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30% Re:Birth - Recomeçando A Vida do Zero / Chapter 3: Capítulo 3: Santuário

Chapter 3: Capítulo 3: Santuário

Logo após os eventos no quarto de Emma, Amber a levou para o seu carro, onde Garça, que havia confrontado a garota mais cedo naquele dia, esperava no banco do carona. Com cuidado, ela abriu a porta de trás e deitou o corpo da jovem no sofá, tomando o assento do motorista em seguida.

— Valeu Amber, você me salvou dessa. Se eu voltasse de mãos vazias, eu com certeza estaria com sérios problemas. — A mulher de roupa preta agradeceu, estendendo a sua mão para que a outra apertasse. Entretanto, ela apenas ignorou o gesto que sua companheira fez.

— Não há de que. Meu trabalho é cuidar dos seus problemas, de qualquer forma. — Amber respondeu, indiferente. A única coisa que a preocupava era o quanto o sedativo dosado nas veias da garota que repousava no banco de trás iria durar.

— Ah, fala sério, você realmente precisa ser tão chata assim? Estamos voltando de uma missão, não precisa ser tão formal — afirmou, levando sua mão em direção aos botões do rádio, transitando entre canais aleatórios até ser interrompida pela motorista, que já estava começando a se aborrecer com as atitudes de sua companheira.

— Eu levo o meu trabalho a sério. Isso não é uma brincadeira, senhora Garça. Sabe o que está em jogo, não sabe? — disse, dando um leve tapa na mão da Garça, que recuou o membro rapidamente, ficando enraivecida.

— Deus... você é muito chata. Temos apenas cinco anos de diferença em idade, mas você parece uma velha — falou, apoiando-se na janela do automóvel, observando a paisagem noturna mergulhada no clarão índigo da cidade.

Já haviam saído do centro caótico de Nova York, mas as luzes exuberantes ainda as perseguiam, dificultando o aprecio da vista.

— Eu sei que você não está fazendo isso pelos motivos que o grupo acredita. Como muitos outros, você é só uma mercenária que veio pelo dinheiro, nada mais. E antes que venha desmentir o que estou falando, é só olhar a diferença entre a minha conta bancária e a sua, acho que não preciso explicar mais nada, não é?

— Então me diga, para que entrou nessa jogada tão arriscada? Apesar de ser do alto escalão, você quase nunca aparece e é tão misteriosa. Quais segredos uma das pessoas mais influentes da Menorá Áurea poderia esconder?

— Nada que possa ser do seu interesse, acredite em mim. Agora fique quieta, quanto menos falarmos, menor é a chance do alvo acordar por conta da redução do efeito tranquilizante.

— Eu posso até ser uma mercenária, mas o jeito que você trata as pessoas é muito mal. O que a leva a ser tão arredia?

— Tenho meus motivos. Agora é sério, se você vier com mais uma pergunta, eu juro que te faço ser punida por insubordinação, você sabe que tenho poder pra isso.

O resto da viagem de carro se resumiu à Garça olhando a rua iluminada pela janela e Amber dirigindo atentamente até Staten Island, um dos burgos próximos da cidade de Nova York. Apesar de se localizar num dos estados mais desenvolvidos da década, Staten Island foi um dos poucos lugares da grande Nova York que não se entregou totalmente ao abraço fosforescente do progresso, servindo como um bom local para se instalar a igreja dos fiéis à Menorá Áurea

Trafegando por ruas menos movimentadas, as agentes enfim haviam chegado à base de operações do grupo, que usava como disfarce o cadáver de metal e concreto de uma antiga fábrica de eletrodomésticos, abandonada há tempo suficiente para que a natureza pudesse dissolver boa parte das memórias e ecos de tempos passados.

Saíram do carro, olhando para todos os cantos atentamente para terem certeza de que não estavam sendo seguidas ou observadas. Depois de checarem, tiraram Emma do carro, apoiando-a em seus ombros delicadamente. Amber já não sabia quanto tempo o efeito do sedativo iria durar, então ela deveria terminar aquilo rápido.

Aproximaram-se do muro que cercava o edifício. Coberto por trepadeiras e pichações, era o local ideal para esconder uma passagem secreta, onde elas entraram junto com o corpo da garota.

Alguns metros adiante, estavam perto o bastante do prédio fabril para notar o seu real tamanho e o seu verdadeiro fim. Pedaços de metal e outros materiais jaziam no chão sujo e frio, trazendo uma imagem ainda mais clara do que foi o tempo em que a tecnologia ainda não era tão avançada. A construção em si, mesmo destroçada pelas engrenagens temporais, sustentava-se sobre pilares pétreos, erguendo-se imponentemente como um velho bastião de uma era antiga em meio à paisagem moderna.

Depois de andarem mais um pouco, enfim encontraram a porta do elevador que as levaria para a base de operações. Entraram e aguardaram enquanto ele calmamente descia. A cada número que ia passando no monitor, o coração de Amber palpitava cada vez mais forte, como sempre acontecia quando se aproximava do que ela acreditava ser um antro de ideais deturpados e corrompidos.

E então, a porta do elevador se abriu, e elas foram recebidas por um clarão que as cegou por um momento, seguido por um vento frio por conta do sistema de ar condicionado instalado no subsolo.

O lugar era um grande labirinto de corredores e salas com funções específicas, como santuários de oração, refeitório, estoques e muitas outras coisas. No centro deste gigantesco complexo religioso, encontrava-se uma espécie de templo, com várias fileiras de cadeiras e um altar mais a frente, que foi exatamente onde elas haviam chegado. Aparentemente, elas haviam no meio de um evento religioso, já que boa parte dos assentos estavam ocupados.

