Não havia uma única camada de pó nos cantos das paredes. Sequer havia uma fina. Era surpreendente que o local que Brandon e os cavaleiros estavam vendo eram sem sujeira, enquanto toda a área de fora da casa era tão mal cuidada que colocava em dúvida se estava no local certo e se ele não estava abandonado. Os móveis estavam limpos, embora envelhecidos e com sinais de uso prolongado. Podia-se dizer que talvez fosse hora de trocá-los, mas eram úteis ainda.
A sala onde estavam era espaçosa e mostrava claramente que era um salão de recepção para pessoas de fora. Não havia nada luxuoso, pelo contrário, todo o ambiente era simples e com cores neutras, sem nada para adornar as paredes e servir como decoração, além das prateleiras e alguns objetos que estavam colocados por ali. Era um local que parecia bom e que tinha cuidado, mas percebia a falta de uso da maneira tão pobre que ela estava. Era suposto que fosse uma sala para recepcionar plebeus, nobres ou pais em potenciais, mas não parecia na visão deles.
Brandon olhava em volta discretamente, mesmo que só haja os quatro dentro daquele cômodo. Ele também observava o sofá que estava sentado ao lado de Ferion e depois para a área aberta que havia à sua frente. Somente o tapete no chão estava naquele espaço. Nenhum sinal do homem que os guiou até ali. O velho homem que os atendeu na porta havia saído, depois de ter informado que voltaria em breves momentos para avisar e arrumar as crianças sobre a visita deles.
Os olhos verdes tinham dúvida em seu olhar e desconfiança. Eles se dirigiram a Ferion e o assistiram encarar o ambiente também. Brandon tinha certeza que Ferion estava pensando em algo, mas ele não sabia o que era. O nobre tinha uma expressão pensativa que ele reconhecia. Era a mesma expressão que ele fazia quando mais jovem e notava algo de errado ou pensava sobre alguma coisa. Foram poucas às vezes que ele o viu assim.
"Ferion." A voz saiu de seus lábios, chamando-o e atraindo sua atenção. Ferion virou-se e o olhou com os olhos negros. A expressão pensativa ainda continuava, mas prestava atenção ao ruivo. "Você também notou algo estranho?"
Ele não o respondeu de imediato, ficando em silêncio momentaneamente, sob os olhos de Brandon.
"Sim…" Balançou a cabeça em uma linha vertical. Os olhos estreitaram antes de continuar. "Não há nenhum som de crianças ou alguma presença além de nós quatro quando entramos. O exterior do edifício está em péssimo estado, mas o interior parecia bem cuidado, embora algumas coisas pareçam estranhas."
Ferion bateu três vezes em seu joelho com os dedos, enquanto refletia e falava. "O homem não perguntou nossas identidades, mas me tomou como alguém com dinheiro e agiu muito mais gentil do que parece ser."
Brandon o ouviu e não hesitou em concordar com a cabeça. As palavras de seu jovem mestre eram simplesmente fatos verdadeiros. Ele se lembrava de como o homem os olhou de maneira fria, como se fossem um incômodo, mas ao subir e descer rapidamente mudou sua atitude com eles. Também, ele achou incomum, não ter visto sequer uma alma infantil pelo caminho que percorreram. Era um orfanato, mas as crianças não estavam em lugar nenhum e pareciam fantasmas. Apenas o pensamento de tais existências faziam sua espinha estremecer.
"Isso certamente é estranho. Também não ouço sons e não vi nenhum sinal de nenhuma criança aqui. Seria normal se uma ou duas viessem e olhassem os recém-chegados, mas nenhuma apareceu." Brandon disse. Ele procurou da entrada ao corredor, mas não parecia que as crianças viviam ali.
"Ele deveria ter ao menos se apresentado e pedido nossos nomes como a norma e como futuro pai de uma das crianças que adotaria. Mas ele simplesmente agiu sem questionar. Como se não se importasse com isso em primeiro lugar." O ruivo parou, por um momento. "E também, a maneira como nos tratou, parecia educado, mas não deixou de me dar uma sensação desagradável."
"Eu concordo." A voz de Ferion se fez presente novamente, em resposta às falas de seu assistente temporário.
