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25.49% Rebirth - O Despertar / Chapter 13: Clube de Literatura

Capítulo 13: Clube de Literatura

As palavras de Rintarou ecoavam na minha mente enquanto caminhava para a escola naquela manhã. A brisa fresca acariciava meu rosto, e o som distante de pássaros cantando parecia contrastar com a inquietação que tomava conta de mim.

Eu não conseguia parar de pensar no impacto que "O Nome do Vento" havia deixado em mim. A história tinha me prendido de uma forma inesperada, diferente de tudo o que já tinha experimentado nos jogos. Mas, ainda assim, a ideia de me juntar ao clube de literatura parecia... surreal.

Eu não era alguém que combinava com aquele tipo de coisa. Ou era?

Enquanto meus passos ecoavam no caminho para a escola, a indecisão começou a me consumir. A familiaridade dos jogos me chamava de volta, mas algo novo dentro de mim parecia pedir por mais. Algo além do que eu já conhecia. Suspirei, olhando para o céu, como se ele pudesse me oferecer uma resposta.

Então, em um impulso repentino, peguei minha carteira do bolso e saquei uma moeda.

— Tá bom... vamos resolver isso do jeito mais justo possível — murmurei para mim mesmo, segurando a moeda — Cara, eu vou para casa e jogo. Coroa, eu tento algo novo.

Por um instante, segurei a respiração e lancei a moeda ao ar. Ela girou, refletindo a luz do sol, antes de cair na palma da minha mão.

Coroa.

Um misto de desapontamento e excitação tomou conta de mim. Eu poderia muito bem ignorar o resultado e seguir minha rotina habitual, mas... talvez fosse um sinal. Talvez fosse hora de explorar algo além dos limites confortáveis que eu mesmo tinha criado.

Coloquei a moeda de volta no bolso, sentindo o peso daquela decisão. Meus passos ganharam um ritmo diferente enquanto eu caminhava até a escola, a mente ainda presa no que aquilo poderia significar.

Ao chegar ao portão, notei Yuki conversando com algumas amigas. Ela riu de algo que disseram, e o som parecia iluminar o ambiente ao redor. Sem pensar muito, levantei a mão em um aceno discreto.

— Bom dia, Yuki — disse eu, tentando parecer casual.

— Bom dia, Shin — respondeu ela com um sorriso rápido, antes de se virar para continuar a sua conversa.

Continuei andando pelos corredores movimentados, passando por murais de arte estudantil e armários coloridos. Quando cheguei à sala de aula, avistei Seiji e Rintarou já em seus lugares, conversando sobre algo.

— E aí, Shin! — saudou Seiji. — Pronto para mais um dia de tortura?

— Nem tanto — respondi, rindo. — Mas acho que hoje pode ser diferente.

— Diferente? — perguntou Seiji curioso.

Rin me lançou um olhar curioso, mas não disse nada.

As aulas começaram e eu me esforçava para me concentrar, mas minha mente voltava repetidamente para a ideia do clube de literatura. A voz do professor parecia distante enquanto ele explicava equações complicadas no quadro. Ao meu redor, os colegas pareciam imersos em seus cadernos, mas eu só conseguia pensar na moeda que decidiu meu destino mais cedo.

Quando o intervalo finalmente chegou, tomei coragem e me dirigi à sala dos professores. A escola estava movimentada, com alunos indo e vindo, rindo e conversando. Passei por alguns grupos de estudantes discutindo sobre os últimos episódios de animes e trocando dicas de estudo.

Meu coração batia rápido enquanto me aproximava da porta da sala dos professores. Bati suavemente e entrei, sentindo um leve cheiro de café no ar e vendo pilhas de papéis espalhadas sobre as mesas. O Sr. Tanaka estava sentado atrás de sua mesa, revisando alguns documentos, mas ergueu os olhos e sorriu ao me ver.

— Com licença, professor Tanaka — disse eu, vendo-o atrás da mesa.

— Ah, Shin! O que te traz aqui? — perguntou ele, erguendo as sobrancelhas.

Respirei fundo antes de responder.

— Eu... eu gostaria de me inscrever no clube de literatura.

Ele me olhou por um momento, surpreso, mas então sorriu.

— Finalmente encontrou algo que quer fazer? — perguntou, claramente feliz. Ele era o mesmo professor que tinha me questionado sobre meus planos para o futuro.

