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90% A Representação do Deus Supremo - Apocryphal Testament / Chapter 27: Capítulo 8 - Salmos 38

Chapter 27: Capítulo 8 - Salmos 38

"Capítulo 8 - Salmos 38"

Escuridão era tudo o que ele tinha envolto.

Conseguia ouvir o som do seu sangue circulado através dos seus vasos sanguíneos. O bater do coração. Seus órgãos revirados e estranhos dentro do corpo. O rosto, sentia que nem era mais um rosto. Estava virado do avesso. Estava distante. Estava perto. Estava sublime. Estava singular. Estava deforme. Estava plano. Estava informe. Estava moído. Estava quente. Estava gelado. Estava vibrando. Estava oscilando.

Ele abriu os olhos.

— Ah...

A cabeça estava pesada e tudo o que ele fez quando soltou esse suspiro dos pulmões foi vira-la para confirmar de que estava deitado em algum lugar.

A sensação de ter acordado era como se ele tivesse saído da parte mais profunda do oceano.

A cabeça pesava e seu rosto estava estranho.

Ele elevou a palma e desliou pela face. O que sentiu não foi carne.

— Pano...?

Parecia que estava atado. Alguém o cobriu de ataduras no rosto e o deixou para repousar ali? Afinal de contas aonde ele estava?

O jovem atordoado forçou-se a sentar-se na "cama", e assim que consegue, olha para o redor.

Era um... Mercado? Farmácia?

Sua mente estava tão dolorida que ele não conseguia dizer exatamente, mas a semelhança batia.

Assim que ele terminou de recobrar os sentidos, pensou na pessoa que provavelmente deveria ter trazido ele aqui e cuidado de seus machucados.

— Yuki?

Ele não a via em lugar algum.

Era possível que ela tenha o deixado aqui e ido resolver esses assuntos pendentes com as maldições e coisas do tipo?

Pensar nisso fez um calafrio percorrer sua espinha, e essa sensação ao acabar de acordar não era nada convidativa.

Sado estava deitado em alguns panos que formaram uma cama improvisada, ou futom — chame do que quiser — em um corredor de algum mercado público. Não vendo a menina em lugar algum ele pensa se é uma boa ideia se erguer.

Não faria sentido estar em algum território hostil e rodeado de inimigos se foi tão bem tratado. Ele se apegou à lógica e julgou como sendo uma "casa de repouso".

Soou até que redundante tentar usar raciocínio lógico quando acabara de voltar dezenas de vezes no tempo. Tempo suficiente para que lá fora escurecesse.

Mas...

— Ainda é dia.

Estando de pé, ele caminhou pelo corredor e percebeu que o brilho do sol entrava pela vidraça e pela porta.

Quanto tempo ele esteve dormindo? Junto disso veio outra questão...

— Minha mão direta...

Não havia ferimentos algum ali. Sem cortes, sem cicatrizes, sem marcas. Um procedimento digno do maior médico do mundo! Como isso sequer pode ser possível?

Mais uma vez, não demorou muito para que seu cérebro ligasse com algo que Yuki faria. Sim, ela já não havia dito antes que sabia magia de cura ou algo do tipo?

Para uma garota mais do que especial como ela que era capaz de utilizar poderes sobrenaturais como se saísse de um conto de fadas, curar machucados era o mínimo dos problemas.

Mas a razão por ele estar tão incomodado com isso era...

— E o meu Faker? Ele não deveria impedir que essa ação só não funcionasse em mim? Independente se fosse benigna ou não?

Ele suspirou pesadamente.

— Ah, cara... Eu não entendo absolutamente nada sobre essa habilidade.

Yuki apontou uma teoria absurda quando viu que o Faker de Sado não pertencia ao lado da magia e não era ciência — a filosofia, dizendo ser algo semelhante ao niilismo.

Mas será que poderíamos especular a partir desse ponto?

Identificar a origem dessa capacidade dele em anular eventos paranormais com conceitos filosóficos talvez parecesse correto, visto que a filosofia existe para que possamos questionar o mundo ao nosso redor e buscar um entendimento mais profundo.

Porém, era cedo demais para começar a destrinchar isso de algum lado, afinal a situação passada foi diferente do que ele previa.

