A grande lua cheia cobre a escuridão com seu belo brilho. Um homem caminha sobre uma estrada de pedra, que atravessa um grande bioma esverdeado, cheio de lagos esverdeados de musgos, esse homem é Kam, com sua roupa tradicional; armadura preta, capa preta e sua máscara cobrindo parte do rosto.
Kam caminhava confiante, com os olhos fixos em frente, mas seu olhar foi atraído para o lado esquerdo onde um lago cintilante refletia a luz prateada da lua. Enquanto contemplava a bela paisagem, algo se mexeu no meio do lago, formando pequenas ondas na superfície. O espadachim arqueou uma de suas sobrancelhas, mas não se deixou distrair por muito tempo e voltou a seguir em frente em sua jornada.
Enquanto KAM caminhava, sentiu um forte tremor na terra, fazendo-o parar imediatamente. Outro tremor ainda mais intenso o atingiu, mas ele permaneceu imóvel, fixando o olhar adiante, onde uma enorme árvore se erguia. De repente, algo saltou por cima dela e pousou bem em sua frente.
Quando a criatura cai no chão, um estrondo ensurdecedor e o tremor da terra são sentidos por toda parte. Finalmente, o espadachim avista o ser raro: uma criatura — maior que a árvore que aparenta ter mais de dez metros — com pelagem branca, cabelo liso e escuro que alcança seus ombros, nariz pontiagudo como o de uma bruxa, pernas e braços peludos e volumosos, além de uma enorme barriga coberta de pelos. Nas costas do monstro há uma espécie de bolsa gigante confeccionada em pele, que parece integrar o corpo da criatura. Dentro da bolsa, algo se agita como várias criaturinhas juntas.
Kam leva um susto e dá dois passos para trás, arregalando os olhos. Rapidamente, ele leva a mão direita ao cabo de sua espada gigante presa em um mecanismo em sua costa e a retira, fazendo-o soltar um pequeno barulho. Com ambas as mãos, ele empunha a espada vermelha.
O monstro soltou um rugido ensurdecedor que reverberou na alma do espadachim, fazendo-o apertar firmemente o cabo de sua espada. Encarando a criatura bípede, o homem sentiu um arrepio subir por sua espinha. Então, o monstro falou com uma voz imponente: — Não temas a mim, espadachim. Conheço sua história e não tenho nada a cobrar de você.
O Espadachim engoliu seco, logo depois respirou fundo, soltou uma risada e disse: — Já ouvi falar de vocês, nunca pensei que teria a chance de conversar com um coletor de almas — falou ele. — não pense que temo a ti, eu apenas fiquei impressionado com tamanha altura, saiba, caso me atacasse, eu te cortaria até ficar do meu tamanho…
O monstro gigante solta uma grande risada: — HaHaHaHa, para sua espécie, és alguém bem audacioso, não achas, espadachim? Bom! Isso não importa, tenho almas para recolher.
— Não veio a minha procura? — perguntou o espadachim, arqueando uma de suas sobrancelhas.
— Não! Você não ouviu meu assobio, ouviu? — disse o monstro, soltando um largo sorriso amarelado enquanto arqueava uma sobrancelha.
Kam leva sua espada à costa e coloca sobre o mecanismo debaixo da capa. Logo depois solta um leve sorriso enquanto fecha seus olhos: — Eu queria muito dizer que sim, mas infelizmente hoje não é meu dia de sorte.
A criatura soltou outra risada exagerada ao ouvir as palavras de Kam. Em seguida, deu um passo largo à frente, aproximando-se do espadachim: — Seu senso de humor é revigorante, criatura, mas saiba que um dia ouvirá meu assobio. Esteja preparado até lá.
— Eu já estou preparado a muito tempo — afirmou Kam, com um tom de voz sério e pesado.
O monstro mudou bruscamente o tom de voz, seus olhos penetrantes fixaram-se no rosto do protagonista, enquanto sua postura se tornava cada vez mais intimidadora. Um ar de seriedade pairava no ambiente quando a criatura soltou suas palavras.
— Antes de partir, há algo que preciso lhe dizer — disse com voz grave e pausada. — A estrada que você segue não tem volta. Seu coração se enche de raiva todos os dias, seus olhos, antes inocentes, agora tornaram-se sanguinários. Com o passar do tempo, suas mãos se banham com mais e mais sangue, até chegar o dia em que não restará em sua mente nenhuma sanidade, e nesse dia...você se tornará um verdadeiro demônio.
O espadachim olhou com desprezo para a criatura: — Só isso que tens a me dizer? Preciso partir, tenho algo a fazer…
— Matar, matar e matar, só tens isso a fazer? Espero que não se arrependa das suas escolhas…Espadachim Demônio.