— Sabe como é, é sempre bom respirar novos ares. Li um livro por recomendação do Rintarou e gostei. Por causa disso, acho que quero me juntar ao clube de literatura.

Ele assentiu, parecendo satisfeito com minha resposta.

— Fico feliz em ouvir isso, Shin. Aqui está a ficha de inscrição. Preencha e me entregue.

Peguei a ficha e, com mãos um pouco trêmulas, comecei a preenchê-la. Terminei rapidamente e entreguei ao Sr. Tanaka, que verificou com atenção antes de dar seu veredito.

— Está aprovado. Bem-vindo ao clube de literatura, Shin.

— Obrigado, professor — respondi, sentindo um alívio misturado com nervosismo.

Voltei para encontrar Seiji e Rintarou durante o intervalo. Seiji foi o primeiro a me notar, e o olhar curioso dele logo se transformou em uma expressão de pura surpresa quando me aproximei.

— Ei, Shin, onde você estava? — perguntou ele, cruzando os braços e inclinando a cabeça como se já estivesse pronto para me provocar.

Respirei fundo, tentando soar casual.

— Me inscrevendo no clube de literatura.

Houve um silêncio momentâneo antes de Seiji explodir em uma risada alta e incrédula.

— Você? Num clube? E de literatura ainda? — Ele me deu um leve empurrão no ombro, ainda rindo. — Cara, achei que você ia sair correndo pra casa e ligar o videogame como sempre. Desde quando você curte livros?

Rintarou, por outro lado, não parecia nem um pouco surpreso. Ele apenas sorriu de lado, ajustando os óculos enquanto me olhava com um misto de aprovação e alívio.

— Então você decidiu tentar algo novo. — Ele assentiu, claramente contente. — Estou orgulhoso de você, Shin. É bom ver você explorando outras coisas além dos jogos.

As aulas seguiram seu curso normal, com professores explicando conceitos e alunos tentando acompanhar.

Quando o sinal finalmente anunciou o fim do dia escolar, senti uma ansiedade crescente enquanto seguia Rin até o clube de literatura. No corredor, alguns alunos ainda discutiam os eventos do dia, enquanto outros se apressavam para seus clubes. O caminho parecia mais longo do que de costume, e a expectativa fazia meu coração bater mais rápido a cada passo.

Quando nos aproximamos da porta, ouvimos fragmentos de uma conversa.

— Ah, parece que temos um novo membro! — disse uma voz animada.

— É um amigo do Rin — respondeu outra.

 Rintarou bateu levemente antes de abrir a porta, convidando-me a entrar. A sala estava repleta de estantes abarrotadas de livros e alguns estudantes espalhados, lendo ou conversando.

— Olá, pessoal. Este é o Shin, nosso novo membro — anunciou Rintarou, com um sorriso encorajador.

Todos se voltaram para mim, sorrisos calorosos nos rostos. Senti meu nervosismo aumentar, meu estômago revirando como se eu estivesse prestes a subir em uma montanha-russa. Minhas mãos estavam suadas e, por um momento, pensei em sair rapidamente da sala.

— Bem-vindo, Shin! — disse uma garota com um sorriso radiante, acenando com energia. — Eu sou Kaori. Espero que se sinta em casa aqui!

— Oi, Kaori. Prazer em conhecê-la — consegui responder, embora minha voz estivesse mais baixa do que eu pretendia. Meu nervosismo parecia evidente, mas o jeito dela me fez relaxar um pouco.

Enquanto olhava ao redor, meus olhos se detiveram em uma figura familiar: Mai, da minha classe. Ela estava sentada em um canto, segurando um livro aberto. Seus olhos se ergueram brevemente, e ela acenou levemente, com um sorriso educado, antes de voltar a sua leitura. Ver um rosto conhecido ali foi reconfortante, mesmo que só um pouco.

No entanto, enquanto observava os outros, a realidade caiu sobre mim como um peso. Ali estavam pessoas que claramente adoravam livros, enquanto eu… bom, eu tinha lido apenas um livro na vida até agora.

Sentia-me como um intruso em um mundo que não era o meu. Mas, ao mesmo tempo, havia algo naquela sala — talvez fosse a energia contagiante da garota extrovertida, ou a calma natural de Rintarou — que me fez querer tentar.

Afinal, eu estava ali para aprender, não é?

