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82.05% Coroa de Brandon - [PT-BR] / Chapter 32: 4.4

Capítulo 32: 4.4

"Uh? Ele me é familiar…" James sussurrou, estreitando os olhos um pouco enquanto olhava para o homem na lateral, o qual acabou de agradecer o rei.

Brandon encarou o garoto. "Ele é o cara com quem esbarrei em nosso tour." 

"Ah!" James exclamou baixo. "Ele é o cara que me deixou todo arrepiado. E pensar que ele era o Grão-Duque Noir e um Celestia…" 

'Não é de se admirar que senti frio.' James pensou.

Os poderes de escuridão do Grão-Duque Noir são conhecidos por todo o império e, assim como os elementos naturais em Celestias, eles passam uma atmosfera, uma sensação, para quem o sente de acordo com a energia que emana. E a energia da escuridão é fria, o bastante para que em pleno sol eles sentissem frio. Além da pressão silenciosamente imposta tanto pelo nobre quanto naturalmente.

James olhou para Brandon, lembrando que ele havia esbarrado com o homem infame. Um medo se instalou em seu peito, por causa das histórias que o rondam. Ele não queria perder seu amado irmão.

'Nós tivemos sorte de ele não ter se importado.' 

"Também estou surpreso." Brandon comentou, dizendo a verdade. Ele estava impressionado.

Descartando o fato de que um homem tão bonito quanto o Grão-Duque não se vê todo o dia, ele ainda é um nobre único em todo o império e um abençoado pelos Deuses. Seja um homem de seu status, trabalho ou beleza, não é possível imaginar que se encontraria com ele na rua em apenas um esbarrão enquanto estava passeando pela capital. Isso pode ser dito como sorte ou azar, dependendo de se desenvolvesse.

Ele só tem a dizer que teve sorte em ver pelo menos uma de perto. Os humanos eram criaturas que perseguem a beleza, afinal, é impossível não ter sido atraído pela admiração ao vislumbrar tal visão que entra de acordo com sua estética.

'Embora eu ainda goste do bastardo do Phillip, devo dizer que aquele rosto fez meu coração parar uma batida.'

Era uma verdade que ele admitia com um pouco de pesar, porque mesmo que negasse, não deixaria de ser verdade.

Os músicos começaram a tocar novamente, dando início ao terceiro principal premiado que entraria pelas portas do salão principal. Os nobres rapidamente ficaram quietos, mas era possível ver um ou outro fofocando baixo em conversas enquanto esperavam o terceiro convidado.

"Um mercenário que estava sob o comando de um nobre de nosso império e que graças a ele conseguimos com sucesso deter um dos pilares de Torzik. Um Celestia do atributo de vento que dizem ter feito furacões com suas mãos. Ele é de origem plebeia e possui um grande poder, a nova estrela recém descoberta, Kai Samir!" O cerimonialista gritou alto no final da apresentação.

Novamente, um homem foi revelado quando as portas se abriram e, como nas outras vezes, houve suspiros de damas e a atenção dos nobres, porém, diferente dos outros, esse foi acompanhado de muito mais intensidade, por ser de alguém que nunca tinham ouvido falar. O mercenário Kai Samir, o recém descoberto Celestia, é uma pessoa misteriosa que quase todos ali querem saber como é, por isso os olhos de muitos nobres eram recheados de ganância para ele e vontade de atraí-lo para seu lado. Se a facção ou o nobre que puder fazer amizade com tal Celestia, seu poder e influência no império aumentaria em outro nível apenas por tê-lo como aliado.

Claro, o homem não se importava com nada disso.

Seus cabelos ruivos, em tons mais escuros que os de Brandon, brilhavam em meio ao que entrava pelas janelas e o tornavam mais brilhante. Sua pele dourada perfeita ganhava um realce em plena iluminação e seus olhos vermelhos pareciam pedras preciosas para quem os visse, tamanha era a luz que podia se ver nelas. Acompanhados de todas essas características estavam um sorriso rebelde, que não escondia a arrogância e grosseria de um mercenário, e um rosto do mesmo tipo que seu sorriso — revoltoso, insubordinado, rude e desobediente, cheio de juventude e vitalidade, com traços masculinos, mas também delicados.

De qualquer forma, ele era bonito, semelhante à Ferion. Talvez a regra para os Celestias era ter aparência bonita para atrair a atenção dos Deuses, no fim das contas.

