Acordei bem cedo com o som do apito do trem, Faye estava dormindo ainda, me levantei da cama e olhei pela janela, não parecia ter nada de neve lá fora, parecia ser uma floresta bem úmida e viva, dava para ver alguns animais, cervos e pássaros eram a maioria.
Sai de nossa sala e fui para o vagão da frente, um cheiro muito bom parecia vir de lá, era interessante como o trem parecia balançar muito visto pela janela, mas eu não sentia nada desse balanço, era como se eu estivesse andando no chão normalmente.
Abrindo a porta do vagão eu vejo Celeste arrumando o café da manhã, na mesa eu via pães, queijo, alguma carne, chá e café, o cheiro do chá era muito doce.
- Bom dia Fire! Está melhor?
- Ah, bom dia Celeste, como assim melhor?
- Ontem, quando você foi acertado pela mesa.
- Ah, verdade, tinha esquecido disso.
- Venha aqui, vou tirar seu curativo e ver como está.
Fui até ela na mesa, ela se abaixou e puxou o curativo, alguns pelos do meu rosto foram puxados, lacrimegei um pouco.
- Olhe só, já está curado!
- O quê? Mas foi tão grande o ferimento.
- Pelo visto Fire, você é um sky bem poderoso.
- Como assim?
- Você se curou muito rápido, todo sky pode regenerar seu corpo, mas não é tão rápido, principalmente adolescentes...
- Você se cura rápido?
- Normalmente, eu poderia me curar de um simples corte em segundos.
- O que seria "simples" para você?
- Ah... Cortar o braço, um centímetro de profundidade e talvez dez de comprimento, algo assim...
- Bom, isso é um corte bem grande...
- Você nunca pegou uma espada errado para saber o que é corte grande.
Pegar uma espada errado, mas, mesmo que você acabasse pegando na lâmina, duvido que o corte seria tão profundo quanto ela diz.
- Uma vez quando era pequena, eu peguei a espada da minha mãe para limpar, ela escorregou da minha mão e me acertou em cheio...
- O corte pegou do meu olho direito até minha barriga, foi mais ou menos um palmo de profundidade...
- Espere, um palmo!? - Eu estou assustado, um palmo é a grossura do meu braço - Sim, eu fui aberta minha mãe me curou em segundos, mas eu poderia ter morrido se não fosse ela.
- Mas não tem cicatriz nem nada?
- Não, minha mãe era a rainha do infinito, isso para ela era pouco.
- Eu não quero saber o quanto é muito...
- Eu te mostro!
- NÃO!
Ela dando uma risada um tanto quando psicótica pegou um pão e com uma faca ela o acertou com tudo o cortando, na verdade aquilo não podia ser chamado de corte, ela rasgou o pão com a faca.
- Você é uma pessoa muito interessante Celeste
- Por qual motivo eu seria interessante?
- O seu humor varia muito...
- Hm?
- Hora você é tão doce e gentil que parece até mesmo um favo de mel, mas, outrora você simplesmente explode um pão na minha frente dando risada...
- Ah... Você vai se acostumar!
- Se eu me acostumar eu vou acabar ficando igual você!
- Não vejo problemas...
- Eu vejo!
Quando eu falo isso Faye entra no vagão, sua cara parecia irritada, acho que acordamos ela, eu já tive a má experiência de a acordar fora do horário.
- Vocês dois não podem ficar quietos? - Disse Faye com a face escura.
- Seu parceiro é um tolo Faye, por isso estou gritando...
- Eu sei que o Fire é burro, mas não tem que me acordar para afirmar isso!
- Ei! Eu estou aqui! - Isso doeu um pouco.
- Silêncio Fire, sua voz já me encheu!
- ... - Celeste estava segurando um riso descarado.
- Casal parem de brigar e vamos comer!
- Casal? Eu com este lerdo? Ontem mesmo ele acabou com o nariz por causa da burrice.
- Curiosidade! Não foi burrice! Eu estava curioso! - Indaguei energeticamente.
Ela começou a encarar meu rosto, extendeu a mão e ficou passando no meu rosto.
- O quê você tá fazendo?
- Cadê a ferida?
- Já se curou...
- Que rápido!
Celeste estava nos encarando sorrindo, Celeste é uma pessoa de vários humores diferentes, chega a dar raiva, e também ficava nos encarando com essa cara estranha as vezes.
- Comam aí, logo chegaremos a PeaceValley
- Vai demorar?
- Não, mais uma meia hora...
- Entendi
Comemos bem, a comida estava ótima, acabamos de comer e ficamos ali, passou-se pouco tempo até começarmos a ver algumas amuradas de pedra e estradas de terra, todas indo na mesma direção dos trilhos.
