A floresta parecia um labirinto interminável. Árvores antigas erguiam-se como colossos, suas copas densas bloqueando quase toda a luz do luar. Apenas alguns raios tímidos escapavam, iluminando o chão coberto de folhas secas e musgo.
Lucas caminhava devagar, seus sentidos em alerta máximo. Ele ouvia o farfalhar das folhas ao vento, o som distante de animais noturnos e até o gotejar de água em algum lugar à frente. Cada som parecia amplificado, como se a floresta estivesse sussurrando diretamente para ele.
"Preciso entender onde estou antes de fazer qualquer coisa estúpida", ele murmurou para si mesmo.
Ele se movia com cuidado, testando o chão antes de cada passo para evitar fazer barulho. Mesmo assim, notou que seus movimentos eram naturalmente silenciosos, quase felinos. Sentia-se mais rápido, mais ágil, como se o próprio ar ao seu redor o ajudasse a se mover.
**[Host, seus sentidos aprimorados permitem detectar perigos em um raio de 50 metros. Use essa vantagem para explorar com segurança.]**
A voz do sistema ecoou em sua mente, fria e direta. "Então você está comigo o tempo todo?", ele perguntou, ainda tentando se acostumar com a ideia de uma inteligência artificial em sua cabeça.
**[Sim. Meu propósito é auxiliá-lo na sobrevivência e evolução. Estou programado para fornecer informações e orientações conforme necessário.]**
"Ótimo... E sobre essa fome que estou sentindo? Parece que estou vazio por dentro."
**[Isso é natural para um vampiro. Sua fome não é por comida comum, mas por sangue. Quanto mais você drena, mais forte se torna. Porém, a fome também o enfraquece se não for saciada. Encontre uma fonte de sangue em breve.]**
Lucas estremeceu. A ideia de sugar sangue parecia grotesca, mas algo dentro dele — um instinto primal — ansiava por isso. "Eu preferia não sair atacando ninguém, então espero encontrar outra solução."
Enquanto caminhava, o som de água ficou mais claro. Ele seguiu o ruído, movendo-se entre as árvores até que o cenário à sua frente se abriu para algo mágico: um lago cristalino.
A água era tão pura que refletia a luz da lua como um espelho prateado. Lucas se aproximou cautelosamente do lago, os olhos atentos para qualquer sinal de movimento. As margens eram cercadas por pedras lisas e musgo brilhante, que exalava um leve aroma fresco. O ambiente era silencioso, exceto pelo som da água acariciando suavemente as margens.
Ele ajoelhou-se perto da água e, pela primeira vez desde que despertara nesse mundo estranho, viu seu reflexo.
A figura que o encarava parecia tanto ele quanto um estranho. Sua pele estava mais pálida, quase translúcida sob a luz da lua, como porcelana fina. Os olhos, antes castanhos comuns, agora eram rubros como brasas, brilhando com uma intensidade sobrenatural. Suas pupilas eram levemente fendidas, como as de um predador.
Os traços de seu rosto estavam mais definidos, mais simétricos, como se tivesse sido esculpido por um artista obcecado pela perfeição. Os caninos inferiores eram mais longos e afiados, pressionando suavemente contra seu lábio. Ele passou a língua sobre eles instintivamente e sentiu o corte suave que deixavam.
"É assim que sou agora..." murmurou, sem conseguir desviar os olhos do reflexo. Ele parecia tanto imponente quanto aterrorizante, uma mistura de fascínio e horror.
**[A transformação em Vampiro Primordial refina sua forma física para atingir o ápice da perfeição predatória. Sua aparência serve para atrair e intimidar.]**
Lucas tocou seu rosto, ainda processando o que via. "Então, tudo isso é parte de quem eu me tornei? Não sou apenas um humano com habilidades... sou algo completamente diferente."
**[Correto. Sua essência é única. Vampiros são seres feitos para caçar, mas sua linhagem primordial vai além: você é a origem, a base de uma nova raça. Entretanto, isso vem com responsabilidades e perigos. Muitos desejarão sua destruição ou captura.]**
Lucas respirou fundo, ou pelo menos tentou. Ele percebeu que seu corpo não exigia mais a respiração constante. O ar entrava e saía de seus pulmões por hábito, não por necessidade. "Eu nem preciso respirar... Isso é estranho."
**[Verdade. Sua sobrevivência não depende de funções humanas comuns. Mas esteja atento: a exposição ao sol poderá ser fatal. Vampiros não toleram a luz solar devido à sua estrutura mágica.]**
"Ótimo... Como se esse mundo já não fosse perigoso o suficiente."
Lucas decidiu testar algumas de suas novas habilidades. Ele mergulhou a mão na água do lago. A temperatura gelada não o incomodou como antes, sua pele parecia insensível ao frio.
Ele se levantou e olhou ao redor. O sistema mencionou algo sobre sua capacidade de detectar perigos. Fechou os olhos e concentrou-se. De repente, o mundo ao seu redor ganhou uma nova dimensão. Ele podia "sentir" as criaturas próximas, pequenas vibrações no chão indicando pequenos animais como coelhos e esquilos.
"Impressionante..." ele murmurou.
**[Essa habilidade faz parte de seus Sentidos Aguçados. Ao concentrar-se, você pode detectar seres vivos em seu entorno. É ideal para evitar perigos ou localizar presas.]**
Lucas estava absorvendo tudo, mas uma pergunta surgiu. "Sistema, como exatamente funciona a drenagem de sangue? Eu preciso matar as criaturas para isso?"
**[Não necessariamente. Você pode drenar parcialmente sem matar, mas uma drenagem completa garante mais pontos de sangue. Seres mais poderosos proporcionam maiores recompensas.]**
"Entendi. E como uso os pontos de sangue?"
**[Abra a Loja de Sangue para acessar feitiços e aprimoramentos. Considere também melhorar atributos essenciais para sua sobrevivência neste ambiente hostil.]**
Lucas abriu mentalmente a loja, e novamente a interface translúcida apareceu. Ele olhou as opções:
- **Feitiço: Lâminas de Sangue (100 pontos)**
- **Feitiço: Domínio da Névoa (200 pontos)**
- **Atributos: +10 Força (50 pontos)**
- **Atributos: +10 Agilidade (50 pontos)**
Ele fechou a interface com um suspiro. "Sem pontos de sangue ainda. Preciso encontrar uma presa."
O ambiente ao redor parecia tranquilo, mas Lucas sentia uma inquietação crescente. A fome era como uma chama ardendo dentro dele, pulsando com mais força a cada minuto. Ele olhou para o lago novamente, sentindo o reflexo de seus olhos vermelhos o encarar de volta.
"Se eu realmente sou um predador agora, talvez seja hora de agir como um."
Ele se ergueu e começou a se mover com mais determinação, sentindo o cheiro do ar. Entre os aromas frescos da floresta, um cheiro doce e metálico chamou sua atenção.
Sangue.
Lucas seguiu o cheiro instintivamente, movendo-se com uma agilidade quase sobrenatural pela floresta. Ele sabia que não podia esperar para sempre. A fome não o deixaria em paz até ser saciada, e ele precisava entender como era ser o que agora era: um vampiro.