"Minha senhora, acho que deveríamos descansar." Milith segurava o peito enquanto tentava recuperar o fôlego. "Você acabou de se recuperar de uma febre na semana passada. Você não pode se esgotar."
Rosalinda olhou para trás, em direção à sua criada. Então ela assentiu e observou a neve que começava a cobrir a outrora saudável folhagem verde. Elas nunca deveriam ter vindo para cá.
A neve era um sinal de que elas estavam se aproximando cada vez mais do Norte, onde neva por dez meses do ano.
"Voltamos?" Rosalinda perguntou.
"Mas ainda não vi a erva que você estava procurando. Não deve estar tão longe de onde estamos."
"Você tem certeza de que a planta tinha folhas roxas?" Rosalinda perguntou. Já faziam três dias desde que ela havia voltado do futuro. Até agora, ela havia aprendido muitas coisas usando seu conhecimento do que estava prestes a acontecer.
Ela havia organizado seus pensamentos e praticamente já tinha um plano em mente.
"Eu tenho— embora a sua pintura— "
"Você está zombando da minha forma de me expressar?" Rosalinda riu. Ela sabia muito bem que não tinha habilidades em artes ou música. Ela passou sua infância sendo escondida pela própria família.
Tratada como uma estranha, ela nunca aprendeu artes ou música ou muitas coisas que se diz atrair um homem. Embora ela tenha feito o seu melhor para aprender essas coisas quando voltou, Rosalinda nunca obteve sucesso.
"Não, minha senhora," Milith disse. "Mas sério... se eu não tivesse visto aquela planta antes, eu nunca a reconheceria por aquela pintura."
"Milith?"
"Peço desculpas, minha senhora. Não pretendi insultar sua forma especial de se expressar."
Os lábios de Rosalinda se afinaram. Ela se virou e fingiu ignorar a criada. Desde que voltara, Rosalinda começara a tratar Milith mais como uma amiga do que como uma serva e Milith havia retribuído.
"Mas minha senhora, essa planta não é nada além de uma erva daninha que os animais adoravam consumir antes do inverno. Folhas coloridas podem significar que é venenosa para consumo humano. Eu sei que já lhe perguntei isso, mas por que você pretende ter essa planta? Não é muito perigoso? Estamos longe de qualquer médico. Se essa planta— "
"Ela é venenosa..." Rosalinda afirmou. A planta que é considerada veneno para humanos é considerada especial para os abençoados, como Rosalinda.
Mas a maioria das pessoas, até mesmo os abençoados, não têm conhecimento disso.
"Então— "
"Milith, você não vai começar a chorar." Ela interrompeu a criada, que parecia pensar que ela estava fazendo essas coisas porque queria tirar a própria vida. No entanto, essa suposição não era infundada.
Seu aniversário acabara de passar e Rosalinda ficara muito deprimida quando não recebeu um único cumprimento da mansão Lux. Nem mesmo o mordomo, que sempre fazia questão de enviar-lhe alguns cartões e chocolates desde que a enviaram para este lugar cinco anos atrás, mandou alguma coisa.
"Eu queria começar a experimentar."
"Você por acaso está tentando se aventurar em herbologia? Minha Senhora— "
"Shhhh…" Rosalinda sinalizou para Milith parar de falar.
"O que?" Milith sussurrou. Como uma humana comum, Milith não consegue sentir as súbitas flutuações de magia que Rosalinda acabara de sentir.
Rosalinda cobriu a boca de Milith e a arrastou para os arbustos próximos. Como alguém que passou sua vida estudando suas bênçãos em sua vida passada, Rosalinda reconhecia muito bem as flutuações de magia de alguém como ela e ou algo que não era bem humano.
Ela franziu a testa e tentou pensar em uma maneira de sair dessa situação precária.
Pelas flutuações de magia, ela sabia que alguém estava lutando contra muitas pessoas e estavam vindo em sua direção. Se ela tivesse sua bênção, poderia facilmente evitar ser pega em uma luta alheia.
Infelizmente, Rosalinda ainda não havia despertado suas bênçãos.
A bênção geralmente desperta no décimo oitavo aniversário de alguém, mas a dela era bem diferente. Ela recebeu a bênção da deusa enquanto tentava se matar. Absurdo, ela sabia.
A razão pela qual ela veio para cá é que ela queria despertar sua bênção o mais rápido possível. Quem poderia imaginar que elas realmente tropeçariam nos assuntos de outras pessoas enquanto vinham para cá?
As duas se esconderam por mais alguns minutos antes de ouvirem passos. Ela olhou para Milith, cujas mãos seguravam firmemente a faca que ela sempre usava para caçar. Então ela sinalizou para que ela não dissesse mais nada.
Se tiverem sorte, elas poderiam apenas se esconder até que aquelas pessoas — ei?
Os olhos de Rosalinda se arregalaram quando um homem caiu de repente e aterrissou bem ao lado dela. Era como se um balde de água fria envolvesse seu corpo quando ela encontrou o olhar frio e vermelho do homem. Ela abriu a boca mas falhou em dizer uma palavra quando sentiu uma lâmina afiada contra seu pescoço.
Metade do rosto do homem estava coberto com um pano escuro, mas seus olhos eram suficientes para dizer a ela que ele não estava brincando. Ele a mataria se ela se movesse.
Ela sentiu Milith enrijecer ao seu lado.
