— Gabi! Está indo para o treino?
Gabriel virou a cabeça sobre o ombro encontrando os olhos maquiados de Sadie, brilhando intensamente para si. Não sabia lidar com a euforia da garota quando ela se jogava em suas costas e se pendurava. Parecia imobilizá-lo completamente.
— Sim, apesar de já estar atrasado. Esqueci dos tênis que ganhei dos meus pais esses dias, então voltei pra pegar.
— Esquecidinho você, hein. Mas parece que agora não teremos tanto tempo juntos... Quero dizer, da gente sair em galera igual aquele dia.
O alfa sorria gentilmente para a garota, que finalmente o soltara do apertado abraço, conseguindo caminhar pelos corredores da escola pra sair do prédio. Carregando o par de tênis novinho, ele tentava olhar seus detalhes só pra fugir do olhar intenso de Sadie.
Era um incômodo lidar com garotas como ela. O cheiro que emanavam deixavam claro suas intenções. Sempre deixavam rastros propositalmente. Bem... Não a culparia por se manter esperançosa, na tal festa eles haviam se beijado. Foi um desafio, uma mera brincadeira, mas Sadie gostava de Gabriel e ele sabia disso.
Desvencilhar dos seus sentimentos era uma tarefa difícil.
— Com as eliminatórias acontecendo é melhor evitar. O capitão já ficou doente, e o técnico provavelmente vai pegar no nosso pé.
— O chatonildo ficou doente? — Questionava ela em falsa inocência. — De novo? Será que é algo contagioso?
— Deve ser um resfriado.
Imediatamente Sadie formara uma careta, se tremelicando toda.
— Credo! Isso é perigoso, e se alguém pegasse isso? Que azar do nosso time.
Naquele ponto ela tinha razão, ponderava Gabriel. Não entendia ao certo o que poderia ter acontecido com Nicolas, mas Theodore dissera ser causada pelos tais adesivos. Sendo assim, era desnecessário temer que todo o time pegasse um resfriado. Deveria se cuidar para evitar tais cenários.
Principalmente quando todo o time estava sedento pela vitória.
— Seria bom evitar mais contágio... Aquele assistente deveria ser barrado do ginásio, com certeza ele deve ter pego algo do namoradinho dele.
Gabriel congelara no lugar, encerrando os seus passos. Os olhos castanhos foram diligentemente pousados na garota que continuava a caminhar na sua frente, completamente alheia da aura intensa que surgia atrás.
Torcia, e muito, para que Sadie não estivesse falando de Theodore.
Quando Sadie percebera a sua ausência, parou e virou-se para trás o encarando.
— O que foi, Gabi?
Contenha-se!
Theodore havia pedido mais cedo para agir naturalmente.
— Foi nada. — Custara a dizer, quase mordendo a língua.
Voltando a caminhar pelo pátio para seguir até o ginásio, passando pelas tabebuias folhosas, Gabriel sentira o cheiro adocicado que adorava apreciar. Os olhos castanhos varreram em sua volta buscando o dono daquele cheiro, tendo um sorriso prestes a surgir em seus lábios quando encontrara Theodore.
Mas o seu sorriso morrera logo em seguida.
A fisionomia do ômega estava tensa, com os ombros enrijecidos parecendo conversar com alguém. Conversar não, pois a boca de Theodore não se movia, ele apenas escutava. Imediatamente o alfa quis saber com quem o rapaz conversava, encontrando a figura de Thunder irritado.
Sadie mais uma vez percebia que o rapaz não a seguia, e quando olhara na mesma direção, apressou-se em agarrar o braço de Gabriel.
— Venha! Não disse que estava atrasado? — O alfa, no entanto, não se movera. Continuou a observar aquela conversa até assistir Thunder empurrar o ombro de Theodore. Gabriel dera dois passos quando fora impedido pela garota. — Não se meta nisso, Gabi!
— Como é?
— Pedi que o Thunder conversasse com ele. Tenho certeza de que foi ele quem escreveu aquela história.
Gabriel fechara os olhos por um momento. Theodore o avisara da suposta história circulando pela comunidade do Orkut, quando se encontraram antes da aula. Claro que acalmara o ômega assegurando não ser abatido pelos comentários ofensivos, seria necessário muito para derrubá-lo.
