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84% Rebirth - O Despertar / Chapter 42: Palavras de um Olhar

章節 42: Palavras de um Olhar

O último sinal da tarde tocava, e eu mal podia esperar para ir ao clube e continuar as discussões sobre minha história para o concurso. Sentia uma animação estranha, como se as palavras, antes tão travadas, finalmente começassem a se encaixar.

Todos os conselhos dados pelo pessoal do clube, se tornavam peças importantes, quase como se cada um fosse um guia para dar vida à história de um jeito que eu nunca tinha pensado antes. Eu conseguia até imaginar os ajustes que precisava fazer, as partes que ainda pediam uma revisão mais cuidadosa.

Com todos esses detalhes, estava começando a ver um caminho, como uma rota traçada que antes não fazia sentido para mim. Era como se Kaori, Mai, Takumi, Rintarou e Taro estivessem ao meu lado a cada linha, me lembrando do que cada um tinha dito, dando confiança para seguir com o que eu acreditava.

Então, enquanto arrumava minha mochila para seguir para o clube, o professor bateu de leve na mesa, chamando nossa atenção enquanto a maioria já se levantava para sair.

— Antes de irem, pessoal, alguém precisa cuidar da limpeza da sala hoje, certo? Preciso de dois voluntários.

A sala inteira caiu em silêncio, e um murmúrio de desânimo tomou conta do ambiente. Eu, que já estava de pé, tentando parecer invisível, abaixei a cabeça e me concentrei em guardar o caderno, torcendo para que ele escolhesse alguém distraído — qualquer um, menos eu.

Tentei não fazer contato visual e até inclinei um pouco o corpo para o lado, bloqueando meu rosto com o ombro do Rintarou, na vã esperança de que isso fosse suficiente. Mas era tarde demais; o professor já tinha feito a escolha.

— Certo, então vou escolher… Shin. Que tal você começar?

Engoli em seco. Tentei disfarçar o desconforto, mas a surpresa me traiu, e acabei soltando um murmúrio sem conseguir disfarçar a frustração.

— Eu? Mas eu preciso… — Tentei argumentar, a cabeça já pensando em uma desculpa rápida, mas, ao olhar para o professor, vi que ele já estava decidido e lançava o olhar em direção a outro aluno.

— Ótimo. E você, Yumi? — Ele a chamou com um tom resoluto, como se já tivesse o próximo alvo.

Yumi deu um sorriso sem jeito, balançando a cabeça e exibindo um ar de inocência.

— Professor, sinto muito, mas eu realmente preciso ir direto pra casa hoje. Coisa de família, sabe? — disse ela, piscando e mantendo um olhar de desculpa que parecia difícil de recusar.

Ele suspirou, como quem se rende, e então olhou em volta, até seu olhar pousar em Yuki.

— Entendo, Yumi. Então… Yuki? — disse ele, desta vez com uma expressão um pouco cansada.

A turma ficou em silêncio, os olhares se viraram para ela, mas Yuki, hesitando apenas por um segundo, assentiu.

— Certo, posso ajudar — respondeu com um aceno firme.

Assenti, sentindo uma mistura de resignação e alívio, e segui os outros em direção à porta. Rintarou e Seiji já estavam lá, trocando olhares divertidos ao perceber que eu não tinha conseguido escapar da tarefa.

— Vou te esperar no clube depois que terminar — comentou Rintarou, sorrindo de leve, mas com simpatia.

Seiji, no entanto, estava longe de demonstrar qualquer simpatia — seu olhar estava cheio de uma animação travessa que só significava uma coisa: provocação.

Ele me cutucou com o cotovelo, inclinando-se para sussurrar em um tom conspiratório, o rosto carregado de um sorriso malicioso.

— Ei, Shin… agora que tem "companhia especial" pra limpeza, que tal, sei lá, praticar umas frases do concurso com ela? Vai que rola uma inspiração extra...

Revirei os olhos, tentando ignorar o calor que senti nas bochechas. A última coisa que eu precisava era dos comentários de Seiji criando mais constrangimento.

— Cala a boca, Seiji. — Mas a resposta saiu com menos firmeza do que eu queria, e ele apenas riu ainda mais, claramente satisfeito com o efeito que sua provocação teve.

— Claro, claro… depois conta como foi — ele provocou, ainda rindo, e com um último aceno, foi embora com Rintarou, deixando-me parado ali, já sentindo que a limpeza seria um pouco mais complicada do que eu imaginava.

