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88.88% Palácio / Chapter 24: As rosas têm espinhos, assim como as verdades.

Chapter 24: As rosas têm espinhos, assim como as verdades.

Cixi estava sentada numa cadeira de veludo que se encontrava no seu quarto olhando para a janela como se pudesse ver o sol, mas seu quarto se encontrava numa escuridão sem tamanho a deixando perdida entre os dias, ela já não sabia se estava ali a um ou dois dias. Ela estava presa sem poder se quer ver o sol ou a lua.

Tudo isso porque ela fora tola o bastante para não dar um fim na própria neta, ela sabia que Mira em algum momento descobriria a verdade sobre tudo o que estava acontecendo e usaria isso contra ela... Sim, Mira usaria se isso fosse necessário para salvar seu pai ou seus filhos e Cixi sabia muito bem disso, mas ela achava que tinha ludibriado Mira, mas sua neta fora mais esperta que ela...

— Como a mãe um dia fora! — Cixi diz e logo depois dá uma risada que ecoa pelo quarto, lhe fazendo companhia.

— Posso saber o que é tão engraçado, querida? — Fun Xu diz enquanto abre a porta dando de cara com Cixi, que estava sentada na cadeira de veludo olhando para a janela.

— Mira parece tanto com a Yuri que me dá vontade de matá-la!

— Não acha que seria injusto com nossa filha? — Fun Xu pergunta enquanto se senta na cadeira que se encontrava na frente de Cixi, que apenas o olha com seus olhos violetas e lhe dá um sorriso.

— Ela impediu de que tudo saísse como eu queria! — Cixi diz enquanto se levanta bruscamente fazendo com que a cadeira em que estava sentada fosse atira ao chão com violência.

— Só por causa disso precisou tentar matá-la? — Fun Xu pergunta fazendo com que Cixi o olhe com os olhos violetas em fendas.

— Sim, ela sabia dos meus planos e por isso tentou de tudo para me impedir de realiza-los! — Cixi diz andando de um lado para o outro enquanto Fun Xu apenas a observava.

Ele não conseguia acreditar que um dia chegara a amar aquela mulher que estava na sua frente, àquela mulher que fora capaz de tentar matar a própria filha, os netos e fora cúmplice de um assassinato.

— Você sabe que não posso interferir nas escolhas do conselho, já que você cometera um crime no Reino Mortal! — Fun Xu diz enquanto se levanta da cadeira a arrastando pelo chão de gelo.

— Você nunca se interfere nos meus assuntos, Fun Xu! — Cixi diz enquanto observa Fun Xu caminhar em direção à porta, mas em um momento ele para e se vira para Cixi, que apenas o olha.

— Algum dia entre os tantos milênios que vivemos juntos, você por acaso me amou? — Fun Xu pergunta com os olhos com uma curiosidade que não consegue esconder.

— Você sabe a resposta, Fun Xu.... Eu nunca o amei, apenas o usei para conseguir o poder maior! — Cixi diz com um sorriso perverso nos lábios quebrando Fun Xu em milhares de pedaços.

Fun Xu não conseguia falar nada e nem se mover, seu corpo estava tenso e sua mente parecia ter se tornado um livro em branco... Todas as lembranças dele e de Cixi lhe veem a mente, mas parecia que quando mais ele tentava forçar mais e mais a mente as imagens lhe fugiam como pequenos camundongos.

— Nunca o amei e nunca vou amá-lo! — Cixi diz com a voz fria e calculista, lhe mostrando uma face que Fun Xu nunca vira de sua mulher.

Fun Xu apenas olha para a sua mulher com os olhos tristes e perdidos, como se estivesse tentando descobrir o que a fez ser assim, mas parecia que ele estava lutando contra a maré, que subia mais e mais até que ele se deu conta...

Cixi sempre fora assim, ela sabia como manipulá-lo e como fazer dele seu boneco num jogo de poder, ele sabia que Alina fora um peão usado por Cixi para fazer com que os seus generais duvidassem dele, assim como sabia também que toda aquela inocência que Cixi um dia mostrara para ele era falsa.

Fun Xu apenas suspira e se vira para a porta pronto para sair por ela e ir para bem longe de sua mulher, mas parece que algo ainda o mantinha ali.

— Por que você fez aquilo na montanha? — Fun Xu pergunta olhando para a porta, seus olhos não queriam ver Cixi numa saia longa dourada e nem na blusa de manga longa branca.