Aguentar olhares e cochichos era tranquilo.
Mas aguentar alguém ser agressivo com Theodore... Era outra história.
— E por que precisaria saber quem escreveu aquela história? — Questionava o rapaz com a voz rouca, apertando os tênis novos em suas mãos contendo sua raiva crescente. — Por acaso ela fala sobre você? Sobre Thunder?
— Não, mas fala sobre você.
— Por acaso eu pedi ajuda?
Sadie afrouxou o aperto no braço de Gabriel, sem desviar os olhos daquele semblante frio que surgia no lugar do seu caloroso sorriso. Tão acostumada a ver o lado cavaleiro do rapaz, sempre sorridente e respeitoso. Onde fora parar? Por que havia uma pessoa com o rosto parecido com o dele, olhando tão friamente para ela?
— Não pediu, mas você é meu amigo. Quero apenas te ajudar.
Parecendo respirar fundo para se acalmar, Gabriel virou a cabeça para Sadie.
— Me pergunte primeiro, Sadie. Isso não é altruísmo, é egoísmo.
Soltando-se do aperto de Sadie, Gabriel marchara até os dois rapazes que tinham uma conversa acalorada. O alfa apressara os passos quando o punho fechado de Thunder se erguia anunciando a agressão prestes a surgir.
Sem pensar em mais nada, focando apenas em proteger aquele ômega que lhe era tão importante, Gabriel deixava os seus instintos tomarem controle de sua consciência. O cheiro predominantemente alfa sobressaía com louvor, retardando Thunder quando farejou o ar e olhara em sua direção.
Fora a vez de Gabriel em fechar os punhos e acertar um sonho na barriga de Thunder, o obrigando a retroceder alguns passos. O braço do alfa envolvera os ombros de Theodore, que tremia paralisado, o abraçando contra seu peito.
No gramado do pátio, sentado acariciando a própria barriga dolorida, Thunder encarava aquele alfa que parecia ser a encarnação do próprio diabo o fuzilando com o olhar com certa dose de desprezo.
— Gabriel! Qual é a tua, mano? Tá de sacanagem?
Lentamente Gabriel suavizara seu rosto, vestindo a máscara costumeira que deixavam as pessoas confortáveis consigo. Até mesmo ousara diminuir seu cheiro, apesar de manter a presença de alfa. Uma pequena faca apertada contra o pescoço daquele outro alfa que era Thunder.
— O que está fazendo Thunder? Temos que treinar.
— Tu me deu um soco, cara!
— Só assim pra você voltar. — Soltando Theodore para puxá-lo atrás de si, Gabriel agachou-se na frente de Thunder apontando para o rapaz — Você parecia prestes a perder o controle, imagina o que poderia acontecer se você deixasse os seus instintos saírem desse jeito?
Thunder piscava aturdido, olhando para as próprias mãos que estavam quentes. Movia os dedos sentindo-os engessados, tão duros quanto pedras, o assombrando por completo.
— Meu caralho! Essa foi por pouco!
O sorriso de Gabriel crescia em pura malícia, tão somente percebida por Theodore que o encarava ainda petrificado. Thunder estava convencido, por tão pouco, de que quase perdera o controle do próprio instinto. De fato, o seu cheiro estava intenso pouco antes de Gabriel chegar, a raiva era nítida em seus olhos, mas não chegava nem perto de ser como o outro dissera.
— Não é? Tem que tomar cuidado com isso, ouvi dizer que a diretoria daqui é bastante rígida sobre brigas.
Thunder engolia em seco assentindo diversas vezes.
Gabriel estendera a mão ao colega de time, que a segurou para se levantar. Abraçando seu ombro para levá-lo até Sadie, que se encontrava parada ainda no mesmo lugar, Gabriel simplesmente virara a cabeça sobre o ombro dando uma piscadinha para Theodore, deixado mais para trás.
O segredo de estarem ficando permanecia a salvo.
Não levantara suspeitas sobre seus ciúmes, e ainda evitara que Theodore saísse machucado.
Gabriel, certamente, era alguém astuto.