Kael encontrou outras tribos pelo caminho, mas não parou em nenhuma delas, apenas fez desvios quando necessário para evitar cruzar diretamente com elas.
Depois de dez dias, finalmente saíram da floresta.
"Nós saímos!", comemorou Kael, girando com alegria.
Seu rosto estava iluminado ao ver que a terra à sua frente não estava mais coberta de árvores ou lama.
Os olhos de Yan Xi também brilharam. O clima daquela floresta era abafado e desconfortável, e o único alívio que tiveram foram os raros momentos em que Kael encontrou lagos com água limpa para se refrescarem. Agora que estavam livres, ela naturalmente se sentia feliz.
Após saírem da floresta, Kael caminhou por apenas uma hora antes de encontrar uma pequena cidade. Os muros eram de pedra, e relativamente altos, proporcionando uma defesa decente. Dessa vez, ele não fez nenhum desvio e decidiu entrar.
Quando tentou passar pelos portões, dois cultivadores pararam à sua frente, parecendo guardas. Kael franziu a sobrancelha.
Vendo sua expressão, os homens entenderam que ele não conhecia as regras, então um deles explicou: "Amigo, para entrar na cidade, é necessário pagar uma pedra espiritual de baixo nível para cada dia que permanecer. Se quiser se tornar um residente, deve comprar a cidadania."
Kael finalmente entendeu. Ele sabia que várias cidades sob a jurisdição do Clã do Firmamento praticavam métodos semelhantes. Era uma forma de garantir sua manutenção e desenvolvimento, além de treinar especialistas próprios ou contratar cultivadores solitários para sua defesa.
Sem dizer nada, Kael colocou a mão dentro da roupa como se estivesse pegando algo e retirou duas pedras espirituais de baixo nível do pequeno mundo antes de entregá-las aos guardas.
Vendo as pedras espirituais, os homens sorriram. Eles deram uma ficha para Kael, nela estava registrado que passariam apenas um dia, se quisessem estender esse tempo teriam que pagar mais. Depois de explicar tudo, os guardas saíram da frente, permitindo que Kael e Yan Xi entrassem.
As ruas da cidade eram bem movimentadas. Cultivadores andavam por todos os lados, e muitos conversavam alegremente. Por onde Kael passava, olhares curiosos se voltavam para ele por causa da figura coberta em suas costas, mas logo as pessoas perdiam o interesse. Entravam indivíduos de todos os tipos naquela cidade, e ninguém dedicaria muito tempo a algo tão banal.
Enquanto caminhava, Kael ouviu uma confusão. Perto de onde estava, dois cultivadores lutavam. Ambos estavam no início do Refinamento de Sangue, apesar de não serem tão velhos, já tinham alcançado aquele nível, isso mostrava que o nível de cultivo naquele lugar era superior ao dos clãs e tribos da Floresta da Morte. Além disso, Kael notou outros cultivadores com forças semelhantes.
Uma multidão se formava para assistir à luta, e a maioria das pessoas gritava e torcia.
"Vamos lá!"
"Acabe com ele!"
"Que golpes são esses? Vocês são duas moças?"
"Hahahaha!"
Kael observava a cena de longe."Eles podem lutar no meio da rua?", perguntou ele, intrigado.
A maioria das cidades tinha leis rígidas, que normalmente proibiam lutas públicas. Quem tivesse queixas deveria resolvê-las fora dos portões. Desobedecer essas regras resultaria em severas punições. Isso indicava que, ou as regras naquela cidade eram diferentes, ou os dois lutadores simplesmente perderam a cabeça e criaram confusão.
Os cultivadores corriam pelo local, colidindo com barracas de vendedores enquanto se atacavam. De repente, um deles foi golpeado e arremessado na direção de Kael.
Kael franziu a testa e levantou calmamente a mão. As costas do homem colidiram com sua palma, e o impacto foi amortecido. Ainda assim, o cultivador foi jogado para frente, tropeçando e caindo de forma desajeitada.
Gargalhadas ecoaram ao redor, deixando o rosto do homem vermelho de vergonha. Furioso, ele se levantou e gritou: "Está querendo morrer?"
Seus olhos estavam cheios de hostilidade, parecendo adagas perfurantes.
Os observadores voltaram sua atenção para a cena. Kael parecia jovem e, aos olhos de todos, não demonstrava ser forte.
"Pobre garoto. Ele só parou para assistir e acabou se envolvendo", comentou alguém com pesar.
"Esse cultivador estava claramente em desvantagem e deve estar procurando alguém para descontar a raiva. Que azar do garoto", disse outro.
Olhares de pena se espalharam pela multidão. No entanto, Kael surpreendeu a todos ao ignorar completamente o homem e continuar seu caminho, sem sequer lhe dirigir um olhar.
A reação foi tão inesperada que o cultivador ficou alguns segundos sem saber o que fazer. Quando a vergonha e a raiva finalmente o dominaram, ele rugiu: "Você está cortejando a morte!"
Avançando com sua espada, o cultivador apontou para o lado esquerdo do corpo de Kael, claramente pretendendo atravessar Yan Xi e atingir seu coração. Era um ataque mortal.