— Você está falando da Umut? — Cixi pergunta enquanto se senta na cadeira de veludo e pega o pequeno bule de chá que estava na sua frente.

— Sim! — Fun Xu diz enquanto engole em seco e tenta deixar a mente leve e vazia.

— Para se conseguir poder são necessários certos sacrifícios... E Umut fora um deles! — Cixi diz enquanto despeja o líquido marrom na pequena xícara que se encontrava na sua frente.

Fun Xu não conseguia acreditar nas palavras de sua mulher, e por isso apenas saíra pela porta sem olhar para trás, deixando para trás uma Imperatriz que se encontrava a tomar um chá esperando sua morte.

Xo Bou estava olhando para Bu Bu, que tinha a pequena menina adormecida em seus braços, ela não sabia o porquê, mas sentia uma inveja de Bu Bu no momento em que vira a criança e ela, só não sabia o porquê daquela inveja e nem o porquê da vontade de estar nos braços de Amir.

— Você não acha que tem algo para me dizer? — Xo Bou pergunta enquanto se senta ao lado de Bu Bu, que desliza a mão no rosto delicado da pequena menina que se encontrava nos braços da mesma.

— Acho que não se necessita de palavras! — Bu Bu diz olhando para Xo Bou, que tinha seus olhos voltados para a pequena menina que dormia os sonos dos justos e inocentes.

— Ela lhe chamou de mãe! — Xo Bou diz sem conseguir acreditar nas próprias palavras que deslizavam de seus lábios.

— Sim, ela me chamou de mãe! — Bu Bu diz.

— Mas por quê? — Xo Bou pergunta com os olhos hipnotizados pela linda menina nos braços da mãe, que ao reparar nos olhos brilhando de Xo Bou apenas a puxa mais ainda para si, como se temesse que ela tentasse lhe arrancar a criança de seus braços a força.

— Porque sou a mãe dela! — Bu Bu diz com os olhos voltados para a pequena menina que se encontrava dormindo em seus braços, um sorriso involuntário surgiu em seus lábios...

— Mãe? — Xo Bou pergunta com as sobrancelhas franzidas.

— Sim, eu a gerei e dei à luz!

— Você é mãe? — Xo Bou pergunta sem conseguir acreditar naquilo.

Bu Bu reparando que Xo Bou estava parada sem acreditar em suas palavras apenas sorri... Um sorriso triste que logo depois se tornou um sorriso de alguém ferido e que ainda mantinha a ferida aberta.

— Sim, eu a tive há cinco anos! — Bu Bu diz enquanto desliza a palma da mão na face da pequena menina, que ela aperta contra seu peito sentindo o calor daquele pequeno corpo.

Era sua filha que estava ali nos seus braços, a sua pequena menininha que ela não podia ter por perto lhe chamando de mãe e isso doía em seu peito.

— Por que você escondeu isso de todos? — Xo Bou pergunta enquanto se levanta, seu corpo não consegue ficar parado...

Ela não era a única com segredos e mentiras contadas a todos, ali na sua frente tinha mais uma pessoa com segredos que não poderiam ser descobertos, e foi naquela hora em que Xo Bou se sentiu mal por todas às vezes em que ela tentara planejar contra a vida de Bu Bu, sim, Xo Bou tinha planos para eliminar Bu Bu, que apenas lhe atrapalhava.

— Assim como você, que esconde o seu verdadeiro objetivo com a sua vinda aqui, eu escondo a minha filha para que ela não seja morta por ser uma bastarda! — Bu Bu diz se levantando com a sua filha nos braços, que apenas resmunga algo entre os finos lábios.

Xo Bou assim que ouve as palavras de Bu Bu apenas se vira para a mesma que estava parada na sua frente com a pequena menina nos braços e a olha com os olhos dourados em fúria.

— Você não sabe o que fala! — Xo Bou rosna para Bu Bu, que apenas lhe dá um sorriso que faz com que Xo Bou sinta vontade de socar a cara da Princesa, mas ela apenas suspira e olha para o lado... Para a neve que cai.

— Eu sei o que estou falando, você não veio até aqui apenas para impedir uma guerra, a algo que a trouxe aqui e eu quero a verdade! — Bu Bu fala enquanto se vira para a mulher que estava não muito longe dali e lhe chama com os olhos a fazendo se levantar do chão e ir até as duas. — Leve a Mastani!

