Charlotte
Dylan está demonstrando uma gentileza excessiva com aquela garota. Mesmo sabendo que ela mencionou outros como ela, submetidos aos caprichos de bandidos humanos, não consigo confiar. Pode ser uma mentira, uma armadilha bem elaborada.
"Vocês realmente acreditam que ela está falando a verdade?" - pergunto, com a voz carregada de desconfiança.
"Ela garantiu que não está mentindo e que está implorando por nossa ajuda," - responde Dion, com uma expressão que mistura preocupação e esperança.
"Então vamos ajudá-la. Mas se ela estiver mentindo, juro que farei de tudo para acabar com aqueles que você ama," - digo, mantendo um tom sério. A garota, ao lado de Dylan, segura sua mão com força. - "Que insolente," - penso, com um misto de ciúmes e raiva. - "Você nos levará até os outros. E se eu perceber que está nos conduzindo para uma armadilha, sua testa terá um belo buraco, entendeu?"
"Você está assustando ela, amor," - observa Dylan, tentando suavizar a situação, mas ignoro suas palavras. - "Solta ela," - Dion se abaixa para liberar a garota, que se levanta rapidamente e se lança nos braços de Dylan. Sinto um aperto no peito, tomado por ciúmes e uma raiva crescente. - "Calma, ninguém vai te machucar," - ele tenta confortá-la.
"Charlotte," - Dion me chama, e, ao olhá-lo, ele continua: "Lembre-se, ela é apenas uma criança."
"Não estou pensando em nada," - retruco, observando a menina que faz sinais com as mãos. - "O que ela está dizendo?"
"Ela quer saber se somos um casal, já que nos viu no mercado pegando os alimentos," - explica Dion.
"Vamos acabar com os monstros e libertar sua família," - Dylan se solta da garota. - "Eu e Dion iremos com a Anna, e você ficará aqui, cuidando do Aaron, Charlotte."
"Não seria melhor você ficar e eu ir com Dion?" - Retruco, com a voz carregada de irritação. - "Ou você prefere ficar sozinho com sua nova admiradora?"
"Não é hora para ciúmes," - ele responde, cruzando os braços, enquanto eu o encaro, furiosa. - "Agora, você está sendo infantil."
"Será mesmo que estou sendo infantil?" - Questiono, desafiadora.
"Para com esse ciúmes sem sentido e faça o que estou mandando, mulher," - ele diz, com um tom autoritário que me deixa paralisada.
"Faça como quiser," - resmungo, começando a andar. - "Se você quer ficar com ela, por mim tanto faz, idiota."
"Charlotte," - Dion me chama, mas ignoro e sigo para o meu quarto. - "Você não acha que é cedo demais para ela conhecer o verdadeiro Dylan?"
"Passei por um inferno na Terra para estar com ela novamente. Sentir ciúmes de uma criança é exagero. Charlotte precisa entender que não sou mais um zumbi."
"Tudo bem, mas vá com calma."
"Vamos resgatar a família da garota."
(...)
Dion
Estou certo de que Charlotte não reagirá bem ao descobrir a verdadeira personalidade de Dylan. Meu irmão não é mais aquele zumbi racional, gentil e superprotetor. Acredito que ele deveria esperar mais um pouco; apenas alguns dias se passaram e ele já está revelando sua verdadeira face. Isso pode assustá-la.
Charlotte se trancou em seu quarto, e várias vezes tentei convencê-la a abrir a porta, mas foi em vão. Então, deixei-a em paz e chamei Dylan para formularmos um plano.
Em nenhum momento a garota soltou a mão de Dylan, e isso me preocupa. Charlotte tem motivos para sentir ciúmes.
A garota deve ter cerca de 17 anos ou menos, mas, em razão de sua condição de zumbi, não tenho certeza de sua idade real.
Após algum tempo, tudo está pronto para partirmos. Dylan sai com a garota, e mais uma vez me aproximo da porta do quarto e bato.
