[POV Jhin]
24 de Junho de 2033, Território Nv. 1, Cidade Metálica
Quase um mês... vinte e oito dias para ser exato. Este é o tempo em que estou preso neste jogo.
Eu já presenciei players sendo mortos bem na minha frente, vi suas expressões de desespero ao verem que são fracos e incapazes de aguentar sequer o Território de Nível Um.
Quando AWO começou, muitos estavam confiantes em suas habilidades, mas a realidade virtual veio para mostrar àqueles que sempre foram bons em jogos, que aqui, o buraco é mais embaixo. Não bastava ter mil pontos em todos os atributos para ser um Deus todo poderoso, a sua mente precisava acompanhar sua evolução.
Vou dar um pequeno exemplo: Você percebeu em meu menu que não há qualquer tipo de atributo ou aptidões como 'inteligência', 'habilidade de espada' ou 'mira'? Então, acho que a Stardust, na tentativa de deixar o jogo o mais justo possível, quis que a mente do jogador se adaptasse com sua própria força, ou seja, você precisa saber usar seus poderes para tirar cem por cento dos atributos.
Sabendo de tudo isso, é possível que um jogador nível dez derrote um nível vinte? Sim, porém, improvável, depende muito de como os dois levariam o combate.
Um jogador nível doze pode derrotar um monstro nível vinte? Sim, depende muito de como o próprio lidaria com o combate. Eu sou um bom exemplo disso; derrotei àquele esqueleto mago, mesmo com dificuldades, usando do meu instinto em combinação aos meus próprios atributos.
Isso tudo eu já podia imaginar devido à minha experiência com jogos online. Parece que passar tanto tempo conectado a um personagem fictício, no fim, foi útil para que eu pudesse lutar pela minha vida.
Meu primo foi quem me confirmou que a Stardust tinha isso em mente, não fazer dos atributos uma verdade absoluta. É exatamente por isso que, infelizmente, ainda tenho a sensação de que verei pessoas que depositaram tanto tempo para aumentar suas forças caindo de formas idiotas, por pura confiança em números.
Eu dei uma analisada em como estavam os meus status, parece que tomei a decisão certa na maneira de distribuir os pontos. Como minha intenção é ser um espadachim de velocidade, usei muito em força e em agilidade e isso me foi bem útil, já consigo matar monstros sem me preocupar tanto em levar dano. Alguns pontos em defesa também não são nada maus.
O que eu acho irritante em AWO é que às vezes é preciso distribuir alguns pontos em atributos que não lhe são tão úteis. Eu posso estar enrascado se cair contra um bando de monstros e minha mana acabar e eu não tiver nenhum cristal ou poção, me impossibilitando de usar mais habilidades. É por isso que a mana, apesar de não ser o que um espadachim necessariamente precisa, deve também ser aumentada consideravelmente, e isso é feito através do atributo de energia.
Depois que cheguei no nível dez, percebi que upar começou a demorar muito; ficou claro para mim que o Território de Nivel Um já não era mais o suficiente para que eu melhorasse. Apesar de estar um pouco receoso, eu sabia: era hora de enfrentar o boss.
O trauma de ver meu primo sendo morto na minha frente ainda não tinha me deixado. Eu queria evitar me envolver com outras pessoas, até por que, grupos pequenos não trazem tanto benefício assim em relação à itens, que é algo que eu preciso urgentemente. Além disso, preciso me tornar forte o suficiente para me virar sozinho nos territórios superiores.
Com um mês aqui dentro, algumas pessoas já se aproximaram, formando pequenas alianças.
Felizmente, cerca de dois dias atrás, parece que encontraram o local onde o boss fica; uma brigada estava sendo organizada para enfrentá-lo, decisão correta, na minha opinião. Se havia algo que eu tinha cem por cento de certeza, mesmo nunca passado por, era que enfrentar um boss sozinho era impossível, pelo menos no momento.
Esse receio de se envolver com mais alguém... Por que isso está em mim? Nunca fui do tipo cheio de amigos, nem no mundo real. Na verdade, eu passava maior parte do tempo jogando. Mas por que agora a ideia me parece cada vez inaceitável? Sei que isso é uma coisa ruim, pois há limites para o que um jogador solo pode fazer e conseguir, mas mesmo assim...
"Ver meu primo morrer me afetou tanto...?"
De qualquer forma, eu não ficaria parado sabendo que um grupo vai atrás do boss. Eu quero ver, quero enfrentá-lo. Vou fazer o possível para acabar com esse jogo.
