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58% Rebirth - O Despertar / Chapter 29: Tensão na Sorveteria

บท 29: Tensão na Sorveteria

O domingo chegou com uma leveza típica de dias sem compromissos, mas minha mente estava longe de descansar. As palavras e sugestões dos meus amigos ecoavam na minha cabeça desde a tarde anterior, e eu estava determinado a transformar aquilo em algo sólido.

Passei a manhã toda em frente ao computador, tentando dar forma às minhas ideias. A cada linha escrita, eu ajustava detalhes, lembrando das dicas do Rintarou e de Kaori, dos toques criativos da Mai e até das sugestões malucas, mas perspicazes, de Taro.

Depois de algumas horas, meus olhos começaram a pesar. A frustração de não conseguir avançar como eu queria foi me dominando, e percebi que precisava de uma pausa. Olhei para o relógio e me perguntei o que fazer.

Foi quando uma ideia me ocorreu. Era domingo. Eu poderia sair um pouco, esfriar a cabeça. Peguei o celular e mandei uma mensagem no grupo, perguntando se Seiji e Rintarou queriam sair para comer alguma coisa.

"Vamos sair por aí? Talvez pegar algo para comer."

"Tô dentro. Preciso sair de casa ou vou enlouquecer."

"Estou livre também. Passamos na sua casa em 15 minutos."

Suspirei, aliviado. Talvez uma tarde com eles fosse o que eu precisava para tirar essa pressão dos meus ombros, nem que fosse por algumas horas.

Quando ouvi o som da campainha, fui até a porta e a abri, dando de cara com Seiji, que já estava mexendo no celular, e Rintarou, sempre sério, mas com um leve sorriso no rosto.

— E aí, Shin — disse Seiji, sem tirar os olhos da tela. — Tá pronto?

— Mais ou menos — respondi com um meio sorriso. — Vamos?

 Saímos andando sem um destino muito definido, apenas aproveitando o dia. O sol estava agradável, e a brisa leve parecia convidar para uma caminhada.

Saímos de casa e começamos a caminhar sem muita pressa, trocando poucas palavras no início. O sol de domingo aquecia as ruas tranquilas do bairro, e a brisa suave era um alívio para o calor.

— Então, como está indo sua escrita? — perguntou Rintarou, quebrando o silêncio.

— Tá complicado. Estou me sentindo travado de novo — admiti, enfiando as mãos nos bolsos. — Mesmo com as dicas de vocês, parece que tem algo faltando.

Seiji deu um leve tapinha nas minhas costas, sempre descontraído.

— Relaxa, cara. Você sempre dá um jeito. Talvez precise só de um pouco de sorvete pra clarear a mente.

Rintarou assentiu em silêncio, enquanto Seiji ria do próprio comentário. O clima estava descontraído, mas algo me dizia que esse alívio não duraria.

Estávamos a poucas quadras de distância da sorveteria quando uma voz familiar chamou meu nome de longe.

— Shin! Espera!

Virei-me e vi Kaori correndo em nossa direção, o rabo de cavalo balançando enquanto ela se aproximava com um sorriso brilhante. Fiquei surpreso. Eu não a havia chamado.

— Kaori? — perguntei, confuso. — O que você está fazendo?

Ela parou na minha frente, com as mãos no joelho recuperando o fôlego, mas com a expressão sempre animada.

— Ué, vi que vocês estavam saindo, então resolvi me juntar. — Ela disse isso como se fosse a coisa mais normal do mundo, sem sequer perguntar se estava tudo bem.

— Ei, espera aí — comecei a falar, mas já sabia que não adiantaria muito.

Seiji riu baixinho.

— Deixa ela vir. Mais companhia, mais divertido.

Eu suspirei, percebendo que discutir não ia adiantar. Ela estava decidida a vir, então o melhor era aceitar.

— Tá bom. Vem com a gente.

Acabei cedendo, e logo estávamos todos caminhando juntos.

Kaori, como sempre, já estava puxando papo com Seiji e Rintarou, fazendo perguntas sobre as coisas mais triviais, mas de uma forma que mantinha a conversa leve e animada.

— E você, Shin? Como tá a escrita? — Kaori perguntou de repente, olhando para mim com um certo interesse genuíno.

— Melhor do que ontem, mas ainda longe do ideal — confessei.

— Não se preocupe, você vai se sair bem. — Ela sorriu, confiante.

Ela assentiu, parecendo satisfeita com a resposta, mas não quis pressionar. Continuamos caminhando, e o tempo parecia passar mais rápido com as conversas, e finalmente, chegamos à sorveteria. Um sino suave tilintou quando abrimos a porta.

