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57.14% paraíso na terra / Chapter 4: 4

Chapter 4: 4

Noah Burnlie's POV

Se passaram duas semanas desde que aceitei a missão e meu progresso tem sido praticamente nulo.

Até tentei ajudá-lo a se dar bem com alguns caras, mas ele é simplesmente o homem mais coração de gelo que já vi!

Apesar de termos entrado em contato somente uma vez (inclusive foi péssimo! Não pensei que ele fosse tão agressivo), acho que peguei birra de odiar cada coisa que ele fala.

Pra começar, ele raramente sai de casa, o que só dificulta meu trabalho. Além disso, ele é arrogante demais e não gosta de ninguém!

acho que nem mesmo as crianças que ele mesmo adotou.

De qualquer forma, hoje é sábado. Acho que posso me dar o luxo de não me encontrar com aquele cara por hoje.

Ando pelo shopping sem rumo. Faz tempo que não venho aqui e muita coisa mudou. Lembro que tinha algumas lojas de roupa que aparentemente faliram, e agora tem bem mais restaurantes que da última vez.

_Noaaaaahhhh _ ouço alguém me chamando atrás de mim, mas antes mesmo que eu pudesse me virar por completo, sou surpreendido por um abraço.

_ Nossa quanto tempo né? Eu nunca mais te vi aqui no mundo mundano, como você está? _ diz Limi, animada como sempre.

Realmente faz muito tempo que não vejo ela. Limi é minha amiga de infância, sempre nos divertimos quando estávamos juntos, lembro que costumávamos brincar de pega pega entre as nuvens e não tinha sequer uma vez que não levávamos bronca dos superiores.

Porém, a alguns anos nos separamos e não conseguimos mais nos encontrar. Na verdade não tem um motivo em específico, simplesmente a vida ficou corrida demais para alguns passa tempos.

_ Estou bem e você, como vai? _ digo sorridente, não esperava encontrar alguém que era tão próximo de mim nesse lugar.

Logo atrás dela, chega um homem que não conheço, porém, a julgar pela aparência, parece bem soturno com seu visual repleto por roupas pretas.Assim que ele se aproxima, tenho uma sensação diferente do que sinto diante dos mundanos. É como se uma nuvem escura estivesse acabado de chegar, trazendo consigo o pressentimento de uma crueldade ilimitada.

E eu sei o que isso significa.

Ele é um demônio.

_Ah! Esse é meu namorado, Kristian! _ a anjo abraça "Kristian", mas provavelmente fiz uma cara de desdém pois logo ela começou a se explicar.

_ Eu sei que tem aquele estereótipo de que demônios são todos malvados mas olha só, ele é diferente, não é amor? _ Kristian concorda com um aceno.

Ainda não fui com a cara desse homem, mas de qualquer forma quem sou eu para falar alguma coisa, faz anos que não conversamos.

_ Entendi. _ tento afastar os preconceitos de minha cabeça, até porque não tem motivo para ficar alarmado sendo que ele ainda não fez nada. Além disso, ele está com a Limi, ela é esperta.

_ Enfim, o que vocês estão fazendo aqui?

_ Vamos nos encontrar com um amigo na sorveteria. Alias, acho que ele já está esperando _ o demônio... Quer dizer, Kristian me responde.

_Tudo bem se Noah for com a gente?

Kristian aceita numa boa, então também aceito.

∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆

Chegamos voando (literalmente) na sorveteria Bang bang: é um lugar pequeno e simples, apesar disso, parece bem aconchegante. Sinto o aroma de café expresso, por algum motivo tem um toque suave de chiclete. Aparentemente não é só uma sorveteria, mas também uma cafeteria.

Assim que adentramos o local, Kristian acelera o passo em direção do...

O QUE?!?! PUTA MERDA!!

O demônio dá um abraço em, ninguém mais ninguém menos que JAKE?!?

