Bab 60: Julgando um Livro pela Capa
Na escola Grifo Branco, como em todas as seis grandes academias, alunos de diferentes anos não tinham espaços comuns para manter os alunos mais velhos e mais fortes, de se vangloriarem sobre os mais jovens.
Isso foi realizado simplesmente por ter cada ano acadêmico ocorrendo em um único andar. O térreo do castelo era a área de boas-vindas para os visitantes e também abrigava a Secretaria, onde os secretários cuidariam de toda a papelada da academia.
O primeiro andar acomodava todos os primeiros anos da academia, o segundo andar acomodava aqueles no segundo ano, e assim por diante.
Acima do quinto andar, havia os quartos do pessoal e seus laboratórios pessoais, mas a maior parte do espaço foi indicada no mapa como vazio ou designado para departamentos sem nome descrito.
Lith suspeitava que todos as atividades confidenciais da academia, como os cursos de treinamento de especializações ocultas, acontecessem lá.
Naquele momento, enquanto olhava o mapa do castelo com a Soluspedia, Lith não estava pensando nos mistérios da academia, em vez disso, ele estava amaldiçoando o projeto falho dela.
'Droga! Não é de admirar que os professores estejam sempre andando com os Passos do Warp. Não percebi no começo, mas um único andar é como uma cidade pequena, muito maior do que toda a Vila de Lutia.
'O Salão do Prêmio está bem longe do hospital. Vai me levar pelo menos dez minutos para chegar lá e ainda mais tempo para voltar ao meu apartamento. Eu não planejava fazer todo esse cardio! Estou cansado e as únicas coisas que quero fazer agora são dormir e comer.
'O único ponto positivo nessa situação é que todos estão sofrendo o mesmo destino. Depois do gongo, o Professor Vastor saiu sozinho, nos deixando abandonados na enfermaria.'
Com tudo o que havia acontecido em seu primeiro dia, o peso psicológico na mente de Lith era enorme.
Enfrentar valentões e se segurar para não usar a magia verdadeira, ser forçado a tolerar tantos idiotas sem chutar a bunda deles, era algo a que ele já não estava mais acostumado a lidar.
Desde o seu renascimento, Lith sempre manteve o montante de interações humanas num mínimo.
Agora ele estava constantemente alerta. Ele não podia baixar a guarda por um segundo e tinha que manter o Boletim sempre à mão. Ele não via a hora de trancar a porta atrás dele e finalmente ter um pouco de paz e sossego.
'Não sei se seremos autorizados a usar os Passos do Warp aqui dentro ...' Solus pensou.
'...Mas por que exatamente não estamos flutuando, voando, ou algo do tipo? Não há regra contra o uso da magia dentro da academia, exceto se usada para prejudicar ou assediar os outros.'
Lith congelou no local, facepalmando por causa da sua própria estupidez.
'Ou estou cansado demais para pensar claramente, ou você definitivamente é mais esperta do que pareço. Eu te amo, Solus.' Lith pensou.
'Eu te amo mais.' Ela respondeu.
Lith fingiu lançar um feitiço de voo pessoal e então desapareceu com as costas grudadas no teto. A viagem de dez minutos se tornou um voo de um minuto em baixa velocidade, Lith não podia correr o risco de esbarrar em outra pessoa.
Durante esse tempo, Lith refletiu como ter um relacionamento simbiótico mudou sua vida. Ele não estava pensando em Solus ter uma visão de 360° 40/10, sua dimensão de bolso, ou qualquer uma de suas habilidades.
O que nunca deixou de surpreendê-lo, foi como ele se acostumou a pensar em si mesmo como "nós" em vez de "eu" em seus próprios pensamentos. Apesar do terror que ela havia provocado em seu coração após o primeiro encontro, Solus agora estava mais perto dele do que suas irmãs.
Eles compartilharam até seus sonhos, enquanto ele dormia.
Quando ele chegou ao Salão do Prêmio, foi uma grande decepção. Lith imaginou que seria como uma biblioteca, mas cheia de tesouros mágicos, com as prateleiras ocupadas por itens e suas descrições.
Ele pensou em pesquisar por eles e pedir ajuda aos atendentes de vez em quando, mas a realidade se opôs. Apertado entre os salas de treinamento do Mago de Batalha e do Mago de Guerra, havia algo que se assemelhava muito a um Caixa Eletrônico.
No visor piscante, havia a imagem piscante de uma palma aberta, então Lith seguiu as instruções infalíveis, enviando mana para ela. O visor ficou claro, fazendo aparecer um holograma 3D de uma atendente.
Uma mulher gordinha na casa dos trinta anos, com um rosto cansado que colocava o de Lith no chinelo. Seus olhos focados no rosto dele, Lith pôde vê-la mexendo com algum tipo de cristal.
"Você é o Lith de Lutia, certo?" O cristal em suas mãos estava projetando uma imagem detalhada de suas características faciais.
Lith assentiu.
"Tem alguém aí com você? Tem alguém forçando você a gastar seus pontos?"