Em alguns momentos o trem começou a freiar, dava para ver lá fora algumas casas, construções quase que medievais, muitas árvores verdes e vivas por toda parte, estávamos praticamente que no meio de uma enorme floresta, o trem parou.
- Vamos! - disse Celeste abrindo a parta do vagão, ela vestiu um manto marrom com detalhes dourados.
- Para quê o manto? - questionou Faye
- Não quero que as pessoas fiquem a nossa volta o tempo todo, sabe, eu sou "famosa".
- Ah.
Saindo do trem eu vi a estação, era bastante simples, duas plataformas, para o trem que vinha e o que voltava, havia alguns guichês dos lados e uma passarela para a outra plataforma, havia duas pessoas sentadas em um banco da plataforma conversando, uma estava mexendo no celular e a outra falando, era uma conversa que parecia ser só de um lado, mas vez ou outra a pessoa que estava no celular respondia.
A plataforma tinha um piso de madeira bem confortável, dava para ver algum tipo de musgo entre as tábuas, verde, bem bonito, o ar era úmido, o cheiro de terra molhada estava por todo, muito diferente de Miray, Miray era fria e seca quase que o ano todo.
- Não está meio calor Fire? - Perguntou Faye suando muito.
- Não, para mim está normal...
- Você deve estar louco, tá quente e abafado!
- Você que não aguenta um calorzinho...
Está fazendo mais ou menos 20 graus, quando saímos de Miray, a temperatura estava por em torno de 12 graus negativos, algo assim, em Kanterlot estava mais frio, não cheguei a ver a temperatura, mas os ventos pareciam cortar minha pele.
- Fire é um sky de fogo, logo, a resistência dele ao calor e a umidade é bem maior. - Disse Celeste para Faye
- Ah, faz sentido...
- Mas Faye, 20 graus não é calor... - Disse Celeste.
Faye ficou um pouco corada de vergonha, ela nasceu e cresceu em Miray, alguns familiares dela ainda, eram mais do norte, da província cristalina, a família toda dela viveu em lugares frios, se mudar para um ambiente com clima subtropical é um pouco pesado mesmo.
Andávamos pela pequena cidade em direção a prefeitura, pelo visto a tal da Grace seria quem cuidaria de nós, Celeste iria nos apresentar a ela, a cidade estava cheia de pessoas trabalhando, pessoas em pequenas camionetes com verduras s legumes trabalhando cedo, pessoas abrindo suas lojas e donas e donos de casa limpando as janelas.
Vindo de trás dava para se ouvir vozes gritando, nos viramos, eram duas jovens, passaram por nós correndo como raios, levando carroças cheias de pedras, elas estavam meio que apostando algum tipo de corrida louca.
- Quem eram elas? - Indagou Faye
- São Agatha e Raika, as duas atletas da cidade, bom não são atletas de verdade, mas são as jovens mais competitivas.
- Agatha e Raika, parecem legais...
Os olhos de Faye brilhavam olhando para elas agora já muito longe.
Andamos por mais uns cinco minutos até chegarmos na prefeitura, um prédio de dois andares bastante bonito, era bem adornado e tinha uma espécie de atril na frente, com um livro em cima, fui mexer no livro, e aparentemente ele era uma espécie de "livro tecnológico", tinha páginas assim como um livro normal, mas as páginas eram como telas, dava para editar a informação nelas.
Eu não mexi nele, apenas o abri e vi, nem sequer li alguma coisa.
- Venham, entrem comigo... - Chamou Celeste.
Entramos ao seu lado, o interior era um lugar muito bonito, era um ambiente bem mais escuro que o exterior, as paredes tinham detalhes belíssimos em madeiras de um tom extremamente escuro, havia um papel de parede vermelho carmesim com detalhes de pequenas flores douradas, o chão era feito de estrados de madeira escura polida, da mesma tonalidade das paredes, porém mais reflexivas, o teto era vermelho com um enorme desenho de uma flor solar, feita inteiramente em dourado, não sei se era realmente de ouro, mas era lindo, e dava para ver o desenho pelo reflexo do chão.
- Uau... - Exclamei sem ar ao ver este ambiente.
- Realmente espetacular... - disse Faye.
- Toda vez que venho ver Grace eu me perco com toda essa beleza, ela é uma mulher que gosta dos velhos padrões de riqueza... - disse Celeste olhando ao redor.
Celeste andou até o balcão no centro da sala, ao lado dele havia portas duplas, uma de cada lado, feitos no mesmo tipo de madeira que os adornos nas paredes e com detalhes dourados. Celeste parou no balcão e conversou alguma coisa com a atendente.
Vi Celeste tirar o capuz, fiquei um pouco triste, ela estava muito linda, os cabelos dourados caiam pelo capuz e brilhavam, mas também fiquei feliz de ver ela novamente.
