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8.69% Tecelão de Sonhos / Chapter 2: O Sonho Chega ao Fim

Chương 2: O Sonho Chega ao Fim

Ariandel se aninhou nas cobertas, envolto pelo perfume suave do amaciante, aproveitando o calor acolhedor ao seu redor. De repente, a tela de um celular brilhou no escuro, inundando o ambiente com uma luz azulada. Um toque insistente começou a tocar, vibrando suavemente na mesa. Ele abriu os olhos, confuso. "Um despertador?" pensou.

Relutante, deixou o conforto da cama quente em meio ao amanhecer frio e estendeu a mão. Na tela, lia-se: "05:05, 20 de maio de 2025." "Hoje é terça-feira, preciso ir trabalhar."

Desligou o despertador, suspirando enquanto esticava o corpo. A mente ainda pulava entre os resquícios do sonho — Shadow Slave — e um sorriso involuntário brotou em seus lábios. Era uma de suas histórias favoritas, onde ele conhecia os personagens como amigos de longa data.

Levantou-se e foi ao banheiro, escovando os dentes de forma automática, cada movimento um reflexo de tantas manhãs. Enquanto se preparava, revivia trechos do sonho com uma mistura de curiosidade e admiração: ele havia "estado" naquele mundo, trocando palavras com Sunny, observando Nephis e sorrindo ao lado de Cássia.

O chuveiro dissipou o sono, e Ariandel se entregou ao calor da água, deixando a mente vagar. Era intrigante como o sonho parecia capturar a essência da história. Sabia que sua memória era boa, mas a profundidade da experiência o surpreendia.

Ao se vestir, notou que os detalhes começavam a se esmaecer, dissolvendo-se como névoa ao sol. Fragmentos misturavam-se com a realidade. Tomou um café demorado, o aroma familiar o ancorando na rotina. A sensação do sonho foi ficando para trás, substituída por ações automáticas que preenchiam a manhã.

A caminho da porta, pegou o celular e checou o horário. Um leve eco de empolgação ressoou dentro dele — uma nostalgia quase infantil pelo universo imaginário. Sorriu ao sair, pensando: "Imaginar tanta coisa em um sonho... Foi divertido."

Fechou a porta de casa e sentiu o ar frio da manhã envolver seu rosto. No trajeto habitual até o metrô, o barulho de passos e vozes o trouxe de volta à rotina. Mas, enquanto descia a escadaria da estação, se perguntou como seria... se pudesse voltar lá.

***

Os dias se passaram.

Na cidade grande, o trajeto de metrô tornava-se um desfile de rostos estranhos, barulhos ensurdecedores e a irritante poluição visual, privada da beleza das estrelas. Havia noites em que nem mesmo a Lua brilhava. Ele se sentia um estranho em meio à multidão, um observador silencioso lutando contra a desorientação. A cada sonho e a cada olhar perdido, surgiam fragmentos que o faziam duvidar da realidade. Eram visões de uma vida que não lembrava ter, de uma casa simples e do sorriso gentil da mãe, repleto de preocupações escondidas sob sua doçura.

"Estou enlouquecendo?" Ariandel se perguntava.

Toda essa dissonância começou com um sonho inexplicavelmente real, já esquecido, restando apenas a sensação de que foi real. Um mundo de uma história que seguia, um mundo impossível de existir.

"Mas… se for real, estou no Primeiro Pesadelo? Como saberia o futuro do mundo? Por que isso surgiria em um sonho como uma fantasia literária? Seria tudo fruto da minha imaginação? Uma tentativa do meu subconsciente de me acordar?"

"Como se encaixam essas memórias de uma vida que nunca tive?"

Ele estaria esquizofrênico?

Os dias continuaram a passar.

Então, em uma noite, ele teve um pesadelo horrendo. Nele, sua vida humilde, repleta de amor, desmoronava em caos absoluto. Ele viu a sombra da mãe se dissipar, enquanto gritos ecoavam ao seu redor. Acordou em pânico, o coração disparado, sentindo o peso de uma solidão esmagadora. Era como se, a cada dia, a realidade o oprimisse um pouco mais.

Percebeu, como se um véu fosse retirado dos olhos: as lembranças da família eram inexistentes, e, no lugar, havia apenas uma ferida que nunca cicatrizava.

"Eu não tenho família... Nenhuma lembrança da infância."

Só havia os fragmentos desordenados que vivi em meus sonhos.

Ariandel procurou sua identidade, registro de nascimento e fotos. Buscou qualquer coisa que pudesse informar sobre suas origens e familiares, mas não encontrou nada.

Realmente, não havia nada.

Horrorizado, sussurrou: "Estou vivendo em um pesadelo..."

Com o tempo, a ideia de buscar uma saída tornou-se um fardo. Ele procurou por longos dias, mas nenhuma porta parecia aberta. A desesperança infiltrava-se em seus pensamentos, e a rotina transformava-se em prisão. A ideia de simplesmente ficar começou a parecer reconfortante.

Ariandel seguia para o trabalho, como em tantas outras manhãs. Mas naquele dia, uma estranha resignação pairava no ar. Na estação do metrô, observou os trens passarem em alta velocidade, como flechas cortando o vazio. O ar frio da manhã penetrava em sua pele, agudo e cortante, enquanto se sentia distante, perdido em um mar de confusão. O zumbido do mundo ao redor tornava-se um eco distante, e a realidade se dissolvia em uma névoa de incerteza.