Respirei fundo e me virei para a sala, onde Yuki já começava a arrumar as cadeiras com um jeito tranquilo, como se aquilo fosse algo comum para ela.

— Eu… posso ajudar com isso — falei, meio hesitante, indo na direção das carteiras para empilhá-las ao lado dela.

Ela sorriu, agradecendo com um aceno de cabeça, e continuamos o trabalho em silêncio. A sala estava tão quieta que dava para ouvir o barulho suave das cadeiras arrastando pelo chão.

Peguei uma vassoura e comecei a varrer enquanto ela limpava o quadro. O silêncio entre nós parecia confortável, mas havia algo que eu queria perguntar. Respirei fundo, decidido a quebrar a quietude.

— Então, Yuki… como estão indo os treinos para a competição?

Ela parou por um momento, surpresa, antes de se virar para mim com um sorriso leve, como se não esperasse a pergunta.

— Ah, estão indo bem. Estou treinando faz um tempo, mas… sendo um grande evento, é meio… assustador, pra falar a verdade.

Assenti, compreendendo o peso que ela carregava.

— Imagino que seja. Na verdade, eu também estou competindo em algo este ano, então meio que entendo essa pressão toda que você sente.

Ela me olhou, claramente surpresa, e fez uma pausa, como se tentasse processar o que eu acabara de dizer.

— Sério? Você também está em uma competição? Que tipo de competição?

Olhei para o chão por um momento, um pouco constrangido.

— É… um concurso de escrita, na verdade. Nada grandioso como uma competição de atletismo.

Ela arregalou levemente os olhos, a surpresa refletindo um brilho novo no olhar.

— Escrita? Eu nunca teria imaginado que você escrevia! Que legal! — disse ela, parecendo genuinamente entusiasmada.

Ri de leve, sentindo o rosto esquentar com o elogio.

— Ah, é coisa pequena. Ainda sou meio novato nisso… e, pra ser sincero, o tema do concurso me deixou meio perdido.

Ela me lançou um olhar compreensivo, como se reconhecesse a ansiedade por trás das palavras.

— Sei como é. Mas às vezes, esses desafios acabam revelando o melhor que temos — disse ela, com um sorriso encorajador.

O jeito sincero com que ela falou me tocou, e eu me vi sorrindo de volta, sentindo a tensão que carregava aos poucos se dissolver.

Conversar com ela parecia tornar as coisas mais leves.

— Obrigado, Yuki. Acho que o importante é… continuar tentando, né?

Ela assentiu, e, com um sorriso calmo, voltou a apagar o quadro. Trabalhamos lado a lado por um tempo, e a conversa fluía de maneira natural.

Enquanto limpava uma área do chão perto dela, minha mente começou a vagar. Pensava na conversa que acabávamos de ter, no concurso, nas palavras dela... O som da vassoura parecia hipnotizante, até que uma distração rápida me trouxe de volta ao presente.

Meu pé esbarrou em uma das pernas da cadeira que eu tinha esquecido de recolher.

O segundo seguinte foi um borrão. O chão parecia se aproximar rápido demais enquanto meu corpo desequilibrado tropeçava para frente. Tentei me agarrar em algo, mas foi inútil — a gravidade já havia decidido meu destino.

Antes que eu pudesse reagir, eu estava no chão em cima dela.

Meu rosto parou a poucos centímetros do dela, e, por um instante, o mundo inteiro pareceu se reduzir àquele espaço mínimo entre nós. O ar ficou pesado, e tudo em volta desapareceu, deixando apenas o silêncio preencher a distância entre nós. Cada batida do meu coração parecia ecoar na sala vazia.

Nossos olhares se encontraram, surpresos e presos um no outro. A luz da tarde que atravessava a janela iluminava de leve o rosto dela, realçando o brilho dos olhos que agora estavam fixos nos meus. Dentro deles, havia algo que eu não conseguia decifrar: surpresa, talvez, mas também um calor inesperado que fazia meu coração bater ainda mais forte.

As suas bochechas estavam coradas, assim como as minhas estavam. A surpresa parecia mútua, mas nenhum de nós desviava o olhar, como se algo invisível nos prendesse ali, naquela fração de segundo que parecia eterna.

Por um instante, nada mais importava.

Tentei engolir em seco, mas as palavras ficaram presas na garganta. Não conseguia me mover nem desviar o meu olhar, cada parte de mim parecia paralisada pela nossa proximidade.

