LETTIE
Um pandemônio foi instalado.
Os sete Saibaimans se lançaram contra nós e cercaram nosso grupo, correndo veloz ao redor. Eram tão rápidos que meus olhos se embaralharam e senti tontura.
Eles então se dispersaram e se puseram a quebrar as formações rochosas com a força de suas carcaças, enquanto gritavam como loucos ensandecidos.
— Saibaimans! — ordenou Vegeta com uma voz autoritária. — Esses quatro são os seus adversários! Façam com que sofram!
As sete criaturas pararam e se voltaram contra nós, com um sorriso maníaco no rosto esverdeado. Sua pele não era de um verde vívido e belo como o de Piccolo, mas sim, de um tom pálido, frio e assustador.
— Lettie, escute o que vou te dizer — sussurrou Piccolo. — Cuide de Gohan. Estou com a sensação de que ele não vai aguentar. Protegerei vocês.
Olhei para o meu sobrinho e uma pontada atingiu meu peito. O pobrezinho estava literalmente agarrado à minha perna, tremendo todo ao encarar nossos inimigos.
Ele poderia ter se tornado um grande guerreiro durante este um ano de Treinamento; poderia ter enfrentado inúmeros desafios e os vencido; poderia ter crescido e amadurecido durante suas aventuras; poderia até mesmo ter aprendido a falar direito…
Porém, no fundo, ele não passava de um menino de cinco anos no meio de um bando de assassinos sem piedade alguma.
Um formigamento arrepiou todos os pelos do meu corpo ao me dar conta de que, talvez, eu e Piccolo colocamos a vida de uma criancinha em risco ao trazê-lo para esta luta.
Mas agora, não tínhamos como voltar atrás.
Kuririn deve ter pressentido nossa preocupação, pois também sussurrou:
— Gohan, não tire os olhos deles, por nada.
— Preste muita atenção em seus movimentos — acrescentei.
— Não tenha medo — reforçou Piccolo.
— C-Certo…! — respondeu Gohan, tentando, ao máximo, mostrar coragem.
Os Saibaimans atacaram.
Três avançaram em Piccolo; dois foram até Kuririn; e dois vieram ao meu encontro, e iniciamos a luta. Gohan acabou ficando sozinho, plantado ali no meio daquele campo aberto enquanto tentava acompanhar a velocidade da batalha com olhos assustados.
Escutando os grunhidos dos meus companheiros enfrentando seus próprios inimigos, acotovelei um Saibaiman na boca do estômago e chutei a cabeça de outro, mas não sem levar um arranhão de suas garras no ombro e uma joelhada nas costelas.
Em meio ao emaranhado de golpes e defesas, cometi um grande erro: olhei para Gohan. Um dos meus Saibaimans percebeu meu olhar preocupado e se atirou no ar em direção a ele.
— GOHAN! CUIDADO!!! — gritei.
Foi tarde demais.
O Saibaiman se impulsionou e deu uma ombrada no peito dele, o fazendo voar para longe.
Pelo tamanho da cabeça dos Saibaimans, imaginei que eles possuíssem algum tipo de inteligência, mas, pelo visto, aqueles cabeções eram só por estética, pois todos eles de repente pararam suas investidas contra nós apenas para assistir Gohan enfim cair no chão com um baque, todo trêmulo, atordoado e arranhado.
Porém, meu temor logo retornou quando vi todos os Saibaimans encararem meu sobrinho com olhos sedentos por sangue.
Essa não! Iriam todos atacar ele de uma vez?!
Só tive tempo de pensar em voar até Gohan, mas foi outra pessoa que parou em posição de defesa na frente dele.
Piccolo.
— Gohan! — exclamou ele; seus olhos fixos nos Saibaimans. — SEJA FORTE E CORAJOSO!
Se eu pudesse, eu teria o beijado ali mesmo, mas estava ocupada demais recuperando meu fôlego e me posicionando ao seu lado, com Kuririn também fazendo o mesmo.
— E então?! — vociferei aos Saiyajins, tomada pelas palavras encorajadoras de Piccolo. — Cansaram de nos atacar?!
Vegeta e Nappa curvaram os lábios em sorrisos maldosos, enquanto seus Saibaimans se alinhavam à sua frente como peões de um jogo de xadrez.