— Sim, Princesa! — A senhora já idosa diz enquanto se curva na frente da Princesa e logo depois pega a pequena menina dos braços de Bu Bu, que assim que sente o frio lhe tocar o peito apenas morde o lábio de baixo tentando impedir que as pequenas lágrimas deslizassem de seus olhos.

— Você não é tão esperta assim, Xo Bou... Você deixou migalhas espalhadas por ai! — Bu Bu diz enquanto se vira para a mesma, que a olha com os olhos em dúvida. — Você pode ter enganado meu irmão o fazendo acreditar que existe algum sentimento, mas você não o ama e se um dia chegar a amá-lo, será tarde demais!

— Você fala coisas das quais não sabe e eu sei apenas que você tem uma filha e não é casada! — Xo Bou diz enquanto sorri para a mesma, que apenas lhe sorri de volta.

— Você dormiu com meu irmão e não é casada com o mesmo, o que a faz uma jovem impura assim como eu! — Bu Bu diz amargurada, fazendo com que Xo Bou apenas a olhe enquanto que a mesma se encontra perdida em pensamentos e lembranças de um passado há pouco tempo esquecido.

— O que a fez ser impura?

— Xo Bou, nessa corte não existe amigo, apenas cobras tentando comer a outra, eles não se importam se for uma criança ainda florescendo ou um homem a beira da morte, se eles podem usar, eles vão usar. — Bu Bu diz enquanto se senta no pequeno banco de madeira que tinha ali e passa a observar a neve cair.

"Um dia de inverno enquanto meu pai e meu irmão estavam em campo de batalha, a Rainha aceitou um jovem Príncipe em nossa corte, todos diziam que de belo ele tinha de cruel. Mesmo com sua beleza havia uma nuvem negra em torno dele, o deixando tão assustador que naquele dia eu não quis sair do meu quarto, já que seus olhos negros e sombrios pararam sobre mim como abrutes esperando a carne apodrecer para poderem deslizar pelo céu e a pegar. A festa para ele fora toda feita pela Rainha, com direito a muito vinho dos mais nobres e mulheres, muitas mulheres para satisfazer os desejos daquele homem, muitos dizem que a Rainha também se deitou com ele naquela festa na frente de todos e quando eu fiquei sabendo daquilo apenas fiquei longe, tentando evitar que os olhos negros daquele homem parassem sobre mim... Mas um dia não teve como ser evitado, eu tinha que ir à festa, e foi naquele dia em que tudo aconteceu. — Bu Bu diz com a voz quase se perdendo no ar e as pequenas lágrimas deslizando pelas suas bochechas.

— O que aconteceu? — Xo Bou pergunta enquanto sente como se algo no seu estômago estivesse se revirando.

— Ele me pegou pelo braço enquanto eu entrava no salão e me beijou na frente de todos aqueles homens e da Rainha, ela tinha que tê-lo impedido, mas não, ela apenas riu quando viu às lágrimas deslizando pela minha face e bebeu seu vinho com um sorriso quando viu ele puxando meu vestido para cima, enquanto eu tentava fugir das mãos odiosas dele! — Bu Bu diz enquanto fecha os olhos.

As imagens daquele dia lhe vinham como uma correnteza deslizando contra as pedras. A mão dele lhe segurando brutalmente contra si, a boca dele com hálito de vinho e a dor que ela sentiu enquanto todos riram dela, que se encontrava em meio às lágrimas de dor e humilhação.

— Não precisa me dizer mais nada! — Xo Bou diz enquanto sente algo lhe subir pela garganta.

— Você não quer saber ou quer apenas fugir?

— Não quero nenhum dos dois!

— Vocês não foram feitos para ficarem juntos, Xo Bou! — Bu Bu diz enquanto observa a neve cair em pequenos flocos deixando com que sua brancura cubra o chão .

— Por que você acha isso? — Xo Bou pergunta.

Sua mente sabe que é verdade, mesmo que ela um dia chegue a amar Amir como ela amou Li Yi Feng, esse dia seria o último dia dela nessa terra, ela sabia o que sentia por Amir não era amor e nem mesmo um carinho, mas sim um desejo de cumprir sua obrigação... Nem que para isso ela tivesse que fingir um amor... O que foi que ela fez.

Ela não estava apaixonada por Amir, foi isso que Bu Bu pensa enquanto observa Xo Bou.

Ela sabia que aquela Princesa não precisaria de seu irmão e nem mesmo de seu reino, Bu Bu sentia lá no fundo do seu ser que Xo Bou estava ali apenas para cumprir alguma missão.

