Chegamos ao quinto dia, e eu passei o dia inteiro consumindo energia de demônios. Apesar de não precisar, não simulei o ato de dormir todas as noites, já que não sinto sono. Sentado aqui, comecei a me arrepender de ter consumido tanto. Nunca imaginei que precisaria fazer isso novamente nesta vida. Já se passou uma hora e parece não haver fim à vista.
A cada retirada, um sentimento de arrependimento crescia dentro de mim, apesar dos bons resultados que estava obtendo. Se soubesse que teria que passar por isso, nem mesmo teria tentado.
— Uuuuuulllhhhhiiiaaaaaa!
Sentado ali, exasperado, me perguntava por que isso tinha que acontecer comigo. As gotas de água que continuavam a salpicar meu corpo eram extremamente irritantes. Mesmo quando achava que o tormento havia acabado, a sensação de aperto voltava a me atingir, como se não houvesse escapatória.
— Izumi, você está bem? — disse enquanto estava atrás da porta. — Precisa de alguma coisa?
— Vá… Embora, uuuulhiaaaa!
— Eu vou entrar!
— Não entre!!! — em desespero, gritei.
— Tem certeza?
— Sim.
— Ok, então.
Imaginar ela me vendo em uma situação constrangedora como essa era simplesmente insuportável. Preferiria mil vezes a morte a permitir que isso acontecesse.
Felizmente, eu já estava conseguindo fazer minha energia negativa fluir dentro de mim, ainda que com pouca eficiência. Se eu passasse mais um dia treinando, talvez conseguisse extrair mais sem precisar consumi-la. Prometi a mim mesmo que nunca mais colocaria qualquer comida na boca se isso me deixasse tão vulnerável. Era um pesadelo do qual desejava acordar.
Depois de meia hora, a tormenta finalmente cessou, e senti um alívio indescritível. Era como se tivesse saído do inferno e alcançado o paraíso. A única parte boa disso tudo era esse alívio, mas definitivamente não valia o sofrimento pelo qual passei.
Assim que tudo terminou, abri a porta e saí. Caminhei até o quarto e lá estava Ui, sentada na beira da cama. Ao me ver se aproximar, ela se levantou.
— Finalmente saiu. Alguma coisa aconteceu? — disse e depois começou a checar algo com um olhar de dúvida. — Izumi, você cagou?
— Não.
Eu não sabia o que fazer além de negar. Lá, no fundo, eu sabia que ela acabaria notando. Eu estava sofrendo intensamente com aquele cheiro penetrante, e como meu olfato era mais sensível que o normal, tudo se tornava ainda mais insuportável.
— Mas esse cheiro, é de quem cagou algo muito forte. — Olhou nos meus olhos com uma expressão séria e perguntou, em um tom que denotava preocupação: — Izumi, você estava com diarreia?
— Esqueça isso, eu não faço essas coisas que estás me acusando.
— Huuummm! Sei. — se dirigiu ao banheiro e pronunciou: — Izumi, alguém cagou aqui sim. E daquelas.
Porque ela insiste em me humilhar, ela não gosta de mim?
Voltou para o quarto e me olhou com um misto de tristeza e fúria evidente em seu olhar. Seus olhos percorreram o ambiente com uma expressão decepcionada, e após um momento de reflexão, finalmente perguntou:
— Onde?… Quem foi?
— Hum?
Lágrimas começaram a escorrer dos seus olhos, e eu estava confuso sobre o que estava acontecendo ali.
— Quem é ela?
— Ela?
— Quem é a mulher que te encheu de comida?!
— Mulher? Do que estás falando?
Ouvindo minha resposta, se afastou e foi se sentar na beira da cama, com as mãos cruzadas, virando as costas para mim. Eu não sabia o que havia feito de errado, mas isso não importava naquele momento. Se isso fosse fazê-la me deixar em paz, então eu aceitaria.
Peguei minhas espadas e comecei a sair de casa, mas de repente ela me abraçou por trás. Pude sentir suas lágrimas molhando minha roupa; claramente estava sofrendo com alguma coisa.
— Por favor, não me abandone de novo.
Não sabia do que ela estava falando, e aquilo não fazia sentido. Eu nunca cheguei a abandoná-la, pois essa mulher não fazia parte de mim. Naquela ocasião, não foi abandono, mas sim um livramento que não deu certo. Ou talvez alguém no passado a tivesse abandonado, como aquele humano que retornou. Mas para mim, tanto fazia.