O gigantesco monstro ergueu seus olhos e contraiu vigorosamente suas pernas, preparando-se para um salto iminente. Com uma velocidade surpreendente, ele pulou, fazendo com que uma nuvem de poeira se levantasse e abalando o chão. Kam observou atentamente enquanto a criatura saltava a uma distância de duzentos metros. Ao virar-se, o monstro e Kam encontraram-se face a face. Kam, com uma expressão gélida e séria, abaixou lentamente a cabeça, enquanto o monstro bufava levemente. Ambos viraram as costas um para o outro, seguindo seu próprio caminho. Os passos pesados e lentos de Kam ressoavam no solo, enquanto suas correntes batiam nas coxas da armadura. O monstro, por sua vez, deu um último pulo ruidoso antes de desaparecer no horizonte.
Alguns dias depois…
Em um grande dia ensolarado, uma grande multidão fervorosa se forma no meio da praça de alguma pequena cidade, no meio dessa multidão, um grande palco de madeira foi montado.
Cinco pessoas — uma do lado da outra — estão sobre o palco, uma delas assemelha-se a um padre, utilizando uma tradicional sotaina, portando na mão esquerda uma cruz de madeira. Outras duas figuras assemelham-se a soldados, trajando armaduras prateadas e segurando lanças de madeira com extremidades afiadas, aparentemente criadas de ferro
A figura que precede a última é, aparentemente, do sexo masculino. Entretanto, sua aparência destoa dos demais indivíduos presentes na praça, haja vista suas medidas corporais que superam os dois metros de altura. Além disso, sua pele tonalizada e evidentes músculos sobressaem-se no meio da multidão. O indivíduo em questão veste uma imponente túnica negra que confere elegância a seus braços esguios. Soma-se a isso, um capuz pontiagudo do mesmo matiz e em uma das mãos possui um machado de dois gumes que supera suas dimensões, na outra mão, uma corrente que aprisiona uma uma mulher pelos dois braços que estão presos atrás da costa.
Essa mulher aparenta estar visivelmente cansada e machucada por todo corpo, além de estar sem as roupas e banhada sobre algum óleo pegajoso. De joelhos, seu cabelo loiro cobre totalmente o rosto enquanto ela olha para o chão.
A multidão agitada clamava com veemência, injuriando a mulher com os mais pejorativos chingamentos possíveis. Os demais integrantes do palco, estupefatos, permaneciam inertes por um breve instante até que o padre, decidido, tomou a dianteira. Aos poucos, a multidão exaltada foi acalmando-se, respondendo ao sutil sorriso que se esboçava nos lábios do líder religioso, que ergueu sua mão esquerda, com a palma aberta, para dirigir-se a todos em alta e clara voz, perfeitamente audível para os presentes.
— Meu povo! Venho aqui hoje, em nome daquele que rege o céu e a terra, declarar que essa mulher — disse o padre, levando a mão esquerda na direção da mulher loira no palco. — é uma influenciada pelo ser maligno!
Ao ouvirem a declaração do padre, a multidão reagiu proferindo injúrias à mulher. Contudo, o homem empunhando um imponente machado bateu a ponta do cabo vigorosamente no solo, produzindo um estrondo poderoso que anulou os insultos, forçando todos a voltar ao silêncio.
O padre agradece acenando com a cabeça, logo depois, ele volta a falar: — Bom…continuando. As provas sobre tais acusações que faço, estão no habitate deste animal asqueroso.
O padre volta a apontar a mão na direção da mulher. Com um olhar de nojo, ele olha para o cabelo da mulher.
— Por…por…
A mulher eleva a cabeça, e olha para todos ali na multidão, seus olhos cheios de lágrimas se contraem, todos ali olham para o rosto dela, cheio de cicatrizes e marca roxas — mostrando que ela foi torturada antes de chegar ali.
Ela desesperadamente tenta articular algumas palavras, mas o carrasco, impiedoso, interrompe-a com um violento chute em suas costelas frágeis. A pobre mulher, cambaleando em agonia, começa a babar enquanto grita de dor. O suposto padre, sem se importar, exibe um sorriso sádico e retoma seu discurso impunemente.
— Povo que nosso senhor ama, venho aqui desperdiçar seu tempo por causa dessa….dessa coisa! Apenas para dizer que essa influenciada já foi condenada.
Mais gritos são exalados da plateia que ali está, todos agradecendo a Deus. O padre já impaciente, eleva novamente.