— Então, Shin, vamos encontrar um lugar para você se sentar. — Rintarou me chamou de volta ao momento, com um gesto tranquilo. — Aposto que você vai se sentir em casa antes que perceba.

Eu não tinha tanta certeza disso, mas assenti, seguindo-o para dentro da sala. Era um novo começo, e talvez, apenas talvez, eu conseguisse me encaixar naquele mundo feito de palavras e histórias.

A sala era aconchegante, com luzes suaves e estantes de madeira polida cheias de livros. O chão de madeira rangia suavemente sob nossos pés, criando uma trilha sonora tranquila enquanto nos movíamos. Havia mesas espalhadas, algumas ocupadas por alunos lendo ou discutindo animadamente sobre livros.

O presidente do clube, um aluno do terceiro ano chamado Takumi, se aproximou com um sorriso.

— Então, Shin, o que te trouxe ao clube de literatura? — perguntou ele.

— Bem, Rintarou me recomendou um livro e eu gostei tanto que decidi tentar algo novo — expliquei.

— Ótimo! Espero que encontre muitas outras histórias para se apaixonar — disse Takumi, apertando minha mão.

Kaori, a garota energética, começou a puxar conversa comigo sobre seus livros favoritos, me envolvendo rapidamente na dinâmica do clube. As conversas eram animadas e acolhedoras, e logo me senti um pouco mais à vontade.

— Então, Shin, qual é o seu livro favorito? — perguntou ela, os olhos brilhando de curiosidade.

— Eu li apenas "O Nome do Vento" até agora — respondi, um pouco envergonhado.

— Sério? Esse é um ótimo começo! — exclamou Kaori, animada. — Você deveria experimentar "Mistborn" do Brandon Sanderson. É incrível!

— Parece interessante, vou procurar por ele — respondi, sentindo-me mais à vontade.

— E qual é o seu gênero favorito? — perguntou curiosa.

— Ainda estou descobrindo — respondi, rindo. — Mas acho que gosto de Fantasia.

— Fantasia é incrível! — exclamou ela. — Tenho várias recomendações se você quiser!

A animação no clube era contagiante. As pessoas tinham diferentes personalidades, mas compartilhavam a paixão por ler. Cada um parecia trazer algo único para o grupo, tornando as interações interessantes e enriquecedoras.

Enquanto procurava um livro para ler, notei a proximidade entre Mai e Rintarou. Ela sempre tentava puxar papo com ele, mesmo sendo tímida, e Rin respondia sempre com um sorriso, o que era raro de se ver.

Observando-os de longe, parecia que fariam um bom casal, mas Rin provavelmente estava mais focado nos seus estudos e livros do que romances.

Ao mesmo tempo, percebi que, embora eu tivesse lido apenas um livro até agora, havia uma comunidade ali que compartilhava da mesma paixão. Eu queria aprender mais, me aprofundar nesse novo mundo literário que começava a descobrir.

O tempo passou rapidamente. A tarde no clube foi uma experiência nova e agradável, diferente de tudo o que eu já tinha feito. A atmosfera tranquila e as discussões sobre livros me fizeram perceber como clubes podiam ser divertidos e como a leitura podia ser uma paixão compartilhada.

Enquanto caminhava, me perdi em pensamentos, refletindo sobre como minha vida parecia estar mudando, mesmo que de pouco em pouco. Antes, minhas tardes eram gastas sozinho no quarto, mergulhado em jogos que me transportavam para outros mundos. Era uma rotina que eu conhecia bem, confortável e previsível.

Mas agora, havia algo diferente.

As ruas estavam tranquilas, com poucas pessoas passando, e o céu começava a adquirir os tons alaranjados do entardecer. Pensei nas novas amizades que poderia fazer no clube e nos livros que ainda iria descobrir.

Cheguei em casa mais tarde do que o habitual, entrando pela porta da frente da nossa casa. Minha mãe, que estava na cozinha preparando o jantar, notou imediatamente minha chegada.

— Você chegou mais tarde hoje, Shin. Onde estava? — perguntou ela, curiosa.

— Ah, desculpa, mãe. Esqueci de te avisar que agora me juntei ao clube de literatura da escola — respondi, sorrindo.

Ela ficou surpresa, mas logo um sorriso de satisfação iluminou seu rosto.