— Porque você não se apaixonaria por um homem como meu irmão! — Bu Bu diz enquanto sente que Xo Bou estava lhe escondendo algo.

— Que tipo de homem é seu irmão? — Xo Bou pergunta com um sorriso nos lábios.

— Não fuga! — Bu Bu fala se virando para Xo Bou, que a olha com seus olhos dourados brilhando com uma determinação e ousadia que Bu Bu não tinha reparado.

— Ok, sabe, Bu Bu, às vezes temos que sacrificar nossa felicidade por um bem maior e...

— Você estava apaixonada por outro homem? — Bu Bu pergunta enquanto Xo Bou apenas arregala os olhos e se vira para ela...

Sua face pálida e seus olhos arregalados deixam claros para Bu Bu que ela estava certa a fazendo sorrir.

— Sim, ele foi o homem que amei desde meus cinco anos... E esse ano descobri que ele se casou e teve um filho! — Xo Bou diz olhando para o horizonte com um olhar perdido, e ali naquele momento Bu Bu teve certeza...

Xo Bou nunca se apaixonaria pelo seu irmão, Amir não era o homem certo para Xo Bou, ele era apenas um jovem Príncipe lutando contra o próprio destino enquanto que a jovem Princesa era alguém lutando contra um sentimento por um homem casado.

— Por que você veio para cá? — Bu Bu pergunta enquanto se levanta, a barra dourado do seu vestido desliza na neve enquanto ela se vira para ficar parada na frente de Xo Bou, que a olhava com os olhos dourados, tristes e misteriosos.

— Apenas para fazer de seu irmão o Rei! — Xo Bou diz olhando nos olhos de Bu Bu, que a olha e logo depois ri...

Sua risada faz eco naquele lugar, que ficara branco como uma tela sem tinta enquanto Xo Bou a olha e olha sem conseguir acreditar que aquela mulher estava rindo de algo assim.

— Meu irmão não precisa de você para ser rei, ele pode ser rei a qualquer momento! — Bu Bu diz depois de um longo tempo, ainda rindo.

— Por que seu irmão poderia ser Rei a qualquer momento? — Xo Bou pergunta enquanto pensa no que Bu Bu diz.

— Porque ele é o Príncipe Herdeiro! — Bu Bu diz enquanto olha para Xo Bou, ela sorri para a mesma que a olha com os olhos arregalados e a boca escancarada.

— O que? — Xo Bou pergunta enquanto pisca os olhos tentando entender o porquê de tudo aquilo.

Como assim ele era o Príncipe herdeiro? Então porque sua bisavó lhe disse que ele era apenas um simples Príncipe? O que estava acontecendo de verdade? O que era tudo aquilo? Como ela pode ter sido tão tola assim?

— Meu pai antes de morrer passou o trono para o meu irmão, que não o quis, disse que só iria ser rei se um dia fosse necessário ou se encontrasse sua Rainha! — Bu Bu diz observando Xo Bou, que não consegue se manter em pé e cai sentada na neve.

— Então ela mentiu para mim! — Xo Bou sussurra enquanto Bu Bu apenas a observa caída no chão sussurrando para si mesma as mesmas palavras inúmeras vezes.

— Do que está falando? — Bu Bu pergunta enquanto se agacha na frente de Xo Bou, que continua a sussurrar pequenas palavras soltas que Bu Bu não consegue entender.

— Ela mentira para mim! — Xo Bou sussurra para si mesma enquanto sente seu corpo tremer todo.

Como ela fora tola o bastante para deixar com que sua bisavó a manipulasse, a usasse... Por que ela se deixou ser manipulada? Apenas para fugir do amor que ela sentia por Li Yi Feng, para ir para longe do homem que tinha seu coração na mão.

— Tem como você explicar o que está dizendo? — Bu Bu pergunta enquanto olha para Xo Bou que apenas a olha de volta.

— Ela me usou para conseguir com que seu irmão lutasse pelo trono! — Xo Bou diz enquanto se levanta, ela olha para Bu Bu com os olhos dourados com um brilho de fúria e ódio. — Ela fez tudo aquilo para conseguir me afastar de Li Yi Feng!

Bu Bu ainda não conseguia entender o que ela dizia, por isso apenas acenou com a cabeça perdida em pensamentos, do que aquela Princesa estava falando? Por que ela teria como missão fazer de seu irmão um Rei sendo que o mesmo não queria ser um?

