O vazio branco do subconsciente de Misheru era um palco para um drama de poder e desejo. Raphtalia, com seu olhar gélido, encarava as correntes que aprisionavam a essência de Misheru.
— Maldita! Você não pode me conter para sempre! — rugia o poder dele, um grito de fúria ressoando no silêncio.
Raphtalia, em sua frieza implacável, se virou e desapareceu. Misheru, no mundo real, jazia inconsciente, sua energia vital drenada. A cena se alternava entre a batalha interior e a realidade, onde Rias, Akeno, Koneko e Kiba se aproximavam do corpo.
Rias, com um olhar penetrante, fixou seus olhos em Raphtalia. A tensão no ar era palpável, um silêncio carregado de perguntas não ditas. Mas Raphtalia, como um raio, desviou seu olhar, indo em direção à Asia, que carregava o ferido Issei nos braços.
— Asia, que bom que você está bem — disse Raphtalia, um tom de preocupação em sua voz.
— É bom ver você aqui... Raphtalia, certo? — Issei, com um sorriso fraco, confirmou o nome dela. Raphtalia, por um momento, sentiu um leve tremor de confusão, mas logo se lembrou do encontro anterior.
— Aliás, Raphtalia, por que você está aqui? — Asia questionou, a curiosidade em seus olhos.
— Vim por sua segurança. Não confio muito no Freed e falando nele, onde ele está? — Raphtalia, com uma cautela instintiva, questionou o paradeiro do loiro. Mas, de repente, uma voz masculina, rouca e cheia de dor, rompeu o silêncio.
— Raphtalia... — Misheru, com o corpo inerte, era carregado por Rias, seus olhos fixos na figura de cabelos brancos. A cena, agora, era um palco de encontros e reencontros, cada personagem com seus próprios segredos e intenções.
— Eu não me lembro o que havia acontecido, mas lutei contra ele e talvez ele esteja morto ou algo assim — disse Misheru, um sorriso fraco se formando em seus lábios enquanto encarava Raphtalia.
— R... Raphtalia, que bom que nos encontramos de novo — a voz de Misheru tremeu levemente, carregada de emoção. As lágrimas de Raphtalia rolaram, um rio de alívio e alegria quebrando a barreira da contenção. Encontrar seu irmão, após tantos anos, era um sonho tornado realidade.
Misheru, com a ajuda de Rias, se aproximou de Raphtalia. Um abraço reconfortante, carregado de saudade e amor, uniu os dois irmãos. As lágrimas de Misheru se juntaram às de Raphtalia, um coro de emoção que ecoava no silêncio.
Mas, em meio à felicidade, o preço da batalha se fez presente. Misheru, de repente, se soltou do abraço, caindo no chão com um baque doloroso. O sangue escorria de sua boca, tingindo o chão em tons escarlates. Rias e os outros se aproximaram, a preocupação estampada em seus rostos. Misheru, exausto, perdia a consciência, vítima do poder que havia utilizado.
— Melhor vocês irem embora — disse Raphtalia, a voz firme, enxugando as últimas lágrimas. Rias, com cuidado, pegou Misheru nos braços. Kiba, com gentileza, retirou Issei dos braços de Asia. O grupo do clube de ocultismo, em uníssono, entrou no círculo mágico desenhado por Akeno e desapareceu em um flash de luz.
Raphtalia, com Asia em suas costas, se afastou do local. Em um lugar não muito longe, Freed, com a perna quebrada, cambaleou com dificuldade. Seu rosto, marcado pela dor, se iluminou ao ver Emi se aproximando.
— Ah, é só você. Bora me ajuda aqui — disse Freed, com um sorriso fraco e um gemido de dor. O sangue escorria de sua boca, e ao olhar para baixo, ele viu um buraco profundo em seu abdômen.
— Mald... maldita... — Freed, com a voz falhando, caiu no chão, quase sem vida. Emi, com os braços cruzados, suspirou e se virou, deixando Freed à mercê do destino.
No dia seguinte, às 7:40 da manhã, Misheru abriu os olhos, sentindo um leve incômodo na cabeça. Ao se levantar, ele viu que estava em seu quarto. Issei, pronto para ir para a escola, estava ao seu lado, arrumando os materiais.
— Ah, Issei. O que aconteceu? — Misheru, com um misto de confusão e medo, questionou Issei sobre o que havia acontecido na noite anterior. Issei, com um olhar compreensivo, recontou a história, detalhando cada momento da batalha e do desfecho. Misheru, ao ouvir a descrição de suas ações, sentiu um aperto no peito. A culpa e o remorso o assolavam.