— Meu Faker só não funcionou...

Qual a razão para isso? Ele esperava obter algumas respostas ao sair por aquela porta.

O som de sino surgiu quando ele abriu a porta e deu os primeiros passos para o exterior.

— Caramba... O que aconteceu com a cidade!?

Em primeira instância entrou em pânico com a cena diante de seus olhos.

Estradas inteiras deformadas e quebradas flutuavam pelo nada. Postes, bancos... Sim, no mundo do nada.

O garoto caminhou nessa elevação que estava, feito de terra e grama e parou na ponta após dar alguns passos.

Ele inclinou a cabeça para ver o fundo e como esperado, não havia chão. Era um profundo abismo como se estivesse na atmosfera terrestre só que sem nunca alcançar o chão.

Era chocante ter essa visão. Imaginar que se caísse dali... Oque iria acontecer com ele? Iria cair infinitamente para baixo?

Enquanto ele se perguntava essas coisas, uma voz surgiu.

— Cuida pra não cair, Sado.

— Yuki, é você?

Ele se virou para o interlocutor. Ali, em frente ao mercadinho, estava uma menina de cabelos brancos sentada em um banco com os braços bem abertos.

— Eaí, tudo na boa?

Ela olhava pra ele com a visão de um único olho claro e um tapa-olho.

Vendo ela assim, Sado ficou automaticamente na defensiva.

— Você recuperou sua consciência? — foi a primeira coisa que perguntou ao vê-la.

E, fitando ele ali parado, Yuki soltou os ombros.

— Mais ou menos.

Não era bem a resposta que ele esperava mas imaginou que poderia ser um algo.

— Foi você quem me curou e me trouxe pra esse lugar?

— Sim, senta aqui. Vamos conversar.

Por algum motivo, algo na fala dela o chamou atenção. Não era nada de tão exorbitante, mas imaginava que o linguajar dela estivesse meio solto demais. Em situações comum ela falaria assim: "Sente-se aqui", não é?

— Tá parecendo eu falando.

Ele caminhou até ela. Para que fique bem contextualizado, estavam sobre uma pequena ilha flutuante. Existia apenas um mercadinho nesta ilhota. Havia outras ilhas espalhadas por esse espaço vazio também.

O jovem sentou-se ao lado dela. Yuki visivelmente menorzinha podia se esticar o quanto quisesse pelo banco.

— Diz aí. Eu sei que você quer perguntar algo. Consigo ver no seu rostinho, Sado. Mesmo que ele esteja todo abarrotado agora. Sinto muito por aquilo. Mesmo. De coração.

— Não era você ali. É perdoável. Eu te perdoo, baixinha.

Ela esticou levemente os lábios desbotados em tom de rosa bem pálido, mas seu olhar caiu um pouco.

— Sinto muito. Não fui capaz de medir as consequências... De novo. Mais uma vez...

...Culpa regia em seus olhos. Era somente culpa.

...Quando ela tomou seu corpo de volta para si, o que via era o menino que seguiu ela por todo lado e salvou ela corajosamente contra a maga que apareceu no parque em 14 de setembro.

No topo daquele terraço, Sado jazia com o rosto salpicado de sangue bem vermelho.

Olhar para seus próprios punhos brancos e ver as manchas do sangue no garoto... Yuki sentiu profunda culpa e angústia.

Quando estava na sua projeção astral em forma de alma ou espírito, Yuki não foi capaz de decernir a situação ruim.

Mas agora que tomou o corpo de volta...

Ainda com um único olho aberto, ela correu até ele e o virou gentilmente.

— ...Me perda, Sado... Eu...

Ela apertou seus olhos com extrema súplica vendo o estado do rapaz.

De quem era a culpa senão dela?

— Eu te trouxe pra cá e você se machucou...! Eu não te protegi e só te coloquei em perigo...

Ela chorou.

Gotas de lágrimas saíram de seus olhos pesadamente.

Lágrimas de felicidade era uma grande e bela emoção.

Lagrimas de dor física era horrível.

Lágrimas de humilhação ou uma sensação sentimental ruim eram perturbadoras.

Lagrimas de fraqueza e tristeza eram cheias de significado, um pedido da alma angustiada.

