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Chapter 1: Olhos Púrpura

O despertador toca.

Cinco horas da manhã, o horário em que costumo levantar-me da cama todos os dias. Posso ver isso ao olhar para o relógio digital que se localiza posicionado em minha escrivaninha, que por sinal é justo adjacente à cama.

A luz do sol é fraca, e o ar bastante frio... Não irei acostumar-me com isso tão cedo, posso imaginar. Apenas o fato de levantar-me da cama já é um sacrifício a ser feito quando se está nesse clima tão aconchegante para uma soneca a mais.

Levanto-me completamente da cama com alguma preguiça... A verdade é que dormi bastante e justamente por causa disso devo estar sonolento... Dormir pouco ou até mesmo dormir demais acaba por atrapalhar todo o funcionamento de seu organismo.

Meu estômago suplica por alimento, e o som ecoa por todo o quarto. Justo recordei-me de que dormi antes do jantar...

De toda maneira, um novo dia está iniciando, e embora não esteja sendo de meu agrado, tenho de me acostumar com essa nova realidade, uma nova vida em uma nova cidade...

Pergunto-me se teremos de nos mudar novamente. A mudança teoricamente é permanente, e iremos realmente passar o restante de alguns anos de nossas vidas aqui em Elderlog, contudo, admito não possuir a menor sensação de que isso será bom, e um estranho pressentimento se agarra ao meu pescoço.

Olho pela janela. A vista do grande bosque é maravilhosa. As árvores altas e de folhas finas garantem um tom ainda mais rústico e simplista para aquela paisagem. As ruas de Elderlog são cobertas por uma fina névoa, que cobre de forma sutil os paralelepípedos das estradas. Não há carros ou motocicletas, em total discordância com a vida na cidade.

O sol faz seu caminho pelo céu, sua luz batalhando contra aquela proveniente das estrelas. Distantes, não conseguem equiparar-se ao brilho daquele que fornece a temperatura e as condições que necessitamos, e assim, desfalecem aos poucos, liberando espaço para o claro tom de azul que cobre a cor celeste da noite. Poucas nuvens tomam o horizonte, sendo coloridas pela irradiação alaranjada.

Estalo as vértebras do pescoço. Hora de sair desse quarto e cuidar de tudo antes que seja tarde demais.

Por sorte, as chinelas de borracha preta bastante grossas estão por perto, e por isso não tenho de sofrer muito com cada toque da sola de meus pés contra o chão de madeira da escada. Descer esses degraus seria uma tortura caso não por esses objetos.

Atingindo o andar inferior, noto a comum falta de movimentação de pessoas. Esse cenário é normal desde a morte de meu pai. Joanne sai cedo para trabalhar e geralmente Hannah encontra-se dormindo, o que torna a residência especialmente vazia e silenciosa.

No entanto, posso ver um sutil feixe de luz que surge da cozinha. Caminho até a porta, e ao abri-la, percebo que não sou o único que se encontra em estado desperto por aqui. Hannah está ali, tomando seu café da manhã. Decido cumprimenta-la.

"Bom dia, Hannah."

Balanço minha mão um pouco elevada, e de imediato faço meu caminho até a prateleira de madeira em que estão localizados os copos de vidro. Encho um deles com água da geladeira e satisfaço a necessidade mais primordial de todo o ser humano.

Enquanto isso, Hannah, que assistia o noticiário, demora para perceber minha presença no ambiente, e até mesmo se assusta um pouco ao me ver ali, parado e já bebendo água que eu mesmo coloquei no copo.

"Oh minha nossa! Você me assustou, irmão!"

Seu olhar indica um verdadeiro susto. Hannah posiciona sua mão direita sobre o peito, respirando de forma profunda e pesada. Acho que tenho de me desculpar por isso...

"Bem, sinto muito! Eu cumprimentei você, mas aparentemente não escutou!"

Ao me justificar, posso vê-la fechar os olhos e respirar novamente daquela maneira.

"Tudo bem... Bom dia, irmão! Ansioso para essa segunda-feira?"

Repouso meu copo sobre a pia da cozinha, e caminhando um pouco, aproximo-me dela.

"Se eu estou ansioso para ser encarado de maneira estranha, ter pessoas me evitando e falando mal de mim por trás? Oh, imagine... Já estou amando isso antes mesmo de começar!"

Meu sarcasmo a faz rir. Minha irmã é uma pessoa deveras carismática, e esse é seu maior ponto forte, isso segundo ela mesma. No entanto, já perdi a conta de quantas vezes já a orientei acerca de como isso pode acabar se tornando sua maior fraqueza. Não se pode confiar em todas as pessoas de forma cega, por mais que sempre se vise observar o melhor que há nelas.

