Já se passaram 2 anos desde que eu renasci nesse mundo, e agora eu tinha uma certa noção das coisas.
Primeiramente, é bem provável que eu esteja em um tempo anterior ao de quando eu morri.
Embora essas pessoas sejam de uma região mais do interior, longe das cidades, eu simplesmente não vi nada de tecnologia nessa casa, além de um rádio que passava algumas novelas e músicas velhas, isso não era normal nos tempos modernos, nem TV de tubo eles tinham.
Entre essas músicas consegui ouvir "Pra não dizer que não falei das flores" tocando, e foi daí que tirei que estávamos na época da ditadura militar. Pelo menos quando eu crescer já vamos estar fora dela, considerando que da musica até o fim da ditadura foi cerca de 8 ou 9 anos, então seria no máximo isso.
Nós morávamos em uma casa meio isolada no interior, não sei ao certo em que estado, mas deveria ser na região sul, considerando a vegetação.
Os meus pais adotivos me criaram bem, da melhor forma que conseguiram considerando a situação ruim do país. Na verdade, as medidas implementadas pelo regime os ajudaram economicamente, eram agricultores e estavam muito melhor que a maioria das pessoas das cidades.
Ao menos eu comia, tinha boas roupas e podia 'brincar' por ai livremente.
Eles me consideravam algum tipo de gênio, aquele tropo clichê em que eu aprendia muito rápido. Provavelmente seus parâmetros de comparação eram dos dois sobrinhos de Clara, que nasceram um pouco antes de mim e que sua irmã Natália mandava cartas a informando de tudo.
Sinceramente, eu não sabia o que se passava na cabeça deles, pois me deixavam ficar na floresta tranquilamente, sem medo de que eu me machucasse ou qualquer coisa, fiquei desconfiado, isso desde meu 1 ano e meio, que foi quando comecei a pedir para sair, o infortúnio de ser um bebê.
Mas hoje eu descobri o provável motivo para essa liberdade.
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Minha mãe e eu estávamos voltando de uma tribo de quilombolas que ficava nas proximidades, ela tinha amizade com o povo dali e as vezes levava algumas coisas para os ajudar no período difícil.
Muitas de suas terras foram tomadas por causa da expansão agrícola apoiada pelo regime e Clara acabou se sentindo meio culpada com isso, já que eram agricultores.
Já Roberto tinha ido a cidade para comprar alguns mantimentos com a caminhonete.
Eu estava caminhando ao seu lado, talvez uma visão estranha já que era um garoto de 2 anos, consequentemente muito pequeno e andando perfeitamente bem ao lado da mulher.
Passamos pela porteira e fomos pela trilha estreita de terra até a porta de casa.
Quando chegamos, ela primeiro testou se a porta estava destrancada, um costume, e logo começou a procurar pela chave no vaso de plantas que ficava ao lado com uma dracena.
Sua expressão começou a mudar um pouco e ela parou com a procura.
"Pensei que isso aconteceria, seu pai deve ter achado que demoraríamos para voltar e levou a chave com ele, eu tinha esquecido de o avisar que hoje teria celebração de São Benedito e voltaríamos mais cedo."
Olhei para ela sem dizer nada, era uma adulta e deveria resolver os problemas que aparecessem, por fora, eu era só uma criança.
Entretanto.
"Alohomora."
Meu olhos se arregalaram levemente no momento.
Ela tinha falado e erguido a mão direita, fazendo um movimento ensaiado.
Ouvi um clique da porta e Clara a abriu normalmente, como se fosse só mais algo comum.
O que era isso? Esses caras não eram só fazendeiros?
Eu reconhecia isso claramente, não se passaram muitos anos desde que eu morri, era a pronuncia de um feitiço de Harry Potter que produzia o exato mesmo efeito que aconteceu agora.
Apenas, como?
Parece que eu estava em um mundo muito mais louco do que eu pensava, eu não era o único aqui com poderes sobrenaturais, as coisas se tornaram mais complexas.
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Agora estava na floresta perto de casa, as árvores eram finas e compridas, muito altas, com copas largas e peculiares.
O sol ainda estava alto no céu, acabei de vir do almoço, sentado em um galho alto de uma das árvores.
Penso sobre minha realidade atualmente. Eu realmente estava no universo de Harry Potter? Eu ser um provável alienígena (Do ponto de vista dos humanos) já não era o suficiente de maluquice?
Soltei um suspiro olhando para baixo, agora eu sentia mais vontade de crescer, apesar de eu ter falado antes que essa era uma boa idade.
Tudo que eu queria era ver o quanto esse corpo poderia se fortalecer, o quanto eu poderia transcender a humanidade. Não sei bem o que eu sou, mas isso não importa honestamente. Fui enviado para a terra com o propósito de dominá-la? Ou talvez minha raça estava prestes a ser exterminada e eu acabei sendo enviado para cá? Tudo isso era irrelevante por enquanto.
Só quero saber do que eu sou e serei capaz. Nesses dias tentei ficar o máximo possível fora de casa, abaixo do sol, esperando que eu fosse como Super-Homem que se fortalecia absorvendo sua luz.
Claro, eu só considerava uma suposição vaga, não acreditava que era seriamente assim, mas também estive me testando o máximo possível nesse meio tempo.
Descobri que sou anormal, o que já esperava. Minha capacidade física estava muito desigual a qualquer coisa que eu já vi, mesmo tendo apenas 2 anos, era completamente irreal.
Levantei me sobre o galho e comecei a andar adiante, então com um salto para frente meu corpo se impulsionou para longe, alcançando o tronco de outra árvore.
Antes de o atingir usei o pé direito para chuta-lo com leveza, o que causou um pequeno sinal de destruição e impulsionou meu corpo para o outro lado, em direção a outra árvore.
Fiz a mesma coisa com essa, mas na próxima usei uma mão para agarrar e rodear um galho seu, jogando meu corpo para cima.
Fiquei acima da copa larga, meu corpo caindo fora de sua direção lentamente, o inclinei para baixo e passei por entre dois galhos próximos um ao outro, e comecei a descer em grande velocidade de olhos centrados no solo.
Na metade da queda virei meu corpo para cima novamente e usei a mão direita para pressionar o tronco e gerar atrito, diminuindo minha velocidade e rasgando a madeira em linha reta, enviando lascas para todo lado.
Forcei meu corpo contra a árvore, utilizando a pressão para me impulsionar e ser jogado em outra, e com um chute em outra, e outra, e outra, passando por elas como um perito nato na arte da agilidade e precisão.
Cheguei ao chão finalmente, tocando os pés no solo e tropeçando um passo antes de parar completamente.