章 11: Ritual
Subimos as escadas em silêncio, atentos a qualquer sinal de perigo. A cada degrau, a tensão aumentava. Nossos olhares se cruzavam ocasionalmente, compartilhando uma mistura de determinação e apreensão.
Ao chegar ao topo da escada, nos deparamos com um corredor longo e mal iluminado. As paredes de pedra úmida refletiam a luz fraca de tochas esparsas. Seijiro, com sua audição excepcional, inclinou levemente a cabeça, como se estivesse ouvindo algo além de nossa percepção.
— Por aqui — ele sussurrou, apontando para um corredor à esquerda. — Ouço o som de água corrente. Deve haver uma saída naquela direção.
Avançamos cautelosamente, seguindo Seijiro. A garota-gato se movia em silêncio absoluto, seus olhos brilhando na penumbra, atentos a qualquer movimento. Eu me perguntava o que se passava em sua mente, mas ela permanecia muda como sempre.
Após o que pareceu uma eternidade de corredores sinuosos e escadas intermináveis, chegamos a uma grande câmara circular. O teto era tão alto que se perdia na escuridão acima. Seijiro parou abruptamente, franzindo o cenho.
— Algo está errado — ele murmurou. — O som... mudou.
No centro da sala, havia uma estranha estrutura: um cristal gigante que pulsava com uma luz azulada. Dentro dele, podíamos ver silhuetas se movendo, como se fossem sombras presas.
— O que é isso? — sussurrei, minha voz ecoando mais do que eu gostaria.
Antes que Seijiro pudesse responder, ouvimos um som gutural. As paredes da câmara começaram a tremer, e de fendas ocultas surgiram dezenas de criaturas grotescas. Eram seres deformados, com pele cinzenta e olhos brilhantes que emanavam uma aura de magia corrompida.
Uma voz uníssona e distorcida ecoou pela câmara: — Prisioneiros detectados. Iniciando ritual de contenção.
As criaturas avançaram em nossa direção. Eram dezenas, talvez centenas. Seijiro empunhou sua espada, a garota-gato flexionou suas garras, e eu me preparei para usar minha força monstruosa.
O primeiro golpe veio rápido. Uma das criaturas tentou me acertar com garras afiadas. Para minha surpresa, quando o golpe me atingiu, senti apenas um arranhão superficial. Minha resistência extraordinária estava provando seu valor.
Contra-ataquei com toda minha força, meu punho atravessando o torso da criatura como se fosse feito de carne podre. Icor negro e pedaços de carne voaram pelo ar.
Seijiro e a garota-gato também entraram em ação. A lâmina de Seijiro cortava através das criaturas com uma facilidade surpreendente, enquanto as garras da garota-gato rasgavam a carne corrompida com precisão letal.
Mas para cada criatura que derrubávamos, duas pareciam tomar seu lugar. Era uma batalha interminável.
— O cristal! — gritou Seijiro entre golpes. — É a fonte deles! Ouço... ouço almas gritando dentro dele!
Entendi imediatamente. Abri caminho através da horda de criaturas, usando minha força para arremessar vários deles contra as paredes. Cheguei ao cristal e, sem hesitar, lancei meu punho contra sua superfície.
Para minha surpresa, o impacto foi absorvido como se eu tivesse socado uma barreira mágica. O cristal tremeu, mas permaneceu intacto.
— Não vai funcionar assim! — gritei para meus companheiros. — Precisamos de outra abordagem!
Foi então que notei algo: sempre que uma das criaturas era destruída, uma pequena esfera de energia etérea flutuava de seus restos em direção ao cristal. O cristal absorvia essas esferas e pulsava mais forte.
— É um ciclo mágico! — exclamei. — Eles são destruídos e recriados!
Seijiro, com sua audição aguçada, gritou de volta: — As almas! Elas estão presas no ciclo! Temos que impedir que voltem ao cristal!
A garota-gato, entendendo a situação sem precisar de palavras, foi a primeira a agir. Com sua agilidade incrível, ela começou a interceptar as esferas no ar, segurando-as em suas mãos como se fossem bolas de luz.
Seijiro e eu nos concentramos em manter as criaturas afastadas dela, formando um perímetro de proteção. A cada criatura destruída, a garota-gato capturava mais uma esfera.
O cristal começou a pulsar erraticamente, sua luz ficando mais fraca a cada momento. As criaturas, por sua vez, ficavam mais lentas e desorganizadas.
Finalmente, quando a garota-gato segurava o que parecia ser uma centena de esferas brilhantes, o cristal emitiu um som agudo que fez Seijiro estremecer de dor.
— Agora! — ele gritou, sua voz carregada de urgência.
Com toda minha força, lancei meu corpo contra o cristal. Desta vez, ele se estilhaçou em milhares de fragmentos. Uma onda de energia mágica varreu a câmara, desintegrando todas as criaturas restantes.
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Estávamos exaustos, cobertos de icor e fragmentos de cristal, mas vivos.
A garota-gato olhou para suas mãos, ainda cheias de esferas brilhantes, com uma expressão interrogativa.
Antes que pudéssemos decidir o que fazer, as esferas começaram a flutuar por conta própria. Elas se elevaram no ar e, uma a uma, se dissiparam em pequenos flashes de luz.
— As almas estão livres — murmurou Seijiro, seus olhos fechados como se estivesse ouvindo algo além de nossa compreensão. — O ciclo foi quebrado.
Observamos em silêncio enquanto a última esfera desaparecia. Uma porta maciça no outro lado da câmara, que antes estava escondida, agora se revelava.
— E agora? — perguntei, minha voz rouca de exaustão.
Seijiro apontou para a porta, um leve sorriso em seu rosto cansado. — Ouço o vento do outro lado. Essa é nossa saída.
Nos levantamos, apoiando uns aos outros. Feridos, exaustos, mas vivos. A garota-gato, embora silenciosa, tinha um brilho de determinação em seus olhos felinos. Caminhamos em direção à porta, prontos para enfrentar o que quer que estivesse além dela.
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