De toda forma, é ótimo ter uma pessoa que consegue ser positiva e fornecer uma boa atmosfera para o ambiente.

"Você viu nossa mãe saindo para trabalhar?"

"Não... Ela deixou um bilhete, entretanto. Nunca entendi o motivo de ela sempre sair tão cedo e voltar para casa tão tarde da noite..."

De fato. Joanne se comporta de maneira um tanto peculiar desde que Emanuel faleceu. Ela nunca possuiu esse costume de manter a vida profissional em sigilo completo. Algo nessa situação é claramente suspeito, ainda mais quando associado com o fato de que constantemente nos mudamos. É difícil acreditar que Elderlog será nossa última parada.

Por mais suspeito que todo esse comportamento possa parecer, até hoje nada de pior aconteceu, logo, posso apenas presumir de que não haja nada de errado com isso.

"Entendo... Pois bem, as coisas não irão sair do lugar estando parado aqui... A Academia Elderlog me aguarda...! Que nome original esse lugar tem... É o nome da cidade, basicamente."

De alguma maneira, meu humor insípido consegue fazer Hannah rir mais uma vez. Honestamente... Não é pelo simples fato de ser a única escola da cidade que esta deve ser chamada pelo nome da cidade...!

Ao fim de sua diversão, Hannah olha para mim, ainda rindo por dentro, e diz.

"Alguém precisa dar uma lição nos mauricinhos e valentões daquela escola... Pegue leve com eles, irmão!"

"Irei pensar nessa possibilidade!" Respondo com alguma convicção.

Finalizado aquele diálogo, tomo um banho com a água absurdamente fria que surge do encanamento. Não é agradável para a pele, e muito menos para os sentimentos, contudo, é confirmado que tomar um banho gelado ao menos uma vez por dia fortalece o sistema imunológico, além de ampliar a tolerância à dor... Presumo que irei precisar desse último benefício.

Saio do banheiro já vestido com o fardamento da escola. Ao observar minha reflexão no espelho, sou capaz de perceber em que isso me tornou. Nesse momento, meu visual não é muito diferente do de um trabalhador de escritório, devo dizer... O fato de que o esquema de cores é preto e branco é um bônus. Odeio ter que vestir cores extravagantes.

Ao retornar para a cozinha, posso ver que minha irmã deixou o ambiente. Ela afirmou que irá perseguir uma vaga de emprego no único hospital da cidade, uma construção cujo nome é completamente sigiloso: O Hospital Elderlog...

Essas pessoas têm de ser mais originais... É serio... Já foi atingido um certo limite para isso.

Algumas torradas foram deixadas para trás em um vasilhame plástico. Por mais que não tenha comido nada nas últimas dez horas, não estou especialmente faminto... Talvez seja apenas o visual do alimento? Torradas não costumam ser a mais atraente entre as refeições.

Ignorando isso, acabo por comer apenas duas delas antes de desistir de seu sabor... Ou da ausência dele. Finalizo com uma boa xícara de café amargo.

Ao finalizar o café, encontro-me em devaneio. Olhando para a janela, observo as nuvens conforme a aproximam-se, escurecendo o espaço ainda mais. De um segundo para o outro, a atmosfera da cidade mudou de algo já calmo e pacato para um sentimento macabro, capaz de fazer gelar a coluna cervical de qualquer indivíduo.

A ventania surge espontaneamente, fazendo farfalharem as folhas das árvores. A televisão está desligada, e por isso consigo escutar bem o som do pequeno redemoinho que se forma ali a balançar as folhas secas de árvores decíduas.

Aquela corrente de ar é o único som escutado por algum tempo, até que algo, uma folha de papel, entra em contato com a superfície de vidro da janela. Não é preciso investigação para perceber que se trata da página de uma edição do jornal local.

As pessoas ainda leem jornais impressos nessa cidade? Não posso julgar um lugar que se encontra congelado no tempo desde o final da Segunda Guerra Mundial... Levanto-me de meu lugar, a abrindo a janela, pego aquela página de cor acinzentada.

Ao analisar, noto que se trata da exposição da imagem de uma pessoa desaparecida. A edição é de dois dias atrás, e o título da matéria diz, em letras grandes e de cor preta, "Um mistério: os estranhos desaparecimentos de Elderlog continuam sem solução. Detetives afirmam que série de crimes é 'impossível de solucionar'."