— Olha, nii-san, a Rias falou para você ficar de cama. Logo, logo a mãe vai estar aqui para te checar. — Issei, com um leve sorriso, se virou para sair, mas Misheru o chamou.
— Diga à Koneko e ao Kiba que me desculpe por fazer danos a eles. Eu não queria que isso fosse tão longe — disse Misheru, a voz carregada de arrependimento. Issei acenou em concordância e saiu do quarto, deixando Misheru imerso em seus pensamentos.
De tempos em tempos, a mãe adotiva de Misheru, com carinho e cuidado, vinha checar seu estado. Mas, naquele dia, Misheru percebeu que seu corpo estava mais fraco. Era como se ele estivesse mais leve, uma sensação estranha que o deixava inquieto. Ele sabia que precisava treinar, reforçar seu corpo, mas o cansaço o dominava.
Misheru, com a mente clara, sabia que seu corpo precisava se adaptar ao poder que havia usado. Assim que sua mãe adotiva deixava o quarto, ele retomava seu treinamento, determinado a reforçar sua força física.
Misheru soltou um suspiro profundo e se ergueu do chão, os músculos ainda doloridos do treino. Terminando a sessão extenuante, ele se dirigiu à porta do quarto, os passos pesados ecoando pela casa. Ao descer as escadas, a visão de seus pais realizando suas rotinas matinais o encontrou. Sua mãe adotiva, ao avistá-lo em pé, interrompeu seus movimentos com um gesto apressado.
— Misheru, o que está fazendo de pé? Você precisa descansar! — sua voz carregava a preocupação genuína de uma mãe.
— Não se preocupe, mãe. Estou bem. Preciso sair para me recuperar, não é? — respondeu Misheru, a voz firme, mas com um toque de cansaço. Seu pai adotivo, aproximando-se, colocou uma mão sobre o ombro da esposa.
— Querida, lembra quando o Misheru era criança? Por um milagre, ele se recuperou depois de cair do segundo andar da casa com o Issei. Uma briga por causa do sonho do Issei, se não me engano. — ele disse, os olhos brilhando ao recordar o passado. Misheru, ao ouvir a história, assentiu com a cabeça, a lembrança do dia gravando-se em sua mente.
— Ah, aquele dia... Foi horrível. Para proteger o Issei da queda, tive que usar meu corpo como escudo. — Misheru confessou, a voz carregada de uma dor antiga. A mãe adotiva, relembrando a cena, sentiu um aperto no coração, a culpa a consumindo.
— Eu deveria ter estado lá. Deveria ter impedido aquela cena horrível de acontecer. — ela disse, a voz embargada pela tristeza.
— Não se preocupe, mãe. O mais importante é que eu e o Issei estamos bem. — Misheru respondeu, a voz suave, reconfortando a mãe. O pai adotivo, abraçando a esposa, concordou com a cabeça, o olhar carinhoso para o filho.
— Então, posso sair para me recuperar? — Misheru questionou, a voz carregada de esperança. Seus pais, após um olhar compreensivo, cederam. Com um leve aceno de cabeça, Misheru saiu de casa, seus passos firmes o levando em direção à praça, o destino que ele havia traçado para sua recuperação.
A brisa fresca da manhã acariciou seu rosto, enquanto Misheru caminhava pela rua tranquila. Os raios de sol, ainda tímidos, iluminavam a praça, onde as árvores se espreguiçavam de forma graciosa. Ao se aproximar, Misheru percebeu um grupo de crianças brincando na fonte, a água cristalina espalhando gotas luminosas em torno do local. Ele sorriu, lembrando-se de sua infância e de como adorava brincar na água da fonte com seus amigos.
A paz e a tranquilidade da praça o invadiram, levando-o a refletir sobre seu passado, sobre os desafios que enfrentou e sobre a jornada que o levara até aquele momento. Misheru se sentou em um banco próximo à fonte, observando as crianças brincarem, seus rostos cheios de alegria e inocência. Ele sabia que ainda tinha um longo caminho a percorrer, mas aquela paz interior, a sensação de que estava no caminho certo, o deixou tranquilo e esperançoso.
A brisa acariciou seu rosto novamente, levando o perfume das flores da praça até seu olfato. Misheru inspirou profundamente, sentindo a energia da natureza o invadir. Ele sabia que aquela tranquilidade não duraria para sempre, mas aqueles momentos de paz eram essenciais.