Rich finalmente abriu os olhos e ficou encantado com o que via. Permaneceu deitado por alguns segundos, observando as ondas que quebravam bem próximas a ele. Sentou-se sem pressa e continuou admirando aquele cenário incrível. Apesar de estar naquela cidade há algum tempo, nunca tivera a ousadia de sair dos seus limites proibidos para procurar uma praia. Lembrava-se muito bem dos avisos de Tessela a esse respeito, que dizia:
— Se sair dos limites de Central Nickol, você será responsável por sua própria morte.
Rich tinha consciência de que era um dos heróis fortes do Clube da Justiça, embora preferisse chamá-lo de Clube de Heróis só para irritar Tessela. Mas a porcentagem de área desconhecida daquele mundo em que estava vivendo era muito grande. Os quilômetros de áreas protegidas que Central Nickol oferecia eram suficientes para que ele nunca procurasse uma praia.
Decidiu levantar-se e explorar até onde sua visão alcançava naquele lugar, enquanto a fresca brisa daquela manhã se tornava convidativa ao ponto de ele querer dar um mergulho.
— Afinal, nadar e andar de bicicleta são iguais: aprende-se apenas uma vez e é para toda a vida.
Andou alguns passos até que seus pés tocassem a água, que ainda estava fria, e de repente achou que não seria uma boa ideia nadar naquelas águas. Mal terminou de pensar sobre isso quando, ao longe, viu um animal marinho dando um salto espetacular para fora das águas. Ele ficou encantado com aquele momento, que pareceu durar mais do que o normal.
Mas, assim que o animal marinho atingiu a altura máxima que seu pulo permitia, uma criatura gigantesca se elevou do mar e sem esforço algum, com sua língua elástica e viscosa, puxou o animal marinho, que não teve tempo para nada além de ser triturado por dentes enormes e pontiagudos que se projetavam daquela monstruosidade.
Os olhos de Rich se arregalaram tanto que ele recuou vários metros daquelas águas mortíferas antes de perceber que estava apertando um objeto estranho em seu pescoço.
— Mas o que é isso? Que tipo de monstro é esse? — balbuciou, enquanto passava a mão pelo pescoço.
— Essa criatura é o Grande Tiranus, o guardião das águas — respondeu uma voz vinda do objeto em seu pescoço.
— Quem está falando? — perguntou Rick. — E quem falou isso?
— Olhe para baixo de seu pescoço e também para sua mão.
Rick começou a observar que em seu pescoço havia uma corrente que não era uma corrente comum assim como o cubo que estava nela e o mais surpreendente é que ele falava.
— Quem colocou você aqui no meu pescoço? Aliás, quem me trouxe aqui? Eu não me lembro de ter vindo para cá com meus próprios pés.
— Eu sou o cubo da essência e estou aqui para oferecer a você uma entre três opções: conhecimento, força ou inteligência. Apenas uma opção pode ser escolhida, as outras serão anuladas.
Quem conhecesse pessoalmente Rich Dmac Namara saberia que a simples menção da palavra "força" já chamava a sua atenção. Se existisse um método que o fizesse aumentar sua própria força, com certeza ele escolheria, nem que fosse 1% a mais.
— Qual é o seu preço para aumentar minha força? — perguntou Rick, sendo objetivo.
— Não peço nada em troca. Tudo que eu ofereço é simplesmente para vantagem do meu interlocutor.
— É sério? — perguntou, sem acreditar nem um pouco. — Vou ser bem claro no que vou te dizer, não existe esse negócio de comida grátis. Eu não acredito que nada que seja bom seja sem valor.
— E se isso tiver um preço, estaria disposto a pagar? — perguntou o cubo, sem demonstrar emoção em sua voz robótica.
— Eu daria a maior parte da minha fortuna... ou seja, quase tudo que consegui até agora, por um aumento de força que fosse significativamente eficiente, para combater o mais forte de todos que conheço.
— E quem seria esse? — perguntou o cubo, curioso.
— Super Ultra, o cara mais casca grossa que conheço. Sei que sou forte, mas ainda não consigo vencê-lo no mano a mano se ele vier realmente sério.
— Eu não tenho dados das forças desse tal Super Ultra, mas tenho certeza que a força que você vai adquirir vai ultrapassar todos os limites que você conhece, e isso é inteiramente grátis.
— Se é como você está dizendo e não tenho que fazer nada... Então é claro que eu aceito.
— Bom, sim, é inteiramente grátis. No entanto, você precisa estar disposto a fazer algo por mim.
— Pronto, eu sabia que não existe almoço grátis, mesmo sendo nesse mundo.
— Rick Dmac Namara, não é nada tão complicado quanto você acredita. Só quero que você passe nos testes. E você terá a força que deseja.
— E que testes seriam esses? — perguntou Rich, desconfiadíssimo.
— Apenas olhe para trás que você descobrirá um deles.
Então, lentamente, Rich virou seu pescoço e, para sua surpresa, atrás dele havia um bando de selvagens prontos para reduzi-lo a um monte de carne moída. Os selvagens não eram seres humanos normais; o menor deles ainda era maior do que o próprio Rich, que com seus um metro e noventa não era exatamente um homem pequeno.
— Caramba, vocês estão querendo me testar assim? Em todo caso, tenho confiança em minha força, não serão essas aberrações que vão me vencer.
Mas o que Rich não havia percebido é que, apesar daqueles selvagens estarem armados com armas rústicas, eram extremamente perigosos. O primeiro golpe foi dele, que acertou em cheio a cara do selvagem, derrubando-o imediatamente ao chão. Já o segundo selvagem teve mais sorte e atacou Rich primeiro com sua lança feita de madeira resistente, batendo em seu ombro e causando uma forte dor.
Ele poderia vencê-los facilmente se usasse sua força e inteligência, mas não contra tantos de uma vez. Sendo assim, ele não teria nenhuma chance.
Então, como se tivessem previsto os temores de Rich, os selvagens se aglomeraram como um bando de loucos, prontos para aniquilar de uma vez o famoso herói Centurião Dourado.