Fico impedido de atirar, pois tenho que pular para desviar de mais tiros, porém desta vez pulo para trás da mesa de jantar, deixando meu adversário do outro lado. Chuto a mesa com força, que o atinge, com isso consigo me levantar atirando nele.
Os dois que restavam estavam jogados no chão. Um deles, aquele que estava gritando e, provavelmente, agredindo Yasmin.
— Por favor, eu posso... — Ele começa a falar, mas é interrompido por um disparo meu, que o acerta na cabeça.
Em seguida atiro no segundo.
Corro para o lado de Yasmin, que estava jogada no meio da sala. Seus braços estavam amarrados, pego uma faca rapidamente e corto as amarras.
— Você está bem? — pergunto. — Fizeram algo?
Olho para seu corpo, estava com várias marcas de pancadas.
— Estou... — Ela me abraça enquanto fala. — Obrigada por vir.
Seu abraço forte me prende por um instante. Com todo o barulho que fizemos não era de se estranhar que viessem reforços, porém, diferente de antes, eles não entram no apartamento, todos ficam do lado de fora.
— Apenas fuzilem tudo, não daremos chance para que escape novamente. — A voz, do que parece ser o comandante, pode ser ouvida.
Eu estava de costas para a entrada, então seguro Yasmin com todas minhas forças, desta forma servirei como um escudo para ela. Tento me jogar para frente, mas não consigo fazer o movimento que desejo. Ela tira meu ponto de equilíbrio, girando e ficando por cima, esta foi uma das formas que a ensinei para escapar de alguém quando precisasse.
— Desculpa...
É tudo que posso ouvir antes dos disparos, tento me virar de qualquer forma, mas já estávamos caindo, era impossível voltar de como estávamos agora.
Uma sinfonia de disparos é tudo que pode ser ouvido, o som é alto demais para que qualquer um pudesse ouvir qualquer coisa. Posso sentir o impacto de algumas balas, mas que, de alguma forma, sabia que não trariam ferimentos mortais,
Neste instante parece que consigo ver as coisas acontecendo mais devagar, um líquido vermelho brilhante poderia ser visto espirrando no ar, lentamente subiam e aparentavam nunca mais descer, se misturavam com o caramelo do cabelo de Yasmin e ambos cobriam meu rosto, impedindo que eu veja qualquer outra coisa além daquela estranha mistura de cores.
A estranha música, onde os instrumentos eram armas e os atiradores mercenários dura longos dois minutos, mas que parece uma eternidade para mim. Nada sentir durante esse tempo, mesmo sabendo que fui alvejado algumas vezes, sabia bem como era a sensação de levar um tiro, mas ela parecia estar sendo negada por uma dor ainda maior.
Após o cessar dos disparos o silêncio reina o local por completo. Parece que nenhum dos dois lados queria se mover. Algo quente escorria por cima do meu corpo. Seguro Yasmin com todas minhas forças, a última coisa que queria fazer naquele momento era soltá-la. Preferia que mais tiros fossem disparados e que eu fosse o alvo desta vez.
— Apenas... — Consigo ouvir a voz de Yasmin baixa. — Fuja...
Essas é a única coisa que posso ouvir, nada mais fazia som, mesmo sabendo que uma hora aqueles que estavam fora iriam entrar para conferir se eu estava morto.
Coloco minha mão em seu pescoço e tento sentir sua pulsação, sei que existem outras formas melhores, mas realmente estava sem tempo no momento. Poucos segundo se passaram, não havia pulso. Sinto meu corpo ficar mole por um instante, mesmo sabendo que era quase impossível a sobrevivência ainda assim tinha um pingo de esperança, que havia sido destroçado naquele momento.
Por um pequeno instante desisto de tudo, qual o sentido de continuar fugindo eternamente? Viver sem ter paz nunca. Será que realmente vale a pena?
"Não importa por qual dificuldade esteja passando, lembre-se que viver ainda é a melhor opção! Aceitar a morte é simplesmente desistir das possibilidades que o futuro pode vir a trazer."
Mais uma vez me lembro dessas palavras. Olho para Yasmin caída em meus braços.
"Farei isso"
A coloco no chão ao meu lado e a puxo para o corredor, fazendo o mais devagar possível, para que não faça barulho algum, mas é impossível, assim que estou quase chegando a cobertura os disparos se iniciam novamente, mas desta vez consigo colocar força e nos tirar da linha de disparos.
Coloco Yasmin em seu quarto. Atrás de nossa cama estavam algumas armas que sempre mantinha por segurança, infelizmente elas serão úteis. Duas adagas, uma pistola e uma katana, este é todo meu arsenal no momento. Coloco as duas adagas em coldres em minha cintura, assim como a pistola, em um coldre na perna, não tinha onde colocar a espada, então a coloco em minhas costas.