"Não." Lith era cínico e paranóico, ainda assim se surpreendeu com o quão ruim as coisas nas academias tinham que ser, para impor um protocolo tão rígido.
A mulher pressionou outro cristal, e uma bolha de luz envolveu Lith.
"Você está em uma zona segura. Ninguém pode nos ver ou ouvir agora. Você precisa de ajuda? Eu posso te mandar um guarda em um segundo com os Passos do Warp. Você tem certeza de que tudo está bem?"
"Sim, estou bem. Obrigado pela sua bondade."
"1000 pontos no seu primeiro dia?" A mulher parecia sinceramente surpresa.
"Garoto, você encontrou uma mina de ouro, sinta-se à vontade para conferir nosso inventário."
Na tela, algo semelhante a uma página da web apareceu, que ele poderia navegar usando mana.
Os preços dos itens dimensionais variavam de 100 a mais de 300 pontos, os anéis de armazenamento mágicos custavam 100 pontos por camada. Também havia armas disponíveis, mas Lith nunca segurara uma de verdade.
Durante seu treinamento, de volta para a Terra, ele havia usado apenas espadas de madeira, facas e lanças. O equilíbrio era completamente diferente e sem um treinamento adequado, seriam inúteis contra um oponente habilidoso. As poções eram os objetos mais baratos, custando 10 pontos cada.
O item mais caro da lista era o uniforme, custando exatamente 5000 pontos. Esse preço permitiria a Lith mantê-lo mesmo após concluir seus estudos, e ter seu visual alterado para algo menos chocante.
Infelizmente, não havia relógio de pulso ou de bolso disponível.
Ele comprou o amuleto dimensional mais barato (80P), um anel de armazenamento mágico para cada uma das três primeiras camadas (600P), e uma poção de aprimoramento físico de cada tipo (30P). Agora Lith tinha tudo de que precisava para ocultar o uso da verdadeira magia e da Solus.
O atendente enviou-lhe os itens via Passos do Warp um de cada vez, pedindo-lhe para imprimi-los na frente dela, por razões de segurança. Até as poções não foram exceção.
No caminho de volta, ele parou na cantina. Ainda era muito cedo para o jantar, mas ele estava precisando urgentemente de comida confortante, então ele guardou uma xícara de chocolate quente e alguns pastéis antes de voltar para o quarto dele.
Os livros ainda tinham que ser entregues, então ele finalmente pôde relaxar e contemplar suas compras. A primeira coisa que fez foi usar as poções de velocidade, força e endurecimento da pele para comparar seus efeitos com a magia da Fusão.
Depois de encher novamente com água colorida, tudo o que ele teria que fazer era fingir beber uma dessas para poder ativar a magia da Fusão sem despertar suspeitas, contanto que mantivesse os efeitos semelhantes.
Só quando foi ao banheiro é que percebeu o quão grande era seu quarto. Era muito semelhante a um apartamento de um quarto, com cerca de cinquenta metros quadrados. Tinha uma cama de casal no canto superior direito com seu baú em frente à cama.
A alguns metros à esquerda, contra a parede, havia um guarda-roupa de madeira.
Na parede esquerda, havia uma mesa e uma cadeira de madeira para seus estudos, com algumas estantes de livros vazias montadas acima dela. Além dos móveis, o quarto estava vazio, fazendo-o parecer ainda maior.
Uma porta interna levava ao maior banheiro que ele já tinha visto, ocupando mais de um terço do quarto. Havia um verdadeiro vaso sanitário e uma pia em frente a um espelho, ambos com água corrente.
Lith estava à beira das lágrimas. Afinal, depois de todos esses anos, ele quase se resignou a fazer xixi no vento e cocô em um buraco no chão. Mesmo na casa do Conde Lark, o melhor que ele poderia conseguir era um penico.
Porém, a maior parte do espaço era ocupada por uma banheira grande o suficiente para acomodar confortavelmente quatro pessoas.
'Sou eu, ou quem desenhou este quarto está com a mente suja? Primeiro a cama de casal e agora isso?' Lith pensou.
'Faz sentido, considerando que estão empilhando adolescentes sem controle dos pais. Lembra do feitiço que Nana nos deu antes de irmos para o Grifo Relâmpago?' Solus apontou.
'Na verdade, eu quase tinha esquecido disso. Mas vendo o quão rápido Tista e Rena se desenvolveram, mesmo com doze anos, não deve ter sido difícil para Nana encontrar um parceiro. Eu sou alto para a minha idade, mas ainda sem pelos e mais baixo que a maioria dos meus colegas de classe.
'Sem mencionar que, só a ideia de tocar uma criança me dá nojo.'
Então, Lith deu a descarga mais magnífica e confortável desde o seu renascimento. Esse momento fez com que todas as dificuldades que ele experimentou desde que chegou à academia desaparecessem como um sonho ruim.
Depois disso, ele tomou um longo banho quente, ou pelo menos esse era o plano. Ele mal tinha mergulhado o corpo e espalhado espuma no cabelo quando alguém bateu na porta.