— ESPEREM! — Uma voz soou pelos céus e levantamos nossas cabeças.
Protegendo meus olhos contra o Sol, avistei duas figuras descerem até pousarem ao nosso lado.
O primeiro era um homem, alguns anos mais velho que meu irmão Goku, e seu semblante já me revelou que era uma pessoa séria e fechada. Usava apenas calças verdes com detalhes amarelos, presas por um largo cinto vermelho, com munhequeiras também verdes cobrindo os braços desnudos. Não tinha nenhum pelo em seu corpo, inclusive em sua cabeça. No entanto, em contrapartida, um grande olho emergia do meio de sua testa e a marca de uma cicatriz cruzava seu peito.
Ao seu lado, esboçando uma expressão mais simpática, um outro rapazinho flutuava no ar, mas acredito que ele sofria de nanismo, pois era muito pequeno; metade do tamanho de Kuririn. Sua pele era tão clara e pálida, que parecia que seu rosto e braços foram cobertos com o mais branco pó-de-arroz, e a única coisa que se destacava além do seu colorido uniforme de luta, eram suas bochechas vermelhas como um tomate fresco.
— Tenshinhan! Chaos! — Kuririn abriu um enorme sorriso, e confesso que senti alívio ao ouvir seu tom alegre. Pelo menos, não eram inimigos.
Eu e Gohan observamos aqueles dois novos indivíduos com olhares curiosos para saber quem eram. Contudo, me recordei de ter ouvido o nome "Tenshinhan" lá na ilha do Mestre Kame há um ano, e de que ele era um aliado.
— Pensei que enfrentaríamos apenas dois Saiyajins — disse ele ao avistar os Saibaimans com seus três olhos sisudos.
— É uma longa história. — Kuririn parecia bem mais confiante ao rever os amigos. — Agora temos mais adversários.
— Não importa quantos são — replicou Tenshinhan de um modo grave, enquanto Chaos também olhava para Gohan e eu com um sorrisinho caloroso. Tenshinhan notou o comportamento dele e se virou para nós: — Então, estes são o filho e a irmã de Goku?
— Olá, senhores. — Dei um aceno de cabeça educado com um pequeno sorriso, também cutucando Gohan para fazer o mesmo.
— Sim — respondeu Kuririn. — Parece que o Piccolo os treinou muito bem.
— Dá pra ver que foram bem treinados. Parecem fortes. — Tenshinhan apenas deu outro aceno de cabeça para nós e voltou sua atenção nos Saiyajins e Saibaimans. Entretanto, percebi que, durante toda a conversa, Piccolo o encarou de nariz torto, enquanto olhava de relance para mim de vez em quando. A única conclusão que cheguei foi que ele se sentiu intimidado na presença de Tenshinhan, pois ele também era alto, careca e, convenhamos, bem bonito.
Por pouco não toquei seu braço para assegurá-lo de que Tenshinhan não era uma ameaça emocional, mas Nappa enfim perdeu a paciência de aguardar toda aquela apresentação e esbravejou:
— SEUS INSETOS TAGARELAS! Saibaimans, acabem logo com eles!
Todos nós voltamos a nos posicionar em defesa.
— ESPEREM! — Outra voz interrompeu nossa luta, o que certamente não agradou Nappa.
Levei um susto quando outro indivíduo DO NADA brotou do meu lado ao pousar ali, de costas para nós. Ele então se virou, revelando ser outro rapaz, da mesma idade de Tenshinhan, com várias cicatrizes pelo rosto e longos cabelos negros descendo pelas costas, usando um uniforme idêntico ao do meu irmão.
— Desculpem pelo atraso — disse ele com uma postura confiante.
— Yamcha! — Kuririn mais uma vez abriu um grande sorriso. Gohan parecia tão perdido quanto eu em conhecer toda aquela gente nova que chegou.
— Estão todos aqui, com exceção de Goku? — perguntou Yamcha, e Kuririn confirmou. Ele então olhou para Gohan e eu com o mesmo semblante determinado. — Hahaha! Não dá pra negar que vocês têm o sangue de Goku, são a cara dele!