A tal da atendente apontou para ela uma das portas, Celeste fez um sinal de que estava nos chamando, fomos até ela e entramos pela porta, do outro lado era uma sala com as mesmas características da anterior, havia uma mesa retangular no centro e alguns móveis, havia uma grande estante lotada de livros do lado direito da sala, do lado esquerdo dava para se ver uma pequena mesa, com xícaras de chá enfeitadas e uma chaleira aparentemente cheia de chá quente.
Um pouco atrás dessa mesa, do lado da janela, havia um globo do planeta, era bem rústico, de cores entre bege e marrom, em geral como deu para perceber, tudo nesse lugar era bem rústico.
- Este lugar é muito lindo! - Exclamei para Faye.
- Sim, é realmente extraordinário, Grace é uma pessoa com um censo de decoração incrível! - Exclamou Faye de volta.
Havia um grande quadro na parede atrás da mesa, era o retrato de uma mulher vestindo uma armadura dourada, não era uma armadura atual, a armadura tinha uma saia e adornos em tecido, algo que as armaduras atuais não tem esse tipo de adorno.
Havia também uma porta nessa mesma parede, a qual repentinamente se abriu, dela saiu uma mulher muito bela, vestindo roupas que combinavam com o ambiente, cabelos brancos que refletiam a luz, sua pele era mais amarelada, haviam sardas em seu rosto, ela vestia um suéter, talvez não um suéter, mas algo parecido, branco, com um decote, uma saia preta que ia até o joelho, e por algum motivo também usava de um chapéu branco, com uma pena em cima.
- Bom dia Vossa Majestade Celste!
- Bom dia minha querida Grace!
Então essa era Grace, realmente, Celeste não mentiu sobre ela. Ela realmente era uma dama que exalava uma aura de riqueza e luxo, ela até mesmo chega a parecer uma pessoa metida, espero que não seja.
- Esses são os seus novos aprendizes?
- Não, apenas a garota, o garoto é um amigo... Irmão... Não sei, eles são confusos...
- Eles parecem ser bem próximos, são fofos
- São mesmo, você não viu eles juntos ainda, o garoto é desastrado e a garota cuida dele, muito fofos...
- Me parecem um casal!
- Eu sei, mas eles não gostam que eu falei isso...
Faye estava corada, e eu estava um pouco também, mas eu estava mais era vendo essas duas conversarem, poxa, me chamaram de desastrado.
- Você vai ir embora hoje? - Perguntou Grace a Celeste.
- Eu preciso ir, Glacies falou que Orchard estava por perto, eu preciso ajudar ele.
- Hm, realmente é bom você ir mesmo...
- Vou embora apenas a noite...
- Você vai me ajudar com eles?
- Claramente.
Grace foi para sua mesa e se sentou na cadeira olhando para nós, o estofado era preto, parecido com couro, ela se sentou e a cadeira rangeu.
- Bem vindos á PeaceValley, meu nome é Grace Lencastre, sou a prefeita da cidade.
- Olá Grace! - Eu e Faye falamos juntos.
- Vocês, principalmente Faye, vieram para PeaceValley para crescer a aprender, e com o tempo serem testados por mim.
- Tudo certo! - Novamente falamos juntos.
- Como vai funcionar, vou explicar...
Ela se levantou, parece que ela costuma falar fazendo alguma coisa, mexendo as mãos ou andando.
- Todos os dias vocês receberão tarefas, tarefas para serem feitas pela cidade, e a cada semana eu vou mandar um relatório do que eu achei, para Celeste.
- As tarefas podem ir de coisas simples, como ajudar a limpar alguma coisa a até ajudar a arrumar uma ponte, vai depender de como a cidade está.
Parece uma coisa bem interessante, como missões em um jogo.
- Com licença senhora Grace... - disse Faye bem baixinho.
- Sim querida?
- Aonde iremos morar?
- Ah, boa questão!
Ela puxou um mapa antigo da cidade de dentro de uma de suas gavetas na mesa.
- Essa cidade já foi a muito tempo uma enorme floresta de "Carvalhos Titã", uma espécie de árvore que pode chegar a ter 30 metros de altura!
- Hoje em dia existem poucas próximas a cidade, temos uma no centro da cidade, é uma biblioteca muito antiga, ninguém entra lá a décadas, eu mesma nunca vi ninguém entrar.
- Vocês irão para lá e viverão lá, não se preocupem, vocês serão supridos com energia, água, tudo que precisarem, e também irão ter o "salário" de vocês, na verdade está mais para um auxílio, vão ficar bem...
Isso tudo parecia incrível, viveríamos praticamente que de graça, com acesso e muitos benefícios, eu sei que ela está falando no plural, mas eu sei que isso não é para mim, bem, eu terei os mesmos privilégios que Faye, mas farei coisas diferentes, pelo menos eu acho.