Huh? Crimes impossíveis de solucionar? Jamais imaginei que presenciaria isso em toda minha vida... Costuma-se dizer que nenhum crime é perfeito, não �� mesmo? Pessoas culpadas são capturadas dez, ou até vinte anos após cometer os crimes. Um delito é virtualmente impossível de ser escondido.

Então, qual será o motivo por trás dessa notícia? O que está acontecendo em Elderlog?

Abaixo, localizam-se as fotos de diversas vítimas. Todas mulheres, todas jovens e atraentes. Tudo aparenta que temos algum tipo de maníaco aqui...

Contudo, o que surpreende é o total de vítimas, multiplicando as colunas pelas linhas, pude concluir um total de 45 vítimas. Segundo o jornal, essa série de crimes se iniciou há cerca de cinco anos. Isso conduz ao questionamento: como esse criminoso conseguiu raptar em um período tão curto de tempo tantas pessoas e não ser descoberto por isso?

A única explicação que consigo encontrar é que "ele" na verdade sejam "eles", ou isso não seria possível... Ao menos que se trate de alguma espécie de criminoso com superpoderes, mas pensar nisso é bobagem, não é mesmo? Superpoderes são em si uma bobagem!

O fato é que não sou nenhum tipo de investigador, mas saber disso causa uma certa insegurança...

... E... Cinco anos... Mas que... Coincidência....

Balanço minha cabeça para os lados violentamente ao perceber que estou pensando "naquilo" novamente... Tudo é uma grande coincidência...

Ao fim de meu café da manhã, preparo-me para deixar a casa. Calço meus sapatos pretos, ponho a gravata vermelha, ajusto os drapeados excessivos nas roupas e pode-se dizer que estou preparado para mais um dia.

É melhor não perturbar Hannah, posto que ela há de ter retornado para o quarto. Saio da casa sem causar alarde algum, fechando tudo e guardando as chaves com segurança.

É bem mais frio do lado de fora... O vento corre pela rua. Não há sequer um transeunte que veja como este levanta as folhas secas do chão com facilidade. O sol faz seu trabalho, todavia, a paisagem continua acinzentada em tom. A névoa carrega consigo o odor amadeirado o bosque, e o som dos pássaros a cantar torna a sensação de estar ali mais agradável.

Abro a garagem da casa, retirando a bicicleta. Não há de ser a mais agradável viagem...

Estou certo, infelizmente... As ruas de paralelepípedo tornam difícil o tráfego com bicicletas pelo fato de serem irregulares em altitude constantemente.

Ignorando isso, a viagem é bastante relaxante. Grande parte do caminho é ocupado por bosques e casas esporádicas em ambos os lados, e apenas quando de fato aproximo-me do centro da cidade é possível notar um pouco da movimentação urbana de uma cidade.

Tudo é bem próximo. Supermercado, padaria, hospital e vários outros pequenos estabelecimentos... O espaço diminuto do centro é condensado, sendo a única área com estradas adequadas e residências verdadeiramente vizinhas umas às outras.

Mesmo assim, é impossível deixar de perceber que o lugar ainda detém de uma forte aura interiorana, não se comparando a um grande amontoado urbano de nenhuma maneira. O lugar é como um "projeto de cidade", se isso pode ser dito.

Não há outra explicação para o fato de que os alunos tendem a sair daqui logo após a formatura. Elderlog não fornece oportunidades de emprego muito rentáveis.

Oh... Posso ver a escola... Tudo o que preciso fazer é dobrar à esquerda.

Paro de pedalar ao chegar ali. O prédio é bastante grande e possui muros altos, semelhantes às muralhas de castelos medievais. A arquitetura combina aspectos românicos e góticos, sendo bastante alta e ao mesmo tempo robusta e ampla horizontalmente.

Há um espaço para o estacionamento de bicicletas, onde acorrento a minha. O campus do lugar é bastante amplo, possuindo inclusive um chafariz simples. Há uma área arborizada ao oeste da construção principal, onde existem bancos de madeira.

Aqui, posso ver o movimento dos outros jovens... Devo admitir que estou um pouco nervoso em relação a tudo isso, mas agora não há como voltar atrás. A sala do diretor deve estar localizada na construção principal.

Caminho até ali, e como sempre, não passo despercebido, afinal todos devem estar se perguntando que é o novo idiota que acabou de comprar uma passagem para o inferno. Durante todo o percurso até a sala do diretor, sinto os olhares questionadores e afiados dos estudantes.

O salão principal é amplo. O chão é coberto por cerâmica em um tom de amarelo não tão prejudicial aos olhos, sendo possível presenciar um vislumbre do teto graças à grande capacidade refletora do piso. Várias colunas sustentam o lugar, e múltiplas salas e corredores estão por todos os lados.