Assim como antes quebro a janela e pulo para a saída de emergência, ouço quase que instantaneamente as pessoas se movendo dentro do prédio, estavam correndo para me procurar.
Pulo para a janela do vizinho. O salto era enorme, mas conseguir subindo um pouco perto do quarto andar e saltando com todas minhas forças. Porém desta forma não havia forma de não se fazer barulho. O que também acabava por se bom, afinal, tinha que tirá-los de perto dela.
Faço isso mais uma vez, chegando ao último apartamento deste lado do prédio. Me jogo para dentro da residência, caindo no quarto de um casal, estavam vendo um filme em uma plataforma de séries streaming.
— Peço perdão — falo me levantando e passo correndo por sua casa.
Desta vez a porta estava aberta, não foi preciso arrombá-la. No salão do andar haviam dois guardas, que olhavam de um lado para o outro, me procuravam. Quando abro uma porta um deles grita, avisando todos os outros que estavam no andar inferior e seu parceiro.
Atiro primeiro, pois havia a vantagem da surpresa, mas o segundo inimigo também consegue atirar logo em seguida. Meu disparo acerta a mão do primeiro, fazendo-o derrubar sua arma, o disparo em minha direção acertou minha coxa esquerda. Tiro uma das adagas de minha cintura e atinjo sua barriga com o lançamento.
— Corram, mais rápido. — Ouço o grito vindo do andar de baixo.
Desembainhando a segunda adaga corto a garganta do primeiro inimigo e atirando, com a outra mão, no segundo. Ambos caem no chão.
Retiro a katana de minhas costas. Para ser sincero nunca me interesse em lutar com espadas, muito menos com katanas, que tinham um estilo muito específico de combate, mas Yasmin era apaixonada por cultura asiática. Essa arma em minhas mãos haviam sido um presente dela, a ganhei há poucos meses atrás.
"Você fica maneiro usando uma espada"
Sorrio lembrando de suas palavras. Não acho que seja verdade, mas posso garantir que luto bem.
O som de passos subindo as escadas. Seguro a espada com ambas as mãos, havia treinado um pouco de kendo, mas sinto que não a ponto de dominá-la por completo. Sons de cartuchos entrando nas armas. Mas foi o suficiente.
— Vamos apenas acabar com todos eles.
Corro para frente, chutando o primeiro que iria terminar de subir os degraus, fazendo-o cair atrás daqueles que o seguiam.
Após longos minutos de combate consigo começar caminhar de volta para casa. Em meio aos mortos no chão estava aquele mesmo homem que encontrei quando estava saindo pela manhã, aparentemente foi ele que deu a informação para esses caras.
Esses caras pareciam amadores, mas ainda eram muitos, mesmo lutando com todas minhas forças ainda sim fui atingido diversas vezes. Um rastro de sangue ficava onde o solado do meu pé tocava, esse, de meus inimigos, mas ao mesmo tempo gotas de sangue faziam uma trilha, sangue esse que saia das diversas feridas por meu corpo.
Me arrastando pelas paredes chego, depois de muito esforço, a sala em que passava grande partes dos meus dias. Desviando de alguns corpos ando até o quarto onde, há poucas horas atrás, dormia tranquilamente com ela.
No chão do quarto estava Yasmin, sentada de costas para a cama, assim como havia a deixado poucos instantes atrás. Uma pequena poça de sangue estava se formando embaixo dela. Uso a pouca força que me resta para colocá-la em cima da cama, no lado em que sempre dormia, afinal, assim como ela mesmo me disse uma vez "É estranho trocar de lado na cama quando você está acostumada".
Deito do outro lado, olhando para o teto. Meu corpo, mesmo em seu deplorável estado, ainda parecia estar pronto para a exaustiva corrida, que estaria por vir logo em seguida, já estava acostumado a esta rotina, mesmo que tenho ficado um pouco atrofiado nesses últimos tempos.
— Sabe, acredito que a única coisa que ainda me fazer se mover foram as suas palavras — falo virando meu rosto para olhá-la.
Parecia que estava apenas dormindo, fazendo ter a sensação de que deveria fazer silêncio, ou poderia despertá-la a qualquer momento. Passo a mão em sua bochecha, estava um pouco suja de sangue.
— Continuarei dando tudo de mim, sobrevivendo fazendo todo o possível — Começo a dizer. Algumas lágrimas começam a escorrer por meu rosto. Quanto tempo faz que isso não acontecia? Talvez a última vez tenha acontecido pouco tempo depois de fugir e meus pais serem mortos. — Lutarei até que minhas forças se esgotem... Pelo menos, até que consiga aguentar tudo isso.
Passei tempo demais aqui, tenho que começar a me mover depressa. Vou até a janela, já despedaçada e me sento.
— Espero que exista uma pós vida... Você merecia algo melhor. — Pulo para as escadas de emergência.