Faye parecia muito animada, dava para ver sua face radiante, Grace estava jogando sobre a mesa algumas fotos dessa tal árvore, era realmente uma árvore grande, não parecia tão alta quanto um pinheiro bem grande, mas ela era bastante larga, bom, é um carvalho, não é uma árvore alta, ela é pesada demais para crescer.
- Parece muito bonito! - disse eu.
- É realmente bonita, o único problema que encontrarão será a falta de organização, como eu disse antes, ninguém entra lá a muito tempo...
- Ah, isso é o de menos, eu e Faye podemos limpar tudo, não é Faye?
Ela estava admirando as fotos na hora e acabou não ouvindo o que eu disse.
- Leve isso como um sim...
Grace deu uma risada e Celeste apenas sorriu.
- Vocês já tomaram o café da manhã? - peguntou Grace
- Já sim, eu servi os dois assim que acordaram... - respondeu Celeste.
- Acho que podemos ir fazer as coisas então...
Ela colocou o dedo no queixo e pensou alguma coisa.
- Não, na verdade não, não irei a lugar nenhum, vou me aproveitar disso...
- O que pretende Grace?
- Você verá minha querida Celeste...
É meio difícil saber o que se esperar de Grace, ela parece agir como Celeste, mas ainda sim, nem mesmo Celeste eu consigo prever direito.
- Essa será a primeira missão de vocês dois, vocês irão até a biblioteca árvore e arrumarão tudo lá.
- Vocês tem o tempo que nescessário, mas peço que sejam rápidos, e quando terminarem, quero que dêem um nome aquele lugar.
Eu já imaginava que teríamos que limpar aquele lugar, mas não imaginei que seria apenas eu e Faye, achei que teríamos alguma ajuda, sabe, acho que Celeste poderia estalar um dedo e tudo estaria limpo.
- Nós conseguiremos senhora Grace! - falou Faye bastante animada.
- Faye está certa, não deve ser difícil...
Preciso concordar com Faye, pelo menos para não demonstrar presunção de minha parte.
- Aonde fica essa árvore? - questionou Faye.
- Não acho que preciso dizer, apenas vão lá fora e olhem em volta...
- Vão! Podem ir! - Falou Celeste nos "despachando".
Fomos para fora da prefeitura, começamos a olhar em volta, não demorou muito para ver uma copa de árvore mais alta que as casas.
- Vamos Fire?
- Vamos Faye!
Fomos andando até a árvore, no caminho aproveitamos para irmos conhecendo a cidade, e vendo aonde ficavam as coisas, por exemplo mercados, nesse caso mercearias, lanchonetes, lojas, esse tipo de coisa.
A cidade realmente não era grande, algumas ruas que cruzavam com a que estávamos seguindo acabavam brevemente em floresta, era bastante confortável andar por tais ruas, havia um sentimento de conforto e hospitalidade, diferente da cidade grande, moderna e feroz, PeaceValley era calma e rústica.
Andamos por alguns poucos minutos até chegarmos na árvore, ela parecia grande demais de longe, talvez por outrora estarmos em um lugar mais baixo, houvesse essa sensação de tamanho, a árvore não tinha muito mais que quinte metros, havia uma praça na frente dela, acho que era o centro da cidade na verdade, ou pelo menos o lugar aonde tudo se juntava.
A praça era um círculo no chão, feito de pedras com tons de cinza, havia musgo crescendo em algumas pedras, não era perfeitos, algumas estavam quebradas, envelhecidas ou desgastadas, haviam bancos na volta toda, pessoas sentadas conversando e comento, pássaros no chão procurando por migalhas.
Fomos nos aproximando da árvore, em sua frente havia um buraco escavado e muito decorado, uma porta redonda com muitos detalhes esculpidos e raízes crescendo por ela bloqueava a passagem, olhando para cima dava para ver duas três varandas, umas mais alta que a outra, haviam janelas redondas, bastante escuras e sujas, a copa da árvore projetava uma sombra por quase toda a praça, era fresco e úmido, dava para sentir um cheiro bom.
- Urgh, como vamos entrar?
- Tenta empurrar
- Ok
Fui até a porta e fiz força tentando empurrar, mas em nada deu.
- Dá não, pesado demais.
- Hmm, acho que teremos de esperar
Nos sentamos na frente da porta, com esperanças de que alguém viesse destrancar para nós, vimos de longe aquelas duas garotas de antes, qual era o nome delas? Acho que era Raika e Agatha.
Elas vieram não bem correndo, mas trotando, até nós, pareciam cansadas.
- Ei, o que vocês dois estão fazendo no chão?
Perguntou a garota de cabelos dourados
- Precisamos entrar nessa árvore, mas está trancada.
A garota de cabelos azuis empurrou a dourada para trás.
