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Anastasia e Marianne se olharam, e como a irmã mais nova da família Flores, os olhos da irmã mais velha se arregalaram brevemente antes de voltar ao normal. As criadas rapidamente se curvaram com os rostos virados para o chão até que o Príncipe Maxwell e Marianne saíssem de vista.
Após dois minutos, quando o corredor estava vazio, Charlotte comentou, "O Príncipe Maxwell é tão bonito, não é? Ele parece um verdadeiro príncipe."
"Isso porque ele é," Theresa apontou o óbvio.
"Não, não!" Charlotte sussurrou, chegando perto de Theresa, enquanto Anastasia olhava para o fim do corredor, onde o príncipe e sua irmã haviam sumido. A jovem criada continuou, "Ele tem um ar tão refinado. Seus cabelos loiros são tão perfeitamente penteados para trás sem nenhum fio fora do lugar, e ele é sempre simpático com todos. Eu queria que ele pudesse ser o futuro rei."
Theresa respondeu, "Não importa quão justo e bonito um príncipe seja, dizem que a Senhora Sophia já discutiu e recebeu a promessa de que seu filho será o próximo a se sentar no trono após ele. Ela é a esposa do Rei."
Então, Charlotte disse, "Eu acho que qualquer um dos príncipes serviria, em vez daquele n—"
Anastasia colocou a mão na boca de Charlotte para que ela não continuasse a frase. Ela colocou o dedo sobre os lábios antes de tirar a mão da boca de Charlotte.
"Charlotte, acho que é uma boa hora para você falar com as mãos e não pela boca antes de nos meter em problemas," Theresa repreendeu com uma carranca. "Falar mal só vai fazer seus pesadelos se tornarem realidade mais rápido."
Charlotte apertou os lábios antes de dizer,
"Mas não tem ninguém no corredor além de nós três. Estamos completamente seguras. Veja," ela acenou com a mão, virando o tronco para a esquerda e para a direita. Ela então suspirou, "Aquela cortesã é sortuda. Eu esqueci o nome dela… Enfim. Deve ser bom nascer com a pele pálida e olhos bonitos. Sortuda o suficiente para passar o tempo com o Príncipe Maxwell. Mas ela, como as outras cortesãs, é uma prostituta, passando seu tempo com mais de uma pessoa," e ela lançou um olhar significativo para Theresa e Anastasia.
Embora as palavras de Charlotte fossem verdadeiras, Anastasia não gostava de ouvir essas palavras depreciativas. Enquanto concubinas eram consideradas posse exclusiva do rei, o mesmo não valia para as cortesãs.
Anastasia respondeu, "Eu acho que seria melhor não falar mal delas. Não é como se elas tivessem escolhido ser prostitutas."
Charlotte assentiu. "Você está certa. Mas ainda assim, quando eu as vejo, não parece que elas estejam infelizes com isso. Elas usam vestidos caros, joias, e comem melhor que nós. Até aquela que acabou de passar por aqui."
"Só por que uma pessoa tem tudo, não significa que esteja contente com essa vida. Às vezes, o que se busca é liberdade," Anastasia respondeu, movendo as mãos.
"Liberdade? Para quê?" Charlotte perguntou, piscando para ela.
Anastasia não sabia se devia sentir pena de Charlotte por esquecer que ela já fora uma pessoa livre, antes de ser capturada por piratas sob a ordem do Vizir e ser transformada em escrava. Incomodava-a que cada servo do palácio parecia contente com suas vidas, e provavelmente era por causa das pessoas ao redor delas, que os faziam acreditar que isso era normal.
Novamente, elas ouviram passos se aproximando delas, vindos do outro lado do corredor, e em breve o Príncipe Maxwell apareceu, dessa vez caminhando sozinho. As três criadas rapidamente se curvaram, esperando que ele passasse, mas em vez disso ele parou na frente delas e ordenou,
"Levantem-se."
Theresa repreendeu Charlotte mentalmente, franzindo os olhos para o tapete no chão antes de levantar a cabeça, juntamente com as duas jovens criadas. Os olhos azuis do Príncipe Maxwell se moveram de uma criada para outra antes de se fixarem em Anastasia.
Embora Anastasia fosse uma criada, uma mulher da classe servil do palácio, ela se destacou brevemente quando nenhuma concubina ou cortesã estava na mesma sala que ela. Sua pele oliva dava calor aos seus expressivos olhos castanhos. Ela rapidamente baixou os olhos depois de notar o príncipe olhando para ela.
