(...)
Charlotte
Às vezes, fico maravilhada com a velocidade com que os seres humanos alteram suas opiniões. Há apenas algumas horas, eu era a arqui-inimiga de Dion, mas agora sou a pessoa pela qual ele suplicava para permanecer e prometia proteger.
Se optar por ficar com Dylan, ele estará fadado a uma existência de fuga daqueles que almejam a minha morte. Não posso permitir que ele enfrente um futuro assim.
Procuro entender essa atração avassaladora que senti por ele desde o instante em que trocamos palavras. Me entreguei aos braços de um homem que mal conhecia, e não lamento.
Entretanto, tudo se desfaz tão rapidamente quanto se originou. Talvez o destino tenha cruzado Dylan em meu caminho para me lembrar de que os humanos não vivem isolados por muito tempo, ou talvez esteja provando que eu nunca poderei encontrar a felicidade sendo quem sou.
Saio do açougue, consulto o mapa no tablet e lanço um último olhar para trás, avistando Dion parado no corredor. Começo a correr em direção aos adolescentes que se escondem. Mais tarde, chego ao prédio e estranhos a ausência de zumbis pelo caminho.
Algo não está certo!
Adentro o prédio, subo as escadas apressadamente em direção ao segundo andar. Ao chegar lá, me dirijo ao local onde os adolescentes estão escondidos e bato na porta.
"Sou Zero! Estou aqui para levá-los de volta às suas famílias," - digo em um tom elevado. - "Por gentileza, podem abrir a porta?" - Ouço barulhos vindos de dentro do cômodo e, após alguns minutos, a porta se abre, e uma garota me abraça.
"Graças a Deus!"
"Alguém está ferido, mordido ou morto?"
"Estamos bem," - responde, soltando-me. - "Você está segura," diz, e mais adolescentes aparecem. - "Só você veio nos resgatar?"
"Há uma equipe a algumas quadras daqui. Vou conduzi-los até eles."
"Você derrotou os zumbis que estavam na frente do prédio?"
"Não havia zumbis. Portanto, é melhor irmos, antes que eles regressem," - digo, e todos concordam. Começo a andar, e minutos depois saímos do prédio. - "Está tudo em silêncio, onde estarão os zumbis?" - Reflito, sentindo um mau pressentimento. - "Precisamos correr," - digo, iniciando uma corrida, e eles fazem o mesmo. Após algum tempo, chegamos ao açougue. - "Dion," - chamo ao entrar e me dirijo ao frigorífico. Não há ninguém. - "Droga!" - Exclamo, ouço um miado, sigo o som e, em segundos, abro uma porta. Vejo Dylan no chão e Maria sentada com o bebê nos braços. - "O que aconteceu? Onde estão todos?"
"Levaram-nos," - diz ela, e soco a parede. - "O que você fará?"
"Você fica aqui e cuida do Dylan. Eu irei resgatar os outros," - digo, olhando para os adolescentes. - "Vocês sabem usar armas?"
"Frequento um clube de tiro," - diz o garoto, e entrego uma arma a ele.
"Atire em qualquer coisa que não esteja viva, entendeu?"
"Entendi," - responde. Vou até Dylan, toco seu rosto, sinto sua pele quente e me sinto aliviada. - "Prometo que trarei seu irmão de volta," - afirmo e me levanto. - "Feche a porta." - Saio, começo a correr em direção ao shopping. Algum tempo depois, avisto vários zumbis. - "JACOB!" - Grito seu nome, e os zumbis se afastam. Entro no shopping, dirijo-me à praça de alimentação, onde os vejo ajoelhados.
"Charlotte," - Dion diz meu nome, e vou até ele.
"Você está bem?" - Pergunto, segurando seu rosto. Ele balança a cabeça negativamente. - "Preciso tirá-los daqui," - digo, ouvindo palmas.
"Primeiro o zumbi domesticado e agora o humano," - uma voz masculina comenta.
"Jacob," - digo ao vê-lo entrar na praça de alimentação. - "Deixe-os ir. É a mim que você deseja," - digo ao me aproximar, e fico chocada com sua aparência.
"Você continua a mesma, enquanto eu, sofri algumas mudanças," - diz ele, tocando meu rosto.
"Estou aqui. Agora solte-os."
"Nem vai querer saber por que te quero tanto?"
"Você deseja criar uma nova raça, mas seus filhos nascem mortos ou morrem meses depois. Mas comigo, poderá ter uma linhagem mais forte e superior," - respondo, e ele agarra minha cintura. - "Não há necessidade de mantê-los aqui, deixem-nos ir, e prometo que serei sua para sempre."
"Não faça isso, Charlotte," - Dion diz, Jacob me solta e chuta ele.
