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50% Shadow Slave: Bizarro Sorcerer / Chapter 19: As Duas e o Sujeito Fantasioso I

章節 19: As Duas e o Sujeito Fantasioso I

O caminho até a colina foi rápido e direto, graças à liderança impecável de Nephis. Ela parecia conhecer o labirinto de coral vermelho como a palma da mão, conduzindo o grupo sem hesitação. Felizmente, não cruzaram com carcaceiros, o que tornava o progresso ainda mais fluido.

Mesmo assim, a marcha não foi tão eficiente quanto poderia ser, principalmente por causa de Cássia. Apesar da confiança com que se movia sob a orientação de Ariandel e a ajuda de seu cajado, seus passos ainda eram mais lentos do que o restante do grupo. O terreno irregular da floresta carmesim apresentava desafios constantes, forçando-os a adaptar o ritmo ao dela.

Sunless observava tudo com descrença, incapaz de ignorar o que via como uma dependência preocupante. Para ele, era evidente que a gentileza de Ariandel e a aceitação pragmática de Nephis ao incluí-la só colocavam todos em risco. Ele até chegou a cogitar se sua cegueira – seu Defeito – escondia um Aspecto extraordinário, algo que justificasse sua presença. Mas, até então, nada indicava que fosse o caso.

Mesmo com a confiança silenciosa que Ariandel parecia depositar em Cássia, Sunless não conseguia deixar de pensar que Nephis, tão prática e eficiente, estava se contradizendo ao aceitá-la no grupo. Isso só aumentava o mistério em torno da garota cega – e, por extensão, do jovem que a guiava.

Quando finalmente chegaram à colina, o sol já estava baixo, tingindo o céu com tons de laranja e vermelho. Diante da estrutura maciça de coral, Ariandel soltou a mão de Cássia para apoiá-la pelo ombro. A garota, sem a necessidade de palavras, invocou uma corda dourada, que Ariandel recebeu e jogou para Nephis. Sunless percebeu que se tratava de uma Memória — ferramenta que se expandia para auxiliar na escalada.

Nephis, eficiente como sempre, arremessou a corda e a prendeu em uma saliência, subindo com uma agilidade que Sunless não pôde deixar de admirar. Ela acenou para que ele a seguisse, e Sunless não teve escolha a não ser confiar momentaneamente.

Enquanto subia, sua mente cínica insistiu em conjurar cenários onde Nephis o eliminaria com facilidade. Ele sabia, no entanto, que se ela quisesse matá-lo, já teria feito isso. Essa certeza o reconfortava de um jeito estranho.

Quando Ariandel também atingiu o topo, Sunless observou com curiosidade o método usado para trazer Cássia. Sem cajado e segurando apenas a corda, ela colocou o pé em um laço e deixou que Ariandel a erguesse. A eficiência do processo era inegável, mas Sunless não pôde evitar pensar que tudo aquilo parecia uma complicação desnecessária.

No entanto, uma parte dele começava a entender a dinâmica entre os três. Nephis era prática e capaz, Ariandel gentil e confiável, mas Cássia... bem. Sunless não sabia dizer se ela realmente tinha algo a oferecer, ou se era apenas uma responsabilidade que Ariandel carregava por uma ingênua compaixão.

O monte de coral era muito maior do que a plataforma de pedra circular no pescoço do cavaleiro gigante. Na verdade, parecia mais uma pequena ilha. No ponto mais alto dessa formação, escondido atrás de lâminas de coral avermelhadas, havia um pequeno acampamento. Ele consistia em pilhas de algas para dormir, tiras de carne de carcaceiros secando ao sol e uma fogueira improvisada.

Sunless apontou para a fogueira.

"Foi vocês há duas noites? Eu vi uma luz laranja à distância."

O semblante de Cássia escureceu, e Ariandel lançou um olhar calmo para Nephis — não precisou dizer nada; seu silêncio comunicava uma leve reprovação.

Nephis suspirou, desviando o olhar antes de responder, de forma evasiva:

"Fui eu, sozinha."

Sunless ergueu uma sobrancelha, surpreso com a tensão súbita.

"O que aconteceu?"

Cássia tocou distraidamente os cabelos antes de virar a cabeça para Nephis, como se buscasse permissão para falar.

"O Feitiço nos transportou para este pico, juntos. Mas Ariandel e eu ainda não tínhamos encontrado Nephis... Quando ela acendeu a fogueira, não fomos os únicos que perceberam sua presença."

Ela hesitou, a cor sumindo de seu belo rosto.

"À noite, qualquer luz atrai monstros. Ariandel reagiu rapidamente, escondendo-nos do que viria. Primeiro, carcaceiros nos atacaram. E então… então…"

Sua voz falhou, mas não precisava dizer mais nada. A lembrança do tentáculo colossal ainda estava viva na mente de Sunless.

Ele respirou fundo, tentando mascarar o desconforto com um tom leve:

"Entendi."