- Porque querem entrar na biblioteca antiga? Não tem nada lá dentro, eu mesma já pulei aquela varanda para ver!
Ela apontou para cima em direção a uma das varandas.
- Nós vamos nos mudar para essa cidade, e vamos morar aqui, a prefeita Grace nos mandou para cá.
Disse Faye para a garota de cabelos azuis.
- Vocês vão morar aqui! Oba, finalmente pessoas novas!
- Vocês vão adorar a cidade, é bastante legal!
As duas garotas pareciam muito legais, gostaria de ser amigo delas
- Quais são seus nomes? - perguntou a garota de cabelos dourados.
- Eu sou Faye e este ao meu lado é Fire.
- Oi! - Exclamei.
- Olá Fire! olá Faye! - as duas disseram juntas.
- Meu nome é Agatha, e essa fofa do meu lado é Raika - disse a garota de cabelos dourados.
A garota de cabelo azul apenas acenou.
Elas pareciam ser garotas muito legais, mas eu ainda achei estranho elas de manhã, correndo pela cidade com, carroças?
- Ahn... O que vocês estavam fazendo com aquelas carroças mais cedo? - questionei
- Ah! Estávamos apostando corrida!
- Sim sim! Eu e Agatha costumamos competir uma com a outra!
- Como assim competir?
- Ah, as vezes a gente quer ver quem é a melhor das duas... - disse Agatha.
- Melhor em quê?
- Qualquer coisa... - resmungou Raika.
- Ah... Entendi.
É, as duas pareciam bastante competitivas mesmo, pelo menos de manhã elas pareciam, não que agora esteja muito tarde, e elas também pareciam "competir" para falar, elas ficavam revezando as falas.
Um barulho, como um assovio ecoou pelo ar, parecia vir de cima, olhei para cima, vi apenas um borrão caindo muito rápido no chão, e um vento forte que levantou as folhas e a poeira do chão.
- Crianças! Esqueci de dar a vocês a chave da biblioteca!
Era Celeste, ela trouxe Grace no braço, pelo visto Celeste a trouxe voando? Acho que foi isso, não entendi muito bem.
- Vo-Vocês vieram voando? A essa velocidade!
Raika perguntou entusiasmada.
- Sim, porquê a pergunta? - questionou Celeste
- Você caiu no chão com tanta força, espera!
- Hm?
- Você não teve que usar suas asas?
- Não, sou uma Super Sky, seria besteira usar minhas asas em uma distância tão curta.
- Você veio de onde? Espera! Você disse Super Sky?!
- Sim, isso mesmo, Super Sky, e eu vim da prefeitura...
- Não acredito! Tem uma Super Sky na nossa frente Agatha!
- Eu percebi... - disse Agatha em um tom bem mais calmo.
- Qual o sei nome senhora Super Sky?!
Celeste soltou Grace e arrumou o cabelo em seu capuz.
- Meu nome você sabe, talvez apenas não lembre, pequena...
- Eu sei?...
Agatha parecia entediada, talvez ela soubesse a resposta e estivesse com vergonha de Raika? Algo desse jeito.
- Raika pare de ser idiota, você estava falando ontem dela! - falou Agatha um pouco estressada.
- Eu estava falando ontem dela? De quem eu estava falando?
- Foi no almoço, a gente tava lá no pasto comendo e tu começou a falar um monte de coisa.
- Hmm, ah, espera, não pode ser não é?
- Sim, pode ser e é!
- Então você seria... Rainha Caeleste?
Celeste acenou que sim com a cabeça, um sorriso ridiculamente grande começou a surgir no rosto de Raika.
- Se-Senhora... Ca-Ca-e-leste... - Raika estava falando com muita dificuldade agora, dava para ver que seu rosto havia ficado mais avermelhado
- Sim pequenina?
- Vo-Você po-poderia me dar u-um autógrafo?!
Era um pouco engraçado ver essa cena, o jeito como Raika se comportava mudou drasticamente, ela tentava com dificuldade tirar uma espécie de caderninho do bolso.
- Eu não sei dar autógrafos pequena...
- É-é só A-assinar seu nome a-aqui!
Ela tirou o caderninho do bolso, um pouco amassado, e também tirou uma caneta preta.
- Se for apenas isso, então tudo bem!
Celeste pegou o caderninho e rabiscou uma assinatura bastante bonita e elegante, Grace se aproximou de Celeste e olhou para o caderninho.
- Minha assinatura é mais bonita.
- Grace querida, seu nome é tão simples que você consegue fazer qualquer assinatura ficar bonita.
- Isso foi um elogio ou uma ofensa?
- Não sei, o que você acha?
- Acho que eu deveria chutar essa sua bunda gorda!
Quando Grace falou isso todos nós ficamos bastante envergonhados, Raika parecia que iria explodir.
