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Um tapa severo atingiu a bochecha de uma garota de cabelos longos, pretos e cacheados. O impacto foi tão grande que a fez cair espalhafatosa no chão. Sua cabeça bateu contra a quina de uma mesa e sangue começou a jorrar de sua ferida fresca.
"Arrgh!" A garota gritou com todas as suas forças quando tocou sua cabeça e sentiu o líquido pegajoso lambuzando sua mão antes de a dor chegar em uma onda intensa até que turvasse sua visão. "Arggh! Sangue!"
Por outro lado, a garota que havia dado o tapa permaneceu parada. Raiva emanava de seu corpo. Seus olhos estavam repletos de lágrimas não derramadas, que ela se esforçava ao máximo para reprimir. Ela não queria chorar.
Ela não queria que eles soubessem quanta dor estava sentindo.
"O que aconteceu aqui?!"
A porta do quarto foi escancarada e uma linda mulher na casa dos quarenta anos apareceu com choque estampado em seu rosto. Ela tinha os mesmos cabelos longos, pretos e cacheados da garota que chorava.
"Emily!" A mulher gritou, seu rosto ficou pálido ao ver o sangue no chão e sua preciosa filha chorando de dor, encolhendo seu corpo em posição fetal. "Vadia! O que você fez com minha filha?!" Ela se agachou ao lado de Emily e começou a chorar também, soava como uma banshee aos ouvidos de Alvorada.
Por outro lado, Alvorada, a garota que tinha esbofeteado Emily, permaneceu ali, sem piscar os olhos. Ela observava a dupla mãe e filha chorar desamparadas. Ela não sentia nem um pingo de simpatia por nenhuma delas.
"Tony! Tony!" Agora a mãe chamava outra pessoa para se juntar à cena. "Tony, venha aqui rápido! Veja o que sua filha fez!"
Não demorou muito para um homem aparecer com uma expressão carrancuda entre as sobrancelhas. Ele era a figura mais respeitada dessa alcateia e todos tinham medo dele. Afinal, ele era o Alfa da Alcateia da Luz da Lua, mas diante desta mulher, ele não era nada além de um simples homem sem poder algum.
Alvorada odiava tanto ver seu pai se transformar em uma pessoa que ela não reconhecia mais.
"O que aconteceu?" Tony perguntou, mas seus olhos se arregalaram de horror quando viu Emily sangrando tanto. Ela era uma transformadora, mas a ferida deveria ser tão profunda que o sangramento ainda não havia parado.
Sem pensar duas vezes, ele imediatamente segurou a garota em seus braços. "Precisamos levá-la à curandeira!" Ele sequer perguntou o motivo dela ter se ferido em seu pânico.
Vendo que sua filha estava sendo cuidada, Julia, a mãe de Emily, se virou e encarou Alvorada, seus olhos lacrimosos cheios de raiva.
"Como ousa machucar minha menininha!" Julia rosnou para Alvorada, sua postura corporal indicava que ela estava pronta para atacar a qualquer momento.
Céus. Emily tinha vinte e dois anos e Alvorada era um ano mais nova que ela, mas essa mulher delirante não parava de chamar Emily de sua menininha.
"Se você ousar encostar um dedo em mim, eu farei você se arrepender. Eu vou mandar você para a curandeira com a pior lesão possível, de forma que deixará sua face permanentemente marcada," Alvorada disse em um tom baixo e perigoso, cada palavra que saía de sua boca pingava veneno e raiva, enquanto olhava diretamente nos olhos de Julia.
Nesse momento, ela dizia cada palavra com sinceridade, e Julia com certeza pôde sentir isso também, porque ela parou em seu caminho e apenas encarou sua enteada com ódio puro e animosidade não diluída evidentes em seus olhos lacrimosos.
"Como se atreve a me ameaçar! Vou contar isso ao seu pai!"
"Você ia contar de qualquer maneira, não importa se eu te ameacei ou não," Alvorada respondeu, seus olhos estavam tão frios e suas lágrimas haviam desaparecido. Ela sentia tanto ódio pela sua madrasta. Ela a desprezava há anos e agora isso era a gota d'água.
"Você vai se arrepender disso!" Julia saiu correndo do quarto, mas antes que ela pudesse bater a porta, ela gritou com todas as suas forças. "Você não deveria ter matado sua mãe, não é à toa que você não tem nenhum modo. Afinal, você não tem uma mãe para te ensinar."
As palavras de Julia foram mais uma facada no peito de Alvorada. Não era a primeira vez que ela lhe dizia algo assim às costas de seu pai, mas a dor era sempre a mesma e Alvorada nunca se acostumaria.
Julia fez um movimento astuto ao se afastar de Alvorada ao dizer isso, porque um segundo depois, um jarro podia ser visto voando contra a porta. Ele se quebrou em centenas de pedaços no chão, enquanto Alvorada soltava um uivo de raiva e dor.
Ela odiava sua madrasta e sua meia-irmã, especialmente quando acreditava no que ela dizia ser verdade; ela era a causa da morte de sua mãe.
Esse foi o momento mais terrível de sua vida.
Alvorada tinha apenas cinco anos quando foram atacadas por renegados e sua mãe morreu para protegê-la. Por anos, foi só ela e seu pai. Foi há apenas cinco anos que seu pai escolheu Julia como a Luna da alcateia e sua segunda companheira. Foi também quando tudo começou a desandar.
Alvorada ajoelhou-se diante da foto rasgada dela e de sua mãe que Emily havia destruído. Essa foi a razão pela qual ela se enfureceu e machucou-a tanto. Ela não poderia se importar menos com as consequências de suas ações, porque agora não havia castigo mais severo que este, não havia dor mais agonizante do que a que ela estava sentindo naquele momento.
Alvorada cobriu o rosto e chorou silenciosamente. Ninguém estava lá para consolá-la e a única pessoa que ela pensou que estaria lá por ela, passou a vê-la como um incômodo para sua feliz família.
Ela estava completamente sozinha e as coisas só iriam piorar para Alvorada uma vez que seu pai voltasse.