O ar gelado da sorveteria nos envolveu, e o cheiro doce de sorvetes e coberturas pairava no ar. Fomos direto ao balcão, e enquanto eu escolhia meu sorvete, vi Kaori pegando logo dois — um para cada mão.

— Você vai comer tudo isso? — Seiji perguntou, espantado.

— Óbvio! Tenho muita energia pra queimar — Ela deu uma risada, já começando a devorar um deles.

Sentamos em uma das mesas e começamos a conversar sobre coisas triviais, com Kaori falando mais que todos nós, como sempre. A atmosfera era descontraída, mas algo no ar começou a mudar.

Não muito tempo depois, a porta da sorveteria se abriu com um tilintar suave, mas o som dos passos firmes que ecoaram no piso de azulejo foi o suficiente para fazer meu estômago revirar. Mesmo sem olhar, eu sabia quem tinha acabado de entrar. Um arrepio percorreu minha espinha, como se o ambiente tivesse subitamente esfriado.

Ryuuji Akagi.

Ele entrou como se o lugar fosse uma extensão natural de sua presença, alto e confiante, carregando uma aura de superioridade. Meu corpo travou. Eu podia sentir o suor começando a escorrer pela minha nuca, e meu rosto empalideceu. 

A voz de Kaori e Seiji parecia distante. Tudo o que eu conseguia pensar era que ele não podia me ver. 

— Shin, você tá bem? — Rintarou perguntou, notando minha mudança súbita de comportamento.

— Sim, não é nada — menti, desviando o olhar para a janela.

Mas não estava tudo bem. Quando Ryuuji finalmente notou minha presença, um sorriso cheio de desdém surgiu em seu rosto. Ele começou a caminhar em nossa direção, e com cada passo, meu estômago se revirava mais.

— Ora, ora... Se não é o Shin. — Sua voz soava como veneno. — Como vão as coisas, grande escritor?

Seiji olhou para mim, confuso, sem entender a tensão que crescia no ar.

— Quem é ele, Shin?

Eu não consegui responder. As palavras ficaram presas na minha garganta.

Ryuuji, no entanto, não perdeu tempo.

— Já desistiu, Shin? Ou vai continuar perdendo tempo escrevendo essas bobagens? — A voz dele gotejava desdém.

Kaori, que até então estava calma, se levantou num impulso. Seus olhos faiscavam de irritação.

— Desistir? Então você é Ryuuji? — A voz dela estava afiada, cheia de indignação. — Quem você pensa que é pra falar assim com o Shin?

Ryuuji a olhou de cima, com desprezo.

— Sou. E você é?

— Sou a amiga dele. E você não tem o direito de falar assim dele! Mesmo que tenha vencido o concurso, não significa que pode ser tão... maldoso! — Kaori retrucou, firme.

Seiji, percebendo a tensão aumentando, tentou quebrar o clima, mesmo que meio desajeitadamente:

— Ei, ei, calma aí, não precisamos transformar isso num duelo, né? — Ele soltou uma risada tensa, olhando de Ryuuji para Kaori. — A gente só veio tomar sorvete, pessoal.

Mas Kaori não estava nem aí.

— Você acha que pode humilhar as pessoas só porque ficou em primeiro lugar? — Ela se aproximou de Ryuuji, ficando de frente para ele. — Você deveria ter vergonha!

Ryuuji deu uma risada curta, sem se abalar.

— Eu só estou dizendo a verdade. Se ele realmente quisesse melhorar, não estaria aqui relaxando. Não é mesmo, Shin? — respondeu, sorrindo para mim.

Meu coração apertou com essas palavras. Eu queria responder, queria dizer que ele estava errado, mas minha boca não obedecia. As palavras simplesmente não vinham.

A tensão continuava a crescer. Enquanto Kaori o enfrentava, tudo que eu queria era desaparecer. Não sabia o que fazer ou dizer para evitar que a situação piorasse.

— Você é corajoso, Shin — disse Ryuuji, voltando seu olhar para mim. — Desafia alguém como eu, mas está aqui, relaxando, como se pudesse me alcançar. Com essa atitude, você nunca vai me superar. — Ele soltou uma risada curta, cheia de desdém.

— Ryuuji, você fala como se já tivesse vencido — disse Rintarou, sua voz tranquila, mas cortante. — Mas dizer que o Shin deveria desistir só mostra que, no fundo, você o vê como uma ameaça. Ninguém precisa humilhar os outros para provar que é bom no que faz.

Ryuuji ergueu uma sobrancelha, claramente não acostumado a alguém tão calmo o enfrentando. Ele deu uma risada seca.

