Eram 7h40 da manhã quando Misheru e Issei seguiam seu caminho habitual para a Academia Kuoh. O mais novo lançava olhares furtivos para o irmão, como se esperasse que ele admitisse estar apenas brincando sobre os acontecimentos da noite anterior.
- Nii-san, você realmente acha que tudo aquilo... foi real? Talvez tenha sido só um sonho muito vívido que nós dois compartilhamos por alguma razão.
Misheru balançou a cabeça com seriedade.
- Não, Issei, não foi um sonho. Foi tudo bem real -. Uma ruga de preocupação se formou em sua testa. - O que não consigo entender é por que nossos pais não mencionaram nada sobre seu encontro com a Yuuma.
O caçula abriu a boca para protestar, mas a fechou novamente em resignação. No fundo, ele também sabia que os eventos macabros haviam realmente ocorrido.
Ao chegarem nos portões da Academia, se separaram com um aceno mudo. Issei se encaminhou para sua sala, provavelmente em busca de conforto de Matsuda e Motohama. Misheru, por outro lado, sentiu uma estranha energia emanando de seu edifício.
Cauteloso, entrou na sala de aula vazia, apenas para se deparar com ninguém menos que Rias Gremory em pessoa. Os dois jovens trocaram um longo olhar surpreso. Uma sensação estranha percorreu o corpo de Misheru ao fitar aqueles penetrantes olhos azuis.
Antes que pudesse indagar algo, Rias já havia virado as costas e partido em silêncio. Misheru soltou um suspiro frustrado, deixando a mochila cair na cadeira ao se sentar. O que tinha sido aquilo? Por que aquela garota lhe causava uma reação tão peculiar?
Às 15h40 daquela tarde, Misheru deixou a Academia Kuoh sozinho. Issei havia avisado que iria se encontrar com Matsuda e Motohama, então Misheru decidiu seguir direto para casa para não preocupar os pais adotivos.
Assim que chegou em seu quarto, se sentou à escrivaninha e começou a pesquisar freneticamente na internet sobre criaturas com asas negras. Após várias buscas, uma página finalmente o levou às informações sobre os "Anjos Caídos".
Misheru devorou os dados avidamente, estudando por horas a fio sobre essas entidades sobrenaturais. Será que Yuuma fazia parte desse mesmo grupo? As evidências começaram a se somar, mas ainda faltavam muitas peças nesse quebra-cabeça sombrio.
De repente, o celular de Misheru começou a tocar, arrancando-o de suas investigações. Era Issei. Ao atender, a voz do irmão soou ofegante e cansada, como se estivesse correndo.
- Nii-san...preciso de ajuda...rápido!
O desespero no tom de Issei fez Misheru se arrepiar. Saltou da cadeira imediatamente.
- Onde você está, Issei? O que está acontecendo?
- Na...na praça... onde nos encontramos com a Yuuma!
Misheru sentiu o sangue gelar nas veias. Será que os mesmos demônios haviam retornado para acertar as contas? Sem pensar duas vezes, agarrou uma jaqueta e saiu correndo.
- Estou indo aí agora, irmãozinho! Segure as pontas!
Desligou o telefone e acelerou ainda mais, rogando aos céus para que não fosse tarde demais...
Misheru corria a toda velocidade pelas ruas, determinado a chegar o mais rápido possível na praça para ajudar Issei. Porém, no meio do caminho, uma figura feminina bloqueou seu caminho, obrigando-o a parar abruptamente.
- Mas o que...? - Misheru ofegou, encarando a estranha mulher.
- Aonde vai com tanta pressa, rapaz? - Ela tinha um sorriso malicioso nos lábios.
- Saia da minha frente! - Misheru rosnou, tentando contorná-la. Cada segundo desperdiçado poderia ser crucial.
A mulher então soltou uma leve risada, e um par de asas negras repulsivas despontaram de suas costas. Misheru arregalou os olhos, compreendendo na mesma hora que ela pertencia à mesma raça que Yuuma.
- Foi aquela cadela da Yuuma que mandou você atrás de mim e do meu irmão?
- Yuuma? - A mulher torceu o nariz. – o nome dela é Raynare. E não, aquela tola não apareceu no local do encontro. Eu e mais dois companheiros decidimos tomar as rédeas por conta própria para eliminar seu irmãozinho.