Os dois cavaleiros que estavam juntos ali, assistindo a conversa entre os dois homens, também não discordavam em sua mente. Desde que entraram naquele prédio, eles estavam alerta para algum perigo em potencial, mesmo que baixo, contra a vida de seu jovem mestre, principalmente depois do olhar gelado que o homem os direcionou quando estavam na porta da frente. Aquele olhar não era algo que alguém que era diretor de um orfanato cuidado pelo governo poderia direcionar para convidados, mesmo que momentaneamente e não gostasse de sua vinda.
Nott, em especial, estava com o coração carregado com raiva, ressentimento e uma pitada de ódio. Esses sentimentos não eram comuns para ele, que sempre fora honesto e gentil com aqueles à sua volta. No entanto, ver o rosto daquele homem sorrindo de maneira benigna, era realmente detestável. O dito homem não mudou em nada pelo que se lembrava.
Uma sensação de culpa cresceu no peito, junto aos outros sentimentos impetuosos que sentia, em relação ao que se lembrava do passado. Embora não pudesse fazer nada na época, já que era uma criança de apenas catorze anos e impotente a modos de se proteger contra alguém que tinha autoridade no local, ele ainda não tentou fazer algo, mesmo depois de ter virado cavaleiro. Vergonha também era algo que estava dentro de si.
"Por sua atitude e o ambiente, é suposto que há algo no ar, apesar de não termos confirmado nada ainda."
"Você tem alguma ideia do que seja?"
"Algumas." Ferion afirmou, sendo vago o suficiente naquele lugar.
O Miller que costumava ser um representante no exército não diria o que estava imaginando em sua cabeça em meio a território inimigo, mesmo que o homem fosse apenas um suspeito para ele e não estivesse ali; nunca se sabe se alguém está atrás da porta ou não. Nott cerrou os punhos, um em sua palma e a outra na espada que carregava. O cavaleiro estava pensando sobre como se sentia, antes de soltar um suspiro e dar um passo em direção aos dois, atraindo a atenção dos três que estavam na sala.
"Jovem mestre, peço permissão para opinar."
"Sim?" Ferion disse, surpreso. Seu olhar rapidamente mudou de volta, um sério, mas com misto de curiosidade. O que o homem que Brandon olhava de maneira alegre poderia dizer sobre o problema atual. "É sobre o orfanato que estamos agora?" Nott assentiu para ele. "Então prossiga."
Pelo conteúdo da conversa que Brandon e Ferion estavam tendo a momentos antes, parecia que estavam comentando sobre o lugar e a pessoa que trabalham nele de maneira que procuravam pistas. Era mais claro para Nott, que trabalhava na propriedade a algum tempo e tinham conhecimento que eles estavam indo para os lugares. Apesar de Brandon não ter lhe falado muito sobre suas saídas com Ferion, ele sabia que isso era trabalho.
Ele havia decidido que iria ajudar. Uma forma de acabar com a culpa e a vergonha que estava sentindo. Também queria que o homem de bigode não tivesse um fim muito bom.
"Jovem mestre, eu-"
Sua fala foi interrompida com os sons de passos se aproximando. Toda a atenção fora para a porta. Havia algo como cautela nos olhos de Nott, enquanto ele fechava seu rosto por ter sido interrompido. Quando ele criou um pouco de coragem para dizer o que sabia, isso aconteceu. O tempo era muito bom, mas podia ser somente uma coincidência. A maçaneta se abaixou e um leve ranger dos ferros da porta soou pela sala, mostrando uma figura com o mesmo sorriso benigno por baixo do bigode de fios brancos.
O homem que os atendeu na entrada, estava com as roupas pretas que viram mais cedo, sem uma única linha solta ou detalhe fora de ordem. Era uma vestimenta perfeita. Ele parecia alguém gentil e bondoso se olhasse para seu todo e alguém que é bem cuidado. No entanto, os quatros que viram aquilo não confiável em sua aparência.
"Me desculpem, espero que não tenham esperado muito. As crianças demoraram um pouco para estarem prontas." Ele disse, curvando-se um pouco.
"Está tudo bem. Não demorou muito de qualquer maneira." Ferion respondeu, com o rosto sério e seu tom também. "E onde elas estão? Não vejo nenhuma."
O espaço que não era preenchido pela figura do homem estava vazio, sem ninguém atrás dele. Somente a visão da parede do outro lado do corredor era vista.
"Crianças podem entrar."