— Do que você está falando? — Bu Bu pergunta enquanto a olha, ela não consegue acreditar nas palavras ditas pela Xo Bou, que naquele momento se encontrava a olhar para longe.

— Ela me mandou aqui para fazer de seu irmão Rei, e me falou para não me importar com quais armas usar! — Xo Bou diz séria, ela estava fervendo de raiva e ódio.

Tudo estava claro para ela...

Xo Bou fora um peão num jogo de poder, ela foi apenas um meio mais rápido e letal para conseguir o que sua bisavó queria... Mas o que era o que ela queria?

— Onde você vai? — Bu Bu pergunta enquanto observa Xo Bou caminhar pela neve com a barra de seu vestido deslizando pela mesma como uma pequena calda de cobra.

— Vou até ela e perguntar a verdade! — Xo Bou fala enquanto para e se vira para Bu Bu, que apenas a olha.

— E qual é a verdade? — Bu Bu pergunta, ela sente um vento frio deslizar pelo norte, lhe dando a sensação de vazio.

— O que de verdade eu estou fazendo aqui? — Xo Bou diz enquanto desaparece entre pequenas partículas de fogo e gelo, deixando para trás Bu Bu perdida em pensamentos e uma jovem que estava escondida com um sorriso nos lábios.

Xing estava parada com as mãos no parapeito da sacada olhando para a neve que deslizava pelo vento, e para o nada, perdida em pensamentos sobre o quanto a verdade era cruel. Ela sabia que Cixi só queria poder quando a mesma deixara deslizar o sangue inocente na neve, mas para Xing aquela mulher nunca seria capaz de fazer algo assim, mas ali estava a prova... Ela tinha tentado assassinar a própria filha, a neta e assassinado o próprio neto apenas para conseguir poder.

E no trajeto para isso Cixi teve que usar a arma mais cruel de todas e agora quem estava pagando caro era a sua neta, que nesse momento se encontrava em lágrimas no quarto sozinha tentando entender onde tudo isso era verdade e onde a mentira se encontrava.

— Não se preocupe, Xing, seus filhos serão vingados! — A voz de um homem diz por detrás da mesma, que apenas suspira, ela sabe que é verdade...

Depois de tantos anos enfim a verdade poderia criar assas e ela não teria que manter mais aquilo para si.

— Não estou preocupada com isso, mas sim com Mira! — Xing diz enquanto olha para o céu.

— Ela é forte! — Shou Ga diz enquanto se coloca ao lado dela e passa a olhar também para o céu.

— Mesmo sendo forte, tem horas em que desabamos!

— Às vezes acho que você poderia ser uma ótima Rainha, outras vezes acho que será uma tirana!

— Eu sou assim porque fui criada apenas para buscar poder e mais nada! —Xing diz se virando para Shou Ga, que a olha com os olhos tão hipnóticos que Xing não sabe se deve ficar com medo ou se deixar levar por algo que a mesma não sabe o que é.

— Por que você foi criada para buscar poder? — Shou Ga pergunta enquanto se vira para poder ver uma jovem de vestido branco surgir entre as paredes de gelo com o olhar determinado. — Pelo que estou vendo as coisas vão ser interessante!

Xing, que não tinha entendido nada do que Shou Ga tinha dito apenas se vira a ponto de ver a barra do vestido branco de Xo Bou deslizar pelo ar enquanto a mesma caminhava pelo corredor de gelo.

Xo Bou caminhava pelo corredor com os pés a baterem contra o chão de gelo com uma raiva e fúria que poderia ser sentida a quilômetros, mas naquele momento ela não se importava com nada daquilo, apenas queria a verdade, e ela não se importava se tivesse que arrancá-la de sua bisavó.

— Xo Bou, o que está fazendo aqui? — Seu pai pergunta quando a mesma vira um corredor dando de cara com ele, que estava parado olhando pelo arco da janela, para a neve que caía do outro lado com os olhos perdidos.

— Meu pai, vim ver a Imperatriz Cixi! — Xo Bou diz enquanto se curva na frente de Yin Chang, que a olha e sorri um sorriso triste.

— Acho que não é uma boa hora para você ver ela! — Yin Chang diz enquanto se vira e começa a andar com as mãos nas costas, fazendo com que sua filha também caminhe ao seu lado.

— Por quê? — Xo Bou pergunta enquanto olha para o seu pai e consegue ver a face pálida e os olhos tristes perdidos.

