Chapter 21: Capítulo 20: Luz da Lua
Parte 1
No corredor do dormitório, o som da chuva batendo nas janelas parecia um pano de fundo constante para a movimentação do lugar. Helena, envolta em seu manto e com uma expressão preocupada, caminhava apressadamente quando avistou Liam se aproximando. Ele estava um pouco molhado, mas tentava parecer o mais apresentável possível.
"Helena!" Liam chamou, tentando esconder a tensão de seu rosto. "Posso falar com você por um momento?"
Helena parou, seu olhar se encontrando com o de Liam. Havia um leve sorriso em seus lábios, mas seus olhos revelavam uma certa hesitação. "Claro, Liam. O que você precisa?"
Liam, tentando manter um tom leve, continuou: "Eu só queria ver como você estava. Depois do que aconteceu ontem, achei que seria bom saber se está tudo bem."
Helena forçou um sorriso. "Estou bem, obrigada. Só estou... um pouco ocupada, sabe? Muitos pensamentos na cabeça."
Liam parecia um pouco confuso com a resposta, mas continuou. "Se precisar de alguém para conversar ou se houver algo que eu possa fazer para ajudar, estou aqui para isso."
Helena balançou a cabeça lentamente, tentando manter a conversa cordial. "Agradeço a oferta, Liam. Realmente preciso de um pouco de espaço agora. Acho que é melhor eu ir."
Liam franziu a testa, surpreso com a resposta. "Eu entendo. Só não queria te deixar desconfortável."
Helena fez um gesto de desculpas com a mão. "Não é isso, é apenas... eu preciso de um tempo para processar tudo. Agradeço sua compreensão."
Sem esperar por mais respostas, Helena deu uma rápida despedida e se afastou, os passos rápidos ecoando no corredor úmido. Ela dirigiu-se ao quarto de Ed, seu pensamento ainda inquieto.
Ao chegar à porta do quarto de Ed, ela hesitou por um momento antes de bater levemente. O som da batida parecia um pouco abafado pela chuva constante lá fora. Quando Ed abriu a porta, ele a recebeu com um olhar de surpresa, mas logo sorriu ao vê-la.
"Oi, Helena. O que posso fazer por você?" Ed perguntou, abrindo a porta para que ela entrasse.
Ela entrou e se acomodou em uma cadeira perto da mesa, olhando para a luz suave da lua que filtrava através da janela. "Oi, Ed. Eu... preciso falar sobre algo."
Ed se sentou ao lado dela, com um olhar atento. "Claro, pode falar."
"Ontem, Liam... ele confessou que tem sentimentos por mim." Helena começou, a voz um pouco hesitante.
"Eu fiquei surpresa e não soube como reagir. Ele é um bom amigo, e não esperava isso."
Ed ergueu uma sobrancelha, pensativo. "Eu já tinha notado que ele parecia interessado em você. Não imaginava que ele fosse tão direto, mas realmente faz sentido."
Helena suspirou, olhando para a luz da lua. "Sim, eu também não esperava. Eu tentei ser uma boa amiga para ele desde que ajudei ele. Quando o conheci, ele estava um pouco perdido e eu ofereci ajuda. Nunca imaginei que isso poderia levar a algo mais."
Ed se inclinou um pouco, interessado. "Como vocês se conheceram? Eu sei que Liam chegou há pouco tempo, mas nunca ouvi muito sobre o início da amizade de vocês."
Helena sorriu levemente, voltando-se para Ed com um olhar nostálgico.
***
Helena se afastou das amigas para explorar um pouco sozinha perto da muralha. A chuva caía incessante, tornando o caminho escorregadio e difícil de percorrer. Enquanto caminhava por um trilho menos visível, ela avistou algo incomum no chão.
Ao se aproximar, percebeu que era um jovem garoto desconhecido, deitado e ferido. Ele estava todo machucado e enfaixado de maneira improvisada, com a chuva misturando-se ao sangue e à lama ao seu redor. Helena parou, o choque e a preocupação se misturando em seu rosto.
"Você está bem?" Helena perguntou, a voz saindo suavemente. Ela estava claramente alarmada e hesitante, mas a situação a forçou a agir rapidamente. O jovem, com os olhos semi-abertos e um olhar pálido, tentava respirar com dificuldade. Ele parecia ser jovem, talvez da mesma idade que ela, e seu estado era crítico.
