章節 6: CAPÍTULO 5 - INVASOR FANTASMA
– "Isso é tudo, chefe."
Dois homens estavam na frente do corpo já sem vida no corredor do hotel. Não havia nenhuma proteção para tapar o corpo e nem mesmo outras pessoas no local.
Um dos homens parecia analisar o corte do pescoço da vítima de forma minuciosa, enquanto que o outro homem apenas observava tudo.
O homem que apenas observava, era o mesmo que estava liderando a busca pelo garoto que tinha invadido a cidade. Sua aparência já mais velha demonstrava bastante vitalidade e experiência. Seu silêncio naquele corredor evidenciava seus longínquos pensamentos.
O homem que estava analisando o corpo logo se levantou e caminhou de forma calma em direção ao chefe da operação, que apenas trocou seu olhar do corpo caído para o homem que caminhava em sua direção.
– "Pelo que pude ver, o corte foi feito por uma pequena lâmina." – Disse o analista do corpo, enquanto indicava com um espaço entre os dedos o tamanho do corte.
– "Pois bem, esse é o resultado de preparar apenas bons defensores."
O homem foi irônico em sua afirmação, provavelmente o fato da pouca experiência dos guardas do país ao usarem espadas o incomodava. Sua feição era de forte desgosto e decepção, algo que rodeava sua personalidade séria.
– "Você acredita que isso seja um ataque contra nós guardas?"
O homem que estava ao lado do chefe parecia não ter o mesmo preparo mental e físico, o que o fazia expressar mais evidentemente suas fraquezas e medos. Àquilo por mais negativo que fosse, parecia não incomodar o velho homem que estava ao seu lado.
– "Não me parece nada pessoal sobre nós."
Logo, a fala do homem foi atrapalhada por outros três guardas que tinham entrado no hotel naquele momento. Um por um, eles iam chegando até o terceiro andar, onde viam o corpo no chão.
As reações de cada um deles parecia vazias e apenas figurativas para dar valor ao momento. Por mais da boa atuação, era simples para o chefe perceber que eles não se importavam de verdade e apenas tentaram rodear isso com uma atuação exagerada e de última hora.
No fundo, o chefe e o seu principal ajudante eram os únicos que tinham sofrido com a perda de seu colega, porém, ele preferia deixar as coisas como estavam naquele momento. Até mesmo para um líder, é normal sentir medo.
– "Vocês chegaram apenas agora?" – Disse o chefe de forma firme.
– "Nos desculpe, autoridade." – Disseram os três, de forma organizada e sequencial.
– "Já disse diversas vezes que não devem me chamar assim. Pois bem, aproveitando que estão aqui, cubram e levem esse corpo."
– "Cubrir?"
– "Sim. Pegue um dos lençóis de algum dos quartos e o cubra." – Aumentando o tom de voz, os fez parar de ouvir e começar a agir.
Dois deles concordaram com a cabeça e deixaram o local, porém, um deles se manteve de pé no mesmo lugar desde que tinha chegado ao andar onde todos estavam reunidos. Com uma expressão vazia, ele não sentia simpatia com a vida perdida, porém, era mais do que notório seu medo.
Fingindo não perceber o ambiente que estava, o velho homem apenas balançou sua cabeça de forma negativa e começou a se retirar dali, caminhando em direção a escada para descer.
– "Eldy, você vem comigo." – Disse o chefe em direção ao guarda que analisava o corpo morto por mais uma vez.
Passando ao lado do guarda que estava parado na ponta da escada, diminuiu o ritmo de seus passos para que pudesse dar um recado antes de descer definitivamente as escadas.
– "Você é o novo comandante da equipe de busca. Peça ajuda para os dois que estão carregando o corpo e vá atrás do garoto." – Disse o chefe, de forma cerimonial, entregando para o guarda a missão de ser o novo líder da operação
Acelerando novamente o passo, o homem desceu toda a escada e sumiu da visão do guarda que estava o olhando da ponta de cima da escada.
Logo, o jovem homem que tinha sido chamado pelo antigo chefe de busca o acompanhou, descendo a escada em alta velocidade.
Fechando os olhos, o guarda suspirou fundo enquanto assimilava sua nova função. Ele tinha sido colocado na liderança de uma equipe de forma repentina, porém, sabia que não poderia recusar aquilo.
Suas mãos não tremiam, mas seu corpo por dentro tremia de temor, algo que se assemelhava ao medo, porém, não o travava, apenas o causava vontade de recuar.
Juntando os cacos de sua bagunçada alma, ele usou de sua voz para ecoar um forte som, chamando os dois guardas que carregavam juntos um único lençol.
– "Me ouçam agora. A partir desse momento, eu serei o líder da operação de busca." – Disse o agora líder, em alta voz
Os dois guardas que levavam o lençol, pararam imediatamente e se colocaram em continência. Com isso, deixaram que o lençol caísse no chão e para pegá-lo de volta, usaram as duas mãos de cada um.
– "Vocês precisam de quatro mãos para levar um lençol?" – Disse o líder, aparentemente irado.
– "Na verdade…"
– "Maldição, isso faz sentido!"
Os dois guardas rapidamente soltaram suas duas mãos do lençol, o fazendo cair no chão novamente.
– "Façam logo isso, não temos tempo a perder."