Eu e meu sobrinho demos um pequeno sorriso como resposta, e enfim analisei nosso grupo. Então, eram estes os guerreiros que Piccolo mencionou que também treinaram para nos ajudar? Muito bom… Talvez de fato poderíamos ter uma chance contra os Saiyajins se uníssemos nossas forças.
Falando nos Saiyajins, reparei que Vegeta agora nos assistia com uma expressão curiosa, estreitando os olhos ao nos analisar.
— Hmm… — Ele passou a mão no queixo. — Um… Dois… Três… Quatro… Cinco… Seis… Sete pessoas! Eu gosto disso. Exatamente o mesmo número de Saibaimans. — Ele buscou o olhar de Nappa, o qual respondeu com um aceno de cabeça e um sorriso ousado. — Ei, vocês aí! Por que não lutam um a um com os meus soldados? Oh, já sei! Vamos fazer… um jogo!
Piccolo estremeceu ao meu lado. Seu humor parecia ter piorado muito.
— Um jogo?! — retrucou ele. — Que inutilidade! Parem de esticar o assunto e vamos acabar logo com esta luta!
— Piccolo — toquei em seu braço, numa entonação que apenas nosso grupo pudesse escutar —, pense bem na proposta deles. Pode ser uma boa ideia fazer esse "jogo", assim, podemos ganhar tempo até Goku retornar. — Lhe dei um apertãozinho e concluí, convicta: — Deixe eles pensarem que estão no controle.
Piccolo ficou me olhando, com os lábios pressionados e as narinas infladas. Era nítido o quanto estava nervoso, ainda mais ao vermos Gohan se encolhendo entre nós dois, fitando os Saibaimans com uma expressão assustada.
— Ela tem razão — disse Kuririn. — Esta pode ser nossa vantagem. — Ele buscou o olhar dos outros guerreiros, os quais assentiram em concordância.
— Certo! — Tenshinhan deu um passo a frente e encarou os Saiyajins e Saibaimans. — Eu serei o primeiro a jogar! Vamos!
E deu-se início a luta.
Tenshinhan se lançou contra o Saibaiman e lhe golpeou no meio da cara, fazendo a criatura voar para trás, só que ela foi rápida e se impulsionou pelos pés para rebatê-lo. No meio do caminho, seu cabeção verde SE ABRIU NO MEIO, e dele, saiu o jato de uma gosma esbranquiçada. Tenshinhan se desviou no último segundo, o que fez o trajeto da gosma vir na direção do nosso grupo, especialmente em Gohan.
Só tive tempo de pegá-lo no colo para saltar dali o mais rápido possível, mas era tarde demais. Seríamos atingidos por aquela nojeira que sabe-se-lá o que nos causaria.
— LETTIE! GOHAN! — Piccolo nos puxou para trás, e caímos num baque, um amontoado do outro. Quando nos recuperamos do susto, assistimos aquela gosma derreter o chão com um ácido e vapor escaldante.
— Vocês estão bem?! Se machucaram?! — Ele nos inspecionou enquanto ouvíamos as investidas de Tenshinhan contra o Saibaiman a uma distância.
Não consegui respondê-lo. Meu olhar e o de Gohan estavam fixos no arrombo que aquela gosma havia feito no solo, e encarei Piccolo com olhos vidrados. Se ele não tivesse nos salvado, eu e meu sobrinho teríamos sido derretidos vivos, lenta e dolorosamente.
Confirmando minhas suspeitas, senti um cheiro de queimado, e arquejamos quando vimos que o cinto do meu kimono estava se autodeteriorando com o ácido que havia o atingido. Rapidamente, Piccolo o tirou e o jogou para longe, e pudemos testemunhá-los se desintegrar por completo, derretendo o chão arenoso abaixo de si. Gohan tremia no meu colo, branco feito papel ao mirar o vapor saindo do buraco.
— Me respondam! — Piccolo pegou na lateral dos nossos rostos e nos fez olhá-lo. — Vocês estão bem?!
— S-Sim… — respondi num sussurro, e finalmente recobrei minha consciência, sacudindo a cabeça e piscando várias vezes. — O-Obrigada…
Piccolo nos ajudou a se levantar, e foi a minha vez de inspecionar um traumatizado Gohan, enquanto ele criava um cinto novo para mim. Então, ouvimos um tumulto e, quando nos viramos para ver o que era, o Saibaiman estava caído no chão, e nossos colegas comemoravam.
