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6.81% A Crônica do Contador de Histórias / Chapter 4: III. BARGANHA

章節 4: III. BARGANHA

— Vocês terão que seguir viagem — anunciou o prefeito, com uma autoridade que não deixava espaço para dúvidas. — Acampem fora da cidade, e ninguém os incomodará, desde que evitem tumultos e não carreguem itens que não lhes pertençam — acrescentou, lançando um olhar significativo para meu pai. — E quanto aos espetáculos, evitem-nos. Eles apenas trazem confusão, não valor.

— Temos uma autorização — retrucou meu pai, puxando do bolso interno do paletó um pergaminho dobrado. — Na verdade, temos permissão formal para nos apresentar.

O prefeito balançou a cabeça, ignorando o pergaminho de patrocínio.

— Isso só deixa a população agitada — disse ele, com firmeza. — Na última vez, houve uma briga terrível durante a peça. Muita bebida, muita empolgação. As pessoas arrebentaram as portas da taberna e destruíram as mesas. O salão é propriedade da cidade, entendem? E a cidade arca com os custos dos reparos.

Enquanto isso, nossas carroças atraíam olhares curiosos. Stap fazia malabarismos, e Morion e sua esposa improvisavam um espetáculo de marionetes. Eu observava meu pai da traseira de nossa carroça.

Mais um ano havia se passado. Agora, já com oito anos, estava bem familiarizado com a língua e costumes daquele mundo.

— Certamente não queremos ofender vocês nem o seu patrono — respondeu o prefeito. — Mas a cidade não suportaria outra noite como aquela. Como gesto de boa vontade, estou disposto a oferecer uma moeda para cada um de vocês, digamos, 20 lumens de cobre, apenas para que sigam seu caminho e evitem problemas.

É preciso entender que 20 lumens de cobre poderiam ser uma quantia razoável para uma trupe comum que vivesse na estrada. Mas para nós, Therion, era um insulto. Ele deveria ter nos oferecido 40 para nos apresentarmos à noite, além do uso gratuito da taberna, uma boa refeição e camas na hospedaria. Estas últimas, porém, gentilmente declinaríamos, pois as camas deles, sem dúvida, estariam infestadas de percevejos, ao contrário das nossas confortáveis peles nas carroças.

Se meu pai ficou surpreso ou ofendido, não deixou transparecer.

— Preparem-se para partir! — ordenou, sobre o ombro.

Stap guardou suas pedras de malabarismo com precisão, sem nenhum floreio. Houve um coro decepcionado entre os cidadãos quando as marionetes foram guardadas no meio do espetáculo. O prefeito parecia aliviado, retirou sua bolsa e tirou dois lumens de prata.

— Eu garantirei de discutir sua generosidade com o barão — disse meu pai, com cuidado, enquanto o prefeito entregava as moedas.

O homem parou no meio do movimento.

— Barão?

— Barão Greenweed — disse meu pai, fazendo uma pausa para procurar alguma reação no rosto do prefeito. — Senhor dos Charcos Ocidentais, de Hudumbran-no-Thiren e das Colinas de Preccan — esclareceu, olhando para o horizonte. — Ainda estamos nas Colinas de Preccan, certo?

— Bem, sim — concordou o prefeito. — Mas o fidalgo rural Kaleo...

— Ah, estamos no feudo de Kaleo! — exclamou papai, olhando ao redor como se acabasse de se situar. — Um cavalheiro magro, com uma barbicha bem cuidada? — e passou os dedos no queixo. O prefeito assentiu, confuso. — Um homem encantador, com uma esplêndida voz para cantar. Eu o conheci quando estávamos entretendo o barão no último solstício de inverno.

— Claro — disse o prefeito, com uma pausa significativa. — Posso ver sua licença?

Observei-o enquanto ele lia o pergaminho. Ele demorou um pouco, já que meu pai não se deu ao trabalho de mencionar a maioria dos títulos do barão, como visconde de Gargon e lorde de Trolliston. O resumo era o seguinte: era verdade que o fidalgo Kaleo controlava a cidadezinha e todas as terras ao seu redor, mas Kaleo devia fidelidade diretamente a Greenweed. Em termos mais concretos: Greenweed era o comandante do navio; Kaleo limpava o convés e lhe prestava continência.

O prefeito dobrou o pergaminho novamente e o devolveu a meu pai.

— Entendi.

E foi só.

Fiquei perplexo por ele não pedir desculpas nem oferecer mais dinheiro a meu pai.

Papai também fez uma pausa, depois continuou:

— A cidade está sob sua jurisdição, senhor. Mas nós nos apresentaremos de qualquer maneira. Será aqui ou nos arredores, logo depois dos limites da cidade.

— Vocês não podem usar a taberna — disse o prefeito com firmeza. — Não permitirei que ela seja destruída novamente.

— Podemos nos apresentar aqui mesmo — retrucou papai, apontando para a praça do mercado. — Haverá bastante espaço e manterá todos no centro da cidade.

