Dylan
Quando o mundo sucumbiu à invasão dos mortos-vivos, lutamos arduamente para conter a epidemia. Infelizmente, fui mordido enquanto tentava proteger meu irmão, suplicando para que ele me eliminasse. Sem coragem para fazê-lo, ele permitiu que eu me transformasse em um zumbi; no entanto, ao contrário dos demais, ainda mantenho minha racionalidade e consciência humana.
Fui levado a uma instalação, onde cientistas realizaram diversas experiências em busca de uma cura, sem obter sucesso. Eles desenvolveram uma barra que controla minha fome por carne humana e impede que minha pele se degrade, mas não conseguiram restaurar a cor dos meus olhos, embora eu ainda tenha a visão noturna.
Fortalecido e ágil, perdi a capacidade de articular palavras, comunicando-me através de um dispositivo. Uso uma máscara para reprimir meus instintos zumbis diante dos aromas humanos. Aceitei ser tratado como um "animal de estimação" em troca de uma nova oportunidade de vida.
Durante uma missão convocada por um dos fundadores, surpreendentemente descobrimos onde se encontrava o último super soldado, uma mulher. Anteriormente, minha equipe caçava e eliminava super soldados por serem considerados ameaças, mas eu desconhecia a presença de mulheres entre eles.
Ela junta-se à equipe de forma relutante, não demonstrando satisfação com a presença de um zumbi. Meu dever é protegê-la para garantir o êxito da missão. Seu jeito marrento e destemido me atrai, prometendo uma diversão que não experimento há quase duas décadas.
Antes da missão, meu irmão estabelece um círculo de proteção, permitindo que eu retire a máscara e sinta os odores humanos. Um aroma se destaca entre os demais, superando todos os outros. Após ter me alimentado recentemente, memorizo o cheiro e foco nas barras de proteínas, enquanto nossos olhares se cruzam, despertando uma curiosidade peculiar.
"Você não tem curiosidade para saber se o zumbi fica excitado?"
Será que a mulher humana se esqueceu que posso ouvi-la mesmo estando do outro lado da sala? Por que, raios, ela quer saber se meu órgão genital funciona?
"O que isso mudaria na minha vida se soubesse que ele fica ereto?"
Fiquei ofendido com suas palavras.
O que poderia mudar? Te faria gemer muito o meu nome enquanto estou te envolvendo com intensidade.
Que confusão foi essa que acabei de pensar?
Depois que me tornei zumbi, não tive mais contato íntimo com outras mulheres. E o mais surpreendente é que fico excitado mesmo sendo um zumbi, precisando usar minhas mãos para me aliviar.
Após receber os tabletes, subimos no helicóptero e passei todo o trajeto refletindo sobre essa loucura que tive coragem de pensar. A super soldado permaneceu em silêncio durante todo o percurso, e ao chegarmos ao helicóptero, cada um se acomodou em seu lugar.
"Não confio nessa mulher. Então, evite ficar sozinho com ela", - disse meu irmão, e eu apenas concordei com a cabeça.
(...)
Charlotte
À medida que percorria o caminho rumo à terra dos mortos, senti um olhar penetrante sobre mim, mas não me dei ao trabalho de descobrir quem estava me observando tão intensamente. Fechei os olhos, tentando esvaziar minha mente, mas a imagem do zumbi vestindo o uniforme que pertenceu a Nicky não saía da minha cabeça.
"Está tudo bem, é apenas uma roupa sem importância."
Suprimi a raiva que fervilhava dentro de mim, mas a mulher insistia em fazer perguntas, ignorando meu pedido para que se calasse. Acabei respondendo mais do que deveria.
"Você tem duas alianças na corrente do seu pescoço", - observou a mulher. - "Você era casada?"
"Não, mas tínhamos planos", - respondi, segurando as alianças. - "Ele foi morto ao me proteger e se tornou um zumbi. Então, atirei na cabeça dele. Esse é o destino dos super soldados quando falecem. Eles voltam como mortos-vivos."
"Então, se você morrer, vai se tornar um zumbi?"
"Não", - respondi, levantando-me assim que o helicóptero pousou. - "Agora chega de perguntas." - Caminhei enquanto o zumbi estendia a mão em minha direção; agradeci e segui em frente.
"Vamos encontrar um abrigo e retomar as atividades quando amanhecer. A noite favorece os zumbis", - disse Spider, liderando o grupo.
"Você tem visão noturna?" - Questionou a mulher.
"Sou um super soldado."
"Não sentem dor, não precisam descansar, nem comer", - continuou ela.
"Temos uma audição aguçada, assim como os zumbis", - respondi, devido ao tom elevado dela.
Descansamos em um edifício, e Spider sugeriu que continuássemos no dia seguinte. Durante a exploração de um apartamento, levei um susto ao me deparar com um zumbi.
"Cara, você precisa parar com isso", - reclamei ao ver o zumbi.
"Preciso te proteger", - insistiu.
"Não preciso de proteção..." - Não consegui terminar a frase quando algo subiu pela minha perna. Ao olhar, vi um rato e comecei a bater o pé, mas ele não caiu. - "Tira essa criatura de mim", - pedi, abraçando-o impulsivamente, e ouvi risadas.
"Ele já foi", anunciou a voz no aparelho, e soltei o zumbi.
"Não conte a ninguém o que acabou de acontecer", - pedi, afastando-me. - "Que nojo. Odeio ratos", - comentei, entrando no quarto. - "Todos os cômodos estão limpos", - ignorei a presença dele, indo até a janela. - "É estranho gostar do cheiro dele?", - pensei, balançando a cabeça. - "Vá avisar os outros que esse apartamento está limpo", - ordenei, ao me virar e bater no peito dele. - "Cacete", - exclamei, olhando para cima, onde meus olhos se encontraram com os dele, e ele tocou no aparelho.
"Eu fico", - disse a voz do aparelho.
"Você fica o quê?", - perguntei, e ele tocou no aparelho novamente.
"Essa é a resposta para a pergunta que a outra mulher fez horas atrás."
"Você deveria ter dito a ela que queria saber se pode ficar excitado", - sugeri, provocando.
"Mas estou falando com você", - respondeu, deixando-me paralisada. - "Agora você sabe. Vou chamar os outros, espere um pouco", - disse, deixando-me sozinha no quarto.
"Qual é a desse zumbi?", - pensei.