— Estou feliz por você ter encontrado algo que gosta, Shin. — Seus olhos brilhavam com uma mistura de alívio e orgulho, algo que parecia carregar anos de preocupação silenciosa.

Quando eu era mais novo, meus pais tentaram me introduzir a várias atividades: esportes, música, clubes escolares… mas nada parecia despertar meu interesse. Lembro-me de como eles olhavam para mim, esperando que algo cativasse minha atenção, apenas para acabar frustrados com a minha indiferença.

Talvez minha mãe tivesse se preocupado, pensando que eu nunca acharia algo que realmente me movesse. Mas agora, isso parecia finalmente ter mudado.

— Sim, acho que encontrei algo novo, mãe. — As palavras saíram mais sinceras do que eu esperava, acompanhadas de um leve sorriso.

Ela me abraçou, apertando-me com carinho, e pude sentir a tensão que ela carregava há tanto tempo se dissolver um pouco mais.

— Isso é ótimo, Shin. Eu sempre soube que você encontraria algo especial no seu tempo. Espero que continue explorando… e se divertindo no processo. — Sua voz carregava um tom encorajador, mas também uma leve emoção que ela tentava esconder.

Subi para o meu quarto e, ao abrir a porta, meus olhos pousaram em um livro empoeirado e antigo que estava na prateleira. Era um presente de meu avô, que sempre dizia que os livros tinham o poder de mudar vidas. 

Joguei-me na cama e olhei para o teto, pensando sobre como aquele clube de literatura podia ser a chave para algo novo em minha vida.


PENSAMENTOS DOS CRIADORES
Karpa Karpa

Kaori!!!!

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Capítulo 14: Reencontro

O último sino do dia ecoou pelos corredores, anunciando o fim das aulas. Eu estava sentado na minha carteira, absorto em um caderno, rascunhando palavras que se transformavam lentamente em frases, parágrafos, uma história. Ao meu redor, os colegas de classe se levantavam, conversavam animadamente sobre planos para depois da escola, mas eu estava alheio a tudo, concentrado em meu próprio mundo.

— O que você tá escrevendo aí, Shin? — A voz de Seiji me trouxe de volta à realidade. Ele se inclinou sobre minha mesa, tentando espiar o que eu estava fazendo.

— Nada, só rascunhando umas ideias — respondi, tentando desviar o caderno para longe do seu alcance, mas Seiji era rápido e já havia pegado o caderno.

— Ei, devolve isso! — tentei puxar o caderno de volta, mas Seiji já o estava lendo.

Rintarou, que estava perto, se juntou a ele, e ambos começaram a folhear as páginas.

— É uma história? — Rintarou perguntou, surpreso, enquanto lia alguns trechos.

Eu acenei de leve, sentindo um calor incômodo subir pelo rosto. Era a primeira vez que alguém lia algo que eu havia escrito.

— De quem é essa história? — insistiu Rintarou, ainda mais curioso.

— É... minha — murmurei, quase inaudível. Seiji e Rintarou se entreolharam, surpresos.

— Uau, Shin, você realmente nos surpreendeu dessa vez. — Seiji comentou, devolvendo o caderno. — Nunca imaginei que você fosse escrever algo.

Fiquei em silêncio por um momento, organizando meus pensamentos. Olhei para o caderno, ainda um pouco constrangido, mas decidi abrir o jogo.

— Eu... comecei a ler uns livros recentemente, como o livro que o Rin me indicou. Me inspirou a tentar escrever algo — murmurei, ainda um pouco nervoso.

Rintarou sorriu e assentiu, parecendo compreender.

— Isso é ótimo, Shin! Mas você sabe que escrever uma história é um grande desafio, né? — Rintarou disse com um sorriso de incentivo — Requer muito tempo e dedicação.

Assenti, sentindo um misto de ansiedade e determinação.

— Eu sei... mas quero tentar mesmo assim — respondi, sentindo uma mistura de nervosismo e entusiasmo.

Seiji me deu um empurrão amigável no ombro, com seu sorriso largo e encorajador.

— Estamos torcendo por você — disse Seiji. Com um último sorriso de incentivo, eles se despediram e foram embora.

Quando eles saíram, fiquei um momento parado, refletindo sobre o que havia acabado de acontecer. Meus amigos me apoiavam, o que me dava um pouco mais de coragem.