Tenshinhan havia o derrotado.
Percebi que Vegeta e Nappa começaram a discutir sobre o Saibaiman abatido, mas não consegui ouvir direito. Tudo o que sei foi que, de repente, Vegeta apontou dois dedos na direção do Saibaiman e o explodiu com um raio de energia, simples assim.
Ninguém entendeu nada, inclusive Nappa.
— Se continuassem lutando, seria uma perda de tempo — explicou Vegeta ao ver nossos olhares conturbados. — Aquele Saibaiman seria incapaz de vencer, desde o começo. — Ele então vociferou para os outros Saibaimans que o fitavam com visível temor: — FALEI PARA VOCÊS LUTAREM COM TODAS AS SUAS FORÇAS, SEUS IMBECIS!
Eu ainda me recuperava da ideia de quase ter sido derretida viva, mas pude ver como todos os meus companheiros ficaram abismados com tal atitude de Vegeta. Ao olhar para Piccolo, ele suava frio, com um semblante taciturno, provavelmente pensando o mesmo que eu: se quisessem, os Saiyajins também poderiam acabar com a gente num piscar de olhos.
Aqueles caras estavam brincando com a gente!
Uma brisa congelante passou pelos meus cabelos e arrepiou os pelos de minha nuca. Uma aura sinistra nos rodeava. A sensação que eu tinha era a de que estávamos vivendo… o fim do mundo; como se uma batalha invisível acontecesse ao nosso redor, e nossas energias do bem lutassem contra as energias malignas dos dois Saiyajins que nos olhavam com as mais cruéis das intenções.
— E então?! — exclamou Vegeta para nós. — Quem será o próximo?
Gohan engoliu em seco e se encolheu entre mim e Piccolo, inconscientemente buscando nossa proteção. Aquilo me trouxe uma profunda angústia e, mais uma vez, senti uma pontada de culpa por tê-lo envolvido neste problema. Onde eu estava com a cabeça ao achar que uma criança de cinco anos poderia enfrentar dois alienígenas que faziam os adultos deste grupo estremecerem???
Mas o medo de Gohan me deu forças, e dei um passo a frente.
— Eu lutarei!
Vegeta esboçou um sorriso bem malicioso. Por outro lado, meus companheiros se viraram para mim com diversas exclamações de incredulidade. Piccolo foi o primeiro a se manifestar:
— De jeito nenhum! É muito perigoso! Você fica aqui, com Gohan. Na verdade, seria melhor se vocês voltassem para o Acampamento e ficassem lá até tudo isso acabar.
— Lettie, desculpe… — disse Kuririn com um meio sorriso sem graça. — Não estamos menosprezando sua força, mas Piccolo tem razão. É arriscado demais.
— Além de que Goku nos mataria se soubesse que deixamos sua irmã e seu filho se machucarem. — Yamcha deu uma risadinha nervosa, enquanto Tenshinhan e Chaos concordavam.
Quando menos percebi, eles se posicionaram na nossa frente, formando uma muralha de cinco guerreiros, separando eu e Gohan dos Saiyajins.
Veja bem, eu aprecio um bom cavalheirismo. Pra ser sincera, acho saudável esse instinto protetor que muitos homens naturalmente têm para com mulheres e crianças, e agradeceria se eu tivesse tido uma boa figura masculina com esse tipo de comportamento perto de mim enquanto eu crescia. Teria me poupado muita dor.
Entretanto, naquela situação em específica, eu sabia do tamanho da minha força e do que era capaz. Meu poder de luta era tão alto quanto os dos meus colegas.
Peguei no braço de Piccolo e o fiz se virar para mim.
— Por que você se propôs a me treinar por um ano, se não me deixa lutar? — questionei, num tom baixo, porém indignado. — Eu quero lutar!
— Porqu– Piccolo de repente parou, e olhou de relance para os outros rapazes. Em seguida, saiu da formação, me conduzindo a uma distância, até enfim se inclinar próximo ao meu rosto e responder: — Porque naquela época era diferente! — Ele passou as mãos no rosto, respirando fundo, e me olhou profundamente. — E-Eu… Eu não me importava com vocês.