— Porque nesse exato momento sua bisavó fez a sua própria cova! — Yin Chang diz enquanto vira o rosto para a sua filha e lhe sorri... Um sorriso triste e doloroso. — Ela está no fim do corredor sendo mantida presa!

— O que ela fez? — Xo Bou pergunta enquanto seu pai para no meio do corredor.

— Apenas fizera a sua própria cova com as próprias mãos! — Yin Chang diz e logo depois se vira deixando para trás sua filha, que apenas olha para seu pai desaparecendo entre as paredes de gelo, que pareciam brilhar em especial naquele dia.

Xo Bou se vira para ver o corredor longo e gelado que se encontrava na sua frente, e a porta... Ah, a porta que mantinha a verdade escondida e presa, a qual Xo Bou queria desesperadamente, assim como um velho cansado de viver quer a morte. Suspirando ela se põe a andar, seus passos pareciam pesados e lentos.

A caminhada parecia longa demais para poucos metros, mas assim que Xo Bou chegou até a porta ela pode ver dois guardas dos Reinos de Kon e de Umlilo parados do lado de fora, protegendo a porta que tinha um leve escudo de gelo e fogo.

Xo Bou dá um passo à frente fazendo com que os guardas se coloquem em posição de respeito à Princesa, que se encontrava na frente deles e logo depois eles a viram desaparecer entre o escudo de gelo e fogo.

— Posso saber o que você quer, Princesa Xo Bou? — Cixi pergunta enquanto leva a pequena xícara aos lábios e olha para Xo Bou, que apenas a olhava com os olhos dourados com raiva e fúria.

— O que eu fui fazer na Corte? — Xo Bou pergunta enquanto puxa a cadeira de veludo que estava na sua frente e se senta.

Cixi apenas bebe o líquido da xícara e olha para Xo Bou com um sorriso frio e calculista, que faz com que um pequeno calafrio passe pela coluna de Xo Bou, que engole em seco.

— O que você acha que foi fazer lá, senão fazer de Amir Rei? — Cixi pergunta enquanto coloca a pequena xícara na mesa e sorri outra vez para Xo Bou, que apenas a olha.

Xo Bou sabe que sua bisavó estava querendo jogar um jogo, e naquele momento ela não queria saber de jogos e sim da verdade, a verdade da qual ela tanto tentava evitar e que poderia lhe ser fatal.

— Ele não precisava de mim para ser Rei! — Xo Bou diz enquanto sente como se algo se quebrasse por dentro.

Ela não era nada para Amir, ela era apenas uma menina tentando fugir do amor que sentia por um homem casado e por isso tinha aceitado ir para a Corte.

— Isso é apenas um pequeno desvio de caminho, ele precisava de você para ser Rei, já que ele só aceitaria se encontrasse sua Rainha! — Cixi diz a olhando com os olhos sérios.

— Ele não precisa de mim para ser Rei! — Xo Bou grita enquanto se levanta bruscamente da cadeira, a fazendo cair no chão com um banque surdo, sua raiva parecia deslizar por suas veias até a sua cabeça, lhe dizendo que tudo aquilo era culpa daquela mulher que estava na sua frente.

— Mesmo assim ele a usou como desculpa para ser Rei! — Cixi diz com um sorriso enquanto se levanta e contorna a mesa circular sendo seguida pelos olhos dourados de Xo Bou, que apenas a olha.

— Do que você está falando? — Xo Bou pergunta enquanto observa Cixi se agachar e pegar a cadeira de veludo e a erguer.

— Ele a deseja, e para te ter ele será Rei, porque ele sabe que você só se casaria com quem tivesse um trono! — Cixi diz enquanto desliza a mão esquerda contra o veludo o limpado.

— Você me usou para fazer com que ele quisesse o trono? — Xo Bou pergunta enquanto Cixi apenas a olha com os olhos violetas brilhando de diversão perversa.

— Sim, você foi a coisa mais bela que já criei! — Cixi diz enquanto toca a face de Xo Bou, que apenas arregala os olhos e dá um pequeno tapa na mão de Cixi.

— Eu sou filha de Mira e Yin Chang! — Xo Bou fala enquanto dá um passo para trás, dando de costas com a beira da mesa e colocando as mãos em cada lado do corpo em cima da mesa.

