Nota do autor: a partir deste capítulo, colocarei um - antes de um monólogo interno/diálogo telepático.
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Ainda havia algum tempo antes do início do ano acadêmico. Lith passou a maior parte dele lendo os livros do Diretor e planejando seu futuro. Segundo os registros da escola, a maioria dos estudantes teria apenas uma especialização.
Magos bons e grandes teriam dois, enquanto alcançar três ou mais era o sinal de que verdadeiro gênio polímata. Não bastava apenas frequentar os cursos para ser considerado especialista, deveria-se também possuir considerável talento no campo.
E como a maioria das coisas na vida, o gênio não podia ser avaliado apenas com números. Krishna Manohar, o deus residente da cura, tinha apenas duas especializações, simplesmente porque não tinha interesse em outros tópicos.
Sua segunda especialização era o Mago de Batalha e, mesmo em sua biografia, era mencionado apenas uma vez, por uma questão de completude. No entanto, Nana com apenas uma especialização parecia errado em tantos níveis, então Lith decidiu fazer uma pausa nos estudos para perguntar o porquê.
Desde o dia em que recebeu seu uniforme de Grifo Branco, ele se tornou o único traje que ele usaria. Não por ostentação, mas pela pura praticidade de suas características. Era capaz de se limpar sozinho de sujeira ou suor e até oferecia algum grau de proteção contra ataques físicos e mágicos.
Isso permitiu que ele ficasse mais relaxado durante sua vida diária e ao caçar. Era como se Lith estivesse usando uma armadura completa, mas leve como seda. Poderia resistir a um golpe de garra de urso sem rasgar, mas Lith ainda sentiria o impacto contundente.
Ele realizou muitos experimentos para testar sua confiabilidade e limites. Curiosamente, a proteção também foi estendida à sua cabeça e mãos, apesar de estarem descobertas. A túnica, no entanto, ainda estava guardada na dimensão de bolso de Solus.
Vesti-la fortaleceria o efeito protetor, mas era longa e impraticável de usar. Ela ficaria presa nas árvores, arbustos, tudo. Além disso, ser sorrateiro ao usar um roupão de banho grande era quase impossível.
'Eu disse isso na Terra e vou repetir agora. O senso de moda dos magos é péssimo. Capas e túnicas são idiotas de se usar. Eles facilitam pegar e jogar como um tapete.'
Lith poderia ter voado, mas preferiu caminhar. Aqueles eram seus últimos momentos de verdadeira liberdade, e ele queria aproveitá-los ao máximo.
Na sala da casa de Nana, todos o cobriam de elogios e felicitações, dando tempo para a curandeira conversar com o ex-aprendiz dela.
"Desculpe desapontá-lo, jovem espírito…" Desde que Lith salvou a família de Conde Lark anos atrás, ela o havia promovido de diabinho a espírito.
"…mas eu tenho apenas uma especialização." Ela piscou descaradamente, apesar de estarem sozinhos em seus aposentos privados.
"Aqui está um conselho não solicitado. A vida é imprevisível, e muitas coisas que você precisará para sobreviver não estão escritas em nenhum livro." Ela piscou novamente.
"Você precisa aprender com a experiência."
"Entendi, desculpe ter desperdiçado seu tempo." Lith piscou de volta.
"Não se desculpe, querido. É sempre um prazer vê-lo. E nem pense em sair sem dizer um adeus apropriado, ou quando eu morrer, vou te assombrar como um fantasma!"
"Por favor, se é verdade que ervas daninhas nunca morrem, então você provavelmente vai nos sobreviver a todos!"
Lith comprou alguns doces frescos e pão branco antes de voltar para casa.
'Não consigo decidir se a ideia de especializações ocultas é mais interessante ou perturbadora. Eu me pergunto se o segundo talento de Nana é verdadeiro motivo para sua queda. Talvez ela tenha sido uma assassina mágica que falhou em uma missão importante ou foi incriminada.
'De qualquer forma, para evitar repetir os erros dela, devo seguir o plano, obter minhas especializações e tantos apoiadores quanto puder. E para obtê-los, ser curandeiro é a melhor isca.
'A marquesa provou para mim que não importa o quão rica e poderosa, eles ainda tem medo da morte. Além disso, ser um grande curandeiro traz mais clientes do que inveja. Se eles veem você como um trunfo, aqueles no poder não se sentem ameaçados por sua existência.'