O prefeito hesitou, o que me surpreendeu. Às vezes, optávamos por fazer nossas apresentações na praça quando os edifícios locais não eram suficientemente grandes. Duas de nossas carroças eram construídas para se transformar em palcos, exatamente para essa eventualidade. No entanto, em todos os meus oito anos de memória nesse mundo até o momento, mal podia contar nos dedos as vezes em que fomos obrigados a nos apresentar na praça. Nunca fizemos apresentações fora dos limites da cidade.

Mas, para nossa sorte, o prefeito finalmente concordou com a cabeça e fez um gesto para que meu pai se aproximasse. Saí de mansinho da traseira da carroça e me aproximei o suficiente para ouvir o final da conversa.

— ...pessoas tementes a Deus na cidade. Nada de vulgar nem herege. Tivemos uma série de problemas com a última trupe que passou por aqui: duas brigas, gente que perdeu a roupa lavada, e uma das filhas do Tristan ficou em estado interessante.

Fiquei furioso. Esperava que papai mostrasse ao prefeito o lado contundente de sua língua, que explicasse a diferença entre meros artistas itinerantes e os Therion. Nós não roubávamos. Jamais permitiríamos que as coisas saíssem do controle a ponto de um bando de bêbados destruir o salão onde nos apresentássemos.

Mas meu pai não fez nada disso, apenas concordou com a cabeça e retornou à nossa carroça. Fez um sinal e Stap recomeçou os malabarismos. As marionetes voltaram a emergir de suas caixas.

Ao contornar a carroça, ele me viu parado junto aos cavalos, meio escondido.

— Suponho que você tenha escutado tudo, a julgar pela expressão do seu rosto — disse, com um sorriso enviesado. — Deixe pra lá, meu garoto. Ele merece a nota máxima pela franqueza, se não pela cortesia. Apenas diz em voz alta o que outras pessoas guardam nos recônditos do coração. Por que você acha que faço todos andarem aos pares quando exercemos nosso ofício em cidades maiores?

Eu sabia que era verdade, mas era algo difícil de engolir.

— Vinte lumens — comentei em tom mordaz. — Como se ele estivesse nos oferecendo uma caridade.

Essa era a parte mais difícil de crescer entre os Therion. Éramos estrangeiros em toda parte. Muitas pessoas nos viam como vagabundos e mendigos, enquanto outras nos julgavam pouco mais do que bandidos, hereges e prostitutas. É difícil sofrer acusações injustas, mas é pior quando quem nos olha com desdém são pessoas grosseiras que nunca leram um livro ou viajaram para mais de 30 quilômetros do lugar onde nasceram.

Meu pai riu e afagou meu cabelo.

— Tenha pena dele, filhote. Amanhã seguiremos nosso caminho, mas ele terá que suportar sua própria companhia desagradável até o dia em que morrer.

— Ele é um falastrão ignorante — retruquei, ressentido.

Papai pôs a mão firme em meu ombro, como se quisesse deixar claro que eu já falara o bastante.

— É nisso que dá chegar muito perto de Aturia, suponho. Amanhã seguiremos para o sul: pastos mais verdes, povo mais generoso, mulheres mais bonitas — disse. Pôs a mão em concha na orelha, em direção à carroça, e me cutucou com o cotovelo.

— Estou ouvindo tudo que vocês dizem — informou mamãe de dentro, com sua voz meiga.

Papai sorriu para mim e me deu uma piscadela.

— E que peça apresentaremos? — perguntei-lhe. — Nada vulgar, preste atenção. Eles são pessoas tementes a Deus aqui nestas paragens.

Ele me olhou, com um brilho de curiosidade.

— O que você escolheria?

Refleti por um bom momento.

— Eu apresentaria algo do Círculo do Lumicampo. "Forjando os Caminhos" ou algo assim.

Papai fez uma careta.

— Não é uma peça muito boa.

Dei de ombros.

— Eles não saberão a diferença. Além disso, ela está cheia de Ardonai, então ninguém reclamará de ser vulgar — afirmei. Olhei para o céu. — Só espero que não chova durante a apresentação.

Meu pai olhou para as nuvens, que já começavam a se aglomerar.

— Vai chover. Mas, mesmo assim, há coisas piores do que apresentar na chuva.

— Como, por exemplo, apresentar na chuva e ainda perder na barganha? — indaguei.

Nesse momento, o prefeito se aproximou de nós a passos rápidos. Havia um brilho fino de suor em sua testa, e ele bufava um pouco, como se tivesse corrido.

— Conversei com alguns membros da assembleia e resolvemos que ficará tudo bem se vocês usarem a taberna, caso desejem.

A linguagem corporal de meu pai foi impecável. Ficou perfeitamente claro que ele estava ofendido, mas era cortês demais para dizer qualquer coisa.

— Com certeza, eu não gostaria de submeter vocês a...

— Não, não. Não há problema algum. Na verdade, eu insisto.

— Muito bem, se o senhor insiste.

O prefeito sorriu e se afastou às pressas.

— Bem, assim é um pouco melhor — suspirou papai. — Ainda não precisamos apertar o cinto.


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