O mercenário parecia mais jovem do que realmente era, com seus vinte seis anos, ele com certeza viveu muitas coisas e vivenciou muitos conflitos, então, com certeza estava ciente de todos os tipos de olhares que caíam sobre ele. Toda essa atenção para ele não era nada comparado à pressão da intenção de matar de outro Celestia ou a situação de vida ou morte que sentiu centenas de vezes no campo de batalha. Mas não o impedia de enojar alguns olhares gananciosos que pareciam em seu corpo e de não gostar de tudo isso.

Ele só estava participando de tal cerimônia, porque como um cidadão do império, ele tem completa e total ciência do que era a Celebração da Vitória e do que é possível ganhar caso participe. É um lugar que lhe trará honra e prestígio, mas não é algo que queira. Seu principal desejo é o prêmio em ouro que ganhará. 

Kai tinha um lema: dinheiro é sinônimo de felicidade, mas não é ela. Seu significado será levado por toda a vida.

Por ser de origem pobre, plebeu e órfão, o dinheiro é visto como algo muito valioso que pode permitir conforto e liberdade. O orfanato que ele viveu toda sua vida até se tornar mercenário estava em uma vila rural próxima do oceano e vivia do comércio e do turismo, no entanto, isso não impedia o orfanato passar dificuldades devido às baixas doações e o orçamento feito pelo prefeito, então desde jovens as crianças que viviam ali tiveram que trabalhar, e ele não era diferente. 

O Celestia mercenário tornou-se mercenário durante sua adolescência, assim que atingiu a idade mínima permitida pelo império, que é catorze anos. E desde então, pelo menos parte dos lucros são enviados para o orfanato em que viveu, como forma de recompensar por cuidarem dele e também para aliviar o fardo da diretora que cuidava das crianças com muito amor e carinho.

Assim, tal lema, frente às dificuldades que viveu, era algo óbvio. O dinheiro para si era algo bom e poderia facilitar muito sua vida e daqueles com quem se importa. No entanto, ele ainda preza seus relacionamentos e as pessoas, mas não deixa de gostar do capital. 

A atenção de Kai focou-se no homem parado em pé no final do caminho que estava percorrendo no tapete vermelho no centro do salão. Ele era mais alto que ele, mais musculoso que ele e mais feroz que ele. Só de relance ele sabia que o homem ali era o imperador, sequer precisava estar com a coroa dourada em sua cabeça ou estar no lugar que o chefe do império deveria estar, apenas a presença dele era o suficiente para denunciar quem ele era.

Ele tinha que admitir, o homem era seu eu ideal. Ele não gostava muito do seu rosto que ainda possuía aparência jovem e pouquíssimo delicado, já que era um mercenário. Pelo menos ele passava uma aura rebelde que era expressa em sua face e tinha traços mais masculinos e marcantes, apenas poucas áreas o deixam insatisfeito.

Ele ajoelhou-se em frente ao imperador da mesma maneira que os outros dois que vieram antes. Seu olhar estava para o chão, ignorando todos que estavam sobre si, mas tentando o mais forte de todos, o do homem com a coroa à sua frente. 

"Kai Samir, seus esforços na guerra contra Torzik foram muito comentados por todos os soldados e a história se espalhou pelo império. Sua luta contra um dos quatro Celestias, Hazel Ilas, foi essencial para a conquista da capital, Glarus. Por isso, como prêmio por suas contribuições, lhe darei cem mil ouros, uma propriedade em nome da família imperial na capital e um título de cavaleiro."

O imperador falou e todos ansiavam por mais palavras. O público não tinha certeza se teria mais, pois na premiação do Grão-Duque não houve, mas a expectativa não deixava de subir. 

E o imperador não os decepcionou.

"Além disso, se concordar, proponho um casamento entre minha primeira filha, a Princesa Elise, como forma de conexões entre nós."

O mercenário nada disse. Ele ficou em silêncio remoendo as palavras após o término delas e não pôde deixar de xingar em sua mente mil vezes. O outro poderia ser um imperador, um governante de um país, mas isso não mudava a forma como ele estava vendo a situação que estava sendo empurrado.

'Filho da puta, você está me fazendo aceitar a proposta com a pressão do público, não é? Desgraçado.'

Kai também tinha ouvido os rumores e como não podia entender o que o imperador queria fazer? Mesmo que não fosse sua intenção, um homem que está no poder há anos deveria saber as consequências e o cenário de fazer uma proposta assim. Ele queria fazê-lo aceitar a proposta de noivado com a família imperial usando o público como pressão e para ver se ele iria o envergonhar, para que não tivesse escolha a não ser negar.