"Esse lugar é bem maior do que a escola anterior..." Digo para mim mesmo, observando a decoração rústica e arquitetura antiga e requintada espaço.

Não perco mais de meu tempo. Faço meu caminho até o diretor. Ao ser aberta, a grande porta de madeira nobre range.

"Oh! Então você chegou... Aproxime-se!"

O homem de cerca de cinquenta anos de idade chama por mim. Calvo na parte superior, seu cabelo antes preto é tomado pela falta de queratina. Um rosto magro, nariz grande e olhos cansados, roupas formais e a típica imagem de alguém insatisfeito com a profissão.

Aproximo-me da mesa em que ele está. Duas plantas ornamentais e um vermelho são a decoração do ambiente inteiro, além do cheio de cigarro que mistura-se ao de produtos de limpeza.

Ali, ele retira de uma gaveta uma espécie de arquivo, onde passa a procurar entre as várias páginas de papel impresso.

"Vejamos... Seu nome é Ryan... Ryan..."

"Ryan Savoia, senhor."

Ele perturba-se um pouco com sua própria confusão, e assim ri para ocultar o fato.

"Oh, claro! Ryan Savoia! Aqui está sua matrícula."

Ele posiciona uma folha de papel sobre a mesa, nela estão contidos uma fotografia minha e informações sobre idade e endereço. A data e o horário da matrícula são compatíveis com o dia de ontem durante a noite. Minha mãe há de ter feito isso. Ela costuma ser eficiente com esse tipo de coisa.

"Aqui consta que você já é um segundo anista, huh? Não é veterano na cidade, não é mesmo? De onde vem?"

"Não venho de um lugar exato, para ser honesto."

Ele para ao escutar a resposta, e olhando para a lateral por um momento, há de estar pensando em alguma coisa. Segundos depois, o diretor dirige-se a mim novamente.

"Pois bem, Savoia. Aqui está a chave de seu armário. Todos os livros que precisará para esse anos letivo estão na biblioteca. Passe lá e pegue-os, sim?"

"Entendido. Farei isso."

Quando trato de sair da sala, sou parado por ele, que me questiona algo muito peculiar.

"Aqui na Academia Elderlog, buscamos alunos capaz de adicionar à escola, não apenas usufruir dela... Então, jovem, diga-me de que maneira você pode contribuir para essa instituição. Que tipo de talento ou capacidade você possui? Pode me dizer o que há de tão especial em você?"

Posso notar o tom derrogatório em sua voz. Uma pergunta ignorante merece uma resposta ignorante.

"Se tiver de dizer, não possuo realmente nada de especial. A coisa mais peculiar que consigo fazer possuir uma postura correta em todos os momentos, seja sentado ou de pé."

Posso notar que ele ri. Mesmo de costas, sou capaz de sentir tudo o que está acontecendo no ambiente.

"Pois bem, se me permite..."

"Claro... Pode sair."

Saio da sala, deixando apenas o velho homem e seus pensamentos bobos ali.

Mas há razão nisso. Sou apenas um adolescente comum, alguém como todos os outros, e não há muito o que posso fazer a respeito disso.

Bem... Ele citou a biblioteca, não é mesmo? Que conveniente. Há um painel com a planta da escola em escala reduzida, que indica a localização exata de tudo no lugar. Existem dois andares e no segundo deles estão as salas de aula. A biblioteca está aqui no térreo, de toda forma. Não é distante de onde estou.

Caminho até a biblioteca, apresentando minha ficha de matrícula para a bibliotecária. Por todos os lugares pelos quais caminho, vejo esses olhares. Bem, eu verdadeiramente não possuo culpa nenhuma de estar nessa situação, mas não é agradável estar nela.

Respiro profundamente, ignorando aquilo. A biblioteca é tão grande em dimensão quanto metade do salão principal, o que significa que é enorme. Fileiras e mais fileiras de prateleiras repletas de livros se estendem por todas as direções, tornando o espaço efetivamente em um labirinto.

Após cerca de cinco longos minutos de espera, recebo todos os doze livros. Tudo o que me resta é guardá-los no armário. Distribuo o número de livros em um par de pilhas de seis, carregando-as em cada braço para balanceamento. Os armários estão no andar superior, e com isso, minha jornada até o lugar correto é um tanto longa.

Aqui está. Armário 0214. Uso minha chave para abri-lo. Hora de guardar os livros.

"Hey. Quem é você, palhaço?"