- Não diga isso na frente das crianças!
- Desculpem crianças... Mas é verdade.
- Grace, depois a gente conversa sobre isso tá?
- Desculpe majestade...
Essas duas agem de formas muito diferentes quando estão juntas, bom, pelo menos a Celeste age, não sei como Grace é.
Grace passou por nós e foi até a porta da árvore, ela estava com uma chave dourada na mão, não era uma grande chave, era bem normal na verdade, ela pegou a tal chave e enfiou no buraco da porta e a virou.
Assim que ela virou a chave, algum mecanismo se ativou, as raízes que antes estavam por cima da porta, se retrairam, a porta deu uma bela tremida, caiu muita poeira, de uma grande porta cheia de raízes emergiu a forma de uma porta simples de madeira, magia, isso é muito bonito.
Grace abriu a porta e fez algum movimento com as mãos e criou uma pequena esfera luminosa.
- Venham crianças! Podem entrar! Vocês duas aí também
Grace estava chamando a todos nós para entrar na biblioteca.
Entramos um por um, eu fui o último a entrar junto de Celeste, o interior da biblioteca era extremamente escuro, dava para ver algumas frestas de luz, e ao fundo uma escada que subia para algum lugar iluminado, Grace no meio da escuridão parecia uma fada do abismo, nos chamando para se aventurar com ela.
- Me ajudem a procurar um interruptor ou coisa do tipo, não sei se esse lugar usa algum tipo de energia...
- Arruma o lugar para as minhas crianças viverem e nem mesmo sabe se tem energia?
Celeste disse de um modo um pouco irritado, se não me engano, ela nos disse que teria energia no lugar, tudo certo, moderno, talvez Grace tenha mentido para ela.
- Eu sei que tem tudo aqui Celeste, mas eu não tenho certeza quando a algumas coisas...
- Que tipo de "coisas"?
- As luzes por exemplo, acho que eram movidas a algum tipo de magia...
- Ainda sim não foi o que você me disse.
Celeste franziu as sobrancelhas.
Tateando as paredes Grace passou a mão sobre uma superfície sombria e sorriu, ela novamente fez algum movimento, mas dessa vez não foram apenas as mãos, ela entrou em guarda, e repentinamente fez uma espécie de disparo de luz contra a superfície.
Uma espécie de glifo de luz surgiu aonde ela acertou, dele várias raízes de luz se espalharam por toda a estrutura, a luz era fraca, e não durou muito.
- O quê você fez Grace?
Questionou Faye.
- Eu encontrei e ativei um interruptor mágico, esta grande árvore Faye, já foi a moradia de um grande engenheiro mágico, ele quem projetou não só essa estrutura, mas toda a nação que aqui um dia existiu.
- A quanto tempo foi isso?
- Foi quando essa árvore era jovem, a tecnologia mágica está enraizada na árvore, faz parte dela.
- Ahm, à quanto tempo foi isso?
- Você quer números? Te darei números...
Ela puxou seu celular do bolso e aparentemente fez uma rápida pesquisa, acho que ela não sabia os "números" que Faye queria.
- Foi a mais de vinte mil anos, não existe data exata, mas foi a mais de vinte mil, está bom para você?
- Sim!
Eu olhei para a mão de Faye, estava enfiada no bolso lateral da calça, ela parecia estar movimentando bastante as mãos, graças a escuridão que voltou a tomar conta da sala, eu pude enxergar alguma luz dentro de seu bolso, garota esperta, estava anotando tudo.
- Agora é descobrir como "acender" as luzes... - Disse Grace.
- Mas você não acabou de usar isso? - Indagou Celeste.
- Eu apenas fiz começar a funcionar, agora isso pode ser ligado, mas como ligar, aí eu já não tenho idéia...
Raika parecia muito curiosa, foi andando em silêncio até o tal interruptor mágico, ela ficou encarando ele, ficou um tempo fazendo isso, e devagar ela colocou sua pequena mão em cima e apertou.
As luzes acenderam.
- O que você fez? - perguntou Grace.
- Apertei, é um interruptor não é? - disse Raika
- Sim, mas...
Grace acabou ficando sem jeito, novamente Celeste fazia aquela cara estranha, de quando estava segurando as risadas.
A sala era muito diferente agora, as luzes que acenderam foram muito diferentes do que eu imaginei, algumas linhas como raízes no teto começaram a brilhar dourado, e alguns "pontinhos" brilhantes dourados tomaram o ambiente, era muito bonito.
Parecia que alguns outros cômodos da árvore também começaram a funcionar.
- Se quiserem ir explorar a casa, podem ir, vou ficar aqui com Celeste verificando as coisas. - Disse Grace para nós quatro.
- Sim! - Respondemos em uma só voz, foi engraçado.