Os últimos meses de Lith passaram-se pacificamente. Conde Lark deu uma pequena festa de despedida privada, aonde Lith's e a família Lark, Nana e Selia compareceram. Hilya, a primeira cozinheira, ainda acreditava no #TeamRaaz, então se esforçou bastante para a ocasião.
Até o chamou de "Jovem Mestre" algumas vezes, envergonhando tanto Lith quanto o Conde. Eles não sabiam se riam ou choravam, os rumores realmente morrem com dificuldade.
A única nota amarga foi a presença de Senton, o futuro marido de Rena. Lith ainda tinha dificuldade em deixar sua irmã ir, então, quando apertou a mão do homem, ele o lembrou de duas verdades.
"Lembre-se, quando você se casa com uma mulher, casa-se com a família inteira." Disse Lith em voz alta, provocando risos e alegria nos participantes.
"E eu sei onde você mora." Ele ameaçou, sussurrando no ouvido de Senton quando eles se abraçaram.
A Marquesa também havia sido convidada, embora apenas por cortesia, mas não pode comparecer por um motivo muito bom. A família dela fora atacada mais uma vez, e ela estava com as mãos cheias tentando identificar o instigador.
No primeiro dia de aula, Lith saiu de casa antes do nascer do sol. Todos os seus pertences cabiam tristemente em um baú menor que uma poltrona, feito à mão por seu pai, Raaz, para a ocasião.
Apesar das circunstâncias felizes, seus pais choraram como se ele estivesse prestes a ir para a guerra.
"Ah, Lith, prometa me escrever todos os dias." Soluçou Elina, sua mãe, abraçando-o com força suficiente para tirar o ar de seus pulmões.
"Mãe, temos o amuleto de comunicação, lembra-se? Você realmente quer esperar pelo correio?"
"Claro que não, bobo. Ligue-nos assim que você tiver um minuto livre." Ela disse jogando-o nos braços do pai.
"Lembre-se, pequenino, não importa o quão distante você esteja, sempre terá uma família e uma casa aqui." As bochechas de Raaz estavam cobertas de lágrimas, sua voz embargada.
"Longe? Pai, entre voar e os Portões de Dobra, estou há apenas uma hora de casa. Estarei de volta ao fim do primeiro trimestre, a tempo para o Festival da Primavera."
Lith estava emocionado e confuso com os sentimentos deles. Na Terra, quando ele e Carl saíram de casa, o presente de despedida da mãe deles havia sido trocar as fechaduras da porta.
As despedidas de suas irmãs foram muito mais alegres. Ambas estavam seguindo com suas vidas e estavam felizes que o irmãozinho delas também pudesse seguir seus sonhos.
Trion não estava em lugar nenhum. O relacionamento deles nunca se recuperou e, quanto mais poder e autoridade Lith ganhava, mais Trion se sentia um estranho em sua própria família.
Ele havia ido embora de casa assim que completou dezesseis anos, anunciando sua decisão de prestar serviço militar voluntário e casar-se fora da família, deixando Tista para herdar a fazenda e a casa.
Lith deixou sua casa, fazendo seu baú voar ao seu lado. Só quando estava longe o suficiente é que ele o guardou na dimensão de bolso e acelerou o passo.
Ele tirou o baú antes de se aproximar do ramo mais próximo da Associação dos Magos, mantendo-o flutuando enquanto caminhava pelo Portão de Dobra até a academia. Um atendente o acompanhou até seu quarto pessoal na ala do quarto ano do castelo.
Para evitar constrangimentos, cada ano tinha uma ala separada para suas aulas, acomodações, até o refeitório. Alunos de anos diferentes não tinham espaços comuns.
Depois de imprimir a sala com sua mana e se tornar seu mestre, Lith deixou o baú e dispensou o atendente. Ele tinha o mapa do castelo copiado e guardado na Soluspedia, portanto não precisava de ajuda para chegar à sala de aula.
Independentemente das especializações escolhidas, os alunos do quarto ano tinham algumas aulas que todos deveriam assistir. A Teoria da Magia de Combate era um desses cursos obrigatórios. (*)
Lith foi um dos primeiros a chegar, a sala de aula estava quase vazia, exceto por alguns alunos que já haviam ocupado as mesas na última fila.
A sala de aula se assemelhava a uma sala de aula de palestras de uma faculdade, com um piso inclinado e as mesas dispostas em forma de semicírculo. À primeira vista, parecia ter capacidade para pelo menos duzentos alunos.