Sem esperar resposta, Helena se ajoelhou ao lado dele, seus olhos examinando os ferimentos. A chuva continuava a cair, misturando-se com as lágrimas que começavam a escorregar pelo rosto dela. Ela precisava agir com rapidez.
Com cuidado, Helena tentou ajustar as faixas improvisadas ao redor das feridas do garoto, tentando estancar o sangramento e oferecer algum alívio. "Eu vou te ajudar." disse ela, sua voz firme apesar do nervosismo.
"Preciso te levar para um lugar seguro."
O jovem tentou murmurar algo, mas a dor o impediu de falar claramente. Helena sabia que precisava de ajuda, então fez o melhor que podia para apoiá-lo. Ela o ajudou a se levantar, com um braço ao redor dos ombros dele e o outro segurando a cintura, e começou a guiá-lo de volta à cidade.
***
Ed escutou atentamente enquanto Helena narrava o incidente próximo à muralha. Quando ela terminou, ele olhou para ela com um semblante compreensivo.
"Agora entendo por que o Liam gosta de você." disse Ed, seu tom refletindo a clareza adquirida após a história.
"A forma como você ajudou Liam... É por essa generosidade e cuidado que ele se apaixonou por você."
Helena suspirou, olhando para baixo. "Eu gosto do Liam, mas como amigo. Ele foi muito importante para mim, e eu aprecio o que faz por mim. Mas não sinto o mesmo tipo de sentimento romântico por ele."
Ed inclinou a cabeça, pensativo. "Entendo. E você está pensando no que dizer para ele?"
Helena assentiu. "Sim, eu não quero magoá-lo, mas também não quero dar falsas esperanças. Não sei qual é a melhor forma de responder à confissão dele."
Ed pensou por um momento antes de responder. "Sabe, a honestidade é sempre o melhor caminho. Se você não compartilha dos mesmos sentimentos, é importante ser clara com ele. Dizer o que sente de forma mais sincera possível ajudará a evitar problemas."
Helena olhou para Ed, agradecida. "Obrigada pelo conselho. Vou tentar ser honesta com ele. Não quero que ele se sinta rejeitado, mas também preciso ser fiel aos meus próprios sentimentos."
Ed sorriu levemente, compreensivo. "Você vai se sair bem. Apenas fale a verdade e mantenha o respeito. Ele provavelmente vai entender, e isso ajudará a manter a amizade entre vocês, se isso for o que querem."
Helena sorriu de volta, sentindo-se um pouco mais aliviada. "Vou seguir seu conselho. Agradeço por estar aqui e me ajudar a ver as coisas com mais clareza."
Ed fez um gesto de apoio. "Sempre que quiser. Boa sorte com a conversa com o Liam."
Helena acenou com a cabeça, sentindo-se mais confiante para enfrentar a situação com Liam. Com um último sorriso para Ed, ela se levantou.
Parte 2
Liam estava caminhando em direção ao dormitório quando avistou Helena parada próximo à entrada. Seus olhos encontraram os dela, e ele notou uma expressão que misturava seriedade e nervosismo em seu rosto.
"Helena, o que você está fazendo aqui?" Liam perguntou, aproximando-se.
"É tarde para estar fora do dormitório."
"Liam, eu preciso falar com você." Helena respondeu, com um tom de determinação na voz.
"Pode me acompanhar até o seu quarto?"
Liam assentiu, curioso e um pouco preocupado. "Claro. Vamos para lá."
Ele a conduziu pelo corredor até um pequeno conjunto de escadas que levava aos quartos dos moradores. A chuva intensificava-se, criando um som constante contra as janelas e enchendo o ambiente com um odor um pouco mais abafado do que o habitual.
Liam abriu a porta de seu quarto, acendendo uma lanterna de óleo que estava ao lado da entrada. O quarto era simples, mas funcional. As paredes estavam decoradas com mapas e documentos, e havia uma pequena mesa com uma cadeira de madeira. Uma cama simples estava encostada contra a parede, coberta por um cobertor de lã um pouco amassado. Havia também um armário antigo no canto e um chão de pedra que parecia um pouco úmido devido à umidade da noite.
