.
Seus olhos, como dois caleidoscópios iridescentes, emitiam uma estranha emotividade, apesar de não terem pupilas.
Com um último olhar satisfeito, Ariandel decidiu conferir suas Memórias.
Runas:
Memória: [Arco da Maturidade de Ariandel].
Classificação da Memória: Dormente.
Nível da Memória: I.
Tipo da Memória: Arma.
Descrição da Memória: [Um arco longo simples, forjado com sabedoria, que representa transformação.]
Encantamentos da Memória: [Arco Infinito].
[Arco Infinito].
Descrição do Encantamento: [O arco cria projéteis de energia pura, sem necessidade de flechas físicas, utilizando a essência da alma do portador.]
Ariandel ainda não sabia como o seu Nome Verdadeiro havia aparecido ali.
'Bem, o arco é incrível; é uma arma que não precisa de flechas, e o encantamento é passivo.'
Ele recebeu essa Memória em algum momento entre sair do casulo de seda preta e enfrentar aquela amálgama de vermes.
'Certamente, não havia matado aquela coisa com os dentes, e a Tecelã estava pendurada no teto... certo?'
"..."
'Lembranças nebulosas... melhor não pensar muito nisso.'
O que conseguia lembrar, o fazia estremecer.
Próxima:
[Sonho do Coração Profundo].
Classificação da Memória: Desperta.
Nível da Memória: VI.
Tipo de Memória: Armadura.
Descrição da Memória: [Uma túnica simples, sandálias de couro e uma capa leve. Sua aparência discreta permite que o portador passe despercebido, como uma sombra entre outras sombras.]
Encantamentos da Memória: [Refúgio do Coração], [Seda dos Sonhos], [Véu Nebuloso].
[Refúgio do Coração].
Descrição do Encantamento: [Esta Memória concede ao portador uma proteção moderada contra ataques mentais.]
[Seda dos Sonhos].
Descrição do Encantamento: [Esta Memória é durável, resistente aos elementos e reconfortante como um doce sonho.]
[Véu Nebuloso].
Descrição do Encantamento: [Esta Memória envolve o portador em uma aura sutil, reduzindo sua presença e visibilidade, tornando-o discreto e difícil de se rastrear.]
O Peregrino invocou a armadura.
Finos fios de várias cores surgiram ao redor de seu corpo e o envolveram em uma veste de tecido claro e macio, sem adornos: uma túnica simples, com sandálias de couro e uma capa de cor branca-acinzentada.
Era confortável, e Ariandel gostou muito.
Era quase exatamente a mesma túnica de Cássia, dada por Nephis.
'Eu desafiei o mesmo Pesadelo que Nephis, matei o mesmo Terror e tenho a mesma armadura... Como isso funciona?'
Aliás, eram uma combinação perfeita com sua invisibilidade.
Uma armadura desperta sozinha não seria suficiente para protegê-lo na Costa Esquecida, mas com o arco e suas habilidades, ele não poderia pedir um conjunto mais adequado para um iniciante.
'E não se esqueça de que você já é um monstro. E ainda há o potencial inexplorado do seu Legado — manifestações de objetos e forças imaginárias, além da habilidade advinda da separação de seus núcleos.'
'Tenho certeza de que existe o potencial para queimar alguém com algumas ilusões flamejantes. Afinal, se posso imaginar uma xícara de café quente, mesmo que efêmera, por que não fazer o mesmo com chamas?'
"Sim, realmente me sinto bem-vindo a este mundo."
Já muito bem-humorado, Ariandel dispensou a Memória e deixou seu quarto, dirigindo-se à cafeteria.
***
O jantar foi tão generoso quanto o dormitório.
O desejo de Ariandel de experimentar os doces deste mundo finalmente se realizou: além de estarem disponíveis gratuitamente para os Dorminhocos, não havia limite de quantidade! Havia também carne, arroz, pão, acompanhamentos variados, molhos, legumes frescos, frutas e bebidas deliciosas.
Não que estivesse com fome. Percebera há algum tempo que não sentia fome e provavelmente não precisava se preocupar em comer ou beber.
'Excelente!' regozijou Ariandel, indo direto para o café.
Após montar um pequeno arco-íris de doces em seu prato, encontrou um assento vazio e, por um tempo, esqueceu a existência do mundo. Enquanto os doces ricos — mas nada excessivos — desmanchavam-se em sua boca, sua visão cintilava com estrelas, e ele não conteve um gemido de puro prazer.
Ainda bem que ninguém podia vê-lo ou ouvi-lo; algumas meninas tropeçariam, e alguns jovens poderiam questionar a própria orientação...
Concentrou-se profundamente na experiência, memorizando cada nuance dos doces que desfrutava. Esperava poder replicá-los com sua imaginação. Para fins científicos, claro. Tudo em nome de aperfeiçoar suas habilidades, que certamente o salvariam no futuro.
'Eu posso agradecer ao Feitiço, certo? Nephis não vai me queimar se descobrir isso, vai?'
Quando terminou, já estava satisfeito e mais do que um pouco cheio. Pensou em Cássia e desejou aprofundar a amizade com ela primeiro, já que os outros dois — Sunless e Nephis — não eram os indivíduos mais sociáveis. Dificilmente conseguiria a amizade deles sem que isso se forjasse pelas provações da Costa Esquecida.
Como já era hora de sua consulta com o pessoal da Academia, ele deixou a cafeteria.
Ele não pretendia revelar todas as informações sobre suas habilidades, mas sabia que ser evasivo não o ajudaria. Se sobrevivesse, acabaria sendo conhecido por suas capacidades. Além disso, informá-los sobre seu potencial poderia desviar a atenção de seus trunfos ocultos.
E, afinal, seu Defeito exigia que ele fosse conhecido.
Em pouco tempo, encontrou-se em um pequeno escritório, sentado em frente a um trabalhador administrativo amigável, que, sem demonstrar a surpresa que teve pela aparência de Ariandel, iniciou a entrevista imediatamente.
Ele recusou o aconselhamento psicológico com modéstia polida, e a entrevista seguiu para perguntas sobre seu Aspecto.
Quando questionado sobre sua Habilidade, Ariandel respondeu com comedimento:
"Feitiçaria. Ainda não me aprofundei nas minhas capacidades, mas posso dizer que meu Aspecto tem múltiplas aplicações, tanto para combate quanto para sobrevivência."
O entrevistador continuou:
"O que você é capaz de fazer com sua Habilidade?"
"Sou capaz de criar ilusões. Também sou hábil em ocultação e exploração, conseguindo passar despercebido até mesmo por uma multidão e reduzindo consideravelmente as chances de ser pego de surpresa..."
Ao longo da conversa, a compostura do entrevistador desmoronava-se gradualmente.
"Incrível! Seu Aspecto é realmente incrível, e seus Atributos complementam bem as suas capacidades."
Para finalizar, Ariandel apresentou-se:
"Obrigado. E, aliás... 'Ariandel', é o meu Nome Verdadeiro."
O entrevistador hesitou, perdendo a linha de raciocínio após a revelação. Ariandel permaneceu modesto, mas um lampejo de diversão cintilou sob a máscara que ele mantinha.
Após a entrevista, voltou ao seu quarto, tomou um banho demorado, riu no chuveiro e foi dormir.
Percebeu que talvez não precisasse mais dormir, mas sua mente e espírito ainda apreciavam o descanso. Deitado em um colchão macio, sua pele contra lençóis limpos e um travesseiro fofo sob a cabeça, ele dormiu como um anjinho.