Em outras circunstâncias, Lith admiraria a iluminação perfeita do ambiente, a magnificência do piso de mármore, o refinado artesanato das mesas. Cada uma era feita com os melhores materiais disponíveis, traçando uma impiedosa comparação com sua antiga faculdade.
Naquele momento, no entanto, seus olhos só percebiam como todos os presentes suspiraram aliviados ao vê-lo. Julgando pela posição e nervosismo deles, estavam claramente tentando ficar discretos e não serem notados.
Lith tinha estado nessa situação o suficiente para saber o que isso significava e como o esforço deles era fútil.
'Coitados, vocês ainda não aprenderam que não podem evitar problemas quando são os problemas que estão procurando por vocês, né? Assim como no ensino médio, as presas chegam cedo para evitar contato, enquanto os predadores levam seu tempo.'
Ele escolheu um lugar na fileira do meio, nem muito perto, nem muito longe. Ainda seria capaz de ver claramente o professor e ler o que parecia ser um quadro-negro.
'Ah, eu adoraria sentar na primeira fila, mas aposto que é o ponto de encontro dos descolados. É melhor evitar discussões inúteis e ficar na zona segura. Se alguém vier me incomodar, será de propósito.'
Lith tirou seu caderno e tinteiro, para se preparar para a aula, esperando que as coisas corressem bem.
Segundo Nana, a verdadeira hierarquia da classe seria estabelecida desde o primeiro dia. Tanto ele como Solus permaneceram atentos o tempo todo, enquanto a sala de aula se enchia de pessoas.
Alguns olhavam para ele com desdém, outros balançavam a cabeça com uma expressão triste, considerando-o muito burro ou ingênuo para saber seu lugar.
'É muito interessante.' Solus disse. 'O pior núcleo de mana que detectei é verde brilhante, todos os outros são tons diferentes de azul profundo ou ciano. Não é surpresa que tantos protegidos do Lark tenham falhado nas admissões.'
'Sim, ótimo. Não só eu não sou o melhor núcleo de mana, como também não posso usar nenhuma magia fora da falsa. Olho no prêmio, Solus, isso aqui é Sparta. Pelos olhares que recebi, a situação pode ser pior do que eu esperava.'
Quando faltavam apenas quinze minutos para o início programado da aula, três meninas entraram como se fossem donas do lugar. Lith lançou um rápido olhar para as últimas fileiras e, julgando pelo encolhimento atrás das carteiras, a rainha estava na casa.
Depois de sacudir a manga direita de seu manto, ele se preparou para o impacto.
Elas estavam conversando entre si, olhando ao redor da sala como lobos famintos em um açougue. Ele conseguiu ouvir aquela que estava à frente, uma menina de cabelos ruivos, dizer:
"Vamos dar as boas-vindas aos novatos."
Elas subiram as escadas, até ficarem na frente da mesa de Lith.
"Ei, baixinho, o que você está fazendo tão perto da minha mesa? Seu fedor de camponês sujo me dá náuseas. Vá para a última fila junto com o resto do lixo!"
Disse a menina de cabelos ruivos, que mal era cinco centímetros (2 polegadas) mais alta que ele, enquanto suas duas companheiras riam e zombavam sinistramente.
'Que merda é essa?' Pensou Lith. 'Isso parece a fábula 'O lobo e o cordeiro' de Esopo. Aposto que mesmo se eu já estivesse sentado na última fila, ela me perseguiria por não respeitar meus superiores ou algo assim.
'Ela está procurando briga, não importa o que eu faça. Solus, vamos seguir o plano de contingência para o pior cenário.'
"Desculpe?" Lith respondeu com seu tom mais inocente. "De acordo com as regras do Grifo Branco, tenho o direito de sentar onde quiser. Você não tem autoridade para me dar ordens. Por favor, me deixe em paz e podemos esquecer esse incidente."
Lith estava realmente decepcionado. Pelo menos na Terra, as meninas más eram gostosas, mas essas três eram apenas fofinhas, com curvas médias e o carisma de um gambá apodrecido.
"Seu insolente!" Ela rosnou para ele. "Você não sabe quem eu sou? Eu…"
Nesse momento, Lith ativou seu Feitiço Silêncio em ambos os ouvidos, impedindo-se de ouvir a besteira que a menina estava falando.