"Já estamos indo," - digo, encostando minha testa na porta. - "Dylan está tentando ser forte, e eu entendo isso. Meu erro foi deixar que meu coração se envolvesse com a mulher que ele ama. Se meus sentimentos estão criando obstáculos entre vocês, talvez seja melhor eu ir embora," - começo a me afastar, sentindo um peso no peito.
"Ela saiu do quarto?" - Pergunta Dylan, quando volto.
"Não," - respondo, olhando para a garota. - "Nos mostre o caminho," - digo a ela, que apenas balança a cabeça em sinal de concordância e começa a andar.
Charlotte*
Foi um choque quando fizemos amor, e a personalidade dele era completamente diferente daquela que conheci como zumbi. Agora, após suas palavras autoritárias, percebo que este é, de fato, o verdadeiro Dylan.
Quem ele pensa que é para me dar ordens e ser rude comigo na presença de Dion e de uma estranha?
Essa situação me enche de raiva, e me isolei em meu quarto. Dion tentou várias vezes me convencer a abrir a porta, mas recusei me encontrar com qualquer um deles.
Depois de algum tempo, fico estupefata. Dion acha que sua saída mudará algo? Se essa situação é difícil para Dylan, por que ele aceitou entrar nessa loucura ao lado do irmão?
Não entendo! Para ele, isso parece ser um fardo, mas nunca imaginei que Dion pudesse sentir algo por mim. No passado, ele me odiava e agora, de repente, está apaixonado?
Isso deve ser algum tipo de castigo, uma prova de que um monstro como eu não tenho direito à felicidade.
O pior de tudo é ver Dylan lutando para aceitar um possível triângulo amoroso, sabendo que isso pode feri-lo. E eu? Minha opinião não conta para nada?
Levanto-me da cama e olho pela janela, observando-os partirem para resgatar a família da garota zumbi.
"Por favor, que nada aconteça com eles," - rezo em silêncio, fechando os olhos e respirando fundo.
(...)
Dylan
Charlotte exagerou em seu ciúme, mas não me arrependo da forma como agi. Dion pode não estar feliz por eu revelar minha verdadeira essência, mas Charlotte precisa entender que não sou mais um zumbi.
O zumbi gentil e superprotetor foi moldado por anos de dominação. Agora, após conhecer Charlotte, quebrou as correntes que me mantinham preso, e estou livre do meu inferno.
Este sou eu, e ela terá que aceitar se quiser ficar ao meu lado.
A garota nos guiou, e durante todo o percurso, ela se agarrou a mim. Agora entendo por que me senti atraído por Charlotte desde a primeira vez que a vi. Algo em nossos genes parece atrair os zumbis racionais.
Mas preciso deixar claro a essa garota que quem eu amo está em casa, cuidando de nosso filho, fruto de um amor verdadeiro.
Após algum tempo, ela para e faz sinais com as mãos. Dion explica que eles não podem vê-la ao nosso lado, pois isso colocaria a vida de sua irmã em risco.
Para garantir a segurança da irmã, ofereço uma sacola com enlatados. Ela me abraça antes de sair correndo.
"Sua gentileza causou isso," - diz Dion, e eu o encaro. - "Melhor avisar logo a essa garota que sua mulher está esperando em casa."
"Estou certo de que isso é passageiro."
"Será que é passageiro?" - Ele me observa em silêncio. - "Entendo como você se sente; está colocando seu orgulho de lado para me manter, mas não precisa se sacrificar por mim," - diz, tocando meu ombro. - "Pensei muito e não serei mais um obstáculo na sua vida, irmão."
"O que você quer dizer com isso?" - Pergunto, segurando seu braço. Ele me olha nos olhos. - "Não faça isso, Dion."
"Você deu a sua vida por mim, e agora é minha vez de dar a minha vida por você," - ele diz, segurando minha nuca e encostando sua testa na minha. - "Viva por você e seja feliz com Charlotte, irmãozinho," - ele me solta e começa a se afastar. - "Só faça um favor: não machuque a mulher que amamos."
"Dion," - chamo, mas ele ignora e continua seu caminho.