A escola estava barulhenta, ainda com muitas conversas e risos. Eu precisava de um lugar mais silencioso para me concentrar. As conversas ao meu redor se transformaram em um murmúrio distante enquanto pensava em um refúgio. A biblioteca parecia o lugar perfeito. Peguei a chave na sala dos professores e me dirigi até lá

Quando cheguei, senti uma onda de alívio. A biblioteca estava quase deserta, um santuário de tranquilidade em meio ao caos da escola. Escolhi uma mesa perto da janela. Sentado ali, comecei a reler a história que havia escrito até agora, tentando encontrar pontos a melhorar ou desenvolver.

Enquanto pensava no que escrever, meus olhos foram atraídos para o campo de atletismo. Os membros do clube estavam praticando, e para minha surpresa, vi Yuki entre eles. Eu não sabia que ela fazia parte do clube, mas agora que pensava, fazia sentido. Ela sempre se destacava nas aulas de educação física. Observá-la me deixou fascinado; ela corria com uma graça e uma determinação que eu nunca tinha notado antes, como se estivesse perseguindo algo.

— Yuki, a respiração! — alguém do clube gritou, enquanto ela corria.

— Continue firme! — disse outro

Me peguei sorrindo ao ver o esforço e a dedicação dela. Mas logo me lembrei do caderno à minha frente e da história que eu deveria estar trabalhando. Olhei para as páginas em branco e suspirei.

— Droga, me distraí... — murmurei para mim mesmo, tentando voltar ao trabalho.

Escrevi algumas linhas, mas não consegui parar de pensar em Yuki. Decidi que precisava de uma mudança de ambiente para clarear a mente, então arrumei minhas coisas e saí da biblioteca.

Enquanto caminhava pelos corredores vazios, pensei em como era estranho estar escrevendo uma história. Era algo tão novo para mim, algo que nunca imaginei fazer. Se eu não tivesse ligado para Rintarou naquele dia, eu provavelmente estaria em casa jogando ao invés de estar tentando escrever algo.

Enquanto caminhava para casa, o céu estava tingido de um belo tom de laranja pelo pôr do sol. As ruas estavam movimentadas, cheias de pessoas indo e vindo, conversando e rindo. Era uma cena reconfortante.

Quando cheguei em casa, cumprimentei minha família e fui direto para o quarto. Sentei-me na escrivaninha, pronto para continuar escrevendo e tentar encontrar o fio que conectava todas as ideias da história, mas fui interrompido por vozes na sala de estar.

Curioso, me aproximei silenciosamente da escada e fiquei escutando.

— Oh, você voltou — Ouvi a voz da minha mãe, calorosa mas surpresa.

— Sim, consegui um tempo livre! — A voz era familiar, mas não consegui identificar de imediato.

Intrigado, desci as escadas, pensando que poderia ser algum conhecido da minha mãe. Quando cheguei à sala, meus olhos se arregalaram. Era meu pai, sentado no sofá, com um sorriso calmo. Hana estava animada ao seu lado, segurando sua mão.

— Pai...? — minha voz saiu num sussurro incrédulo.

Ele tinha se mudado para uma cidade distante há algum tempo, para trabalhar em uma empresa. Tinha tentado nos convencer a nos mudar com ele, mas a vida aqui era boa, e mudar parecia difícil e desnecessário.

— Olá, Shin. — Ele sorriu, mas havia um cansaço em seus olhos. — Desculpe aparecer assim, de repente.

— O que você está fazendo aqui? — perguntei, tentando manter a voz firme, mas sentindo um nó de nervosismo.

— Consegui uma folga no trabalho e achei que era uma boa oportunidade para visitar — ele explicou, forçando um sorriso que não alcançava seus olhos. Havia um cansaço profundo ali, algo que eu não via desde antes de ele partir. Talvez ele estivesse lutando para encontrar as palavras certas ou tentando esconder a verdadeira razão de sua visita. Senti um misto de confusão e ressentimento, lembrando de todas as promessas de visitas que ele nunca cumpriu.

Minha mãe, tentando aliviar a tensão, sugeriu que saíssemos para jantar e comemorássemos o retorno do meu pai. Concordei com um aceno, ainda processando a presença dele ali.

— Vamos jantar fora hoje para comemorar, então! — anunciou minha mãe.