— Não, você foi criada por mim, assim como sua mãe e sua avó apenas para que eu conseguisse poder, vocês nunca deveriam existir e só existem graças a mim, a Imperatriz do Mundo Imortal! — Cixi grita com os braços abertos e um sorriso nos lábios.

— Você acha mesmo que eu vou acreditar nisso? — Xo Bou pergunta com um sorriso nos lábios para a sua bisavó, mas se podia ver a dor em seus olhos dourados.

— Acredite, eu apenas me deitei com Fun Xu para lhe dar um herdeiro e manter meu trono protegido, e acabei lhe dando duas meninas que de nada me serviria, então fiz o que achei certo e usei Yuri para conseguir poder e quando tive poder a usei para gerar sua mãe, que seria a Rainha da Reino de Umlilo se não fosse pelo seu tio, que acabou sendo morto, usei sua mãe para conseguir o poder de todos os Reinos e para gerar você, para que conseguisse o poder da Corte das Sombras.

— Por quê? Por que você fez tudo isso conosco? — Xo Bou pergunta enquanto deixa que pequenas lágrimas deslizem pela sua face.

— Você, minha querida, foi feita para que eu conseguisse poder, assim como sua mãe, que nunca deveria ter nascido, sua mãe tinha como destino a morte assim que nascesse, mas eu a salvei! — Cixi diz com um sorriso nos lábios.

— Você não tinha o direito de mexer com o destino dos outros! — Xo Bou diz enquanto dá um passo à frente, ficando cara a cara com Cixi, que apenas ri da cara dela que se encontrava com os lábios em uma pequena linha tensa e os olhos enfurecidos.

— Tola, o destino nunca foi mexido, ele apenas mudou tudo graças a sua avó que fez tudo que eu mandei fazer se ela quisesse que sua mãe vivesse!

— Do que você está falando?

— Sua avó se sacrificou para que sua mãe pudesse viver, e deu a Fire para que ela pudesse chegar até a idade adulta, ela é apenas um instrumento para que eu conseguisse o poder, já que carregou um pequeno fragmento da Fire, assim como seus irmãos!

— Você nos usou, é isso que está dizendo? — Xo Bou diz enquanto sente como se uma fúria se apoderasse de seu corpo e lhe atravessasse como uma espada afiada.

— Você não foi apenas um instrumento, Xo Bou, você foi a minha obra prima, quando fiz sua mãe se apaixonar pelo seu pai não esperava que eles fossem à reencarnação dos Herdeiros, e nem que seu pai se apaixonaria pela sua mãe. Sabe, Xo Bou, para se ter poder é necessário certos sacrifícios, e o sacrifico maior que sua avó e sua mãe fizeram foi... Destruir o amor!

— Minha mãe ama meu pai!

— Não, eu a fiz se apaixonar, mas o que ela não sabe é que eles nunca poderiam ficar juntos, eles nunca deveriam se quer existir, sua mãe fora feita apenas para morrer, assim como o seu pai que fora feito para se sacrificar pelo seu tio.

— Então para que eu fui feita? — Xo Bou pergunta para a sua bisavó que apenas a olha e sorri...

Ah, se Xo Bou soubesse para que ela fora gerada nunca teria tido a coragem de fazer aquela pergunta.

— Você foi feita para morrer nas mãos de Amir! — Cixi diz enquanto se senta na cadeira de veludo e observa Xo Bou, que naquele momento sente seu corpo leve a fazendo cair no chão com as mãos contra o chão e a cabeça baixa.

— Mas não se preocupe, Amir nunca mataria a mãe de seus filhos! — Cixi diz com um sorriso perverso nos lábios. — Sabe por quê? Porque você está grávida e ele não seria tolo o bastante para fazer isso!

— Eu não posso estar grávida dele! — Xo Bou sussurra para si mesma enquanto observa a suas próprias mãos contra o chão de gelo.

— Tola, você se deitou com Amir no seu período mais fértil! — Cixi diz enquanto leva aos lábios a mão esquerda em concha para esconder o riso que lhe queria sair. — Você foi tola o bastante para acreditar que nunca poderia engravidar de um mortal, mas você foi mais tola ainda por não ter pesquisado a linha de sucessão do Príncipe Amir!

— Você sabia a verdade e não me disse? — Xo Bou diz erguendo a cabeça, que se encontrava baixa e olha para Cixi, que a olhava de cima com um sorriso vitorioso nos lábios.

