Meus olhos se abrem. Virando minha cabeça para o lado posso ver outra cama, lá estavam dormindo Alícia e Bianca, ambas dividiram uma cama de casal, enquanto eu ficava na de solteiro.
Me levanto da cama rapidamente, olhando ao redor. Sentia que algo estava diferente, mas não sabia dizer ao certo o que era. A única coisa que sabia era como aqueles sonhos foram reais para mim, apesar de sonhar com esses acontecimentos seja algo constante em minha vida, desta vez havia sido real demais. Mesmo Nahemah não se mostrando sei que ela está por perto.
Vou até a janela, nosso quarto fica no segundo andar do estabelecimento, isso me dá uma visão privilegiada nesta vizinhança, pois a maioria das residências tinham apenas seu andar térreo.
— Ioan... — Ouço a voz sonolenta de Alícia vindo de trás. Parece que minha movimentação acabou acordando-a. — Você está bem?
Ela fala enquanto se senta na cama. Tirando meus olhos da rua, que não aparentava ter nada demais, me viro para respondê-la.
— Não foi nada, apenas acabei de acordar e vim dar uma olhada como é a movimentação neste horário. — Tento dar uma resposta genérica.
— Alícia entende... — diz com um bocejo enquanto se vira para saltar da cama.
Ficamos no quarto até que Bianca finalmente acordasse e descemos para tomar café em seguida. Pago minha comida e a de Alícia, Bianca paga a sua própria.
— Ah, ontem pela noite me mandaram uma mensagem — falo finalmente me lembrando do assunto.
Iria falar para elas ontem pela noite, mas quando cheguei ao quarto as duas já estavam dormindo.
— Mensagem de quem? — pergunta Bianca.
— Pelo jeito do líder da guilda, aparentemente ele tem uma missão que seria de nosso interesse e queria nos indicar — respondo sua pergunta.
Passou apenas um dia da luta com Sally, mas houve uma grande diferença de tratamento, obviamente também está ligado a mudança de comando do reino dos vampiros, os humanos não sabem como ficará a relação, que antes estava se tornando cada vez mais amistosa, com os vampiros, talvez uma nova guerra esteja à caminho.
— Ioan continuará com os olhos vermelhos? — pergunta Alícia.
Apesar de, aparentemente, não haverem más intenções em suas palavras, consigo sentir as palavras da pequena garota como um soco. Ela ficou, visivelmente, irritado por eu ter recusado seu sangue e logo em seguida bebido o de Sally no combate.
— Estou tentando controlá-los ainda, mas não sei ao certo como fazer — explico.
— Hmm... — Ela apenas olha para mim, sem resposta alguma.
Prefiro fugir do assunto.
— Então, o que acham de irmos para guilda após terminarmos de comer? — pergunto para Bianca. — Pode ser que seja muito lucrativo para nós.
— Está combinado. — Ela concorda.
Decidi não contar para eles o que aconteceu comigo durante a noite. Em primeiro lugar, não sei se o que aconteceu comigo seja realmente verdade, embora sinta o contrário. Em seguida, não há porque as preocupar neste momento, nem ao menos sei quais são as intenções de Nahemah.
Assim que acabamos de comer começamos nosso caminhar até a guilda. Já havia tido a primeira experiência ontem, mas hoje os olhos das pessoas pareciam machucar muito mais, aparentemente todas as pessoas tinham alguma coisa para resolver no local onde passávamos, pelo menos era como eu tentava imaginar, mas a verdade é que estavam todos olhando para mim.
Apesar de Alícia, aparentemente, estar com raiva de mim, neste momento ela andava ao meu lado, segurando minha mão quando passávamos em locais com muitas pessoas. Não sabia se estava com medo de todos aqueles olhares ou estava apenas me dando apoio, de qualquer forma agradeço sua presença naquela hora, me deixava mais confortável.
No caminho acabamos nos esbarrando com Seth, que parecia estar indo para o mesmo local que nós.
— Indo para a Guilda? — pergunto.
— Sim, fui chamado pelo líder — responde Seth.
Mesmo não combinando ou deixando claro, acabamos por caminhar juntos até o nosso destino. Chegando a guilda fomos direto para a sala do líder, nenhum dos funcionários tenta nos impedir, provavelmente já estava avisado que iríamos, mas pode ser também pela posição de Seth que, pelo que pude notar, é muito importante para o líder.
— Finalmente estão aqui — Bufa o pequeno velho quando entramos na sala. — Vocês estavam vindo em cima de uma tartaruga ou coisa do tipo?
Sua personalidade realmente me incomoda.