Nephis olhou para o céu, limpando a garganta, talvez constrangida – embora sua expressão permanecesse serena.

"Devemos estar seguros agora. Ainda temos tempo antes do anoitecer."

Ela se ocupou acendendo a fogueira, enquanto Cássia se sentava num monte de algas, esperando pacientemente. Ariandel, por sua vez, afastou-se um pouco. Sunless observava, intrigado, quando ele se acomodou numa cadeira de aparência confortável que simplesmente... surgiu do nada.

'Essa cadeira é uma Memória que pode ser invocada silenciosamente? Se não for, o que é então?' Sunless arregalou os olhos, confuso e incrédulo.

Sem encontrar uma resposta imediata, decidiu se deixar cair no chão, permitindo que seu corpo cansado descansasse.

Depois de um momento, ele murmurou:

"Tenho carne fresca na mochila. Vocês têm água?"

Cássia abriu um sorriso gentil.

"Sim!"

Estendeu a mão, e, um instante depois, uma bela garrafa de vidro azul com desenhos delicados apareceu em sua palma.

"Essa é uma Memória que eu tenho. Sempre está cheia."

'Um suprimento interminável de água, hein? Isso é bem melhor do que o meu sino barulhento', aceitou Sunless a garrafa, admirando-a com uma pontada de inveja. 

"Obrigado."

Ele levou a garrafa aos lábios, bebendo com avidez. A água era fresca e deliciosa, e, por mais que bebesse, o nível dentro da garrafa não parecia diminuir.

"É realmente interminável?"

Cássia tocou os cabelos mais uma vez, visivelmente constrangida.

"Não exatamente... Se você deixá-la fluir continuamente, ela para depois de meia hora. Mas logo em seguida volta a encher."

Enquanto Sunless digeria a explicação, Nephis já havia terminado de acender o fogo.

Sem cerimônias, ela abriu sua mochila e retirou a carne, deixando um fragmento de alma rolar para fora. Ela lançou um olhar rápido para Sunless antes de devolver o fragmento à mochila.

Ele ficou tenso, mas Nephis não disse nada, e Ariandel parecia desinteressado. Aliviado, Sunless voltou sua atenção para Cássia.

"Ainda é uma ótima Memória. Obter água potável não é fácil."

Cássia sorriu, genuinamente satisfeita com o elogio.

O aroma rico de carne assada logo preencheu o ar, enquanto o sol começava a se pôr, tingindo o horizonte de tons quentes. Então, um estrondo distante ecoou, e manchas de água negra começaram a aparecer entre as paredes carmesim do labirinto.

Sunless olhou para o leste, onde a escuridão já se insinuava.

Ele se remexeu, inquieto. Antes de perguntar:

"Os carcaceiros vêm até aqui?"

 Ariandel respondeu descontraído:

"Sim, mas só à noite. Durante o dia, parecem ir para outro lugar, que ainda não consegui identificar."

Sunless sorriu de canto, compreendendo.

"Provavelmente, estão perto de onde eu passei meus dias recentemente. Vocês deveriam ver – um penhasco alto a oeste daqui. Na verdade, é uma estátua."

Cássia inclinou a cabeça, curiosa.

"Uma estátua? Para você sobreviver lá, ela deve ser—"

Sunless se adiantou:

"Gigantesca. Um cavaleiro sem cabeça, com pelo menos duzentos metros de altura. Escondi-me no pescoço. No dia em que fomos enviados para cá, duas criaturas marinhas lutaram perto dela. Quando a água recuou, havia um cadáver enorme, com centenas de carcaceiros devorando-o."

Nephis franziu o cenho.

"Quanto tempo?"

"Quanto tempo o quê?"

"Até que terminem de devorar o cadáver."

Sunless piscou, surpreso pela pergunta direta.

"Mais um dia, dois no máximo."

Sem dizer mais, Nephis apagou o fogo rapidamente.

'Definitivamente, algo está errado com ela', pensou ele, irritado.

Enquanto comiam sob a luz moribunda do crepúsculo, Sunless notou que Ariandel não se juntava à refeição – algo que ninguém pareceu questionar.

Ao final da refeição, a noite caiu, e a escuridão consumiu tudo ao redor.

Cássia, acreditando estar invisível, deixou transparecer emoções cruas: perda, solidão... temor.

Ariandel a observou em silêncio, os olhos iridescentes emitindo um brilho estranho no escuro.

Sunless suspirou.

"E se nos apresentarmos formalmente?"

A cega sorriu, tentando vencer os tormentos.

"Sou Cássia."

"Nephis", disse a garota alta, com simplicidade.

"Chamo-me Ariandel, Insigne Artesão da Fantasia", disse o bastardo-florido, com elegância.

Sunless estremeceu com a menção de um Nome Verdadeiro.

"Sunless. Mas podem me chamar de Sunny."


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