Segurando a indignação com a incompetência que tinha visto, o novo líder da operação se virou e desceu as escadas.
Os dois guardas que ficaram decidiram novamente levar junto o lençol, porém, na hora de levar o corpo, decidiram que era leve o suficiente para que fosse levado por apenas um.
Enquanto levavam o corpo pela cidade, eles revezavam a cada 100 metros, o que deixava a viagem deles muito mais demorada.
Evitando olhar para trás, o chefe daquela operação olhava para os céus, provavelmente sentindo arrependimento por seu alistamento.
– • • • • • • • • — • • • • • • • • –
Dentro de uma das salas do prédio do exército de guerra do país dos muros, estavam dois homens, sentados em uma mesa, um de cada lado.
Ao lado da mesa onde havia documentos, estava o velho guarda que à pouco estava analisando o corpo no hotel. Ao outro lado da mesa, estava o jovem guarda que tinha sido chamado de "Eldy" no hotel.
Tomando uma xícara de chá, o velho senhor parecia altamente incomodado em sua cadeira, movendo as pernas de uma lado para o outro sem parar.
– "Ele não está nos registros de morador de nenhum dos países vizinhos, nem mesmo nos registros feitos nas vilas."
O jovem guarda ouviu atentamente a reclamação ardente de seu chefe, no entanto, não entendia muito bem a conclusão de tudo aquilo.
Desde que chegaram ao prédio, apenas o velho guarda tinha trabalhado em algo, enquanto que o garoto tinha somente a função de fazer o chá, do qual também estava tomando.
Confuso e principalmente incomodado com o que estava ouvindo, o garoto decidiu formular em sua mente uma primeira pergunta, que provavelmente seria seguida da principal conclusão que ele tinha tido até aquele momento.
– "Como vocês conseguiram esse registro? Que eu saiba não temos aliança com nenhum país-estado e nem vilarejo."
– "É exatamente isso, não temos um registro perfeito sobre as pessoas, porém, esse registro foi feito durante os ataques recentes que fizemos as vilas e as excursões aos países. Apenas contabilizamos as vidas que permaneceram vivas." – Respondeu o chefe, enquanto balançava ainda mais sua cadeira em clara ansiedade.
A resposta tinha sido quase o que o jovem tinha imaginado em sua cabeça. A única parte que não condizia com seus pensamentos eram sobre as excursões, da qual ele mal sabia que realmente acontecia.
– "Acho que já sei o que deve estar ocorrendo, Rany." – Disse o jovem guarda
– "Não me chame apenas pelo nome no ambiente de trabalho, adicione pelo menos um 'senhor' antes." – Imediatamente, o chefe o corrigiu de sua fala despreocupada.
"Tudo bem. Me desculpe." – Se desculpou, cabisbaixo por conta da repreensão.
"Me desculpe pela frieza, Eldy. Estou tentando te proteger apenas."
No sistema de país altamente armado do qual o país dos muros vive, era altamente desrespeitoso que os que têm cargo superior defendendo o país sejam chamados de forma considerada informal.
O garoto não gostava de como as coisas funcionavam, porém, concordou em apenas agir da forma que o sistema impunha sobre eles.
O próprio garoto não via nenhuma vantagem em criar naquele momento uma má relação com seu chefe e amigo ou até mesmo com todo o exército e o estado dos grandes muros.
Balançando a cabeça, o velho senhor percebeu que tinha atrapalhado o jovem garoto de dar sua conclusão sobre o caso. Assim, ele logo retomou a conversa dando a oportunidade de fala para Eldy.
– "Não faça suspense agora, estou ansioso para saber sua conclusão." – Disse o guarda que realmente empolgado, balançava ainda mais na cadeira.
– "Tudo bem."
Ele se pôs de pé enquanto ajeitava a cadeira e se preparava para falar. Junto disso, juntou as xícaras que já não tinham mais chá e sinalizou que iria sair dali após terminar sua fala.
– "Se você tiver certeza de que esse recurso de informações sobre pessoas de lugares vizinhos possui todas as pessoas, acho provável que esse garoto apenas esteja na lista de pessoas mortas."
Pegando as xícaras na mão, caminhou até a porta após terminar de dizer tudo o que tinha pensado.
Logo, ele abriu a porta e, antes de sair, se virou novamente para trás, olhando nos olhos do velho senhor.
– "Irei me retirar agora. Se precisar de mim, me procure na minha sala até o final do expediente. Após isso, estarei em casa." – O jovem guarda avisou de forma serena e séria
– "Tudo bem, obrigado por sua conclusão." – Rony respondeu, curvando levemente seu corpo em agradecimento.
O senhor Rany ficou totalmente pensativo com a inteligente conclusão do garoto e, seguindo a lógica dele, procurou nos documentos sobre pessoas mortas nos vilarejos próximos.
Não demorou muito para que ele finalmente encontrasse seu ouro em meio a uma 'caverna de pratas'.
– "Finalmente eu te encontrei, Mizu."
Ele sorriu, mudando totalmente o semblante de todo seu rosto.
Finalmente, ele se levantou de sua cadeira e pegou seu casaco marrom em sua cadeira, o vestiu e andou até a porta de sua sala.
– "Por hoje, descansarei." – Disse Rony em voz baixa, tornando seus pensamentos em uma voz real.
Logo, ele deixou o prédio do exército, indo para sua casa.
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