25 de Junho de 2033, Território Nv. 1, arredores da Cidade Metálica.
Eu estava de pé na grama da clareira junto de outras quase três dezenas de jogadores que ouviam um cara de cabelos loiros falar junto de outros dois parceiros ao seu lado. Atrás deles, tinha uma caravana com alguns suprimentos básicos.
- Senhores, hoje, eu e meus companheiros, graças à um mapa obtido por uma quest de história principal, conseguimos a localização da sala do chefe deste território!
Pude ouvir assobios e comemorações por todos os cantos. Aparentemente, o Território de Nivel Um se tornou sufocante para a grande maioria.
O rapaz continuou o discurso em seu tom pomposo (me indaguei qual seria seu nível):
- Eu espalhei o anuncio esperando que aqueles que tivessem força de vontade e ânsia de terminarem este jogo maldito, viessem até aqui hoje para que possamos desbloquear o primeiro de muitos territórios!
"Contamos um total de vinte e quatro de vocês, nós somos três, é uma força incrível que temos para entrar no covil do boss."
O que estava à direita dele pediu para que nós nos organizássemos em alguns cantos de acordo com nossas funções, ele era mais alto, tinha uma tatuagem no ombro e era careca, parecia ser mais velho. Eu fiquei impressionado com a quantidade homens e mulheres que já não eram tão jovens naquele jogo. Como será que suas famílias se encontravam no mundo de fora?
Eu, como um espadachim de velocidade, fiquei no grupo de ataque, atrás apenas dos tanques. Nas nossas costas estavam os cavaleiros, protegendo os magos, nossa formação era bem básica, mas montada corretamente. Em certo momento, meu grupo seria dividido entre flanco direito e flanco esquerdo, abrindo espaço para os cavaleiros e recuando os tanques enquanto os magos davam suporte, essa seria a alternância.
Nós andamos por cerca de dez minutos até pararmos em frente a uma entrada de caverna imensa com cipós que a cobriam. A pressão daquele lugar era real, todo o meu corpo me avisava que lá era perigoso.
Estávamos só aguardando a ordem para entrar. Eu fiquei em meu canto, quieto e pensando sobre como seria a batalha, quando um rapaz de cabelos castanhos e arrepiados veio falar comigo:
- Ei, companheiro, tudo bem?
Eu o analisei brevemente: "Ander".
- O-olá... – respondi. Estava um pouco desconfortável, era a primeira vez que conversava casualmente com alguém de AWO.
- Jh... in...? Ah, muito prazer Jhin!
- Igualmente.
- Ei, notei que você está meio isolado desde que chegamos, quer se juntar ao pessoal?
- Ah... – talvez eu quisesse, só que algo me dizia para não fazer isso -, eu... não quero ser grosso, mas... estou bem, obrigado.
- Sei, sei, não tem problema. Pelo visto é um jogador solo.
- Isso.
- O que faz aqui se não se dá bem com grupos?
- A verdade é que eu também quero muito encerrar esse jogo pra todos voltarmos pra casa.
- Entendi – ele me sorriu, satisfeito com a resposta. Não sei se estava me testando ou coisa do tipo, mas Ander pareceu ir com minha cara.
Alguns de seus companheiros o chamaram, ele se despediu de mim e voltou ao lado deles, pareciam se dar muito bem.
Eu fiquei mais alguns minutos olhando entre as árvores para o céu azul e límpido daquele mundo. Mesmo que tudo aquilo fosse desastroso, quero dizer, morrer por um jogo, havia algo aqui que me fazia sentir um pouco de conforto. Talvez eu mesmo não esteja me entendendo depois que pisei neste lugar.
Passados alguns minutos, recebemos a ordem de entrar na caverna, já em formação. Após algum tempo andando, nos deparamos com uma cavidade na rocha que formava uma entrada para uma sala de pedras brutas.
Dois caldeirões estranhos estavam à nossa frente um em cada extremidade da passagem. Era óbvio que quando cruzássemos àquelas coisas, o boss apareceria.
Depois de todos confirmarem que estavam prontos, o rapaz de cabelo loiro que nos liderava, cujo nome era Rester, brandiu sua espada e todos nós avançamos. Um fogo azul vívido se acendeu nos caldeirões.
Em uma porta grande ao fundo, um esqueleto de metal gigantesco, com olhos acesos em uma luz demoníaca saiu de lá. Acompanhado dele, havia miniaturas suas, soldados metálicos que seguravam espadas, prontos para nos cortarem.
Meu coração acelerou um pouco. Enfrentar um boss com um corpo "real" era assustador. A imensidão daquela criatura enfatizava o quão perigosa era a situação.