No caminho para o restaurante, permaneci em silêncio, imerso em pensamentos. A relação com meu pai sempre foi cordial, mas distante. Na última vez que estivemos tão próximos, foi para uma despedida apressada na estação de trem. Desde então, nossas conversas se resumiam a breves ligações e mensagens formais, cheias de 'como vai?' e 'está tudo bem?'. Ele tentou disfarçar o desconforto com uma piada, mas o silêncio que se seguiu falou mais alto do que qualquer palavra.

O restaurante era aconchegante, com uma luz suave que criava uma atmosfera acolhedora. Nos sentamos perto de uma janela, de onde podíamos ver as luzes da cidade começando a brilhar. Hana estava animada, folheando o cardápio, enquanto minha mãe e meu pai discutiam suas opções. Eu estava quieto, ainda tentando entender a súbita presença do meu pai.

Enquanto olhávamos os cardápios, minha mãe trouxe um copo de água para mim.

— Eu trouxe água — disse ela, colocando o copo na minha frente.

— Obrigado — respondi, distraído, enquanto examinava as opções do menu.

Hana estava animada, folheando o cardápio e discutindo com o pai sobre o que iria escolher.

— Quero este aqui! — exclamou, apontando para uma foto de uma sobremesa enorme.

— Calma, Hana. Vamos escolher o prato principal primeiro. — meu pai respondeu, rindo.

—...

— Então... você tem estado ocupado na escola? — meu pai perguntou, casualmente enquanto olhava o cardápio.

— É... um pouco — murmurei, brincando com meu guardanapo.

Hana, sempre animada, aproveitou a oportunidade para se gabar.

— O Shin está escrevendo uma história! — exclamou, com os olhos brilhando de entusiasmo.

Meu pai ergueu as sobrancelhas, surpreso, e pousou o cardápio.

— Sério? Do que se trata? — perguntou, com uma curiosidade sincera na voz.

Eu me senti um pouco desconfortável com o foco sobre mim, então dei de ombros.

— Ainda não sei direito... só umas ideias que estou tentando colocar no papel — disse, tentando manter a conversa leve.

O garçom chegou com nossos pedidos, e a conversa foi interrompida. Enquanto comíamos, meus pais conversavam sobre o trabalho e como minha mãe estava administrando tudo em casa. Tentei me envolver na conversa, mas minha mente estava em outro lugar.

Enquanto todos comiam ouvi uma voz familiar na mesa ao lado. Olhei discretamente e não pude acreditar. Vi Yuki, sentada com sua família. Por um momento, nossos olhares se encontraram. Senti meu coração acelerar e rapidamente desviei o olhar, tentando agir naturalmente.

O que ela estaria fazendo ali? A coincidência de estarmos no mesmo restaurante me deixou com um leve desconforto

— Vou pegar algo para beber no drink bar — anunciei, levantando-me. Precisava de um momento para me recompor.

No drink bar, olhei as opções de bebidas. Estava prestes a pegar um refrigerante quando Yuki apareceu ao meu lado. Ela também ia beber algo. Troquei um breve aceno de cabeça com ela, sentindo uma onda de nervosismo. Tentamos não parecer conscientes da presença um do outro, mas a tensão era palpável, como uma corda esticada prestes a quebrar

Para tentar parecer mais maduro, decidi pegar um café preto, embora não gostasse muito. Peguei o copo e dei um gole, mas esqueci de colocar açúcar.

O sabor amargo quase me fez engasgar, mas me controlei para não fazer uma careta na frente dela.

— Ei Yuki, pode pegar para nós também? O de sempre, por favor. — ouvi a voz de alguém da família dela. Ela assentiu e começou a encher mais copos.

Enquanto ela enchia mais copos, fiquei ao lado dela, tentando não parecer nervoso. Quando ela terminou, trocamos outro breve aceno antes de eu voltar para a minha mesa. Meu pai notou a interação e sorriu.

— Quem era aquela garota? — perguntou, curioso.

— Uma colega de classe — respondi, tentando minimizar a situação.

— Ah, ela é bonitinha — comentou ele, sorrindo.

— Querido, não diga isso — minha mãe o repreendeu, rindo. Eu apenas balancei a cabeça, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas.

Enquanto terminávamos de comer, meus pais conversavam sobre o trabalho de meu pai e as novidades da cidade. Hana estava animada, contando histórias da escola. E eu estava quieto, perdido em pensamentos. Meus olhos, constantemente atraídos para a mesa ao lado, onde Yuki estava sentada com sua família, não conseguiam se fixar no prato à minha frente.