Ele conhecia seu temperamento o suficiente para saber que, caso contrário, provavelmente perderia a calma, especialmente se ela mencionasse sua família. Cair nas provocações deles significaria dar a eles e a outros uma desculpa para perseguir ele.
'Ei, Solus, eu não sei ler lábios, mas acho que ela está se fazendo aparecer poderosa, ostentando seu status familiar. Tudo isso enquanto me menospreza e minha aparência física. Quão perto eu cheguei?'
'Muito perto. Meu criador, essa menina realmente tem jeito com as palavras. Se eu tivesse um corpo, já teria chutado o rabo dela. As coisas que ela está dizendo sobre você! Ela é simplesmente a pior! Para completar, essas duas harpias se juntam a ela nos momentos certos.'
'Por favor, não me dê detalhes, já estou indignado, não acrescente mais lenha à fogueira. É hora de colocar a palavra do Diretor à prova. Não vou aguentar essa merda nem mais...'
Antes que ele pudesse completar o pensamento, Solus interrompeu tanto ele quanto os feitiços.
'Essa é a sua deixa!' Lith mal conseguiu ouvir o:
"Você está me ouvindo?"
"Pelo amor dos deuses, não, querida. Sua voz é tão estridente que me faria arrancar os ouvidos se eu tivesse que ouvir realmente todo o seu choramingar e reclamar."
As três meninas ficaram em silêncio por causa do choque.
"Querida?" Alguém na sala de aula ecoou.
"É apenas uma expressão, é claro." Lith respondeu como se tivesse sido a líder do grupo falando.
"Você não é cega, tenho certeza de que, apesar do seu ego inflado, bem lá no fundo do seu coração podre, você sabe que é quase tão feia por fora quanto por dentro.
Temos nobres até na minha aldeia remota, mas você ganha o prêmio pelo maior pedaço de merda no nariz e maior cassetete no cu, isso eu tenho que admitir."
Lith tinha apenas um caminho para sair daquela situação, o mínimo que poderia fazer era tirar toda a raiva acumulada do peito.
"Como... Como você ousa?" O rosto da menina ficou roxo, os olhos saltavam de raiva e transbordavam de mana.
"Olha, garota, a aula está prestes a começar e eu já estou entediado. Talvez você esteja acostumada a assustar as pessoas com sua cara feia e voz irritante, mas já enfrentei coisas piores na minha vida. Agora, sai daqui antes que eu denuncie você por assédio.
"Isso não é sua casa, é uma das seis grandes academias, tem regras!"
Como elas pretendiam prejudicá-lo de qualquer maneira, ele daria toda a corda que quisessem, esperando que se enforcassem com ela.
A menina riu às gargalhadas.
"Regras? Eu não dou a mínima para as regras, eu poderia te matar aqui mesmo e me safar em menos de uma hora. Você acha que algum desses covardes ousaria dizer uma palavra?
"Alguém de uma família nobre ou mágica gastaria até mesmo uma respiração por um camponês imundo? Gente como você nem deveria estar aqui. Sua laia só faz contaminar este lugar e arruinar o bom nome da magia."
Lith se levantou indignado, pronto para o gran finale.
"Como você ousa? Eu falei com o Diretor quando me matriculei, ele disse..."
A menina à sua esquerda o interrompeu.
"Quem? Aquele perdedor? Meu pai diz que ele é tão jovem que provavelmente ainda molha a cama à noite."
"Ele é apenas um homem de palha, como todos os Diretores." Acrescentou a da direita. "Ele é apenas um fantoche nas mãos das grandes famílias. Você está sozinho aqui, porcaria do campo."
A líder do grupo recuperou a confiança, com os braços cruzados diante do peito, com um sorriso convencido de orelha a orelha.
"Agora tire seu traseiro imundo dessa cadeira, ajoelhe-se diante de mim e limpe meus sapatos. Se você fizer isso, prometo não te bater tão forte"
Os punhos deles estavam em chamas, suas bocas e mãos se moviam em uníssono, cada um lançando um feitiço diferente.
Lith apenas tirou sua mão direita da longa manga do manto, revelando uma pequena esfera negra. A magia fluía e pulsava suavemente dentro dela.
Ele a colocou diante dos rostos horrorizados delas. Seus sorrisos e feitiços haviam desaparecido, toda a classe ficou em silêncio.
"Mais uma vez, com sentimento."