E lágrimas de culpa...

...Lágrimas de culpa estilhaçavam o coração em todos os sentidos.

— Me perdoe!

Passando as mãos nos cabelos dele, ela o abraçou como se fosse algo muito importante e querido.

Fungou o nariz e os lamentos saíram em forma de pesar envoltos em culpa dos olhos.

Ainda chorando, ela segurou o menino de forma que passou um braço dele ao redor do pescoço dela e saltou dali até a borda do prédio.

Estando ali, naquela altura absurda do qual o chão não era visto, ela pulou.

Pulou para bem longe.

O vento forte batendo no seu rosto enquanto ela estava em queda livre. As gotas das lágrimas voando para longe.

Yuki Sato foi para o mais longe que poderia.

A angústia seguiu ela e não foi solta com o vento.

— Aqui, querido... Você parece melhor agora.

Com um ar de uma mãe que protegia sua cria, Yuki curou Sado Yasutora com seus poderes mágicos e o atou com ataduras e faixas brancas achadas em uma das prateleiras da loja. Não era uma farmácia mas tinha também alguns remédios por ali.

Ela passou com carinho os dedos finos deslizando pelo rosto dele. Um olhar azul tingido de zelo e culpa. Muita culpa.

Deixando o garoto tapado na cama improvisada, a jovem garota deixou o mercado e olhou para a rua — o lugar que trouxe ambos.

Com um semblante mudo, o vento balançava seus cabelos brancos e roupa.

— ....

Ela errou com ele.

Errou de uma forma que sentia o peito ser esmagado.

Esse era o preço do seu egoísmo.

A conversa retoma para o presente momento.

— Sinto muito. Não fui capaz de medir as consequências... De novo. Mais uma vez...

— E eu me machuquei de novo. Mais uma vez.

— Sim...

Ele não afirmou isso com o intuito de causar mais dor a ela, apesar dela ter se encolhido um pouco mais e a sua postura toda folgada no banco desapareceu por completo.

Na verdade, a razão para ter pontuado aquilo foi para usar de pauta e recomeçar.

— Escuta, eu não sou bom com conselhos, ou ajudando alguém com palavras mas... Eu aceitei vir com você. Eu me joguei nesse mundo louco de magia e criaturas com você. Se eu me ferir, basta você estar lá pra me cuidar novamente.

— Mas fui eu quem....

— Era o seu corpo mas não era você! E você sabe muito bem disso, Yuki. Não deveria se culpar tanto.

— Eu sei. Mas dói mesmo assim. Você me falou que seria meu amigo. Eu ceguei a mim mesma com esse sentimento e fechei os olhos para os perigos que eu sabia que eram possíveis e te trouxe comigo. Eu... Não pus você em uma balança e pesei as consequências das minhas decisões... Eu ignorei completamente essa balança.

Um silêncio se seguiu após isso e o som do vento tomou conta do lugar.

Sado estava pensando em uma resposta para dar a ela. Mas ele mesmo não sabia o que dizer. Ele não conhecia ela a tanto tempo assim para dizer algo.

Talvez ele deva dizer algo genérico como qualquer história faria?

Com o silêncio dele, ela continuou a falar mais e mais.

— Só porque você apareceu com uma capacidade completamente incomum, eu julguei que seria útil e relevante te levar comigo. Porque iríamos apenas mexer com maldições pequenas, eu pensei. E se algo ruim ocorresse, eu iria resolver tudo facilmente, assim como sempre foi. Eu fui egocêntrica ao pensar dessa forma. Pensar que daria conta de tudo e protegeria você só porque sou um pouquinho mais poderosa do que magos comuns.

Fenícia Silver Wite era uma "maga comum"? Para Sado, aquilo estava muito longe de ser algo comum.

— E-ei...