Seguimos andando juntos, a casa agora estava aos poucos se acendendo por inteira, Celeste e Grace estavam ligando as coisas, estava realmente muito empoeirado, a sala principal, aonde estava a maioria dos livros era uma sala redonda, dava para ver que as prateleira não faziam realmente parte dela, foram arrastadas para lá.
Haviam alguns sofás em volta, almofadas quase cinzas de poeira, ao lado dessa sala, havia uma entrada, um grande arco na madeira, lá tinha uma cozinha, as janelas estavam fechadas com cortinas, alguns raios de luz passavam, dava para ver as partículas de poeira flutuando pelo ar.
Passei os dedos por cima da mesa da cozinha, na verdade não era uma mesa, era uma espécie de ilha entalhada na madeira da casa, aonde eu passei o dedo, um caminho de uma cor completamente diferente surgiu, meu dedo saiu completamente sujo, passei a sujeira no ombro de Faye, ela não percebeu.
As garotas, Raika e Agatha, foram abrindo as portas dos armários, eu olhei para os armários abertos, estavam vazios, nem mesmo teias de aranha, estava apenas o pó.
Fomos para o andar de cima, a escada dava a volta na sala principal, haviam estantes de livros nas paredes, livros muito velhos, empoeirados, alguns rasgados, a escada terminava em uma pequena sala, talvez de reuniões, uma mesa com algumas cadeiras, novamente tudo empoeirado, e ao mesmo tempo, intocado.
- Quando eu invadi essa lugar eu consegui chegar até aqui...
- Tava muito escuro...
Disse Raika, ela era a que mais parecia estar explorando a casa, ela olhava cada canto, passava as mãos na cadeira, olhava as luzes e os pontinhos brilhantes, Agatha parecia admirar Raika, subindo mais chegamos ao teto, a escada continuava, ela ia dando voltas pelo interior da árvore.
Chegamos em um quarto, havia uma cama, mesa, alguns móveis, parecia menos empoeirado, era bastante amplo, não entramos no quarto.
- Esse vai ser meu! - Falei para Faye.
- Há! Tenho certeza que o meu quarto vai ser bem melhor! - Retrucou ela.
- Não tem como, olha esse quarto, é lindo!
- Aqui tem dois quartos, vamos ver o próximo... - Disse Agatha.
Continuamos subindo, o corredor que passamos era bastante bonito, as luzes passavam pelo teto e pelos cantos do chão, haviam alguns vasos com plantas mortas, chegamos bastante rápido ao outro quarto.
Vou ser honesto, eu estava com bastante medo em ter sido precipitado ao falar aquilo, eu realmente queria ter um quarto muito legal, meu quarto antigo era incrível, mas só de ver o quarto de baixo, eu fiquei encantado.
Agatha foi abrir a porta do quarto, parece que foi em câmera lenta, na hora que eu vi o quarto, eu me arrependi, mas me arrependi muito, o quarto estava completamente arrumado, sem nada de poeira, e era maior que o "meu", tinha até mesmo um cobertor na cama, nem sei a quanto tempo estava lá, mas tinha um cobertor, em um quarto, abandonado a anos.
Como é incrível não é mesmo, parece que existe alguma força no universo, algo como um carma, que sempre vai balancear as coisas, pelo menos tentar, será que é a própria magia do universo?
E subindo mais um pouco chegamos a uma sala de estar bem grande, haviam estofados em toda parte, o teto era redondo, e alguns ramos da árvore, pendurados no teto, continuam algumas daquelas partículas de luz, a luz no ambiente era muito confortável, eu não falei sobre os banheiros anteriormente, mas se não me engano, eu vi um banheiro no andar de baixo, e neste último andar havia um banheiro também.
- Não parece ser um bom banheiro, a pessoa deve sair com frio, e até descer para o quarto né... - disse Faye.
- Bom, lá na minha casa o banheiro é bem longe do meu quarto, mas minha casa é bem quentinha, então não tenho esse problema... - Respondeu Raika.
- Lá no campo é bem frio, perto do rio então, nem se fala, é sempre divertido, a gente sai do banho e já corre do banheiro para o quarto... - Disse Agatha.
- Sua casa é aquecida Agatha? - perguntei, pois todas as casas que já estive eram, achei que todas seriam.
- Não, não é, meus avós falam que isso deixa a gente fraco, amolece o corpo, não sei se o que ela diz é verdade, mas meu primo concorda...
Um minuto de silêncio.
- Você mora com a família toda Agatha? - perguntei
- Com quase todo mundo, alguns parentes vivem em lugares bem distantes...
- Sua casa é grande?
- Ah, lá no campo a gente tem a casa principal, ela é muito grande sim.
- Muito grande? Gata, aquilo é uma mansão! - Raika repentinamente nos cortou, Agatha a encarou, Raika voltou a conversar com Faye.