Os punhos de Misheru se cerraram com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Então aqueles anjos caídos haviam retornado mesmo para acertar as contas. Por um momento, pensou em tentar deter aquela mulher, mas ela prosseguiu:
- É melhor se apressar, garoto...Se quiser ter alguma chance de impedir que meu amigo caído mate aquele humano insolente.
Misheru rosnou, passando ao lado da mulher-anjo caído a toda velocidade. A mulher acenou, sorrindo maliciosamente para as costas do rapaz.
- Até logo, parceiro. Nossas vidas certamente estarão entrelaçadas muito em breve...
Misheru mal registrou as palavras sombrias enquanto acelerava cada vez mais, rugindo entre dentes cerrados:
- Aguentem firme, Issei...Estou chegando!
Misheru finalmente chegou à praça, ofegante e ensopado de suor. Seu coração gelou ao avistar Issei caído no chão, uma poça escura de sangue se formando ao redor de seu corpo imóvel.
- Issei! - O grito deixou seus lábios sem querer.
Erguendo os olhos daquela cena terrível, notou então Rias Gremory em pé ali perto, observando com uma expressão grave. Misheru correu até ela, os olhos faiscando.
- Você! Foi você que fez isso com o meu irmão? - Acusou, os punhos novamente cerrados.
Rias balançou a cabeça, erguendo as mãos em um gesto apaziguador.
- Não, Misheru, eu não tive nada a ver com isso. Foi um anjo caído quem atacou seu irmão. Quando cheguei, o demônio já havia fugido.
Um misto de alívio e culpa invadiu Misheru. Então não foi Rias, mas sim aqueles anjos malignos que os haviam atormentado. E ele chegou tarde demais para impedir o ataque.
- Eu...eu não cheguei a tempo... – diz Misheru se lamentando.
- Mas eu posso salvá-lo ainda. - Rias se aproximou, seus olhos brilhando com determinação. - Tenho o poder para curá-lo, Misheru. Apenas me permita fazê-lo.
Misheru a encarou, confuso.
- Curar? Mas você é...um demônio, não é? Como pode salvar meu irmão? E por que o faria?
Rias assentiu solenemente.
- Sim, eu sou um demônio. Mais especificamente, uma Alta Demônia da Casa Gremory. E seu irmão se tornou meu servo depois que eu o revivi e não só o seu irmão e sim você também, ontem à noite.
As lembranças daquela noite terrível, quando quase perdeu o Issei para Yuuma, invadiram a mente de Misheru. O panfleto estranho que Issei recebeu...as asas negras de Yuuma...tudo começou a fazer sentido.
Rias prosseguiu com sua explicação enquanto um circulo mágico vermelho flamejante se formava sob seus pés.
- Issei foi morto por aquele anjo caído ontem à noite, mas eu o trouxe de volta como um Demônio Renascido para servi-me.
Misheru refletiu sobre tudo por alguns segundos. Então deu um passo à frente, determinado, pegando Issei nos braços, sujando-se com o sangue dele.
- Faça o que tiver que fazer. Salve o meu irmão.
Rias assentiu com um sorriso confiante, abrindo um portal demoníaco. Misheru adentrou sem hesitação, desaparecendo nas profundezas escarlates junto com Issei e Rias.
Na manhã seguinte, Misheru se encontrava tomando café com seus pais quando um deles perguntou sobre Issei. Sem hesitar, Misheru respondeu que Issei ainda estava dormindo. Logo em seguida, sua mãe se levantou e expressou sua intenção de acordá-lo. Misheru, rapidamente, se levantou e posicionou-se em frente à sua mãe, dizendo que ele mesmo iria acordar Issei. Sua mãe acenou em aprovação e apressou Misheru.
Sem perder tempo, Misheru subiu as escadas e abriu a porta do quarto de Issei. A cena que o esperava era desconcertante: Issei estava no chão, cobrindo sua nudez, enquanto Rias estava nua na cama ao lado dele. Issei questionou, confuso, o motivo de ambos estarem despidos. Misheru explicou que, para realizar a cura, era necessário que removessem as roupas.
- Issei, não precisa fazer tanto drama. Não era isso que você sempre quis? Ficar abraçado a uma bela mulher nua? -, provocou Misheru, olhando para o irmão mais novo.