Ele sentou-se no banco da estação, os olhos fixos nos trilhos brilhantes à sua frente. "E se eu apenas...?" A pergunta pairou no ar, sedutora e aterradora. Seria melhor acabar com a dor? Ou continuar a busca por uma realidade que parecia cada vez mais distante?

Levantou-se lentamente, sentindo o trem se aproximando. O barulho crescendo, a luz ofuscante iluminava seu rosto. No fundo, uma parte dele gritou, mas outra o encorajou a dar o passo final. Uma epifania começou a se formar: uma lembrança fugidia do sorriso da mãe, a risada suave, o calor do abraço. "O que é real?" pensou. "Este sonho, ou o que deixei para trás?"

Hesitou, uma onda de emoções tumultuando dentro dele. Estava prestes a tomar a decisão que mudaria sua vida ou acabaria com ela, mas algo dentro dele pulsava com a esperança de que talvez, só talvez, ainda pudesse encontrar uma saída. A dúvida e a determinação se entrelaçaram, dando espaço para uma escolha que poderia alterar o curso de seu destino.

Se estava sofrendo de alguma loucura ao pensar que as memórias fragmentadas de um sonho estranhamente real eram sua realidade, enquanto sua vida atual parecia o verdadeiro sonho? E que um mundo que conhecera em outra vida, por meio de uma web novel, era sua nova realidade?

"Se estou louco, como posso questionar a minha própria loucura? Se excluirmos todas as opções viáveis, a mais improvável, por mais louca que pareça, não é a única possível?"

Ariandel sentiu frio, a adrenalina pulsando em suas veias, enquanto o trem se aproximava, uma sombra ameaçadora em meio à luz da estação. A linha entre a dor e a libertação parecia se dissolver, e ele se lançou à frente, como se quisesse escapar não apenas da vida, mas de si mesmo.

O impacto foi brutal, um choque de metal e carne que distorceu sua percepção da realidade. Ariandel encontrou-se em um espaço indefinido, envolto por uma neblina densa, onde memórias se entrelaçavam com a escuridão. A dor da dúvida e do corpo sendo esmagado parecia um eco distante, uma lembrança de algo irrelevante. Ele começou a vagar entre fragmentos de sua mente, as vozes e risadas da infância misturando-se com o som metálico do trem.

"Sou um sonhador em um mundo de pesadelos", pensou, sua consciência flutuando entre memórias de outra vida e a sensação de abandono. "Talvez a loucura não seja a ausência de razão, mas a incapacidade de aceitar a realidade que nos cerca."

Lembrou-se das páginas dos livros que devorava na infância, das histórias que o transportavam para lugares distantes. Se o que experimentava agora era uma narrativa, ele se tornara um personagem perdido em um enredo sombrio de um mundo distópico, onde o que era real e o que era fantasia se confundiam. "E se eu tiver poder sobre isso? E se eu puder mudar a história?"

Ariandel havia se matado...

Após muito tempo, ele se viu em uma caverna escura, aninhado em um casulo viscoso de seda preta. Ao seu redor, outras pessoas dormiam em envoltórios semelhantes, com os olhos abertos e sorrisos vazios. Acima delas, uma criatura tão revoltante quanto abominável se alimentava de seus sonhos. De alguma forma, ele conseguiu se libertar e encarou a criatura antes que ela recuperasse totalmente os sentidos. Aquela criatura foi um Terror, e uma manifestação de seus medos mais profundos.

***

Ariandel teve um sonho. Ele sonhou com os cuidados de sua mãe — seu sorriso gentil voltado para o eu infantil e as emoções sutis que ela escondia: preocupação, fadiga, medo e uma leve solidão. A infância, embora introvertida, era envolta em momentos de paz, recheada de livros que o transportavam para mundos incríveis. Ali, as histórias ofereciam uma fuga silenciosa e, ao mesmo tempo, uma janela para o que poderia ser.

Lembrou-se do primeiro emprego, da felicidade em ajudar com as contas de casa, devolvendo à mãe, aos poucos, os cuidados recebidos. Havia uma satisfação em se provar capaz, em mostrar-se digno de tudo que ela lhe havia ensinado. Mas, no fundo, uma pergunta persistia, uma sombra de dúvida que o acompanhava desde cedo: "Meu pai... Quem foi ele? Eu o conheci de verdade?"

Pensou brevemente em como seria experimentar um amor verdadeiro um dia, ainda que perdido entre as névoas das lembranças. "Acho que tive amigos," refletiu, embora sempre houvesse uma sensação de inadequação, um leve desconforto que surgia nas interações. "Talvez... talvez eu pudesse ter feito amizades mais próximas na escola."

Enquanto essas lembranças deslizavam, ele sentia outra sombra pairando sobre o passado, uma que trazia um peso amargo e inevitável. Uma imagem vaga se formou — a primeira ruína de sua vida não veio de suas próprias escolhas, mas de algo que lhe fora imposto. Um eco de perigo envolvendo a história de seu pai. Ele evitava essa memória, mas ela sempre voltava, lembrando-o de um passado marcado por atos sombrios, por consequências que não eram suas.

Seu pai, um homem envolto em crimes, foi uma presença que pairou à distância, moldando silenciosamente o destino da família. Por causa de erros que nunca foram dele, Ariandel e sua mãe tornaram-se alvos de uma vingança brutal. A traição se entrelaçava com a lembrança do homem que nunca esteve realmente presente, uma figura cujas escolhas fizeram dele alguém distante, quase irreal.

"Que ato inútil, ele nunca se importou conosco..." sussurrou para si mesmo, e, ao deixar essa sombra se esvair nas névoas de suas lembranças, percebeu o quanto esses resquícios moldavam o presente.


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