— Hã? Ameaça? O Shin? — Sua voz estava cheia de sarcasmo. — Não brinque comigo.

Rintarou permaneceu impassível, mantendo seu olhar fixo em Ryuuji.

— Então por que está aqui, Ryuuji? — perguntou ele, cruzando os braços. — Se o Shin não é uma ameaça, por que perder seu tempo? — Ele inclinou a cabeça, como se realmente estivesse curioso pela resposta.

Ryuuji ficou em silêncio por um momento, surpreso com a lógica implacável de Rintarou. Sua expressão endureceu por um instante, mas logo ele se recuperou.

— Estou apenas me divertindo — retrucou Ryuuji, com um sorriso cínico. — Gosto de lembrar os sonhadores, como ele, do peso da realidade.

Kaori então avançou, claramente irritada, mas antes que pudesse falar algo, segurei sua mão.

— Não... não vale a pena. — murmurei, tentando acalmá-la.

Ela me olhou, surpresa, mas não desistiu. Soltando minha mão, ela virou-se de novo para Ryuuji.

— Escuta aqui, Ryuuji. Se o Shin vencer o Concurso de Inverno, você vai admitir que ele é melhor que você e nunca mais vai incomodá-lo! — A voz de Kaori cortava o ar, firme e determinada, como se aquilo fosse um fato já consumado.

Ryuuji a encarou por um momento, e então soltou uma risada alta, como se tivesse acabado de ouvir a coisa mais ridícula do mundo. O som ecoou pela sorveteria, trazendo um arrepio à minha espinha.

— Tudo bem, mas e se ele perder? — perguntou Ryuuji, a diversão estampada em seu rosto.

Eu já sabia que algo ruim viria a seguir, mas o que ouvi me fez congelar no lugar.

— Ele desiste de escrever. — A firmeza na voz de Kaori ecoava como um martelo batendo no prego final.

Naquele instante, o tempo pareceu parar. Meu coração deu um salto e então, num segundo, ficou completamente imóvel. A pressão no meu peito era insuportável, como se todo o ar tivesse sido sugado do ambiente. Eu sentia a garganta seca, mas não conseguia engolir, muito menos falar. As palavras dela giravam na minha cabeça.

"Desiste de escrever..."

Meus olhos arregalaram, e minha mente tentou desesperadamente encontrar sentido no que acabara de ouvir. Desistir? Como assim? Minhas pernas tremeram, e tudo dentro de mim começou a se contorcer, como se estivesse à beira de um precipício.

Ryuuji observou tudo com um sorriso cruel nos lábios, olhando diretamente para mim, aproveitando cada segundo da minha impotência.

— Fechado — disse, com um brilho no olhar. — Boa sorte, Shin. Vai precisar.

Cada palavra era uma faca cravada no meu peito. Ele se virou e saiu, com passos lentos, quase saboreando a tensão que deixava para trás. O som da porta da sorveteria se fechando parecia um eco distante.

Eu estava paralisado.

Quando consegui me mover, foi com um impulso descontrolado. Agarrando os ombros de Kaori, meus dedos cravando na pele dela, minha respiração saía em curtos e rápidos suspiros.

— O que... o que você fez? — As palavras saíram entrecortadas, mal controladas. Eu sentia meu corpo quente e o desespero queimando por dentro. — Se eu perder... vou ter que desistir de escrever! Você tem noção do que acabou de fazer, Kaori?! Porquê você fez isso comigo?!

Kaori olhou para mim, surpresa com minha reação. Mas seu rosto permaneceu sereno, quase confiante demais.

Ela colocou a mão no meu ombro, sorrindo de maneira confiante.

— Relaxa, Shin. Com certeza você vai ganhar daquele babaca. — Ela tocou levemente minha mão, tentando acalmar meus dedos tensos. — Não tem como perder com a gente ao seu lado.

Mas eu não podia relaxar. O peso da aposta parecia uma montanha sobre meus ombros. A pressão que antes já era sufocante, agora se tornava insuportável.

Eu soltei um suspiro, e então, meus olhos se voltaram para Kaori, que, por mais impulsiva que tivesse sido, ainda olhava para mim com uma confiança implacável. Do outro lado, Seiji e Rintarou me lançavam olhares de apoio, tentando me encorajar em silêncio.

Aquilo me acendeu uma pequena fagulha, ainda tímida, mas que, lentamente, começava a afastar o peso imenso que sentia no peito.

A realidade era inegável: agora eu precisava vencer. Não só por Arata e por mim, mas por todos que agora me apoiavam.


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