O homem falou e passos leves foram escutados. Pequenas pessoas eram vistas entrando na sala, quando o homem liberou a passagem. Elas todas variam em diferentes idades, desde as mais jovens até às próximas a maioridade. As crianças caminhavam para dentro, ficando enfileiradas na frente de onde Ferion e Brandon estavam sentados. Formavam uma fila de com dez na horizontal e quatro colunas atrás. A quantidade era um pouco maior do que achavam que teria. Era surpreendente que nenhuma risada ou som de criança fosse escutado pela casa toda.
Os órfãos estavam parados ali em pé, nervosos. Eles vestiam roupas simples, mas eram bem cuidadas. Possivelmente para quando recepcionassem. Não era algo muito comum eles receberem visitantes depois de muito tempo, mas não era por isso que eles estavam ansiosos. O olhar que eles viram do diretor quando vieram chamá-los era ainda mais assustador do que o normal. A maneira como ele estava os olhando agora, como se não tivesse agido daquela maneira, era algo que fazia as espinhas de todos se arrepiarem. Até os mais velhos, os que estão na casa há muito tempo, não podiam fazer nada contra ele.
Ferion olhava atentamente para eles. Ele não deixou de reparar como eles estremeceram. Seu olhar vagou até aqueles adolescentes também estavam com o rosto um pouco rígido. Os órfãos à sua frente pareciam rígidos e com medo, como se algo pudesse acontecer com aquela visita. Seu cenho fechou com isso e alguns se encolheram com o olhar dele. Um nobre de rosto sério que estava os observando como se avaliasse um produto, era assim que eles se sentiam. Nenhum deles gostaria de pisar em falso e cometer um erro e atrair sua fúria. A dele e a do diretor.
Brandon encarava cada uma daquelas crianças também, assim como Nott e o cavaleiro de cabelo azul. Os três tinham pensamentos divergentes, mas com um sentimento de simpatizar em comum. Brandon se identificava com eles por serem órfãos e não terem pais, pois ele também perdeu sua mãe, mesmo que não tenha sido em uma idade tão jovem como alguns daqueles garotos. Nott por entendê-los. Enquanto o cavaleiro, ele sentia pena delas.
Ao terminar de olhar para elas, Ferion virou-se para o diretor. "São todas?"
"Sim, senhor."
"Hm." Ferion murmurou. "Tem uma lista, um catálogo, com as informações e nomes delas? Gostaria de ter isso para saber mais sobre eles."
"Sim, tem. Com licença por um minuto."
O homem de bigodes assentiu para ele e se retirou. A atmosfera que era silenciosa se tornou um pouco mais suave na vinda das crianças, antes de ficarem tensas novamente por estarem sozinhas com desconhecidos. Algumas os olhavam de maneira cautelosa e desconfiada, enquanto outras se sentiam mais relaxadas com a presença mais ameaçadora ter ido embora, ainda que não se sintam à vontade com os desconhecidos no mesmo local.
Todas estavam e ficaram caladas, sem soltar um único ruído. Elas estavam apenas olhando para eles. Brandon se sentia um pouco pressionado com os pares de olhos em direção a ele em silêncio. Ele não estava acostumado a estar no centro das atenções ou ter atraído o foco de muitas pessoas sobre si. Ele era um servo na mansão Miller e isso não fazia parte de seu trabalho, pois geralmente todos focavam no nobre que geralmente ele acompanhava.
Ferion também retribuiu o olhar. Foi uma troca de olhares em que cada parte analisava a outra em silêncio. Contudo, não durou muito. O diretor apareceu com um livro em suas mãos e entregou com o mesmo sorriso simpático que permanecia no rosto desde que entraram. O livro era relativamente grande e sua capa dura. Ele era um livro de administração com os dados informativos das crianças, como seu nome, idade, dia que chegou ao orfanato e o dia que saíram, seja adotados ou por atingir a idade-limite.
O nobre folheava o livro e às vezes levantava o olhar para encontrar a criança que estava na página do livro. Era aleatório e não durava nem três segundos, antes de voltar para o papel. Alguns órfãos suavam frio, mas se continham em fazer qualquer coisa. O diretor olhava com olhos brilhantes para Ferion, enquanto o mesmo lia com o rosto sério. Para o homem, ele parecia estar tomando uma ação séria, e não duvidou que ele iria mesmo adotar. Um homem de expressão forte e que parecia ser bem de vida era alguém que não teria problemas em adotar uma ou duas crianças, embora seja relativamente jovem.