Sinto minhas bochechas queimarem. Na minha cabeça (só na cabeça) já xinguei tanto esse garoto por ser um coração de pedra que não sei nem como reagir. E ainda é amigo de um demônio?! Será que ele ao menos sabe no perigo que se meteu?

Limi me puxa para perto dos amigos e a única coisa que consigo prestar atenção é naqueles olhos verdes que me perfuram como facas assim que me vê.

_ MANINHO NOAH!!! _ Peter corre para me abraçar, mas quando percebe o olhar de reprovação de Summer, ele volta cabisbaixo para o pai.

A tensão no ar é evidente, os amigos que me convidaram se entreolham confusos enquanto as crianças cochicham entre elas.

Jake solta um suspiro e vem até mim, com o mesmo olhar de rancor daquele dia.

_ Olá, meu nome é Jake, como vai? _ estende a mão em cumprimento.

Ele me olha de cima pra baixo com o sorriso mais forçado que já vi, seus olhos ainda queimando.

Nova lição sobre Jake: ele é péssimo em fingir, o olhar denuncia tudo.

_ ... Noah Burnlie. Ér... Meu nome é Noah.

_ Por acaso vocês já se conhecem? _ pergunta Kris apontando para nós dois.

_ Ah... sim _ Jake se senta e faz sinal para nos juntarmos a mesa _ ele é o cara que te falei, Kris. Aquele que quase raptou meu filho.

_ Não era minha intenção.

_ Não, não, claro que não. _ Summerdale pega o cardápio de sorvete, passa para as crianças e me encara com um semblante desafiador. _ Até porque, se fosse você estaria fodido. Mas enfim, vamos deixar as divergências de lado, afinal viemos aqui para aproveitar, não é?

Salafrário! Foi você quem entrou no assunto! Agora sinto como se eu fosse o vilão da história.

Assim que fizemos nosso pedido, as crianças foram brincar pela sorveteria e em nossa mesa só restou um silêncio constrangedor.

_ Mas então, de onde vocês se conhecem?_ o mundano quebra o silêncio.

Kris e Limi se entre olham e nenhum deles parece querer responder então eu faço.

_ Eu e Limi nós conhecemos desde pequenos. _ tento responder da forma mais descontraída possível, apesar de estar um pouco ansioso e bastante irritado pela situação que ele me colocou. _ e vocês?

Jake hesita por um momento, então abaixa um pouco a guarda e relaxa sobre a mesa.

_ Kris e eu somos amigos de infância. Nos conhecemos no ensino fundamental.

Ele aguarda minha resposta e eu me sinto pressionando demais para responder.

Graças a Zeus, Limi respondeu por mim.

_ Nos conhecemos desde o quinto ano. Somos amigos desde então.

_ Entendi._ respondeu meio desconfiado.

Os sorvetes ficaram prontos e as crianças voltaram. Tentamos conversar sobre assustos descontraído, mas é como se, indiretamente estivéssemos em guerra, sendo Kris e Limi soldados obrigados a escolher um lado. Apesar disso, notei que às vezes o casal cochichava entre si, mas decidi não me meter, tenho assuntos mais importantes agora.

Conforme conversávamos, o humano foi abaixando a guarda até conseguir relaxar - consegui até mesmo presenciar um riso verdadeiro dele .

Ao fim da tarde, nossa relação estava melhor do que eu poderia ter imaginado. Estávamos alegres, rindo das histórias uns dos outros - claro, nós, celestiais* precisamos adaptar nossas experiências para o mundo mundano - e experimentando guloseimas do cardápio.

Quando decidimos ir embora, Kris sugeriu sairmos juntos de novo algum dia, para isso criou um grupo de whatsapp chamado "quarteto sorvete".

Apesar de alguns desastres, eu diria que hoje já tive um grande progresso.

∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆∆

Celestiais*: seres que vivem no céu ou no inferno; anjos e demônios.


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