Imediatamente, sinto algo a me empurrar. Caio ao chão, derrubando todos os livros que levo.

"Olhem só para ele! Olhem para a cara desse idiota!"

Os outros dois riem junto com ele. Aquele que iniciou aquela situação pega a folha de matrícula do chão.

"Vejamos aqui... Ryan Savoia... Savoia! É italiano? Buon giorno!" Ele zomba de meu nome enquanto ri.

Levanto-me, logo tratando de juntar os livros novamente, um por um.

"O que foi, babaca? Não sabe falar nossa língua? A gente te ensina!"

Levanto-me. Um sorriso já está em meu rosto.

"Do que está rindo? Você masoquista ou algo assim? Gente, acho que ele está gostando!"

Novamente eles riem... Coitados... Não sabem com o que estão lidando.

Paro de rir. O grupo de três me encara. Olho para eles com um olhar frio.

"Se saírem daqui agora, eu perdoo vocês."

Ao escutarem isso de minha parte, os três estudantes fortes e altos se entreolham, rindo um pouco entre si, antes de se dirigirem a mim de novo.

"Do você nos chamou, seu imundo?"

"Uh... Eu não disse nada..."

Ele me agarra pelo pescoço, segurando-me contra o armário.

"Eu odeio ter que dizer a mesma coisa duas vezes..."

Prometi que iria me segurar, entretanto vejo que isso será um pouco difícil.

Tudo bem. Apenas uma lição não deve atrair muita atenção... Foco o máximo de mim, e abrir os olhos, sei exatamente o que fazer...

Soco há 110 km/h. Executar um desvio bem sucedido.

O delinquente que tenta me socar erra de forma amarga... Posso ver apenas o aumento do ódio em seu rosto conforme simplesmente evito golpe atrás de golpe. Ele tenta me atacar mais vezes, todas elas sem o menor sucesso.

"Ora... Seu!" Ele grita, partindo para cima como um touro enfurecido.

Ponto fraco encontrado.

Desvio lateralmente, atingindo suas costas com um golpe de meu cotovelo, causando uma queda.

"Isso é tudo o que vocês têm?" Pergunto, vendo o primeiro deles caído.

"Seu... Seu desgraçado!"

Um dos outros valentões grita em minha direção, e ambos tentam me atingir com socos. Desvio com facilidade destes, retribuindo com um próprio no rosto do primeiro. Sem dificuldades, não sou atingido por nenhum golpe, e nocauteio, sozinho, os dois.

Após isso, termino de juntar os livros do chão com calma, guardando-os em meu armário designado. Caminho tranquilo entre a multidão que se aglomerou para ver, e digo com convicção.

"Eu odeio pessoas idiotas. Elas me dão nos nervos."

Todos, garotos e garotas, me encaram com um grande medo. O temor está estampado nas faces de todos e isso é fácil de presenciar.

No entanto, posso dizer que tenho um plano...

Estendo minha mão direita até a altura de meu ombro, e estalo os dedos.

"Esqueçam."

Ao ecoar do som do estalo, todos os estudantes imediatamente retornam às suas tarefas mundanas, como se não houvessem três pessoas desmaiadas nos corredores.

Ponho as mãos em meus bolsos. Esse sou eu. Ryan Savoia, 17 anos. A única diferença entre mim e essas pessoas, é o simples fato de que consigo fazer coisas que nenhuma delas consegue. Possuo um talento único, eu diria.

Desde de que consigo me lembrar, tenho uma peculiar habilidade: a de ler as mentes das pessoas. Com um simples olhar, consigo aprender nomes e detalhes, até mesmo os mais íntimos, sobre a vida de uma pessoa por meio de suas memórias e pensamentos.

Essa "habilidade" me permite também calcular movimentos futuros. Antes de realizar um soco ou caminhar um passo, tem de se pensar em tal, e com isso, consigo prever a intensidade e a direção do golpe alguns milissegundos antes do mesmo ser realizado.

Oh... E é claro... Com minha maestria sobre a frágil mente humana, posso fazer coisas assim, e simplesmente apagar o que desejar das memórias das pessoas. Para esses alunos, é como se nada daquilo de fato aconteceu.

Não estou sendo sério nesse momento, e tudo o que menos desejo é chamar atenção. Para todos os efeitos, sou apenas um adolescente normal de 17 anos.

Após aquilo, estalo os dedos e o pescoço, respirando uma boa porção de ar.

"É pedir demais por um pouco de paz?" Pergunto para mim mesmo.

O sinal toca. Hora da primeira aula do dia. Hora de ser um estudante normal e viver uma vida normal!


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