"O que foi? Algum problema?", perguntou com um olhar perspicaz, me observando de perto.
Enquanto seu corpo se inclinava para frente.
Se tivesse alguma coisa até animaria, mas era reta como uma tábua, além de eu não fazer a mínima ideia de qual era o seu sexo.
"Não, só fiquei na dúvida." Levantei e tirei a areia da parte de trás da calça. "Você disse que nossos sentidos vão ficar mais apurados?"
Seria algo como um RPG? Talvez ganhasse mais força ou quem sabe até alguns poderes?
"Pelo que o Azzy me disse, escravos betas podem ganhar até três habilidades."
Beta? Logo eu, o maior alfa dessa cidade, o carioca que, só de abrir a boca, já faz toda e qualquer mulher ficar molhadinha.
Nem em um milhão de anos ficaria sendo um beta; já bastava ser escravo.
"Beleza! Agora animei a achar aquela maldita coleira."
"O objeto que você tem que achar é uma coleira? Então você não deve conseguir muitas habilidades", disse ela com uma cara de boba.
"Como é que é? Fala sério."
Cada vez mais a xana da rainha estava dificultando a minha vida. Não sei se isso é algo positivo ou negativo.
"Sam, além desses dois lanches, existem outros?"
Como ela tinha mais informações, seria bom retirar o máximo possível. Quem sabe até saberia mais sobre a rainha ou sobre como funciona o Hell's Burger.
"Azzy comentou que depende de cada pessoa e do seu vício", enquanto desenhava na areia. "Veja só. Esse aqui é você."
"Certo."
"Quando você pediu o lanche, é certo que você faria algo relacionado ao seu vício no mesmo dia", desenhou uma seta apontando para o hambúrguer e outra para a palavra vício.
"Saquei."
Então, a minha punhetinha da madrugada já havia determinado o lanche disponível que eu escolheria.
"Existem diversos vícios e para cada um tem um lanche específico", enquanto enumerava outros na areia.
"1. Vício em álcool", escrevendo o número e desenhando uma garrafa na areia. "2. Vício em comida", desenhando uma bola com cabelo comprido.
Acredito que deveria ser uma gorda ou uma famosa obesa que não lembrava o nome.
"3. Vício em se machucar", desenhou um círculo com uma franja no rosto.
"Caramba! São muitos lanches."
"Exatamente! Listei só alguns, então existe uma grande variedade que desconheço", disse Sam enquanto levantava e limpava as mãos.
"Sam, e o seu vício?", estava curioso para saber que tipo de pessoa ela era ou que tipo de vício teria.
A princípio, desviou o olhar, o que acendeu ainda mais a minha vontade de descobrir.
"Ok. Estamos nessa merda de lugar e precisamos nos conhecer e tentar buscar uma maneira de sairmos daqui logo."
Forcei uma confiança, porque geralmente as pessoas tendem a compartilhar algo que seja embaraçoso se você fizer isso primeiro.
"Acredito que o maior motivo da escolha do meu lanche é o fato de eu ser um tarado por vídeos pornográficos."
Estufei meu peito para passar a impressão de que não tinha vergonha de admitir aquilo, mas sabia que era algo humilhante.
Achei melhor não abrir totalmente o jogo, então falei só a parte leve do meu vício.
"Mas não são qualquer vídeos, são aqueles em público", disse com um sorriso de orelha a orelha.
Acho que exagerei um pouco, mas foda-se.
"Sabe, né? Biblioteca, shopping, lojas, escada rolante, praia... são os melhores."
Sam, olhando com uma cara de total desprezo, suspirou, fechou os olhos e...
Mostrou seus pulsos; naquele momento, vi inúmeros cortes horizontais. Além disso, também levantou um pouco a sua blusa, onde tinha mais cortes.
Não consegui identificar se ela usava um sutiã, mas se fosse um garoto teria levantado mais.
"Entendi. Você tinha pressa de sair daqui", disse, um pouco sem jeito.
Era a primeira vez que conversava com uma suicida.
"Sim, mas nunca tive sucesso", enquanto forçava um sorriso, disse Sam.
"Acho que é porque você cortou na horizontal... dizem que para ter sucesso é na vertical."
Foi uma informação inútil que havia ficado na minha cabeça depois de assistir a uma daquelas séries de adolescentes revoltados na Viflix.
Olhando para mim com uma cara de "fala sério".
"Puta que pariu! Como não pensei nisso", com as duas mãos tampando o rosto vermelho.
Não sabia se era uma tapada por tentar se matar ou por nem saber como fazer isso direito.
Algo me incomodava: Sam havia me dito que já estava aqui fazia três dias. Acho meio improvável alguém sobreviver nesse lugar por tanto tempo.
A não ser que o tempo aqui passe diferente? Mas mesmo assim não seria algo fácil...
No pouco tempo que estou aqui, já me sinto esgotado e com uma puta sede, sem falar desse clima bizarro. Em uma certa altura, parece que a temperatura varia e alterna entre quente e frio.
"Carlos, pega aí", estendendo a mão e me entregando uma garrafa de água.
"Valeu, Sam." A água estava quente, mas para quem estava com sede não era um problema. "Mas espera aí. Como você tem isso com você?"
"Ah, o Azzy me deu alguns itens para facilitar a minha procura."
"Cacete! Te falar, viu... é..."
Antes mesmo de conseguir terminar de falar...
Um barulho estridente e agonizante veio de longe, o que fez todo o meu corpo entrar em choque, dos meus músculos até os ossos. Tentei dar alguns passos para trás, mas meu corpo não respondia.
Agarrando meu braço e me puxando, Sam começou a correr; parecia que ela sabia o que era aquilo.
"Droga! Nasceu outro", disse enquanto corria me puxando.
Como assim "nasceu outro"? Do que estava falando...
"Não podemos ficar aqui, devemos ir para a floresta; lá tem um esconderijo."
''Floresta?''
Como assim? Não fazia a menor ideia se os gritos bizarros teriam afetado a cabeça da Sam para tentar achar algo impossível em uma caixa de cinzeiro como essa.
Me puxando forte e colocando à prova o meu cardio de sedentário, o que não é uma boa ideia com as minhas pernas fracas e cansadas, acabei dando um passo errado e fui caindo em cima da Sam.
Ambos saímos escorregando por uma duna gigante de areia...
"Droga! Estou com areia até no cu agora", enquanto me levantava e tirava areia dos lugares indesejados.
Quando olhei para frente...aquela silhueta bizarra estava diante de nós.
...Continua