"Eu sabia! Esta deve ser a quarta lei da termodinâmica: sempre que um corpo e sabão se encontram, chega uma encomenda!"
Furioso, ele usou magia da água com um movimento de mão para remover a maior parte da água e do sabão de seu corpo enquanto puxava seu uniforme de fora da dimensão de bolso e direto para o seu corpo, como se nunca tivesse se despir.
Como previsto, uma secretária veio entregar todos os livros que ele precisaria para o quarto ano de academia. Notando sua carranca e cabelos molhados, a secretária adivinhou o que havia acontecido e foi embora depois de fazer Lith assinar seu registro.
Depois de tomar banho e ligar novamente para casa, Lith foi jantar.
Ele estava prestes a consumir um delicioso piscador recheado quando algo inesperado aconteceu. Sua perfeita solidão foi interrompida por três conhecidos se aproximando de sua mesa. Lith os parou antes que pudessem se sentar.
"Desculpe, mas temos um ditado na minha aldeia. A melhor maneira de aproveitar um piscador requer apenas dois convidados: eu e o piscador."
"Nós não queríamos compartilhar, só queríamos sentar aqui, com você." Yurial disse.
"Sério?" Lith franziu a sobrancelha. "Você não tem medo das consequências de se associar a um pária?"
Yurial riu da ideia, atraindo todos os olhares na cantina. A única coisa que os outros sabiam é que os quatro pertenciam à mesma especialização. Esperando uma briga, o salão ficou em silêncio.
"Do que ter medo? Meu pai é um arquimago, ele pode dizimar a maioria desses caras com um estalar de dedos. Além disso, magos poderosos devem ficar juntos."
"É? E o frasco de vidro que você jogou em mim esta manhã? Ou o lenço sujo que ela me acertou na cabeça?" Lith disse enquanto apontava para Friya, que ficou vermelha de constrangimento.
"Como você sabia que era eu? Eu estava bem atrás de você."
"Sou tão bom."
"Eu admito, começamos com o pé errado, mas não há motivo para não sermos amigos." Yurial disse com uma atitude confiante e carismática.
"Amigos?" Lith se levantou, a plateia até parou de mastigar, tentando ouvir a conversa deles.
"Esse é o filho de um arquimago!"
"Acho que ele não tem medo do fim covarde."
"Espero que se matem." Esses foram alguns dos comentários que Lith e Solus conseguiram perceber.
"Se estivessem no meu lugar, seriam realmente amigos de alguém que maltratou você primeiro, e depois agiu como se fosse amigável, depois de descobrir o seu talento? Meu palpite é que não.
"Vocês todos deveriam ter sido mais inteligentes e não julgaram um livro pela capa. Sorte minha, vocês revelaram sua verdadeira natureza, então eu não vou comprar o teatro de vocês."
"Eu admito, estava errado e peço desculpas por isso." Yurial era implacável, Lith teve que conceder isso a ele. "Você pode não gostar de nós, mas tente ser mais pragmático. Se te virem conosco, sua vida vai ser muito mais fácil."
"Entendi." Lith respondeu. "Mas, agora, não estou com vontade de fazer 'amigos', talvez outro dia." Ele estendeu a mão para Yurial, que prontamente a apertou.
"Obrigado por não me ameaçar com o poder do seu pai. Muito apreciado."
"Teria funcionado?" Yurial perguntou com um sorriso.
"Não, eu teria chamado o seu blefe. Nem você nem qualquer arquimago me parecem ser pessoas tão mesquinhas e miopes a ponto de fazerem inimizade com toda a academia por algo tão trivial."
Yurial aceitou o elogio e saiu, seguido de perto por Friya. Quylla ficou para trás, olhando para Lith com seus grandes olhos de cachorrinho.
"Desculpa por não ter te ajudado nesta manhã, mas eu estava com muito medo para me mover." Ela disse em voz baixa. "Eles não são caras maus, acho que merecem uma segunda chance. Eles têm sido muito legais comigo."
Lith rosnou, aproximando o rosto do dela de maneira ameaçadora, mas sua voz era na verdade calma e carinhosa.
"Escute bem, baixinha. Nunca confie nas pessoas só por causa de algumas palavrinhas baratas ou presentes. Para eles, nosso talento é apenas uma ferramenta, eles não nos consideram iguais.
"As pessoas sempre vão ser legais e amigáveis até que você tenha cumprido o seu propósito, mas no primeiro erro, eles vão te descartar como lixo. Fique com esses dois, mas não deixe que eles te usem. E agora vá, antes que alguém pense que somos amigos.
"Ou você também pega um Boletim, ou fique longe de mim. Vá!"
Lith gritou a última palavra para os outros ouvirem. Em seus olhos, Quylla acabaria como Nana, a menos que conseguisse se tornar mais esperta e deixar de lado sua ingenuidade de criança.
Finalmente sozinho, Lith sentou-se e começou a devorar seu jantar.
'Verão, seus bastardos. É apenas uma questão de tempo antes que essa jovem cobra de Lutia se transforme em um dragão e os engula por inteiro.'
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