"Não o machuque," - digo, posicionando-me ao lado de Dion. - "Você já tem o que deseja," - digo, encarando Jacob.
"Esse humano é tão significativo para você se render a mim?" - Pergunta, rindo. - "Nikolas ficaria desapontado."
"Não importa. Deixe-os ir," - digo, ajudando Dion a se levantar. - "Posso oferecer o que você tanto anseia, mas para isso, deve permitir que eles saiam deste lugar infernal."
"Já que insiste," - diz, zumbis agarram os braços deles. - "Meus servos os acompanharão até a saída."
"Quem garante que você cumprirá sua palavra?" - pergunto, ele não responde. - "Vou junto."
"Acha que sou idiota?"
"Diferente de você, cumprimento minhas promessas. Mas se não acredita em mim, venha junto."
"Farei isso," - diz ele, começando a andar, e solto Dion.
"Você enlouqueceu?" - Pergunta, bravo. Não respondo, continuo a andar. - "Charlotte."
"Sem enrolação. Quanto mais rápido esses humanos forem embora, mais cedo terei você gritando de prazer."
"Nem pensar que vou permitir que isso aconteça," - Dion diz, irado.
"Basta, Dion," - digo, tocando seu braço. - "Está tudo bem," - retomo a caminhada, e minutos depois, saímos do shopping.
"Não está tudo bem. Pense em Dylan, como ele se sentirá?"
"Ele não sentirá nada, pois não terá lembranças de mim," - digo, e ele silencia. Encerramos a conversa e seguimos o caminho em silêncio. Quando nos aproximamos do açougue, paro. - "Entre em contato com seus superiores e informe que já resgataram os adolescentes," - digo a Dion, que entra no açougue, e começo a soltar os outros.
"Obrigada por nos salvar," - Mika agradece, me abraçando. - "Mas você tem certeza de que ficará bem?"
"Sou resistente," - respondo, soltando-a. - "Posso me despedir dos meus amigos?" - Pergunto a Jacob.
"Vá em frente, mas não demore," - ele responde. Entro no açougue e vou até Dylan. - "Vocês voltarão para casa," - digo aos adolescentes, agacho e beijo a testa de Dylan. - "Espero que encontre uma mulher que te faça muito feliz."
"Você não precisa fazer isso, Zero," - Mika diz, ignorando-a.
"Fazer o quê?" - Pergunta Maria.
"Ela fez uma troca. Voltaremos ao país único, desde que Charlotte pertença ao alfa," - Dion responde ao entrar na sala.
"Meu Deus," - Maria exclama e me abraça. - "Não faça isso, Jacob é um psicopata."
"Já está definido," - digo, e ela fica paralisada. - "Espero que tenha uma nova vida repleta de alegrias," - digo a Maria. - "Foi bom trabalhar com vocês, adeus." - Saio, e meu braço é agarrado, vejo Dion.
"Podemos matar todos."
"Estamos cercados. Se eliminarmos o alfa deles, não sairemos vivos daqui."
"Então você vai ficar parada e aceitar ser daquela criatura?" - Pergunta, segurando meus ombros.
"Estou fazendo isso para que vocês saiam vivos daqui."
"Pare de se sacrificar por pessoas que você nem conhece," - ele me chacoalha e depois repousa a cabeça em meu ombro. - "Não faça isso, eu imploro."
"Ei," - seguro seu rosto. - "Onde está o comandante rabugento e amargurado que sempre despejava seu ódio em mim?"
"Ele reconheceu que você não é um monstro nem culpada."
"Não é da sua conta implorar, americano," - digo, soltando seu rosto. - "Eu não farei nada, mas você fará."
"Como assim?"
"Sabemos onde é o ninho deles. Então diga aos seus superiores que enviem um caça e lancem uma bomba no shopping."
"Você também morrerá."
"Prefiro morrer a deixar um morto-vivo tocar meu corpo. Já vivi tempo demais e estou cansada, então faça isso por mim, Dion."
"Como posso olhar para o meu irmão sabendo que matei a mulher que ele ama?"
"Me matar sempre foi sua missão. Então está tudo bem," - digo, e ele balança a cabeça negativamente. - "Pare de ser covarde. Você tem todas as armas para destruir este lugar infernal e mandar os zumbis para o chão, então pare de se preocupar comigo e faça o que estou mandando," - digo, irritada, e ele fica paralisado. - "Por favor, Dion."
"Vou pensar em uma maneira de te salvar," - ele se afasta. - "Não farei o que está me pedindo."
"Gostava mais de você quando me odiava," - digo, irritada, viro as costas e começo a andar.
"Prometo que irei te salvar, então aguarde um pouco," - diz ele, e eu ignoro, saio e ouço um helicóptero.
"Adeus, Dylan," - pensei.