"Isso é mesmo algo que um humano pode fazer?" perguntou um homem, com os olhos trêmulos.
"Eles são mais como deuses!" disse outro.
O velho suspirou. "Nós realmente não temos lugar neste mundo."
Eles sabiam que, normalmente, os cultivadores não interferiam na vida dos humanos comuns. Mas, quando decidiam interferir, não havia nada que pudessem fazer, como estava ocorrendo naquele momento. Suas vidas dependiam da boa vontade desses seres poderosos, seja para o bem ou para o mal.
Todos ficaram cabisbaixos, atingidos por uma grande tristeza. A sensação de não ter controle sobre suas vidas não era nada agradável.
Nesse momento, a espada gigante desapareceu, e o escudo continuou avançando.
"Quem está vencendo?" perguntou uma mulher.
Todos se entreolharam, mas ninguém respondeu. Eles não conseguiam dizer quem estava vencendo, nem mesmo sabiam de quem era a espada e de quem era o escudo, afinal, eram apenas humanos comuns.
Outra espada surgiu, junto com um brilho dourado deslumbrante, que podia ser percebido mesmo daquela distância. Desta vez, quase que instantaneamente, a espada atravessou o escudo, e, após isso, o silêncio reinou. Eles não sentiam mais o local tremer nem as energias fora de controle.
"Acabou?" questionou um homem.
"Quem venceu? Estamos salvos?" perguntou uma mulher, com a voz trêmula.
Em todas as partes da cidade, as pessoas faziam perguntas semelhantes, cheias de expectativa. O resultado daquela batalha decidiria seus destinos.
De repente, o contorno de uma figura começou a aparecer na visão do velho e das pessoas próximas a ele. A figura foi se aproximando, ficando cada vez mais clara.
Kael caminhava com passos lentos, arrastando o oponente derrotado e criando um caminho de sangue.
"Ele... ele venceu!!" uma mulher gritou, com lágrimas nos olhos.
"Estamos salvos! Todos esses demônios estão mortos."
"Os céus têm olhos! Não fomos abandonados!"
As pessoas começaram a comemorar em meio a lágrimas e soluços, extravasando os sentimentos que tiveram de suportar por tanto tempo. Muitos se abraçavam e comemoravam juntos. Mas, quando Kael se aproximou, todos se calaram por um momento.
Kael jogou o corpo do cultivador à frente dessas pessoas. Ao verem aquele rosto cheio de resignação, sentiram suas almas serem lavadas. Eles se ajoelharam diante de Kael.
"Senhor, muito obrigada! Obrigada por vingar minha filha!"
"Minha mãe foi morta por esse animal!"
"E o meu filho!"
"Ele eliminou toda a minha família. Nunca pensei que o veria nesse estado!"
Várias pessoas começaram a descarregar suas emoções, revelando as atrocidades cometidas naquele lugar. Alguns se levantaram, foram até o cadáver do cultivador e começaram a atacá-lo com socos, pedaços de ferro ou qualquer coisa que encontraram.
Kael suspirou. Essas pessoas realmente estavam levando vidas miseráveis.
O velho deu um passo à frente e falou com Kael. "Senhor, podemos saber o seu nome?"
Kael olhou para o velho e respondeu diretamente: "Kael."
O velho assentiu e, depois de hesitar um pouco, falou: "O que faremos agora?"
Todos ficaram em silêncio enquanto ouviam a conversa. Essa pergunta do velho jogou um balde de água fria neles.
O velho continuou: "Estamos muito gratos por ter salvado nossas vidas, e seria presunçoso pedir por mais, mas não temos para onde ir. O Clã Kingdom com certeza enviará pessoas para investigar o assunto e nos punir."
"Não podemos pedir que continue nos protegendo, mas, se possível, poderia pelo menos nos dar uma direção?"
O velho estava visivelmente preocupado. Assim como os outros, ele estava feliz com a vitória, mas era experiente e já estava pensando nas implicações futuras. Eles ainda estavam sem saída.
Kael franziu a testa. Ele não tinha como proteger todas aquelas pessoas, nem podia acompanhá-las ao Clã Mu. Esquecendo o fato de que seria extremamente difícil atravessar a floresta, mesmo que conseguissem, o Clã Mu não tinha obrigação de protegê-los e entrar em conflito com o Clã Kingdom.
O silêncio prolongado de Kael fez com que essas pessoas começassem a ficar cada vez mais preocupadas. Será que, no final, ainda estavam destinados à destruição?
Porém, depois de pensar bastante, Kael quebrou o silêncio: "Posso ter uma forma de ajudá-los!"
"O quê?" Todos ficaram chocados.
"Isso é verdade?"
"Então finalmente seremos livres?"
Os olhos de todos brilharam, e eles começaram a comemorar novamente.
"Não fiquem felizes tão rápido!" disse Kael, de repente.
Todos pararam e olharam para ele, preocupados novamente.