- Raika não tá muito errada não, acho que comparado com as casas da região, a minha é a maior.
- Porque ela te chamou de Gata?
- Ah, ela por algum motivo desenvolveu uma preguiça repentina de falar o A no início do meu nome, não sei se ela usa isso para me cantar as vezes, ou apenas é preguiçosa.
Olhei para Faye e Raika, ambas conversavam apontando para as paredes, Raika parece ser uma pessoa muito exaltada, acho difícil ela ser preguiçosa, e bom, a primeira vista que tivemos delas foi o contrário de preguiça.
Terminando nossa conversa, Celeste e Grace subiram as escadas.
- Conheceram a nova casa de vocês? - perguntou Celeste.
- Sim! - Respondi.
- Que bom, eu e Grace vamos aproveitar disso e já lhes mandar a primeira tarefa.
- Acho que sei qual seria essa tarefa...
- É, acho que você já sabe...
Grace passou a mão no ar e uma espécie de tela surgiu repentinamente, ela mexeu em várias coisas, e a "jogou" em um canto da sala, aonde ela se expandiu e se fixou.
- Aquela tabela que coloquei são suas tarefas de hoje, em resumo são tarefas de limpeza, vocês vão ter que limpar cada canto dessa enorme casa... - Disse Grace apontando para a tal tela.
- Com limpar ela quer dizer tornar possível a vida aqui dentro. - Disse Celeste dando uma risada sem graça.
- Raika, Agatha, é bom vocês irem embora agora, vou ir de carro com a Celeste até a estação, se quiserem, posso levá-las até suas casas...
Agatha e Raika se olharam por um tempo.
- Pode ser... Nos deixe lá em minha casa... - disse Agatha.
Agatha e Raika se despediram de nós e desceram as escadas, ficaram apenas Celeste e Grace.
- A primeira missão de vocês como Celeste disse vai ser limpar este lugar, certo?
- Sim, foi o que Celeste disse... - respondeu Faye.
- Bom, vocês tem uma semana para isso, quando terminarem vocês podem ir até a prefeitura me avisar.
- A casa já está funcionando? - perguntou Faye.
- Sim, eu e Celeste ligamos tudo, vocês tem água, energia, tudo o que for necessário, também daremos a você um "presente".
Celeste veio de trás de Grace, tirou de algum lugar de dentro do seu sobretudo uma espécie de colar, bastante simples, havia uma esfera azul no pingente, a corrente era prateada, mas em alguns pontos parecia haver certa sujeira, como se fosse uma ferrugem.
- Eu sei que isso parece velho e rudimentar, mas, aqui em minhas mãos, eu tenho um dos aparelho mais incríveis já criados...
Ela levitou um dos colares com magia, ela começou a brilhar, alguns pequenos fragmentos de hologramas surgiam a sua volta.
- Este foi o mais potente método de acesso do sistema, até hoje é o mais potente, a única diferença entre este, e o que usamos, é que ele é um colar, e é mais poderoso.
O sistema era a nuvem de dados de toda Dragonsky, não apenas Dragonsky, mas todos os sistemas tinham acesso a mesma rede, uma rede de dados entre todas as espécies, Dragonsky, Veridian, Excel e Calisto, todos eram conectados com o mesmo sistema.
Até mesmo os territórios da Princesa das Trevas eram conectados a isso, o acesso e o compartilhamento da informação é um direito que todo ser consciente deve ter.
A única restrição é em questão aos Calistos, eles são uma raça que vive reclusa, não existe muito diálogo entre nós e eles, eu mesmo ainda não aprendi muito sobre eles na escola.
- Coloquem isso em seus pescoços, e estarão conectados ao sistema novamente, além disso, vocês podem utilizar isso como qualquer tipo de documento, ou para pagar alguma coisa.
- Não tem problema alguém roubar? - perguntei a Celeste.
- Que pessoa em todo o reino de Dragonsky pensaria em roubar isso? E mesmo que algum maluco pense nisso, o colar só funciona no usuário.
- Ah...
- Quero que vocês se sintam confortáveis, como estavam em Miray...
- Eu tenho grandes expectativas dessa "nova vida"... - Disse Faye.
Celeste sorriu
- Vou sair agora, deixarei vocês a sós, aproveitem e comecem a limpar tudo, pelo menos limpem os quartos para poderem dormir essa noite...
- Okay!
Celeste saiu da sala.
- Ah, mais uma coisa! Eu vou ficar na cidade até o fim de semana, para observar vocês, então não tenham medo em me chamar, provavelmente estarei na prefeitura...
Agora ela definitivamente saiu da sala.
- Vamos começar Faye?
- Sim Fire!
- Temos muito trabalho pela frente...
- Com certeza...
Começamos a limpar a nova casa.