Seth fica em pé ao lado do sofá, mesmo havendo um lugar para se sentar. Não copiamos seus movimentos, eu e as garotas nos sentamos para a começar a conversa.
— Então, qual seria essa missão que tinha para nós? — pergunto.
— Esses jovens de hoje em dia... — Resmungando ele pega um papel em sua mesa e nos entrega.
Era igual aos que ficam normalmente no mural de missões. Nele estavam escritas diversas informações, dando uma passada rápida pelo conteúdo vi que a missão era de escolta, o destino era a cidade de Tot.
— Realmente parece interessante para nós, uma missão que irá levar-nos diretamente ao nosso destino — falo passando a folha para Bianca.
— Tenho que me livrar logo de vocês, parece que vocês atraem problemas — diz olhando diretamente para mim.
Ao nosso lado estava alguém que sentia-se incomodado. Este era Seth, sua cauda estava estática e suas orelhas caídas, mas parecia que não iria se pronunciar sobre o que estava o incomodando. Assim como um cachorro treinado quando seu dono diz para que fique sentado.
O líder parece também perceber a agonia do homem, porém não faz nada para que isso seja resolvido, pelo contrário, ele estava dando uma risada sádica enquanto olhava para a cena em sua frente. Sua personalidade é um grande problema, acho que também estou feliz em ir embora logo.
— Pode falar Seth — diz o líder após alguns segundos com aquele estranho sorriso em seu rosto.
— Apenas queria saber o porquê de ter sido chamado — Seth diz.
Parecia um soldado falando com um superior, faltou apenas prestar continência. Na verdade acho que essa seria a reação normal, talvez nós estejamos errados.
— Ah, é verdade, tinha esquecido-me de você. — Suas reações não condizem com suas ações. — Irei mandar-lhe nesta mesma missão.
O homem-besta parece confuso com a resposta do velho.
— Por qual motivo? — pergunta.
— Na estrada em que essa caravana irá passar. — Ele diz apontando para o papel. Bianca o entrega a Seth que começa a analisá-lo. — Estão acontecendo diversos assaltos, de acordo com as testemunhas que ouvi os criminosos seriam homens-besta.
Ao ouvir as últimas palavras do líder Seth fica um pouco abatido. Não sei sobre muitos detalhes sobre a raça dos homens-besta, apenas que deveriam, supostamente, sofrer preconceito dos humanos. Porém o único que encontrei foi Seth e aqui, nesta cidade, ele é muito respeitado, até mesmo os caras que me olham com cara feia, por se vampiro, parecem não ter nada contra este homem.
— Entendo, aceitarei esta missão — diz confiante. Suas orelhas se levantam.
— Excelente — responde o líder com um sorriso no rosto.
Após isso a conversa estava terminada, deveríamos seguir para as recepcionistas, lá assinaremos alguns papéis. Todos começam a se levantar e seguir para porta, mas quando estou de pé sou chamado pelo líder.
— Ioan, você não. Fique, preciso te dar mais algumas informações.
Paro ao ouvir suas palavras. Seth e Bianca seguem o caminho para fora, mas Alícia fica para por alguns segundos, aparentemente querendo dizer algo, porém acaba saindo juntamente com Bianca.
— O que deseja? — pergunto após a porta se fechar.
— Tenho algumas informações sobre seus olhos — diz tirando mais um papel de uma gaveta, mas não me entrega. — Você não pode continuar com eles vermelhos, eles mostram que você é um vampiro, mesmo estando escrito "humano" no cartão da guilda.
Solto um suspiro ao ouvir suas palavras. Também havia pensado nisso, mas simplesmente não consegui achar uma resposta para esta dúvida. Não tenho a mínima ideia de como fazer, Lucio, que era meu tutor, também não conseguia fazê-lo.
— Entrei em contato com algumas pessoas. — Começa a falar o líder. Agora eu tenho em minhas mãos as respostas que eles conseguiram sobre este problema.
— Sério? — pegunto espantado.
Pela sua personalidade não pensei que iria preocupar-se com algo assim. Talvez não seja uma pessoa tão ruim assim.
— Obviamente, caso descubram que não é um vampiro irão seguir seu rastro, isso os trará até mim e minha guilda, descobrindo que fui eu aquele que falsifiquei suas informações — diz com o rosto rígido.
Deveria esperar que não seria algo de graça. Peço que devolva meus os segundos de esperança que tive em você. Não os merece.
— O que terei que fazer para conseguir esta informação — pergunto me sentando novamente no sofá.
Apenas desisti.
— Você está começando a entender como as coisas funcionam — responde o velho.
Era esperar demais isso ser uma simples boa ação.
— Tem haver com o seu destino. — Começa a falar. — Quando chegar em Tot quero que...
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