No entanto, o que imediatamente captou a atenção de Helena foi o cheiro forte e desagradável que pairava no ar. Era um odor de carniça, um cheiro de decomposição que se misturava com a umidade do ambiente. Helena fez uma careta, tentando disfarçar seu desconforto enquanto olhava ao redor.
Liam notou a expressão de Helena e franziu a testa. "Desculpe pela desordem. Não tive tempo de arrumar tudo hoje. Deve ser o cheiro dos artigos de caça e algumas provisões que deixei aqui."
A chuva caía em um ritmo constante, sua batida contra as janelas se misturando com o som distante da tempestade. A luz da lanterna de óleo lançava sombras distorcidas no pequeno quarto de Liam, criando um ambiente sombrio e inquietante. Helena, sentada na cadeira próxima à mesa, sentia o cheiro de decomposição ainda pairando no ar, mas estava focada no que precisava dizer.
Liam, com uma expressão de ansiedade, olhou para ela. "Então, qual é a sua resposta? Sobre o que eu te disse?"
Helena respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas. "Liam, eu não posso corresponder aos seus sentimentos. Eu realmente prezo a nossa amizade, mas não sinto o mesmo. Eu sinto muito."
O silêncio que se seguiu foi pesado, e Liam tentou esconder a dor em seus olhos. "Eu... entendo." ele murmurou, mas havia algo no seu tom que era mais do que apenas tristeza. Havia uma inquietação crescente.
A lua cheia, visível através da grande janela do quarto, lançava uma luz pálida e sobrenatural no ambiente. O brilho da lua parecia intensificar o sentimento de desconforto e angústia que estava crescendo em Liam. De repente, um tremor começou a percorrer seu corpo, e ele agarrou a borda da cama com força, seus olhos se arregalando com uma mistura de medo e dor.
Helena observou, seu coração acelerando ao ver a transformação. O corpo de Liam começou a se contorcer de maneira grotesca e brutal. Sua pele parecia derreter, descascando-se como se estivesse sendo rasgada de dentro para fora. As camadas de pele que se desprendiam revelavam músculos e ossos que se reconfiguravam em uma nova forma. Seus ossos estalavam e se alongavam de maneira quase impossível, formando uma estrutura corpórea diferente a cada momento.
Ele gemeu de dor, um som que misturava agonia e uma espécie de rugido primitivo. O processo era violento, com o corpo de Liam se distorcendo em um espetáculo horrível de transformação. Seus dedos se alongavam, as unhas se transformando em garras afiadas. A cabeça de Liam se alongava, sua mandíbula se expandindo para dar lugar a um focinho bestial e a dentes afiados. Seus olhos, antes humanos, agora brilhavam com um tom feroz e predatório.
O processo durou apenas alguns segundos, mas pareceu uma eternidade. Quando a transformação finalmente terminou, Liam estava agora em sua forma de lobisomem, uma criatura monstruosa e imponente. Seus olhos, ainda carregando uma centelha da humanidade que restava, olhavam para Helena com uma mistura de fúria e desespero.
"Não... você, não!" Liam rosnou, sua voz agora uma combinação de rugidos e uma tonalidade grave e quase inumana. Sua pele ainda estava coberta de marcas de sangue e feridas da transformação.
Helena, paralisada pelo terror, tentou se levantar, mas seu corpo parecia ter dificuldade em obedecer. Com um movimento rápido, ela retirou a pequena faca que carregava com ela, suas mãos tremendo enquanto segurava a lâmina diante de si como uma última linha de defesa.
"Liam, por favor, não faça isso!" Helena suplicou, sua voz ecoando a mistura de medo e desespero.
Mas o lobisomem, agora inconformado e agitado, avançou sobre ela. Seus movimentos eram rápidos e brutais. Helena tentou se defender, cortando o ar com a faca, mas Liam era implacável. Ele a agarrou com uma força descomunal, e seus dentes afiados encontraram o pescoço de Helena, cravando-se na carne com um doloroso estrondo.
Helena gritou, a dor se espalhando por seu corpo enquanto tentava afastá-lo. Seus olhos estavam fixos na lua cheia, que ainda brilhava sinistramente pela janela, como um testemunho silencioso da brutalidade que estava ocorrendo ali.
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