Meu coração pulsou forte, e pude ver a aflição em seus olhos. Com delicadeza, coloquei a mão em seu peito e respondi:
— Eu sei que posso ter uma chance, porque foi você quem me treinou. Por favor, me deixe lutar.
— Para, Lettie! — retrucou ele, ainda aos sussurros. — Não está vendo a realidade?! — Ele se aproximou mais de mim e disse, entredentes: — Ninguém aqui tem uma chance.
Suas palavras soaram tão sinistras, tão sem esperança, que meus membros formigaram. Lentamente, me virei para observar Vegeta, Nappa e seus Saibaimans, com seus semblantes perniciosos e sedentos por desgraça, e enfim, a realidade de Piccolo caiu sobre mim como uma montanha: era muito provável que alguns, senão todos do nosso grupo, saíssem mortos daquela batalha.
Ele me olhou mais uma vez com grande amargura e voltou à formação, me deixando para trás com Gohan, digerindo aquela terrível, mas talvez iminente realidade.
— Muito bem! Eu serei seu adversário! — Kuririn disse à frente.
— Espere — impediu Yamcha. — Não lute ainda. Deixe comigo. Quero mostrar a eles que não devem brincar conosco.
— Mas… — replicou Kuririn. — Eu também posso fazer isso!
— Você já foi revivido uma vez pelas Esferas do Dragão, e se o pior acontecer a você, não poderá mais voltar à vida. — As palavras de Yamcha nos atingiram com mais peso do que imaginei. — Portanto, deixe isso comigo. Eu me livrarei dessas criaturas de uma vez por todas!
Percebi que Kuririn ficou tocado pela atitude de Yamcha, e desejei, do fundo do coração, que eu tivesse esse tipo de amigo durante os momentos difíceis da minha vida. Quem sabe, caso o pior não aconteça, esse ajuntamento poderá me render boas amizades no futuro.
Nappa, por outro lado, achou tudo aquilo muito meloso e chato, e enfim ordenou que um Saibaiman atacasse. Yamcha se pôs a frente do nosso grupo, e se posicionou, pronto para receber o primeiro golpe.
E então, ele e o Saibaiman desapareceram.
Bom, pelo menos, essa foi a impressão de Gohan. Os dois estavam se movendo tão rápido durante a luta, que, aos olhos do meu sobrinho, não conseguia acompanhar tal velocidade. Piccolo virou-se para ele e o relembrou das nossas aulas sobre sentir o Ki, e o orientou para se concentrar e também conseguir enxergar aquela "batalha invisível", como os adultos conseguiam.
Eu e Piccolo trocamos um pequeno sorriso quando Gohan fez uma expressão compenetrada, chegando até tremer, tamanha força fazia para sentir o Ki de Yamcha e do Saibaiman, até que, por fim, ele exclamou:
— Consegui! Eles estão perto daquela formação rochosa com um arbusto no topo, não é, não é?!
— Isso mesmo, Gohan. — Afaguei seus cabelos, e Piccolo lhe deu um olhar orgulhoso.
Nosso grupo continuou observando a luta. Yamcha estava indo muito bem, atacando e defendendo os golpes rápidos do inimigo. Mesmo quando ele era pego de surpresa pela criatura, conseguia revidar com um contra-ataque. Então, num movimento brusco, o Saibaiman o girou pelo braço e o lançou para os céus, mas Yamcha recuperou o equilíbrio e lançou um poderoso raio de energia azul de ambas as mãos, diretamente no Saibaiman.
A criatura caiu imóvel no chão destruído ao seu redor.
— ELE CONSEGUIU! — Alguns do nosso grupo comemoraram.
Posicionada atrás de Piccolo, o vi soltar um suspiro silencioso de alívio, enquanto Gohan arquejava em admiração à vitória de Yamcha.
Os Saiyajins, no entanto, não pareceram nada contentes com a derrota de mais um de seus soldados pelas nossas mãos.
— Acho que esses seus monstros não são tão fortes quanto vocês pensavam. — Yamcha se virou para eles com o peito estufado. Nappa quis retrucá-lo, mas Vegeta o interrompeu, e Yamcha prosseguiu: — Não preciso de ajuda. Eu mesmo acabarei com os Saibaimans que sobraram.
Por que eu estava com um mau pressentimento?