No altar, um homem com longos cabelos negros e olhos verdes como esmeralda vestindo um manto sacerdotal sorriu assim que viu as duas. Ele aparentava ser bem mais novo que as agentes, aproximando-se mais da idade de Emma.

— Vejam só, parece que nossas amigas enfim chegaram de sua nobre missão. Palmas, meus queridos! — o jovem sacerdote pediu, cativando a multidão e influenciado-os à aplaudir.

— Você parece bem, Leviatã — Amber respondeu, aproximando-se do jovem com o corpo da universitária consigo. — Interrompemos algo?

— Claro que não, senhorita. A sua chegada é mais que bem vinda. Adoraria que você pudesse participar do culto, mas parece que você está carregando algo que o chefe quer — disse, dirigindo seu olhar para o corpo de Emma.

— É, você está certo. Garça, o Lobo está nos esperando, vamos logo.

— Vá sozinha, eu ficarei aqui com o Levi-boy — falou, colocando o braço por cima do ombro do Leviatã e sorrindo para a mulher de branco. Ela sabia que a loira queria empurrar todo o trabalho para ela, mas não se importou.

— Se pensa que está se livrando, está muito enganada, senhorita Garça — provocou, não abdicando de seu olhar penetrante, que causou certo desconforto na garota. — De qualquer forma, eu vou indo. Vejo vocês depois. — Virou-se, indo em direção aos aposentos do líder do culto.

Contudo, no meio do caminho, Emma enfim recobrou a consciência, aos poucos recuperando todos os sentidos do corpo. Sua boca estava seca e sua cabeça doía, seu corpo ainda estava meio mole por conta do dardo, mas ela conseguia pensar.

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— Onde... onde estou?

— No Santuário Dourado, ou a base da organização, se preferir — respondeu, preocupada com o estado da garota. — E, antes que tente qualquer gracinha, você está no ninho da víbora, então é melhor você falar baixo e não tentar fugir.

— Ou seja, seguir suas regras? — questionou, ainda meio grogue. — Eu já tô muito puta contigo por conta daquilo no quarto. Uma dica: não atire a droga de um sedativo na pessoa que você quer recrutar.

— Você não aguentaria a Garça no carro, vai por mim.

— Garça?

— A mulher loira que tentou te convencer mais cedo. Nós usamos nomes de animais aqui para manter sigilo.

— E você é o que? A vaca?

— Haha, muito engraçado, quer outro sedativo? — falou, mostrando uma parte da pistola de dardos.

— Guarda isso, por favor. Mas afinal, o que eu vim fazer aqui?

— Antes de eu dizer, eu tenho uma pergunta. Você ajudaria um inimigo para derrotar um perigo em comum?

— Pela lógica, sim. É mais proveitoso, além de haver a possibilidade de reconciliação entre os dois lados.

— Muito bem, você está pronta para me ouvir então — Sua expressão se tornou ainda mais séria, e ela se aproximou mais da garota. — Quer se aliar comigo pra derrotar a Menorá Áurea?

— O que?! Você é uma... — Antes que pudesse terminar de falar, sua boca foi tapada por Amber, que impediu que ela falasse muito alto.

— Sim, sou uma traidora. Eu trabalho para eles tempo o bastante para saber que seus ideais estão mais que errados, uma pena que só percebi isso tarde demais para impedir tudo isso. Enfim, você vai me ajudar ou não? — indagou num sussurro.

— Espera! Me dê um tempo para pensar! — exigiu, se afastando da mulher, que permanecia séria, enquanto Emma estava tensa. — Quais são seus objetivos? O que vamos enfrentar? Quais são nossas chances? Eu quero que diga tudo.

— Você saberá na hora certa. Por enquanto, você só deve saber do objetivo da Menorá Áurea.

— Frear o progresso? Boa sorte pra eles. Não vai ser fácil apagar a tecnologia do mundo, ainda mais do jeito que está agora.

— Não se engane. Na história, Adolf Hitler conseguiu transformar um país destruído pela guerra em uma superpotência mundial em alguns anos, tudo isso graças ao seu discurso para milhões de alemães oprimidos e com sede de vingança. A vontade de um único homem causou uma guerra que matou mais de 46 milhões de pessoas, isso na década de 30. Imagine agora, 2025, com as armas e tecnologias que temos, o mundo seria reduzido à cinzas em alguns meses.

Apesar de odiar admitir que estava errada, Emma entendeu perfeitamente o que estava em jogo. O futuro da humanidade repousava suavemente sobre suas mãos, uma responsabilidade grande demais para mãos tão pequenas.

— Ainda me impressiono com a rapidez que os eventos estão acontecendo. Em um único dia, passei de uma simples universitária para infiltrada numa organização do mal. — suspirou, tentando aguentar o peso que caiu sobre os seus ombros. Era algo que ela nunca esperou para ela, mas que ela teria que aceitar.

— Uma hora você se acostuma — Antes que pudessem continuar andando, Amber colocou seu braço na frente da garota, impedindo-a de continuar. — Chegamos. A partir daqui, você tem que agir como se estivesse no grupo pra ajudar, entendeu?

— Acho que sim.

Andando mais alguns passos, elas ficaram de frente para a porta do escritório do Lobo. Com a maior naturalidade possível, Amber girou a maçaneta e abriu a porta.


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