— Porém, contudo! Ainda assim, venho aqui saber a vontade de meu povo, quero saber se, ela, essa aberração, filha do demônio, será queimada viva na fogueira ou terá a cabeça decepada pelo grande machado de Icaros, nosso leal carrasco…
O silêncio permeia a praça enquanto a multidão se observa mutuamente, em expectativa. Subitamente, gritos estridentes de fervor irrompem dos presentes, clamando pelo veredito final. Uns defendem que a mulher deve sofrer a pena capital através do machado do carrasco, enquanto que a maioria clama pelo seu fim da mulher pelas chamas da fogueira.
O suposto padre arqueia a sobrancelha com um olhar alegre, ele abre os dois braços e com um largo sorriso no rosto toma um suspiro pesado, logo depois olha para cima, como se estivesse agradecendo a algum Deus: — Então que queimem a aberração.
A plateia irrompe em aplausos entusiásticos. O suposto padre, imperturbável porém, volta seu olhar novamente para todos os presentes e, desconsiderando por completo a presença da mulher, abandona o palco com passos lentos e cuidadosos. Os dois soldados se deslocam com agilidade até o centro do palco e, com movimentos precisos, abrem um alçapão, de onde retiram uma estaca robusta de três metros. Na sequência, de dentro do mesmo alçapão, recolhem puçás quintais de palha seca, espalhando-a com rapidez e eficiência pela extensão do cenário.
O carrasco conduziu a mulher com brusquidão até a estaca, onde a prendeu com cordas que a imobilizaram ao redor do corpo. Desse ato, resultou uma posição extremamente desconfortável para a vítima, com os membros superiores amarrados acima da cabeça e os pés afastados. Em meio a uma risada sinistra, o algoz segurou o queixo da infeliz por instantes, antes de soltá-lo bruscamente. Em seguida, ele caminhou firmemente em direção ao machado, deixado ao alcance das mãos na beirada do palco, e o empunhou decidido antes de saltar para fora do cenário.
A mulher não pode nem gritar, seu corpo todo cansado apenas esperaria a hora de sua morte, todos do local saíram, apenas ela ficou no palco, a multidão chinga fervorosamente para queimar a mulher logo. O carrasco caminhou até um local e voltou com a tocha acesa na mão esquerda, ele olha diretamente no corpo nu da mulher.
— Esse seu óleo que passei no lindo corpo que tens, ele ajudará a tostar sua pele, hahahaha. Ande mulher, diga onde está a aberração que criaste, tenho fé que o líder não irá punila se dizer onde ela está…
A mulher fita o carrasco com um olhar de absoluto desprezo, palpável a qualquer espectador que presencia tal cena. O algoz, por sua vez, indiferente, desdenha dela e, prontamente, junta-se ao olhar do padre que, num gesto de aprovação, inclina a cabeça. Em consonância ao sinal do líder religioso, o carrasco lança uma tocha ao palco, iniciando o aterrador espetáculo do fogo devorando a palha.
O incêndio se propaga, consumindo a palha. A dor e o medo começam a tomar conta da miserável que, diante das chamas que se aproximam, contorce-se em desespero e desabrocha em lágrimas.
Com o decorrer dos momentos, a labareda alcança o corpo da senhora, e o som de seus gritos perpassa toda a praça. Sua epiderme gradativamente começa a ser carbonizada, seu físico se torce, seus clamores se expandem, contudo, sem êxito. Todos que testemunham o acontecimento, têm a visão da pira que se formou e são atormentados pelos berros arrepiantes da mulher. A cena trágica provoca aversão em uma criança presente no local, porém, um homem — presumidamente seu genitor — obriga o rapazinho a presenciar a cremação.
O padre faz algum sinal no próprio corpo, logo depois se vira para a plateia.
No meio das chamas ardentes, um insignificante fio de cabelo se desprendeu e vagarosamente flutua pelo ar, impulsionado pelos suaves ventos que ali ainda persistem. O cabelo parece delicadamente planar até o momento em que ele cai sobre a mão firme de um homem. Com uma expressão intensa, o homem acolhe o fio de cabelo da mulher e fecha a mão com vigor. O olhar fixo do homem se mantém no padre que, por sua vez, observa o homem com um olhar amedrontado — que antes estava extasiado de alegria — ao perceber quem o encara. Esse homem é Kam, seus olhos azuis penetram nos olhos prateados do religioso. Um sorriso sinistro — sem a máscara que cobria tal rosto — emergiu da boca do espadachim, indicando sua intenção de aterrorizar seus inimigos.
Oi. Esse capítulo veio meio tarde, mas mesmo assim, acho que vale apena ler ele, acho que foi bem melhor que o último, comenta oque achou, e se possível, recomenda essa obra pra alguém ou me manda umas moedinhas (..)
bom, próximo capítulo é na segunda, te espero lá