A voz dele saiu meio tímida, ainda buscando alguma forma para consolar a garota. Yuki que juntava as mãos nas coxas de forma acuada, continuava:

— Eu queria atenção. Por mais que eu ame os pássaros e a natureza. Por mais que eu consiga viver sozinha e sem ninguém. Por mais que eu goste de interagir com pessoas que eu salvo ou que estão com problemas. Por mais que eu me afaste da sociedade por ser como sou e por medo de acabar ferindo as pessoas normais. Por mais que eu não me envolva em grupo nenhum por causa do meu poder, por medo te machucar aqueles que estão ao meu redor. Por mais que tudo isso passe pela minha cabeça... Quando você disse que seria meu amigo. Quando você disse que queria me ajudar. Quando você correu atrás de mim mesmo quando poderia ter se virado, ignorado e ido para casa. Sabendo dos seus próprios limites físicos... Foi teimoso e insistiu em vir comigo... Eu, que deveria reconhecer seus limites por você ser sedentário e só um humano comum. Mesmo sabendo disso... Mesmo tendo tudo isso em mente... Por mais que eu fechasse os olhos para isso... No fundo eu fiquei feliz por receber atenção. Receber sua atenção. Alguém que estivesse ao meu lado. Alguém que assim como eu, queria descobrir os mistérios da sua própria natureza. Você o Faker e eu os meu poderes. Foi um sentimento que a muito não sentia. E isso me fez ignorar a realidade dos fatos como se fosse tudo uma brincadeira de criança...

Sado escutou tudo olhando para frente, sem olhar uma única vez sequer para ela, porque não gostaria de ver mais uma vez um rosto triste estampado no belo rosto da menina.

Ele jurou que nunca mais iria fazer ela esboçar essa expressão.

Se ele pensasse nela, lembra-se dela, veria ela sorrindo. Nas suas memórias, principalmente quando não estava em lutas, Yuki era sempre bem receptível, amável e enérgica.

Ele sentia uma boa sinergia junto dela.

E isso lembrava dele mesmo. Toda vez que se olhava no espelho.

Em algum momento, ele já não via mais essa energia toda ao se ver refletido no espelho.

Por isso, não gostaria de ver nela um rosto deprimido. Pois não gostaria de que ela fosse como ele.

Não gostaria de que a imagem que ele tem dela fosse a mesma de que tem dele.

De que até mesmo uma menina como ela, tão especial e incrível, pudesse ser corrompida só de estar junto dele.

Pensar sobre esse último fez um tremor atingir seu coração.

Todas as memórias que ele tinha que ter dela, eram sempre as de sorriso radiante. Ele não precisava de outro rosto triste sem ser o dele.

Se mais ninguém pudesse chorar, para ele já bastava.

Se ela não pudesse chorar no futuro, para ele, sim, para ele já bastava.

Afinal de contas, ela era sua nova amiga agora. Mais do que uma simples amiga. Cada ser humano que nasce é individual do nascimento à morte. Cada um tem seu nome e seus gostos, suas características.

Não havia como ele olhar para esta menina e não ver um grande valor nela.

Era algo que ele tinha que proteger.

Por isso...

— Yuki. Escuta.

— ....?

Ele se ergueu do banco e olhou finalmente para o rosto dela.

— Você tá aí, falando só de você e de você, de novo e de novo... E fica nesse estado deprimido achando que eu vou ouvir tudo e desistir da nossa amizade assim de repente? O que você quer que eu diga? Que não serei mais seu amigo só porque você cometeu um erro aqui e outro ali? Que eu te odeio por ter me machucado? Ou então que a culpa é toda sua por ter aceitado me incluir na sua vida??

— ...

Ela estava surpresa usando um tapa-olho e ele seriamente sério.

— Se você acha que é isso, então cai na real! Pessoas cometem erros! Ninguém aqui consegue ser um santo na vida, por mais que tente ao máximo, sabe por quê? Por que você é uma menina normal!

— ...!

Ele viu a visível mudança no olhar dela quando disse isso. Ela arregalou o olho azul chocada como se o que ouviu foi algo impróprio.

— Pessoas erram! Pessoas acertam! Pessoas sangram, choram e se cansam! E só de você viver neste mundo como uma pessoa, já é mais do que suficiente pra atingir ao menos algum desses requisitos! Ah, você nunca errou? Pois se acostume a ver as coisas saindo fora do seu controle, porque nem sempre podemos nos assegurar de tudo!

— .....

— Forte ou não. Com poderes ou sem poderes... Quando você não tiver esse controle... Não custa nada pedir ajuda! Não custa creditar essa responsabilidade à outra pessoa também! Não jogue tudo em cima de você! Então. Pode. Confiar. Em. Mim!