Os olhos dos observadores se estreitaram.
"Que pessoa cruel", murmurou alguém.
Kael continuava caminhando tranquilamente, alheio ao ataque. Os olhos de Yan Xi se moviam preguiçosamente enquanto observava os rostos assustados, ou de pena, das pessoas. Não era difícil para ela imaginar o que estava acontecendo, mas não foi minimamente abalada.
Quando a espada estava prestes a atingir Kael, ele se virou em um movimento incrivelmente rápido. O cultivador congelou, olhando incrédulo para sua espada, que agora estava presa na mão de Kael.
Antes que pudesse reagir, um estrondo ecoou. Ele sentiu como se tivesse sido atropelado por um caminhão, mas a dor durou apenas um instante. No segundo seguinte, ele já não sentia nada enquanto era arremessado por dezenas de metros até parar, criando um sulco no chão.
Os olhos da multidão se arregalaram. Quando olharam para o corpo desacordado do cultivador, perceberam que havia um buraco profundo em seu peito, com o formato do punho de Kael.
As pessoas ao redor respiraram fundo. Alguns cultivadores também estavam no Refinamento de Sangue e sempre se consideraram poderosos. No entanto, ao verem a cena, questionaram sua própria força.
Algumas pessoas começaram a recuar, com medo. Outros começaram a sussurrar com aqueles que estavam próximos.
Kael não deu importância ao homem desacordado nem aos observadores ao redor. Ele apenas voltou a caminhar. Antes, não tinha intenção de se envolver, nem de matar o agressor. Se fosse apenas um ataque comum, talvez Kael lhe ensinasse uma lição leve. Porém, ao perceber a crueldade do ataque, respondeu na mesma moeda. Ainda assim, Kael se conteve. Se não o tivesse feito, o homem teria sido arremessado ainda mais longe, destruindo algumas casas no processo, algo que Kael queria evitar.
Quando Kael desapareceu, os cultivadores ficaram eufóricos.
"Quem era aquele cara?"
"Eu nunca o vi antes, deve ser alguém novo nessa região."
"Derrotar um cultivador do Refinamento de Sangue com um golpe, quão poderoso ele é?"
Vários questionamentos e discussões tomaram conta do local. O homem que antes estava lutando com o cultivador derrotado estava pálido; o choque que sentiu não era menor do que o dos outros. Afinal, ele havia enfrentado o adversário há pouco tempo. Apesar de ser um pouco mais forte, a diferença era mínima. No entanto, aquele oponente que lhe dava trabalho foi derrotado com um único golpe.
Em meio à confusão, outro grupo de pessoas chegou.
"O que está acontecendo? Quem ousa lutar no meio da cidade?" gritou um deles.
"A guarda da cidade!" exclamou um dos espectadores.
"Finalmente eles apareceram!" comentou outro.
Um dos recém-chegados se aproximou do cultivador caído e avaliou seus ferimentos. Sua expressão ficou sombria.
"Ele está morto!" anunciou.
Exclamações soaram por todos os lados. A maioria acreditava que o cultivador estava apenas desmaiado, mas descobrir que ele foi morto diretamente elevou ainda mais o choque entre os presentes.
"Quem foi? Quem ousa matar alguém na cidade Supra?" rugiu um dos guardas, enquanto seus olhos examinavam o ambiente em busca do culpado. Seus olhos estavam cheios de fúria, causar confusão na cidade era o mesmo que desafiar sua autoridade, muito menos matar alguém.
Os cultivadores ao redor começaram a desviar os olhares e recuar. O status dos guardas na cidade Supra era relativamente alto. Se irritados, poderiam matar quase sem consequências. Desde que a vítima tivesse baixo status, é claro.
Um dos guardas, furioso, correu até o meio dos cultivadores e agarrou um deles pelo pescoço. O homem ficou horrorizado.
"Senhor! Eu não tenho nada a ver com isso!" gritou, tentando se defender.
"Quem fez isso?" o guarda perguntou, apertando mais o pescoço do homem.
"Foi um garoto... Ele parecia bem jovem e carregava uma mulher nas costas," respondeu o homem com dificuldade, seu rosto ficando vermelho devido à falta de ar.
"Para onde ele foi?" o guarda perguntou novamente.
O homem, lutando para respirar, virou a cabeça em uma direção. "Lá!"
O guarda seguiu o olhar do homem, depois o jogou longe. As pessoas se afastaram para não serem atingidas, enquanto ele caía no chão, tossindo e tentando recuperar o fôlego.
"Vamos! Não podemos deixar o culpado fugir!" ordenou o guarda antes de começar a correr. Os outros o seguiram sem hesitar, mas...
"Esperem!" uma voz ecoou de repente.
O guarda franziu a testa e parou. Alguém deveria estar buscando a morte ao interrompê-los nesse momento. No entanto, ao ver quem era, ficou surpreso.
"Velho Lu, o que aconteceu?" perguntou ele.
Lu era um amigo de longa data, e a irritação do guarda desapareceu, mas ele ficou intrigado. Sabia que seu amigo não o atrasaria sem motivo.
Lu olhou para ele e disse algo que o chocou: "Você não deve perseguir essa pessoa."