- Sim, mas podiam ter me avisado antes de me curarem desse jeito... Aliás, tudo aquilo realmente aconteceu de novo, não é? -, indagou Issei.
Misheru lançou um olhar para Rias, que se levantava da cama, antes de voltar-se para o irmão caçula. - Sim, graças a Rias você foi curado.
Rias chamou Misheru para ajudá-la a vestir o sutiã, e ele prontamente atendeu ao pequeno contratempo. Issei observou a cena com um misto de inveja e admiração pelo irmão mais velho. Lembrou-se de como, durante a infância, Misheru sempre esteve rodeado de garotas, algo que ele invejava profundamente na época.
Misheru se virou para Issei, percebendo que ele ainda não havia se arrumado. - Issei, é melhor você se aprontar também -, disse, tom sério.
- Sim, Misheru-nii -, respondeu Issei, levantando-se do chão e vestindo o uniforme escolar.
Issei olhou preocupado para Misheru. - E se nossos pais descobrirem que Rias está em nosso quarto? Isso não vai dar problemas?
Misheru franziu a testa, considerando a questão levantada pelo irmão mais novo. Antes que pudesse responder, Rias interveio: - Não se preocupem com isso. Eu darei um jeito de evitar qualquer confusão.
Issei encarou Rias, surpreso com sua confiança. Misheru, por sua vez, lançou-lhe um olhar cético. Suspirando, ele se virou para Rias. - Se houver qualquer problema, a culpa será sua.
Rias assentiu com um aceno de cabeça e abriu a porta do quarto dos rapazes. Ela saiu primeiro, sendo seguida por Issei e Misheru.
Os dois irmãos acompanharam Rias Gremory em silêncio, cada um imerso em seus próprios pensamentos. Issei ainda estava atordoado pelos recentes acontecimentos.
Quando eles desciam as escadas e atravessavam a porta da cozinha onde os pais de Misheru e Issei estavam, a mãe deles avistou Rias e exclamou surpresa:
- Não acredito, Misheru! Trouxe outra garota para casa de novo?
Issei, atônito com a exclamação da mãe, soltou um alto "O quê!?" sem esperar tal reação. Já Misheru, acostumado com essas situações por sempre levar amigas para casa, apenas suspirou e passou a mão pela nuca, resignado.
Rias, surpreendida com o comentário, ficou aliviada por perceber que não precisaria recorrer a seus poderes especiais. A mãe, recuperando o tom hospitaleiro, prontamente convidou Rias para se juntar a eles para um café, convite que foi aceito com um sorriso.
Enquanto isso, o pai observava a interação, lançando um olhar entre Rias e Misheru, e murmurava algo sobre a sorte do filho. Issei, mordido pela inveja, apertava sua xícara, questionando-se por que esses encontros sempre aconteciam com seu irmão e nunca com ele.
A conversa na cozinha fluía enquanto a mãe interrogava Rias sobre várias coisas, especialmente sobre Misheru. Rias, educadamente, participava do bate-papo, dando atenção especial às histórias e perguntas da mãe.
Depois do café da manhã, Misheru, Issei e Rias dirigiram-se à Academia Kuoh. A chegada do trio não passou despercebida, e a presença de Rias, a garota mais bonita da escola, ao lado de Misheru e Issei atraiu muitos olhares curiosos e invejosos.
Assim que pisaram no prédio principal, Issei decidiu seguir outro caminho, deixando Misheru e Rias juntos. Conforme caminhavam para a sala de aula, Rias lançou um olhar intrigante para Misheru e disse:
- Sabe, Misheru, percebo algo incomum não só em Issei, mas em você também.
Misheru, um pouco surpreso com a observação, olhou para Rias antes de responder:
- Algo incomum, é? Quando eu era criança, nunca ficava doente e qualquer ferimento que eu tivesse curava-se quase que imediatamente.
Ele então olhou para sua mão, lembrando-se de uma experiência marcante em seu subconsciente, onde vislumbrou seu lado demoníaco. Encarando Rias novamente, ele expressou sua curiosidade:
- E agora, falando de Issei, você realmente despertou minha curiosidade, Rias. O que exatamente você notou nele?