Por um momento, ela sentiu que seu mundo parou. O medo tomou conta de tudo dentro dela. Mas isso não durou muito quando ela ouviu outras pessoas que estavam perseguindo esse homem. Ela segurou a respiração enquanto silenciosamente praguejava a situação atual em que estava.
Ela acabara de voltar da morte. Três dias depois e sua vida estava mais uma vez em perigo.
Por que ela era tão azarada?
Logo, os passos desapareceram. Ela imediatamente olhou para o homem ao seu lado apenas para descobrir que... ele havia desmaiado!
"Precisamos sair daqui!" ela se arrastou para fora dos arbustos junto com Milith. "Aquele pessoal vai voltar."
"Mas — e aquele homem?"
"Que homem?" ela perguntou, quase irritada. Ela precisava despertar suas bênçãos antes que aquelas pessoas voltassem.
"Aquele de mais cedo?"
"Ele se atreveu a ameaçar uma dama, Milith," ela disse. Se fosse ela no passado, teria arrastado aquele homem para sua pequena casa e o tratado, mas ela já não era mais a pessoa do passado.
"Estamos deixando ele?" Milith perguntou enquanto seguia Rosalinda para o interior da floresta.
"Mas é claro! Você acha que algum de nós é capaz de salvá-lo?"
Milith não disse nada.
"Agora... me leve até a planta roxa!" Rosalinda disse. Milith obedeceu e logo, chegaram ao lado de um precipício de um palisade, uma falésia alta que delineava um rio raso que ela nem sabia que existia.
"Está ali..." Milith apontou perto da beira rochosa.
"Aquela — " Realmente era a planta roxa, mas ela olhou para trás. Mais uma vez, ela podia sentir fortes flutuações mágicas vindo em sua direção.
Aqueles homens encontraram o homem que perdeu a consciência?
"Corre," Rosalinda disse.
"O quê?"
"Vamos nos encontrar na cabana."
"Minha senhora, isso— "
"Milith, me escute," Rosalinda disse. "Aquelas pessoas vão vir. Eu consigo me virar, mas— não quando estou com você."
"Eu— "
"Você tem que fugir. Espere por mim na cabana."
"Mas — Eu poderia— "
"Espere por mim. Entendeu?" Com isso, Rosalinda gentilmente empurrou Milith para longe enquanto ela virava e se aproximava da beira. Sem Milith, seria mais fácil para ela escapar.
Além disso, ela sabia que Milith já estava familiarizada com a topografia deste lugar, então ela teria como sair daqui.
Por enquanto, Rosalinda precisava se concentrar na planta roxa e despertar sua bênção. Ela não conseguiria fazer isso se Milith estivesse com ela.
Depois de chegar à beira rochosa, Rosalinda cortou alguns talos da planta e os enfiou em seu vestido. Então usou uma faca para cortar seu vestido até a coxa, tornando mais fácil para ela se mover. Agora, ela precisava encontrar um lugar abaixo desse penhasco para se esconder dessas pessoas!
Com muita dificuldade, ela usou a outra metade de suas roupas para se apoiar enquanto se abaixava no penhasco. A brisa fria do rio quase a fez se arrepender de ter vindo. Ela poderia ter fugido facilmente com Milith para se salvar. No entanto, uma parte dela lembrou dos olhares carinhosos de Jeames e Dorothy.
Aqueles dois precisavam ser punidos! Seu ódio a impeliu para baixo e mais para baixo no precipício. Mas como alguém como ela, que nunca havia tentado escalar antes, poderia fazer isso com apenas determinação e sorte?
Ela ouviu algo parecido com um som de rasgo. Então ela sentiu seu corpo começar a cair.
Mas assim que estava prestes a atingir as rochas, sentiu alguém envolver sua pequena estrutura. Seus olhos se abriram. Então ela encontrou os olhos mais azuis que já tinha visto.
"Você perdeu o juízo!?" uma voz profunda encheu seus ouvidos. Ela piscou e percebeu que os dois haviam pousado em segurança, sem nenhum arranhão ou corte em seus corpos.
Foi apenas sorte?
Ou…
Ela engoliu e deu um passo para trás. O homem deu-lhe um olhar suspeito, suas feições bonitas se contorcendo em uma carranca. Suas sobrancelhas perfeitamente esculpidas se aproximaram enquanto ele a olhava com irritação.
"Existem formas mais fáceis de se matar," ele disse.
Ela piscou. "Eu não estava tentando— "
"Shhh!" O homem a silenciou e olhou para cima. "Se você não quer morrer, cale a boca!"
Ela também olhou para cima. Então ela sentiu as mãos poderosas do homem puxá-la em sua direção. Seu pequeno corpo colidiu contra seus duros músculos. Ela imobilizou-se.
Ela abriu a boca, mas foi silenciada pelo olhar dele que enviou adagas para sua alma.
O cheiro de sangue logo se espalhou até ela. Ela franziu a testa e olhou para baixo. Foi aí que percebeu que o homem de olhos azuis tinha um grande corte na perna direita e o sangue continuava fluindo de sua ferida.
Como ele ainda estava vivo? Essa perda de sangue teria matado até o cavaleiro mais forte do império.
Ela engoliu. Talvez… ele fosse do Norte?
Ela sentiu seu rosto perder a cor. Se ele fosse do Norte, então… sua vida estava em perigo!