Cada vez que nossas olhares se encontravam, meu coração dava um salto, e eu rapidamente desviava o olhar, fingindo interesse em qualquer outra coisa. Ela parecia tão à vontade, sorrindo e conversando, enquanto eu me sentia um intruso em minha própria vida.

Depois de terminarmos de comer, enquanto meus pais pagavam a conta, Yuki se afastou da sua família e se aproximou de mim. Ela mostrava um leve nervosismo, mas havia uma firmeza em seu olhar.

— Shin... não conte para ninguém sobre hoje, tá? — Ela desviou o olhar, uma leve cor surgindo em suas bochechas. — É meio constrangedor... — completou com um sorriso nervoso, os olhos evitando os meus.

— Claro, não vou contar — respondi rapidamente, tentando esconder minha surpresa por ela estar falando comigo tão diretamente. Era raro vê-la tão vulnerável, e isso me fez perceber o quão pouco eu realmente a conhecia. Senti uma onda de empatia, mas também de nervosismo.

— Obrigada — ela respondeu, dando-me um leve sorriso antes de voltar para sua família. Observei-a sair, ainda sentindo o coração bater um pouco mais rápido.

"Mas isso não te constrange?" pensei, enquanto olhava para Yuki sair, ainda usando seu uniforme do clube de atletismo.

De volta ao carro, meu pai sugeriu que fôssemos ao parque no fim de semana, algo que não fazíamos há muito tempo. Concordei, mais por cortesia do que entusiasmo, ainda processando o retorno dele.

No dia seguinte, enquanto caminhava pelos corredores em direção á sala de aula com Seiji e Rintarou, avistei Yuki prestes a entrar na sala, ela parou e olhou para mim brevemente, e então entrou na sala, sem dizer uma única palavra.

Desde então, não conversei mais com ela, embora tivéssemos nos notado algumas vezes.

Quando a aula estava prestes a acabar, o professor começou a explicar sobre as tarefas do festival esportivo que aconteceria em breve.

— Então, agora que terminamos a atribuição de tarefas, haverá instruções depois das aulas para cada grupo. Depois dos anúncios, cada grupo se reunirá em salas separadas e...

Eu estava tão distraído pensando na história que não prestei atenção em nada.

Quando as aulas terminaram, fui falar com Rintarou para entender o que eu deveria fazer. Fui designado para o grupo de equipamentos.

Assim que todos do grupo se reuniram na sala, um aluno começou a falar.

— Agora que todos estão aqui, gostaria de começar. Eu sou Hiroshi do clube de atletismo. Nós seremos responsáveis pelo grupo de equipamentos, então eu gostaria de pedir a ajuda de vocês com isso.

Enquanto ele falava, notei do outro lado da sala a Yuki, e ela parece ter me notado também. Tentei lutar contra mim mesmo para não desviar o olhar mas não consegui resistir. Não conseguia olhar diretamente para ela, talvez fosse por que não nos falamos desde o dia do restaurante e agora apenas trocávamos olhares, mesmo ela sentando do meu lado durante as aulas.

Quando Hiroshi havia acabado de falar e tudo estava decidido, fomos liberados para ir para casa.

Depois da reunião, Akira e Takeshi vieram falar comigo sobre formar um grupo para organizar as atividades. Eles me pediram para pegar os contatos dos membros que estavam presente na reunião.

— Ei, Shin, nós fizemos um grupo com os membros da nossa turma no ano passado. Facilitou bastante as coisas! — disse Takeshi.

— Você pode pegar os contatos de todos para a gente, por favor, Shin? — implorou Akira.

— Tá... — respondi sem pensar muito.

Hiroshi chamou os dois para conversarem, e enquanto eu estava no corredor fiquei pensando no que eles haviam acabado de falar. Se eu tivesse que pegar o contato de todos, isso incluiria a Yuki. Fiquei nervoso só de pensar nisso. Sabia que teria que falar com ela, mas ainda não tinha coragem.

Antes nós falávamos, mesmo que fosse apenas um cumprimento matinal, mas agora nós não trocávamos sequer uma palavra, apenas olhares, pedir o contato dela seria algo impossível para mim.

Chegando em casa, fui direto para o meu quarto e me joguei na cama. Peguei meu celular e fui adicionando no grupo os contatos que eu já tinha guardado.