— Isso não apaga o que eu fiz! Não apaga a situação horrorosa do qual você foi submetido!

— E que situação você acha que foi!?

— Você quase morreu!

— Mas eu tô vivo aqui!

— Porque você resistiu à tempo! Porque eu cheguei à tempo!

— Isso mesmo! Foi um trabalho em conjunto! Eu e você! Porque somos amigos, droga!

— ....

Ela ficou muda diante dele. Sado ofegante, falava com mais paciência e calma:

— E daí que você estava se divertindo sem pensar em todos os problemas do mundo? Você tem 16 anos. Mesmo com todo esse conhecimento aí que você tem e mesmo cheia de poder, não muda o fato de que é bom você agir como convém você agir de acordo com a sua idade. Não há nada de errado em você ter aproveitado um momento comigo, caminhando, comendo juntos e essas coisas, sabe... Se isso te trouxe tanto alívio que o fez esquecer das responsabilidades da vida. Estávamos apenas conversando e interagindo juntos. Tudo bem ser assim.

— ...

— Amigos são para isso, Yuki. Riem com você. Gritam e berram juntos. Comem e bebem. E também... E também passam por problemas com você. As vezes problemas que nós mesmos causamos. Mas o bom disso é que nunca estaremos sozinhos nessa. Então não diga que é melhor ficar sozinha... Ou que prefere se virar sozinha assim como sempre foi.

— Ah...

Por algum motivo ele sorriu dizendo essas coisas e Yuki sentia seu coração se estilhaçar. Não era magia. Não era o Faker. Eram palavras.

Palavras de um garoto normal que não é muito esperto, possui uma saúde duvidosa e um estilo de vida ainda mais duvidoso.

Com os dizeres dele, a ficha caiu. Na mente, como que entendendo.

— Então... É isso que é ter amigos? É basicamente viver e ressonar tudo o que sente pra essa outra pessoa?

— Uh... Não sei se é bem assim...

— Quando eu me machucar, você vai se machucar também?

— Claro que não! Não é assim que funciona. Vai doer em mim também! Eu vou ficar triste, vou ficar preocupado, vou-....

Ele parou de repente olhando pra ela. A menina esboçava um rosto difícil.

— Ah... É assim que você se sentiu, não foi?

Sado entendeu.

Sado entendeu de repente.

Ele completou:

— Yuki, você estava se sentindo culpada, mas também estava preocupada e triste comigo?

— Supostamente.

— Então está feito.

Ele coçou a cabeça quanto abria um olho. Yuki fez bico.

— Poxa vida, que situação, hein? — disse ela. Um sentimento de alívio tomava conta. Ela se sentou perdoada.

— Hah, acontece. Mas então...

— Então?

Ele respirou fundo e disse seriamente:

— Eu prometo que ficarei mais forte. Muito, muito mais forte! Mais forte que você!

— Isso é fisicamente impossível...

— Tô nem aí. Não quero ser um peso morto. Eu vou melhorar, pra você não ficar preocupada comigo.

Era esse o veredito final. Tendo essa resposta, a menina de aparência angelical só pode aceitar suspirando.

— Tá bom, tá bom. Eu ajudo você a usar a sua capacidade de desfazer distorções na Realidade. Afinal...

— Afinal?

Ela sorriu.

— Eu sou uma distorção ambulante.

Sim, Yuki era especial, muito especial. Até onde Sado sabia, magos estavam atrás dela porque a achavam alguém problemático. Yuki era muito poderosa e tinha conhecimento mágico à vontade.

Todavia, o tópico mudou para um novo.

— Sado, senta aqui. A conversa ainda não acabou.

— Ah, uh. Ok.

Ele se sentou novamente ao lado dela. Yuki olhou para ele com o tapa-olho no lado direito da face.

— Vamos começar com o mais óbvio.

— Certo... E qual é o mais óbvio?

— A nossa situação atual. — a menina apontou para frente onde estradas flutuavam — Esse mundo não é o nosso mundo.

— ...Sério?

— Você não estava voltando no tempo, Sado. Estava transitando entre mundos.

.

.

.

— Quê?

...Ele ficou em choque.


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