— Assim como as rosas tem espinhos, as verdades também, Xo Bou! — Cixi diz se agachando na frente de Xo Bou e lhe tocando a face, a fazendo virar o rosto. — Eu apenas queria te proteger da verdade, você nunca devia ter nascido, você é apenas um instrumento e nada mais, mesmo que um dia Amir chegue a lhe amar, a barreira da verdade e da mentira irá se desfazer e mostrara a sua verdadeira face.

— E qual é a minha verdadeira face? — Xo Bou diz enquanto se vira para olhar nos fundos dos olhos de Cixi.

— A sua verdadeira face é falsa assim como seu amor por Amir! — Cixi diz enquanto se levanta e dá uma breve risada, que faz eco pelo quarto arrepiando a pele de Xo Bou, que se sente mal.

Depois de tudo aquilo no quarto de sua bisavó Xo Bou não tinha cabeça para lidar com seus pais e o drama que estava se desenrolando no Palácio de Kon, por isso assim que saíra do quarto de Cixi, a Princesa apenas se pôs à caminhar pelo corredor de gelo, que se encontrava tão sufocante que a fez se desfazer em pequenas partículas de gelo e fogo, a levando para o quarto de Amir, que se encontrava deitado na cama tão pálido quanto a neve que caía do lado de fora.

Ela o olha e tenta ver o que a fez ser tão tola a ponto de não ver que tudo não passou de um plano para que Amir subisse no trono, ela sabia que assim que ele acordasse seus próximos passos seriam em direção ao trono, já que a Rainha tinha sido disposta para ser julgada pelo Conselho e por isso o trono ficaria vazio.

Suspirando Xo Bou se senta na beirada na cama de Amir e passa a olhar cada detalhe de sua face com os olhos dourados analisando tudo. Ela via ali algo que a mesma não sabia que existia.

Ela via a beleza de um dia de inverno e a dureza do dia de verão mais quente, mas mesmo assim ela se sentia como uma tola por ter caído no truque de sua bisavó.

— Xo Bou... — Amir sussurra fazendo com que Xo Bou afaste a mão que a mesma estava levando para a face do mesmo.

Xo Bou olha para Amir sentindo às lágrimas deslizarem pela sua face, ali naquela cama estava o homem que seria pai do filho que ela estava gerando no ventre, sem pensar Xo Bou leva a mão até a face de Amir e começa a desenhar o contorno dos lábios, desliza a ponta dos dedos pela pele dele tentando guardar na mente os detalhes enquanto mais e mais lágrimas deslizam pela sua face.

— Amir, me perdoe! — Xo Bou diz entre as lágrimas que já caíam sem a mesma se dar conta.

A dor de saber que nunca poderia amá-lo lhe deixava em carne viva, e a dor por saber que em algum momento ela morreria pelas mãos de Amir lhe rasgava e lhe deixava com o sangue a deslizar pela pele.

Xo Bou então se curva no peito de Amir, deitando sua cabeça contra o peito dele, sentindo o calor da sua pele e pensando se deveria ou não contar a verdade para ele...

— Case-se comigo! — Xo Bou pôde ouvir a voz de Amir fazer eco em sua mente enquanto sentia o peito do mesmo inflar e desinflar como um balão, lágrimas deslizam de seus olhos enquanto ela ergue ambas as mãos até a face de Amir, que beija a palma da mão esquerda, enquanto ela esconde o rosto contra o peito dele.

Ela não queria que ele visse suas lágrimas de dor, Xo Bou tinha a sensação de que tudo aquilo era tão falso quanto a neve que caía naquele quarto. Sim, Xo Bou involuntariamente fizera com que neve caísse dentro daquele quarto enquanto Amir apenas a tocava com a ponta dos dedos, fazendo com que uma eletricidade deslizasse pela pele da mesma, a fazendo erguer a cabeça e encontrar os olhos negros de Amir que a olhavam preocupados.

— O que aconteceu? — Amir pergunta entre uma golfada e outra de ar, que desliza pelo seus pulmões, mas ele não teve tempo de pensar, já que Xo Bou se jogara em cima dele com as mãos ao redor da cabeça do mesmo e os lábios contra os seus lábios.

E foi naquele momento que tudo começou a dar certo e ao mesmo tempo errado.

— Eu aceito! — Xo Bou diz com um sorriso banhado em lágrimas.

Mesmo ela sabendo que tudo aquilo estava errado e que Amir seria tolo o bastante para se apaixonar por ela e fazer dela sua Rainha...

Para depois mata-la.


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