Com o virar de uma página, as sobrancelhas de Ferion tremeram momentaneamente, sendo captado por Brandon que o encarou confuso, e ele ergueu a cabeça, procurando em meio aquela multidão de crianças e voltar a ver novamente. Ele virou novamente, como se não tivesse feito nada.
"Não, nada." Ferion disse, virando-se para ele. Encontrando seu rosto com algumas rugas e o bigode grande branco que estavam em seu buço. "Só não acho que vou conseguir escolher uma com apenas uma única visita."
"Oh, isso é claro, senhor. Sua escolha é muito sensata." O homem assentiu, concordando com as palavras. Ele estava tentando atrair a boa vontade de Ferion para ele. Não poderia ser mais óbvio.
Ele também não poderia discordar das palavras que Ferion disse, por mais que sentisse que fosse um incômodo. Ele poderia se livrar de uma daquelas crianças irritantes se o homem as levasse imediatamente. No entanto, a desculpa que ele deu era plausível e muitas pessoas que iam nos orfanatos o faziam. Tais pessoas visitavam algumas vezes o local e procuravam uma criança que combinasse com suas preferências ou situações, e se não, iam a outro local para encontrar ela.
Era um incômodo para ele ter que cuidar de tantos, mas ele não poderia expressar para as pessoas de fora isso.
"Desculpe por tomar muito de seu tempo."
"Não tem problemas. Você também deve ser um homem ocupado. É compreensível isso. E também, eu não posso estar mais contente pela sua volta e por você estar disposto a levar uma dessas adoráveis crianças."
Com o término da fala do diretor, Ferion se levantou. Ele assentiu para as palavras ditas pelo homem e se virou para as crianças que estavam olhando para ele também. Ele balançou a cabeça para elas. Brandon e os cavaleiros também dirigiram um olhar para elas. Nott as olhou com um pouco de relutância em sair, e mordeu os lábios discretamente para não ser notado por não querer ir e ficar com elas, mas se absteve de fazer isso. Seu jovem mestre deve estar pensando em algo e ele ainda não disse o que queria. Ele teria confiança na família a que servia.
Brandon direcionou um último olhar para as crianças, antes de fechar a porta e sair, acompanhando os outros. Logo, ele não viu os ombros das crianças caírem e algumas se enrijecerem com o que estava por vir. O diretor, assim que voltasse, iria reclamar com eles, certamente.
Na entrada, do lado de fora, Ferion estava em pé, em frente ao homem de cabelos brancos dado a idade. Ele estava com os ombros retos e queixo erguido, olhando nos olhos castanhos do velho que se fingia de gentil. Seu rosto estava sério, assim como entrou pela primeira vez. Ele iria sair dali e teria negócios a resolver, com tal assunto sendo uma de suas prioridades. Também teria que dar um relatório primário sobre a situação a seu pai, pois foi ele que o pediu para ir até ali.
"É uma lástima que vocês tenham que ir agora e não terem adotado nenhuma de minhas crianças." O homem disse, com uma expressão fajuta de tristeza.
"Nós voltaremos." Ferion o respondeu.
"Fico feliz em ouvir isso, senhor. Eu e as crianças estaremos prontos para sua visita." Ele sorriu para o nobre.
O diretor estava contente em ouvir isso. Eles voltariam e uma das crianças iria embora. Se tudo correr bem, ele poderia pedir uma doação, o homem parecia mais do que capaz disso, no final.
Brandon vira-se para seguir Ferion, assim que o mesmo começa a liderar o caminho deles até o portão, mas ainda dá uma olhada para trás. A porta da entrada já estava fechada, sem sinal do sorriso benigno do diretor do orfanato. O prédio atrás de si estava precário e erva daninha crescia. Agora que ele havia visto o interior daquele casarão, não conseguia descobrir como o exterior estava daquele jeito, sendo dentro tão limpo.
E os quatro caminhavam para a saída. Um único ruído de criança ou de qualquer ser vivo não estava presente. Somente os sons de seus passos na grama e terra podiam ser escutados em meio ao silêncio que nem eles queriam quebrar, antes de sair daquele lugar.
Oi
Ferion é a pessoa mais confiável aqui, amo um homem
Até logo. Abraços virtuais (っ^_^)っ