O Príncipe Maxwell perguntou, "Vocês viram minha mãe desde cedo hoje de manhã?" As três criadas balançaram a cabeça. Ele disse, "Entendo. Se vocês a virem, avisem que estou à procura dela."
"Sim, Príncipe Maxwell," as duas criadas responderam em coro, e o príncipe notou que a terceira não respondeu.
O Príncipe Maxwell exigiu de Anastasia, "Você não sabe que precisa responder quando a família real exige?"
Charlotte foi rápida em vir em auxílio de sua amiga. Com a voz misturada de ansiedade, ela explicou, "Príncipe Maxwell, me perdoe por falar fora de turno. Mas ela é muda e não pode falar."
O Príncipe Maxwell deu um pequeno aceno e murmurou, "Que pena." Ele então sorriu de volta para as criadas e se afastou do corredor.
Depois de falar com o príncipe, Charlotte ficou extasiada e tinha um grande sorriso sonhador. Por outro lado, Anastasia virou para olhar de um extremo a outro do corredor, foi quando ela avistou sua irmã, que estava atrás da parede sinalizando para ela.
Anastasia pegou o balde de água e o pano e avisou Theresa,
"Vou limpar as janelas do outro lado do corredor."
Theresa já suspeitava do motivo e deu um aceno. Ela disse, "Charlotte e eu terminaremos este lado."
Quando Anastasia chegou ao próximo corredor, ela não encontrou sua irmã. Ela continuou andando até ser puxada para um dos quartos, e a porta do quarto imediatamente se fechou.
"Mary!" Anastasia colocou o balde no chão e largou o pano. Ela abraçou sua irmã fortemente.
Marianne abraçou Anastasia de volta com um sorriso. Já faziam duas semanas que elas não se falavam. Ela se afastou do abraço e perguntou,
"Como você está, irmã?" Quando suas mãos foram segurar as mãos da irmã mais nova, ela sentiu os calos formando em uma das palmas e olhou para as mãos de Anastasia com tristeza. "Sua mão…"
"Está perfeitamente bem e não dói," Anastasia retirou a mão calejada de Marianne e disse, "Você deveria ver as mãos e os pés de Theresa. Comparadas à dela, a minha é nada."
A expressão de preocupação no rosto de Marianne não se desfez, e ela disse, "Eu vou perguntar à Madame Minerva se ela sabe como reduzir isso. Talvez um remédio."
Marianne desejava poder ajudar Anastasia, pois não gostava dos calos nas mãos da irmã. Se pudesse, ela teria trocado de vida com a irmã mais nova. Mas ao mesmo tempo, nem tudo era belo na vida de uma cortesã. Ela não queria que sua irmã passasse por isso.
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"Você está preocupada sem motivo." Anastasia segurou a mão de Marianne, e elas caminharam para o outro lado do quarto, onde sobre uma mesa, pequenos botões de flores estavam colocados no vaso. "Eu não sabia que o Príncipe Maxwell e você estavam conversando."
Anastásia notou o sorriso nos lábios de Marianne ao mencionarem o nome do príncipe. Embora estivessem sozinhas na sala, Marianne sussurrou, "Até ontem, não estávamos. É por causa de Irene."
Irene era a outrora famosa cortesã do palácio real, onde os homens se aglomeravam e a cobriam de presentes. Mas como esperado, com o passar dos anos, sua juventude e encanto eventualmente a deixaram. Ela foi posta de lado e substituída por cortesãs mais jovens que estavam mais em demanda.
"O que ela fez? Espera. Foi ela quem tentou fugir do palácio?!" Anastasia perguntou com uma expressão atônita.
Marianne perguntou, "Você também soube disso??"
Durante os anos em que as irmãs cresceram no Palácio Blackthorn, mesmo que não compartilhassem do mesmo status, tentaram se encontrar secretamente para garantir que a outra estava bem, enquanto compartilhavam coisas sobre seu lado da vida.
Anastasia sabia sobre a cortesã chamada Irene não por sua popularidade, mas porque, no início, a mulher havia dificultado a vida de Marianne.
"Tia Theresa me contou sobre isso ontem à noite. Notícias assim não ficam escondidas por muito tempo e se espalham rapidamente," Anastasia respondeu, e então perguntou, "Ela realmente tentou fugir com o servo?"
Marianne assentiu, uma expressão de preocupação aparecendo em seu belo rosto. Ela disse, "Foi um guarda. Irene e aquele guarda eram amantes. Eles planejaram se encontrar no porto. Mas de alguma forma alguém ficou sabendo e informou a Madame Minerva. Capturaram os dois antes que pudessem sequer sair do palácio. O guarda foi executado ali mesmo."
