Alexia recua um pouco para que ele se sinta mais seguro. Com um sorriso simpático, ela senta no chão e tenta ganhar sua confiança.
— Meu nome é Alexia e como é seu nome?
— Brayan. — ele fala amedrontado, se encolhendo no canto da parede. — O que quer comigo, senhora? — O pequeno menino encara os olhos de Alexia sem desviar.
Vendo o menino ali, ela sente uma vontade imensa de chorar. Alexia se tornou muito emotiva, e por alguma razão, ela não entendia essa necessidade de cuidar e proteger esse menino.
— Prazer, Brayan. Estou aqui porque vi vocês e fiquei preocupada. Não queria te assustar. Vocês moram aqui?
— Hãham. Às vezes ficamos no barracão da escola, lá não faz tanto frio.
— Sua mãe mora com você nas ruas desde quando?
— Ela não é minha mãe. Ela é muito má, me bate, faz roubar as carteiras das pessoas. Quem cuida de mim é a tia Lola.
— Onde está a tia Lola?
O menino olha para todos os lados e consegue enxergar de longe a bondosa jovem.
— Olha, ela ali.
Nesse momento, a barriguinha da criança ronca alto. Alexia olha para ele com o coração apertado.
— Você está com fome?
— Sim. — Ele sussura.
— Brayan, quando foi que você comeu?
— Eu não lembro, acho que faz muito tempo. Por que estou com muita fome.
Alexia sorri, mesmo com a tristeza eminente em seu olhar. A voz do pequeno menino é tão doce, que fez Alexia esquecer qualquer problema anterior.
— Você quer comer uma comida bem gostosa e quentinha?
— Está tarde, senhora. Não tem comida a essa hora.
— Espertinho. Se eu falar que vou fazer uma mágica e você vai comer o que quiser, você vem comigo?
— Sim, eu queria muito uma sopa quentinha.
Lorena, mais conhecida como Lola, é uma jovem de 18 anos. A mãe trocou a filha pelo novo marido e a expulsou de casa quando tinha 14 anos. Com o pouco dinheiro que ela tinha, veio parar nas ruas. Ela viu o progresso e a evolução que a cidade fez, mas por medo de alguém lhe fazer mal, ou denunciá-la, ela continuou morando na rua, fugindo das autoridades ou das pessoas. Ela que encontrou o menino, uma criança, cuidando de outra criança. E mais uma vez, Lorena se viu com medo de ser acusada de sequestrar a criança, por isso cuidou dele até hoje. Mas a um ano a vida deles que já era difícil, ficou ainda mais, pois Joana descobriu que o menino foi encontrado e ameaçou Larena de denunciá-la, usando seu medo para conseguir dinheiro para seus vícios.
Lorena estava em busca de comida para Brayan, porém não conseguiu nada e ao ver alguém estranho perto do menino que tanto ama, corre em direção a eles preocupada.
— Não machuque o menino, se ele roubou, você foi porque é obrigado. — Lola fala tudo embolado com medo da Alexia.
— Não se preocupe, eu só quero ajudar. Você aceita sair das ruas e ter uma vida digna? — Ela fala sem pestanejar.
— Senhora, o que eu tenho que fazer para ter essa oferta? Até hoje, ninguém nunca me ofereceu ajuda, sem querer algo em troca.
Alexia fica sem palavras com o que ela entendeu da sua fala.
— A única coisa que eu quero é que vocês tenham um lugar seguro! Olha para essa criança, você acha mesmo que isso é vida para ele?
— Eu sei. Desculpa, é que já tive que me humilhar tanto por um prato de comida. Eu aceito, senhora, mas precisamos fugir dessa mulher, pois ela já tentou matar o menino algumas vezes.
Lola ergue a manga da blusa e mostra um corte recente de faca que tem no braço.
— Ela te fez isso? — Alexia pergunta com o coração disparado e um ódio eminente nos olhos.
— Era para acertar em Brayan, mas eu o protegi. Se não quiser me ajudar, eu entendo, mas tira essa criança dessa vida, eu lhe imploro.
Alexia não pensa duas vezes, ela pega o menino no colo e segura na mão de Lola, puxando para o carro. Larena encosta a cabeça no banco e, sem deixar Alexia ver, ela chora baixinho, seus pensamentos tinham inúmeras perguntas, vários medos e incertezas, mas ela quis acreditar que agora ia sair do inferno que são as ruas.
Alexia vai num prédio que havia sido inaugurado a pouco tempo.
— Obrigada, senhora Alexia, vai ficar por aqui essa noite?
— Vou sim, Aline! Quero o maior apartamento e por tempo indeterminado. E preciso que ninguém saiba que estou aqui.
— Sim, senhora. — Aline fala sem questionar. — Posso ajudar em mais alguma coisa?
— Sim, você consegue algumas peças de roupas para eles e alguns alimentos?
— Sim, sim. Tem uma hóspede que vende roupas em uma das lojas do prédio, acredito que ela não esteja dormindo... Mas, senhora, são roupas de marca.
— Não importa, peça para levar no quarto daqui 15 minutos, eles vão tomar banho enquanto isso, traga tudo que conseguir, por favor.
— Sim, senhora. Será como deseja.
Alexia sobe e acomoda eles nos quartos. Como o apartamento é novo, ele é todo mobiliado, porém são somente os móveis. Não tem cobertas, toalhas, nada para uso pessoal.
Enquanto eles relaxam tomando banho, Alexia faz uma lista com tudo que precisa e manda para os gêmeos. Que de imediato liga para ela.
— Mas você não tinha ido para casa?— Julio grita assim que Alexia atende a ligação.— Por que quer tudo isso? E que caramba não atentia esse celular.
— Sem perguntas, Júlio. Aqui eu conto. E por favor, não conte para ninguém onde eu estou. Consiga tudo o mais rápido possível.
— No que se meteu dessa vez?— Fred toma o celular da mão do irmão e pergunta.
— Já disse, aqui eu falo.