— Agora só falta o contato dela...

No dia seguinte, eu tentava ler os meus rascunhos na sala antes da aula começar, rodeado de barulho de conversas de Kazuki com colegas de classe conversando.

— Ei Kazuki, você viu minha mensagem? Você nunca responde!

— Foi mal, estava ocupado — disse ele, sorrindo 

— Não acredito nisso.

— Eu já pedi desculpas...

Enquanto lia os rascunhos pensando em como a história poderia ser melhorada, senti alguém olhando para mim, inclinei minha cabeça para cima e vi que era Yuki. Nós nos olhamos, e eu pensei ser esse o momento perfeito para pedir o contato dela para o grupo. Enquanto reunia coragem para falar, alguém chamou Yuki.

— Yuki, eu...

— Ei, Yuki, vem no banheiro comigo, por favor! — chamou alguém na porta.

— E-estou indo! — respondeu ela

Tinha perdido a chance de pedir o contato dela, mas não fiquei desanimado, ainda haveriam outras chances.

No final do dia, enquanto caminhava de volta para casa, vi uma pequena biblioteca que nunca tinha notado antes. Talvez ler um livro poderia me ajudar a dar ideias para a minha história. Na porta da biblioteca havia um aviso dizendo que eles estavam contratando. Entrei, curioso, e fui recebido por um jovem no balcão, que parecia ser apenas alguns anos mais velho que eu.

— Bem-vindo! — disse ele

Enquanto olhava pela biblioteca, tentando encontrar algo que despertasse a minha curiosidade, vi uma revista interessante para adultos, eu estava na puberdade, não seria estranho eu pegar essa revista, eu acho. Mas eu morreria de vergonha se eu passasse no balcão para comprar aquilo e, além disso, eu estava ali para procurar um livro para ler, não uma revista.

Enquanto caminhava pela velha biblioteca, lembrei-me do livro que a Kaori tinha mencionado no dia em que fui para o clube de literatura, ela disse que eu iria gostar, então poderia me ajudar na escrita, eu achei o livro e li a sinopse na contracapa, parecia realmente ser interessante.

— Esse é um bom livro — disse a pessoa do balcão, se aproximando de mim

— Ah, me recomendaram ele, disseram que era realmente bom então decidi dar uma vista de olhos — respondi.

— A história de um grupo secreto que tentam derrubar um império distópico e se estabelecer em mundo coberto de cinzas é simplesmente incrível, tenho certeza que você vai gostar! — disse ele animado.

— Então vou levar esse! — respondi, interessado no livro

Enquanto caminhávamos para o balcão, ele voltou e pegou algo.

— Este é por minha conta — disse ele enquanto colocava em um saco a revista que eu havia olhado mais cedo.

— Hã?! E-eu não... — eu disse tentando recusar.

— Relaxa, você deve ler todo o tipo de coisas! — disse ele rindo.

Fiquei hesitante por um momento, mas decidi aceitar a sua oferta. Peguei o livro e a revista, e saí com a cabeça cheia de ideias. Enquanto caminhava de volta para casa, não conseguia parar de pensar na possibilidade de trabalhar naquela biblioteca. A ideia de estar cercado de livros todos os dias, explorando novas histórias e talvez encontrando inspiração para a minha própria escrita, me parecia cada vez mais atraente.

Ao chegar em casa, o aroma familiar do jantar me recebeu. Minha mãe estava na cozinha, preparando algo especial, e o som da televisão preenchia a sala. Subi para o meu quarto, onde deitei na cama com o livro que havia acabado de comprar. Folheando as páginas, tentei me concentrar, mas minha mente vagava entre pensamentos sobre o trabalho e as recentes mudanças em minha vida.

Assim, pensei sobre tudo o que havia acontecido e sobre o que estava por vir. A escrita, Yuki, meu pai de volta em casa... tudo parecia um tanto quanto surreal, mas eu estava ansioso para ver onde essas novas experiências me levariam.

O que eu havia escrito parecia insignificante comparado à avalanche de mudanças em minha vida. Fechei os olhos, imaginando o futuro — não o futuro distante, mas o dia seguinte, a próxima página, o próximo encontro com Yuki. Havia uma nova energia em mim, uma fome por algo mais, algo que eu ainda não conseguia definir.


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