Um suspiro escapou dos lábios de Anastasia, pois o que acabara de ouvir soava terrível, não importava como Irene poderia ter tratado Marianne no passado. Ela então perguntou, "E o Príncipe Maxwell?"
"Ah sim," Marianne lembrou e disse, "Eu estava por perto quando o Príncipe Dante cortou a cabeça do guarda…. Havia tanto sangue, e eu fiquei em choque. O Príncipe Maxwell me tirou de lá e me levou de volta para a Torre Paraíso."
Anastasia tinha se desligado um pouco depois de ouvir o nome do Príncipe Dante. E—ele havia matado o guarda ontem?! Seus pés ficaram gelados. Então ele era realmente tão impiedoso quanto as pessoas o pintavam…
"Ele matou o guarda porque o palácio perderia uma cortesã?" Anastasia perguntou, sentindo-se inquieta.
Marianne balançou a cabeça. "O Príncipe Maxwell disse que não tinha nada a ver com Irene. Talvez fosse o segundo erro do guarda. O primeiro erro foi sua deslealdade à família Blackthorn, e também que ele trabalhava sob os homens do Príncipe Dante."
Incidentes como esses preocupavam Anastasia, e ela podia dizer que Marianne também estava preocupada. Ela sabia que suas vidas poderiam mudar para melhor ou pior, dependendo do sucesso ou fracasso de seu plano de fuga.
A mão de Anastasia alcançou um botão de flor. Ela gentilmente o girou entre os dedos e disse, "Eu fui ao Bazaar ontem."
"Sério? Eu estou tão feliz por—" A empolgação de Marianne morreu junto com seu sorriso, e ela disse, "Não… A vida aqui não é ruim. Você não ouviu o que eu disse sobre Irene e o guarda?"
"Você não está falando sério, Mary. Ao dizer que esta é a vida que você quer," as sobrancelhas de Anastasia se franziram.
Marianne estava em conflito com as palavras de sua irmã e respondeu, "Prefiro ter você viva onde eu possa te ver, do que ser punida ou nos perdermos uma da outra para sempre." Notando o botão nas mãos da irmã mais nova, ela sorriu suavemente e disse, "Não te ouço cantar há muito tempo. Lembro de quando éramos jovens, você tinha dificuldade em ficar quieta sobre isso, sempre querendo cantar."
Anastasia tinha uma vaga memória disso e sorriu um pouco. Ela disse, "É bom que eu esteja agindo como uma muda. Isso me ajudou a parar de cantar, o que de certo modo é bom."
Houve vezes em que Marianne desejou ter contado outra mentira na frente da Rainha, mas ela disse a primeira coisa que veio à sua mente, e provavelmente foi a melhor mentira. Ela podia dizer que sua irmã mais nova sentia falta de cantar, junto com seus pais, que estavam longe delas. Ela disse,
"Não tem ninguém aqui. Você pode cantar quando estivermos sozinhas e quando não houver ninguém por perto. Ouvi dizer que o lado oeste do palácio está desocupado e intocado há anos."
Anastasia gentilmente afagou o botão de flor. Ela pigarreou, o que trouxe um sorriso aos lábios de Marianne. Ela então abriu os lábios e cantou com sua doce voz,
'Todos almejam ser você, que está nas estrelas,
não sabendo o que você passou nas guerras.
Eles são ingênuos,
Pensando que foi um prado,
Quando apenas o que conhece sua dor é a sombra... que te segue no silêncio da tua dor sou eu…
Eu espero que você se lembre que eu sempre estarei ao seu lado, não importa que caminho você escolha.'
O botão de flor que Anastasia estava segurando, com suas pétalas, se moveu levemente. Era uma habilidade transmitida pela família Flores, que apenas alguns possuíam. Um dos segredos que as irmãs compartilhavam entre si nesse palácio. Marianne elogiou a sua irmã,
"Você tem a voz mais doce, Anna, e suas canções ainda têm efeito. É maravilhoso."
"É uma coisa insignificante," Anastasia disse enquanto colocava o botão de flor de volta no vaso e abraçava sua irmã. "Eu preciso ir agora."
"Se cuida, Anna," Marianne disse, e Anna assentiu.
"Você também." Quando Anastasia chegou à porta, ela se virou e disse, "Mary, eu vou encontrar um jeito de nós sairmos daqui e não sermos pegas."