"Senhor, qual o problema?" perguntou o velho. Ele não estava tão decepcionado, pois, como Kael disse que tinha uma forma, significava que ainda havia uma chance. Era melhor ouvir primeiro.
"Me chame apenas de Kael."
Kael se sentia incomodado por ser chamado de senhor, ainda mais por uma pessoa claramente mais velha. Em sua visão, como mais jovem, ele deveria respeitá-lo.
Vendo que o velho não respondeu, Kael suspirou. Parecia que a hierarquia de poder era difícil de ser quebrada até entre os humanos comuns. Ele continuou explicando:
"Tenho uma forma de protegê-los enquanto eu estiver vivo, mas nem mesmo eu sei o que acontecerá caso algo aconteça comigo. Além disso, irei levá-los para um lugar isolado. Talvez nunca mais sejam capazes de interagir com as pessoas deste mundo."
Todos ficaram chocados com as palavras de Kael. Eles não conseguiam processar a informação. O velho também franziu a testa, repetindo as palavras de Kael em sua mente várias vezes.
"Passem minhas palavras exatas para todas as pessoas da cidade. Quero que todos tenham plena ciência da situação e decidam por si mesmos. Ficarei naquela casa por um tempo. Depois de cinco dias, tudo o que precisam fazer é se aproximar a cem metros do local, e acolherei a todos que o fizerem. Passarei dois dias nesse processo. Assim, ficarei nesse local por sete dias no total. Após esse período, quem não tiver aparecido ficará para trás," disse Kael, antes de começar a andar na direção da casa que ficava no meio da cidade.
Ele esperaria naquele local, e o tempo que deu era mais que suficiente para que todos fossem avisados e pudessem comparecer. Se não aparecessem, significava que decidiram não segui-lo.
Os cidadãos observaram a partida de Kael, ainda um pouco desconcertados e cheios de perguntas.
"Senhor, o que devemos fazer?" um homem perguntou ao velho.
"Não percam tempo. Comecem a espalhar a notícia. Todos devem decidir por conta própria," respondeu ele.
Os homens assentiram e começaram a correr pela cidade, repetindo as palavras de Kael. Assim como essas pessoas, as outras ficaram confusas, mas sabiam que aquela era uma chance de sobreviver. Então, todos ajudaram a espalhar a notícia. Eles teriam alguns dias para decidir.
*
Kael entrou na casa, acomodou Yan Xi e sentou-se de pernas cruzadas.
"Os fracos realmente estão à mercê dos fortes..." Disse ele, apertando o punho.
Lia se materializou e sentou-se na cama perto de Yan Xi.
"Não precisa se preocupar. No futuro, será você quem estará acima de todos. Ninguém será capaz de controlar sua vida ou a de seus entes queridos." Disse ela.
Ouvindo suas palavras, os olhos de Kael brilharam. Sua determinação foi reacendida, e agora, mais do que nunca, ele desejava superar tudo e todos.
Yan Xi ficou chocada com as palavras de Lia, que foram ditas com confiança absoluta. Porém, ela percebeu que não as achou absurdas; pelo contrário, rapidamente se convenceu de que aquilo era um fato.
"Lia, por que as pessoas agem assim?" Kael perguntou de repente.
Lia balançou a cabeça.
"Não tem como entender os pensamentos desse tipo de gente. Eles podem ser simplesmente lixos desde o início, ou podem ser pessoas que ingressaram no mundo do cultivo, mas não alcançaram grandes conquistas. Sempre foram inferiores aos outros e, então, encontraram pessoas normais, que podiam massacrar e a quem podiam impor um ar de superioridade, já que não conseguiam fazer isso com os cultivadores."
"Porém, para o Clã Kingdom permitir isso, deve ser a primeira opção. Todo o clã é repleto desse tipo de escória, ou o líder desse grupo tinha um status elevado e era protegido pelos superiores, e tais atos eram permitidos apenas neste local."
Kael assentiu. Assim como Lia disse, existiam muitas possibilidades. Talvez, se ele descobrisse um pouco mais sobre o Clã Kingdom, acabasse entendendo melhor a situação. Mas não era como se ele quisesse investigar o Clã Kingdom. Involuntariamente, Kael queria esquecer esse tipo de coisa, preferindo pensar que não existiam mais pessoas como aquelas, mesmo sabendo que isso era irrealista.
Kael parou de pensar nisso e começou a cultivar. Ele havia rompido há pouco tempo e ainda precisava estabilizar seu cultivo. Ele faria isso durante os cinco dias que deu para os cidadãos pensarem.
Enquanto ele cultivava tranquilamente, um grande alvoroço acontecia pela cidade. A notícia se espalhou rapidamente, e discussões ocorriam em todos os cantos. Todos tentavam adquirir o maior número de informações possível sobre Kael, mas ninguém sabia nada sobre ele. Apenas o haviam visto correndo pela cidade e massacrando aquelas pessoas, mas somente isso já era suficiente para convencer muitos deles.
Em meio a essas discussões acaloradas, cinco dias se passaram rapidamente, e havia chegado a data combinada.