Finalmente, me dei conta do quão embaraçosa era a situação e, de maneira um tanto desajeitada, tentei me afastar, quase tropeçando novamente ao me levantar.

— A-ah… me desculpa! — consegui dizer, a voz saindo num fio e o rosto em chamas.

Yuki também parecia um pouco desconcertada, mas logo desviou o olhar, como se tentasse disfarçar a intensidade do momento.

— N-não, tá tudo bem, foi apenas um acidente… — disse ela, a voz ligeiramente tremida.

O silêncio pairou sobre nós, e por alguns minutos seguimos com a limpeza em um ritmo quase mecânico, cada um tentando, sem sucesso, afastar a lembrança recente daquela proximidade inesperada.

Eu me forcei a focar nos movimentos simples de varrer e arrumar, as cadeiras mas a imagem do olhar dela, tão próximo, continuava a surgir em minha mente, tornando o ar entre nós levemente constrangedor e impossível de ignorar.

Yuki parecia igualmente concentrada, mas, vez ou outra, nossos olhares se cruzavam brevemente, apenas para serem desviados logo em seguida, como se o momento tivesse deixado uma marca silenciosa que nenhum de nós conseguia apagar.

Quando finalmente terminamos e ajeitamos as últimas cadeiras, Yuki virou-se para mim, um sorriso mais suave iluminando seu rosto.

— Obrigada pela ajuda, Shin. Limpar a sala com outra pessoa faz o tempo passar bem mais rápido.

Assenti, ainda um pouco sem jeito, mas sentindo o alívio de vê-la tão tranquila.

— É… foi mesmo. Valeu também, Yuki. Foi bem mais fácil do que eu esperava.

Caminhamos juntos até o portão, o silêncio entre nós dessa vez confortável, quase natural. Quando chegamos, ela parou, virando-se para mim com um brilho discreto no olhar, algo que parecia dançar entre timidez e determinação.

— Boa sorte com o concurso. De verdade. Eu vou estar torcendo por você.

As palavras dela, simples e diretas, atravessaram o espaço entre nós como uma brisa quente. Por um momento, fiquei sem reação, mas logo senti um sorriso genuíno se formar, quase como se tivesse sido puxado por ela.

— Obrigado, Yuki. Sério… isso significa muito. Também vou torcer por você!

Ela sorriu de volta, e o mundo ao nosso redor pareceu desacelerar. Nossos olhares se encontraram e, por aquele breve instante, havia algo além das palavras no ar. Era uma conexão silenciosa, como se ambos entendêssemos que aquilo, por menor que fosse, importava.

— Então… é uma promessa, né? — disse ela, o tom suave, mas carregado de uma firmeza tranquila.

O calor em seu olhar me pegou de surpresa, mas me vi assentindo quase sem perceber.

— É uma promessa.

Ficamos parados, sem pressa, como se nenhum de nós quisesse interromper aquele momento. O sorriso dela se suavizou, e havia algo nele — uma gentileza tranquila, quase imperceptível, mas que eu sabia que ficaria comigo.

Então, ela acenou e começou a se afastar. O vento brincou com seu cabelo, e seus passos leves ressoavam na calçada, como se seguissem um ritmo que só ela conhecia. A luz suave do fim de tarde tingia a rua com tons alaranjados, e sua silhueta, cada vez menor, parecia se dissolver no cenário, deixando atrás de si o eco das suas palavras.

Fiquei parado, observando-a, e só quando virei para seguir meu próprio caminho percebi que havia esquecido completamente do clube.

— Ah… droga — murmurei, mas um sorriso escapou, quase sem que eu percebesse.

A caminho de casa, os pensamentos giravam em torno dela, do breve e intenso momento em que ficamos tão próximos. Aquele instante ainda me deixava inquieto, mas de uma maneira nova, como se uma janela tivesse se aberto para algo que eu ainda não conseguia entender.

Toda o peso do concurso parecia um pouco mais leve, menos urgente. As palavras de Yuki e o jeito dela me deram um impulso diferente, um sentido inesperado que, de alguma forma, tornava o desafio mais… possível.

A lembrança de seus olhos, próximos dos meus, me deixou nervoso, mas ao mesmo tempo… ansioso por mais. Algo em mim queria reviver aquela sensação – não sabia bem o que era, mas sabia que, de alguma forma, ela estava deixando marcas profundas que eu não poderia ignorar.


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