Ele não poderia dizer que não entendia, o fato de que um Celestia recém descoberto e que não se sabe muito sobre ele apareceu em seu país, é óbvio que deve ser cauteloso. Mas o outro ousou fazer isso a ele, sendo imoral, ele estava com um pouco de raiva.

Claro, a realidade não é como Kai pensa. A oferta de casamento entre a família imperial e um Celestia na premiação era algo com precedente e, até pode-se dizer, comum, sendo as mãos tanto de príncipes quanto as de princesas ofertadas, mas não era um fato tão conhecido. Isso tinha o propósito não de forçá-los, mas de mostrar o reconhecimento por suas ações. 

E o imperador não era tão mesquinho a ponto de fazer isso, pois, se ele quisesse, bastava usar outros métodos que seriam bem mais eficazes em forçar alguém a querer ficar noivo de sua filha.

"Desculpe, Sua Majestade. Mas eu recuso." Ele disse, em uma voz clara.

Em vez das conversas estourarem entre o público, ninguém ousou falar nada. Era a primeira vez que viam alguém que recusaria uma proposta dessas, de se ter uma conexão direta com a família imperial. Quantos nobres morreriam por ter a chance de se tornarem candidatos a ganhar a proposta, e ainda mais por serem eles, mas o homem a quem recebe recusa sem nem hesitar. Isso obviamente chocou a todos e ninguém saberia a reação do imperador.

A princesa Elise, aquela que tem sua mão proposta, estava surpresa também pelo fato do mercenário ter se recusado a se casar com ela. Ainda que o cenário da recusa fosse bom para ela, não deixava-a menos surpresa, e perguntava-se porque ninguém se casaria com ela. Não que tivesse expectativa quanto a Cédric, sempre soube que ele não a amaria, mas não podia deixar de sonhar. Ele era seu amor de infância e seu primeiro amor, aquele por quem se apaixonou à primeira vista assim que o conheceu em uma visita ao palácio. E devido ao fato de terem se conhecido há tanto tempo, ela tinha uma ideia clara de como era a personalidade dele, por isso não tinha esperanças.

Além disso, ela era da família imperial, a realeza, uma princesa, seu status não permite que ela se apaixone e se case com qualquer um que ela goste. Se ele for um nobre de alto escalão ou for vantajoso para o império em forma de aliança, ela deve fazer o seu sacrifício. Isso é o que o futuro reserva como não-herdeira do trono, assim como seus dois irmãos e irmãs.

Amor nunca foi uma opção no casamento real. Seus pais são um exemplo disso, embora tenham sido os mais responsáveis e respeitosos um com o outro. Por isso, estava preparada quando os rumores apareceram e seu pai pediu sua opinião na proposta de casamento.

Agora, até um mercenário recusa-se a casar com ela, embora seu status seja muito mais alto que o dele, não podia deixar de criar uma dúvida se o problema era ela, como não era atraente o suficiente?

"Tudo bem." O imperador disse, tão calmo, como se a recusa não afetasse seu orgulho. E realmente, não afetou.

"Obrigado, Sua Majestade." Kai falou, indo para junto dos outros dois Celestias.

Então, as conversas apareceram, com muitos questionando a recusa de uma proposta que é tão boa.

"Ele é louco? Por que recusar algo tão bom? É um noivado com a princesa Elise!"

"Ter uma conexão direta com a família imperial é algo que todo o nobre quer."

"Um Celestia é realmente um sortudo. As melhores coisas vão para eles. E ele ainda recusa."

Os nobres definitivamente não entendiam o porquê disso e criavam mil e uma teorias sobre o motivo da recusa. 

As damas que ouviram ficaram animadas por vê-lo recusar a proposta, dando esperanças para que elas possam ter uma chance, já que nenhuma delas tinha ousadia para chegarem perto do príncipe Aiden ou, principalmente, do Grão-Duque Noir, por terem um status muito maior que o delas e não serem fáceis de abordar. Um mercenário Celestia é bem mais fácil, muito embora ainda seja um abençoado pelos deuses e uma força a ser reconhecida por todo o império, é algo que vale a pena tentar.

Então, não foram só algumas que arrumaram seu cabelo, endireitaram seu vestido e olharam para Kai tentando chamar sua atenção, inutilmente. A determinação delas era grande e muitas iam abordá-lo depois da premiação.