Continuei andando, mas ela não me largava. Inconformado com aquilo, perguntei:
— O que você quer?
— Não me abandone, eu posso ser a segunda, mas não me abandone — falou enquanto as lágrimas aumentavam.
— Segunda? Do que você está falando?
— Você arranjou outra mulher, não é?
— Mulher, você está maluca? És a única que fica pegando no meu pé.
— Hum, mas e a comida?
— Que comida? Eu não comi nada.
— Mas, como você cagou?
— Eu já disse que não fui eu.
Com vergonha de uma possível humilhação, forcei Ui a me soltar e usei minha velocidade para fugir, enquanto ela gritava meu nome alto em agonia. Não entendia o que havia acontecido naquele dia, para ficar pegando no meu pé por algo que não fiz.
Continuando meu treinamento fora da cidade, avistei um demônio. Dessa vez, decidi não os consumir, mas sim tentar extrair. Ainda não conseguia extrair a minha própria, mas sentia que seria mais fácil extrair a deles.
Mobilizei o demônio e tentei, mas sem êxito. Era mais difícil do que imaginei. Decidi pegar um mais forte, mas mesmo assim não tive sucesso. Comecei a ficar frustrado com isso. Sempre me considerei um gênio, e aprender as coisas, era facilmente o meu lema, mas ultimamente estava percebendo que talvez não fosse.
Adiando a extração de energia demoníaca, decidi praticar mais o controle da minha. Aproveitei o dia inteiro para treinar.
À medida que a noite caía, meu controle aumentava ainda mais. Sentia como se estivesse começando a compreender melhor meu próprio instinto. Primeiro, decidi usar meu Speed Iz, mas com menos potência desta vez.
No início, foi difícil, mas com o passar das horas, percebi que ele estava se enfraquecendo e, com isso, meu controle estava melhorando. Fiz vários testes com minhas outras habilidades e parecia funcionar quando eu reduzia sua potência, mas ainda não conseguia aumentá-la.
Já estava ficando tarde, então decidi voltar para casa e me deitar. Eu não precisava dormir, mas minha mãe sempre dizia que descansar faz bem, então quando estou na cidade, costumo deitar naquela cama que costumávamos compartilhar.
Chegando em casa, decidi tomar um banho. Já fazia dois dias que não tomava um, e embora não me importasse em ir dormir sujo, depois daquela situação que aconteceu hoje cedo, achei que seria melhor me limpar.
Após o banho, vesti um pijama que era da minha mãe. Eu parecia uma mulher vestindo aquilo, mas não me importei. Era reconfortante usar algo que me lembrava dela.
Ui já estava deitada ao lado esquerdo da cama, algo incomum, pois geralmente ficava acordada me esperando.
Deitei-me na cama e virei para o lado oposto, perdido em pensamentos. Quando eu retirasse a energia negativa daquela mulher, o que aconteceria? Seria sua morte o resultado? Não conseguia dizer ao certo, mas sentia um estranho interesse em saber o que ela diria em sua defesa. Pediria desculpas ou tentaria me matar como antes? Gostaria que tentasse, pois talvez assim não sentiria tanto o peso de ter feito algo errado.
Continuando a refletir, Ui, de repente, me agarrou por trás e me mordeu. Não entendia muito bem o motivo, mas era evidente que estava furiosa comigo por ter fugido naquela manhã.
— Mentiroso. Eu te amei tanto, por quê? — disse e continuou: — Porque não dizes nada! — Dessa vez, elevou bastante o tom de voz.
— …
— Izumi, você não me ama? — sussurrou bem devagar com uma voz deprimida.
Não sei de onde tirou essa ideia de que eu deveria amá-la. Não há espaço para esse sentimento em mim. A única pessoa que amei e amo na vida foi a minha mãe, e não há lugar para mais ninguém em meu coração contaminado por vocês.
— Diga alguma coisa… Izumi.
Ignorei-a enquanto continuava me perturbando com suas perguntas. Percebendo que eu não estava respondendo, eventualmente desistiu, e pude ouvi-la chorar baixinho durante toda a noite. Para mim, a única coisa que importava era protegê-la; seus sentimentos não tinham importância para mim.
Na manhã do sexto dia, ela ainda estava na cama, visivelmente triste. Eu me preparei mentalmente; hoje seria o dia em que com certeza conseguiria extrair energia demoníaca.