Chefe do Território 1 – Engrenagem Antiga – Nv. 18
HP: 3500
Três mil e quinhentos?!!! Isso é ruim... é ruim demais! Eu enfrentei um esqueleto mago de nível próximo, mas ele não tinha nem a metade dessa vida e eu suei bastante! Além disso, as máquinas soldados são todas nível dez com oitocentos de HP. Maldição, será que ainda assim vamos conseguir?
Eu contei cerca de seis máquina, nós somos em vinte e sete. Vai ser difícil.
Mesmo com a situação complicada, Rester não deixou seu coração se abalar, era mesmo um homem exemplar que queria o fim de AWO. Ele anunciou para ficarmos calmos, ordenou os tanques para avançarem e se juntou a eles. Com o choque entre as pequenas máquinas e a linha de frente, era a nossa vez de avançar em direção à Engrenagem Antiga.
A linha de ataque era composta basicamente por mim, Ander, seus três amigos e mais duas garotas, todos espadachins. Com destreza, apliquei minha habilidade Lunge em uma das pernas do monstro, e do outro lado, aproveitando que servi de distração, Ander e seus amigos atacaram. As meninas pegaram a parte da frente.
Nós nos esforçamos demais tentando evitar o contra-ataque da Engrenagem Antiga, que balançou seu grande braço de um lado para o outro. Havia o perigo de sermos esmagados, mas também de levar dano pela corrente de vento. Os olhos brilhantes e vermelhos daquela coisa me encararam em certo momento, causando um arrepio na minha espinha.
Depois de tanto trabalho, o HP da máquina diminuiu apenas em quinhentos pontos, então, era hora de recuar antes que ficássemos encurralados. Os magos, que tinham dado suporte aos tanques com os menores, agora estavam livres para atacar o boss, já que os soldados foram todos derrotados. Ainda não havia baixas do nosso lado.
Os cavaleiros, com suas espadas enormes e cotas de malha se postaram à frente, tentando golpear a Engrenagem Antiga de qualquer jeito. Os magos atacaram com poderes elétricos, algo que visivelmente afetou a máquina, que teve seu HP reduzido para dois mil.
O pensamento de derrotar uma coisa assim sozinho era ridículo. Com vinte e sete pessoas se esforçando ao máximo com suas melhores habilidades, retiramos apenas mil e quinhentos da vida dela.
O que houve a seguir mudou o rumo da batalha. Eu fui informado pelo meu primo que esse era o boss do Território Um, ele tinha conhecimento deles até o de nível cinco. Até então, estava tudo conforme eu ouvi, um padrão fácil de ser lido, mesmo que tenha muita resistência. No entanto, ao atingir exatamente dois mil de HP, a máquina entrou em um estado de fúria: sua lataria esquentou ao máximo, emanando vapor, além disso, agora estava muito mais rápida.
Com um avanço perigoso e repentino, uma pancada daquela coisa eliminou quatro cavaleiros e dois tanques que estavam próximos, queimando-os em granulados cristalinos. Depois daquilo, eu fiz o possível para que meu corpo não paralisasse de tensão, ou eu seria morto.
Rester, implacável como sempre, não se deixou abalar: ao lado de seus dois companheiros, protegeu um grupo de magos que quase foi atingido por um sopro de calor da engrenagem.
Nossa formação foi toda desfeita, estávamos bagunçados... O perigo de perder era real.
O movimento de Rester teve um preço: a máquina rodopiou uma lâmina afiadíssima que saiu de uma de suas cavidades; um pequeno tornado se formou e eu precisei me segurar na primeira coisa que vi. Nosso líder quase foi atingido, mas foi protegido pelo homem de tatuagem nos braços, que usou seu escudo para parar o ataque, dando tempo de Rester desviar, porém, a defesa foi quebrada facilmente e aquele cara foi morto...
Eu não perdi a esperanças, sabia que poderíamos vencer mesmo agora, a Engrenagem Antiga só tinha mais mil e oitocentos de vida, era possível ganharmos.
Ouvi alguém gritar de raiva, era o outro amigo de Rester, que avançou desesperadamente em cima do monstro usando uma habilidade incrível: seu escudo enorme foi rodeado por um brilho amarelo, então, ele se chocou com a lataria da engrenagem, bem no meio, atordoando-a por um tempo. Contudo, como o metal estava quente, derreteu não só os equipamentos, mas também a vida de mais um dos amigos de Rester.