Lá estava Yamcha, um verdadeiro guerreiro e lutador, numa postura confiante diante seu inimigo abatido.
Confiante demais.
Algo chamou a atenção do meu olhar. O Saibaiman derrotado havia se mexido ou foi impressão minha?
Tarde demais. Abri a boca para alertar Yamcha, mas seu Saibaiman de repente levantou-se num pulo e o agarrou por trás, trancando seus braços e pernas ao redor do corpo dele.
No próximo segundo, ele se autoexplodiu.
Um clarão nos cegou temporariamente. Quando recuperamos nossa visão, arquejamos em horror.
Yamcha estava caído no chão numa posição estranha.
Morto.
Aquele fato arrepiante era mais do que nítido. Não havia nem necessidade de Kuririn ter saído correndo para verificar a pulsação daquele corpo estraçalhado e esfarrapado na areia que deformou ao seu redor.
Iniciou-se um burburinho entre nosso grupo — incrédulos e indignados pela morte de Yamcha — e os Saiyajins — furiosos por seu Saibaiman ter se autodestruído.
A única sensação que tive foi um grande incômodo no meu âmago ao ver que nossos inimigos eram capazes de acabar com uma vida assim, num piscar de olhos.
Eu mal havia conhecido Yamcha, e ele já havia morrido. Sem mais, nem menos. Até Piccolo, o qual evidentemente não tinha amizade com nenhum daqueles guerreiros, se mostrou perturbado com aquela morte tão repentina, e não escondo em dizer que ele, eu e Gohan nos aproximamos ainda mais, num senso de proteção mútua, ao ver que não passávamos de meros brinquedos nas mãos daqueles Saiyajins.
Contudo, tivemos que de repente sair correndo dali, pois Kuririn teve um acesso de fúria e disparou uma poderosa bola de energia amarela contra nossos inimigos, que se ergueu no céu e se dividiu em seis raios de luzes e atingiu diversos pontos do campo de batalha, causando fortíssimas explosões.
Só sei que, quando abri os olhos, estávamos eu, Gohan e Piccolo, encolhidos uns nos braços do outro. Após rapidamente nos certificarmos que ninguém tinha se machucado enquanto a poeira baixava, nos demos conta de algo… incrível!
Kuririn havia, com êxito, exterminado todos os Saibaimans.
Nos aproximamos dele, celebrando sua vitória, mas Kuririn alertou:
— Não baixem a guarda! Um deles escapou!
Meu estômago embrulhou quando o Saibaiman restante simplesmente emergiu de um buraco de uma rocha, com as garras afiadas mirando a garganta do meu sobrinho.
— GOHAN!!!!!!!!!! — Me atirei na sua frente e fechei os olhos, esperando o golpe mortal.
Mas ele não chegou.
Quando abri os olhos, tremendo da cabeça aos pés, avistei a garra do Saibaiman a cinco milímetros do meu peito.
Mas sua garra estava paralisada, presa pela mão forte de Piccolo.
Tanto eu quanto o Saibaiman levantamos nosso olhar e o encaramos, perplexos.
Nunca, em todo o tempo que convivi com Piccolo, vi tanto ódio estampado em seu rosto, coberto por uma sombra do mais puro desprezo contra aquele Saibaiman.
— Morra, desgraçado — disse ele, entredentes, e então, num movimento rápido, puxou o Saibaiman pelo braço, fechou o punho e o enterrou na boca do estômago da criatura. Em seguida, o jogou para o alto e disparou um raio de energia.
O Saibaiman literalmente desintegrou, com seus restos mortais caindo dos céus como cinzas de um incêndio.
Eu ainda tremia, boquiaberta, quando Piccolo veio até mim e Gohan e perguntou, grave:
— Como estão?
Não conseguimos suportar mais. Nos atiramos em seu pescoço, aos prantos.
Não sei porque eu e meu sobrinho reagimos daquele jeito. Pode ter sido até vergonhoso nos comportarmos assim diante tal situação. Mas talvez, fosse porque estávamos tão espantados com o poder dos nossos inimigos; ou talvez porque começamos a perceber que nossas forças não eram o suficiente; ou talvez porque estávamos tão cercados pela morte, que a única coisa que quisemos fazer foi se agarrar àquele o qual nos trazia tanta segurança e proteção.