A vez de Ferion demorou um tempo, com muitos outros generais e comandantes que apareceram depois da premiação de Kai e aumentaram os números de pessoas que tinham que ser premiadas. Não tinha mais o entusiasmo do início da premiação depois de ver as três principais figuras do evento, por isso, diminuiu muito o burburinho da parte dos nobres, com muitos com expressões neutras e calmas, mas seus familiares, principalmente algumas crianças, tinham cara de tédio ao ver tal cena se repetindo diversas vezes. Eles se sentem entediados de ver isso e ficar sentados por um longo tempo.

Ferion recebeu do imperador um prêmio de cinco mil ouros e uma medalha de honra de nível dois, trazendo prestígio para a casa Miller.

O Conde Miller não podia estar mais orgulhoso desse seu filho e herdeiro, sabendo que tinha feito uma boa escolha ao deixar o título e a propriedade para ele. O garoto que agia todo sério quando criança se tornou um homem responsável e forte, fazendo-o sentir, em muito tempo, a passagem do tempo ao notar que ele realmente o viu nascer e agora estava com vinte quatro anos. Um suspiro saiu de seus lábios com um sorriso contido, com um leve curvar de seus olhos, transbordando orgulho e carinho ao ver seu filho ajoelhado perante ao imperador. Ele estava ficando velho, mas se sentia um pouco em paz.

Ele olhou para o lado e viu seu segundo filho, Phillip, estando agora com mais de vinte anos e é o que mais estava lhe preocupando agora, mas também ficava contente com sua educação. Ele é um bom cavaleiro e só possui elogios de seus superiores, por isso apreciou-o. E o último é James, com apenas doze anos é o caçula, mas também sua esperteza o faz não se preocupar muito, ele sabe que o garoto vai crescer e se tornar um grande mago, mas queria que demorasse um pouco mais para isso.

Seus filhos estão crescendo e ele está criando cabelos brancos. Isso o faz sentir-se um pouco triste.

Uma mão passa para sua orelha, acariciando-a, e atraindo sua atenção para a dona dela. Sua esposa, Claire Miller, sua parceira e companheira em todos esses anos, estava o olhando com olhos carinhosos e sorriso grande, conhecedor, como se entendesse o que ele estava sentindo. Ela o conhece tão bem e também é mãe de seus meninos. Ele não duvidaria se ela soubesse exatamente o que estava pensando, pois ela sempre adivinhava com sucesso, nem que estivesse da mesma maneira. A orelha pega foi apertada levemente e o acalmou, abrindo um sorriso também em seu rosto adulto, arrancando um leve riso também, mesmo que não seja muito comum.

Ele ficou calmo, pois sabia que mesmo que envelhecesse, sua esposa estava ali para ele e eles para seus filhos.

O conde pegou as mãos de sua esposa, tão brancas e bem cuidadas como se fossem iguais às de vinte anos atrás e levou cada uma até seus lábios, beijando-as com carinho e suavemente. Seus olhos transbordavam de amor enquanto viam a cabeleira roxa tão familiar para si e o rosto gentil que vê todas as manhãs. Ele nunca amou e nunca amará como ama ela.

A condessa, em troca de ação, corou um pouco, como uma moça. Nunca estava acostumada com tais atos de seu marido, principalmente em público — não que fossem raros, mas ainda a deixava envergonhada.

Johannes vendo o amor de contos de fadas do conde e da condessa não pôde deixar de sentir um pouco de inveja, sabendo que o que eles tinham não era apenas algo lindo, mas também raro, não importa de onde e quando viesse. Ao longo de sua carreira de atriz, quando ainda trabalhava em um teatro, ela tinha visto muitos nobres que publicamente diziam amar suas esposas e ter o amor do século, mas nos bastidores engraçaram-se com mulheres e homens; um ambiente assim faz criar uma habilidade de distinguir a verdade da mentira, foi por isso que ela via que o que o casal tinha era verdadeiro e profundo.

Ela olhou para Phillip que estava ao seu lado e olhando para seu irmão ajoelhado com uma expressão ilegível, pensando em como tal filho veio de um casal que possui corações flutuando no ar à sua volta. Obviamente, ele diz amar Brandon, só que para ela não parece. Todo o teatro que ele quis fazer e ela concordou era apenas um meio de mascarar seu medo, mas isso, ela não tem direito de se intrometer.

James olhou para seus pais assim que tirou os olhos de seu irmão mais velho, mas ficou com uma expressão indescritível no rosto. Que criança gostaria de ver seus pais demonstrando afeto em público? Embora James goste deles e do quanto se amam, não significa que ele goste de ver. 

E Brandon, sorrindo vendo aquilo, pensando mais uma vez que gostaria de viver um amor como o deles.


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