Com outro sopro de vapor escaldante, o boss levou a vida de mais pessoas, quatro magos e uma das garotas que estava na minha equipe. O líder tremia, não de medo, mas de raiva, pareceu entender finalmente a situação em que estávamos; seus olhos queriam derramar lágrimas, mas ele não tinha tempo pra isso.
Por coincidência, ou não, eu era o mais próximo de Rester naquele momento. Não sei se ele percebeu que eu tinha algum conhecimento sobre o boss, mas olhou diretamente para mim com uma expressão a qual me despertou um pouco de pena, mas também grande admiração.
Ele me disse:
- Mate-o... por favor!
O líder tinha a intenção de criar uma chance para meu ataque. Me lembrei da situação com o meu primo: que lástima, novamente essa sensação ruim me preenche... Tudo bem, Rester, vou honrá-lo. Não desperdiçarei essa chance, não posso deixar àqueles que se sacrificam por mim e por aqueles que querem acabar com o jogo morrer em vão.
Nosso líder atacou com uma habilidade fortíssima em sua espada, gerando uma explosão de brilhos em frente à máquina, que pareceu confusa por um segundo. Eu ignorei meus sentimentos de tristeza ao ver aquele braço de metal gigante varrer a vida de Rester, só pensava em acabar com aquilo.
O HP da Engrenagem Antiga ainda era de novecentos, mas com minha nova habilidade, eu sabia que poderia acabar com ela, então me movimentei escondido de sua visão.
Um chefe de território é realmente impressionante. Essa coisa maldita percebeu rapidamente minhas intenções e moveu sua mão enorme em minha direção; porém, graças aos amigos de Ander, que bloquearam o ataque com todas as forças, pude avançar. Por falar nele, que pessoa estranha, não sei o que viu em mim, mas acho que podíamos nos dar muito bem.
Ander se juntou comigo na investida:
- VAMOS! Vamos acabar com isso! – Ele berrou.
- TÁ!
Apertei minha espada com todas as forças e ativei a nova habilidade: "Impale".
A minha lâmina fincou-se na lataria metálica, então, aproveitando o apoio do corpo daquela coisa, corri com tudo, abrindo uma fissura nela, ao mesmo tempo em que Ander desferia muitos ataques. Os que nos observavam ficaram atônitos, acho que pensaram que podemos ter talento.
Pousei no chão, cansado, exausto, rezando mentalmente para que houvesse acabado. Os céus atenderam minhas preces: a Engrenagem Antiga despencou e logo em seguida desapareceu. Ander me olhou com um sorriso sincero; senti que poderíamos ser uma grande dupla...
Você derrotou o chefe do território – A Engrenagem Antiga – Nv. 18
Parabéns! Território de Nível Um Conquistado!
Você desbloqueou: Acesso ao Território de Nível Dois
Jhin adquiriu: Pó da lua, Anel Antimaldição e Bateria de Mana.
Ander adquiriu: Luvas do Rei Margo e Bateria de Mana.
- Arf... arf... – eu ofegava bastante. Desgastar-se aqui não significava só esgotar sua energia. Uma pessoa comum como nós passar por algo assim é... no mínimo traumático.
- Ei... hehe... que dupla, hein? Conseguimos.
- Sim...
Daquele dia em diante, nossos nomes ficariam gravados àqueles que presenciaram a cena de dois caras que simplesmente arregaçaram com um boss de forma épica. Bom, essa provavelmente seria a história, mas a verdade é que tivemos muitas baixas.
Me senti mal por recusar me juntar ao Ander e seus companheiros, mas a realidade é que no momento eu sinto que ficarei melhor sozinho. Além disso, tenho outras coisas em mente, como por exemplo descobrir pra que servem os itens que ganhei. Será que são raros? Sinceramente, ele ficou com o que mais me interessou: "A Luva do Rei Margo".
Não posso reclamar, só de sair vivo já é um grande feito no fim das contas. Eu finalmente enfrentei meu primeiro boss... e consegui. Era hora do Território de Nível Dois.
Notas do autor:
Nível dois, ai vamos nós!
Que baita trabalho tiveram com este primeiro chefão, hein? Mas ainda é o primeiro de muitos que Jhin vai ter pela frente.
Comecei com essa sequência de três capítulos, espero que tenham realmente lhes atraído!
Planejo postar novos capítulos todos os domingos, por volta das seis da tarde, por isso, me sigam, e adicionem na sua coleção pra ficarem ligados!
Todos os volumes terão uma capa ilustrada, mal posso esperar para desenhar mais de Press Play!
Um grande abraço, e obrigado!