Continuando meu caminho até a escola, com a Kaori ainda ao meu lado. Virando a esquina, encontramos Seiji.
Ele sorriu, cruzando os braços enquanto se aproximava com uma expressão maliciosa.
— Shin, você por acaso... desistiu da Yuki? — perguntou, inclinando a cabeça com um sorriso provocador, o suficiente para me fazer engasgar.
— D-desistir? Do que você está falando? — tentei disfarçar, mas senti o calor subir instantaneamente para o rosto.
— Sei lá... você e Kaori saindo juntos tão cedo? Tá parecendo mais um casal do que qualquer outra coisa — Seiji continuou, olhando de mim para Kaori, que estava ao meu lado. — Afinal, você mal fala com Yuki agora, né? Parece que você andou trocando de companhia... — Ele deu de ombros, fingindo indiferença.
— Não somos um casal, Seiji! — retruquei, a voz saindo mais alta do que eu pretendia.
Olhei para Kaori, esperando que ela negasse também. Mas ela apenas deu um risinho, o que só aumentou o nó no meu estômago.
Seiji sorriu ainda mais, aproveitando meu desconforto. — Claro, claro... mas você deveria ser mais honesto com você mesmo, Shin. Uma hora está com a Yuki, na outra com a Kaori... Vai dizer que não está confuso? — Ele estreitou os olhos, me estudando, como se soubesse mais do que eu.
— Eu... não é nada disso — protestei, mas minha própria voz soou hesitante.
O que ele estava insinuando? E por que eu não conseguia negar de forma mais convincente?
— Relaxa, só estou brincando — ele disse, mas com um tom de voz que sugeria o contrário. — Mas um conselho de amigo: uma hora você vai ter que escolher, sabia? Não dá pra ficar em cima do muro pra sempre. — Ele piscou para mim, rindo de novo. — Vou ir até o Rin, te vejo depois!
Quando ele se afastou, fiquei parado, sem saber o que pensar. Escolher? Não era isso que estava acontecendo... certo? Mas por que me sentia tão confuso de repente? E por quê Kaori não falou nada?
Após mais alguns minutos caminhando, chegamos na escola e nos separamos como sempre.
A manhã passou lentamente, as palavras dos professores parecendo distantes enquanto minha mente se perdia em pensamentos. O Concurso de Escrita de Inverno pairava sobre mim como uma sombra constante. Tentava prestar atenção, mas cada vez que olhava para o quadro, as letras embaralhavam, dando lugar às críticas afiadas de Ryuuji.
"Você não serve para ser escritor. Se eu fosse você, desistiria de escrever agora, antes que perca mais tempo."
Essas palavras ecoavam na minha cabeça, e, por mais que tentasse afastá-las, o peso delas se intensificava. Meus dedos batiam na mesa, a caneta girando nervosamente entre meus dedos, mas minha folha de anotações permanecia em branco.
A cada segundo que passava, a expectativa da reunião no clube crescia.
Kaori estava certa. Eles iriam me ajudar... mas e se não fosse o suficiente? E se a minha história fosse realmente medíocre?
Então o sinal finalmente tocou, me arrancando dos meus devaneios. As vozes animadas dos alunos ao meu redor pareciam distantes. Levantei-me lentamente e saí da sala, caminhando pelos corredores como se estivesse em piloto automático. Cada passo que eu dava em direção à sala do clube fazia o nervosismo aumentar.
Finalmente, ao abrir a porta, fui recebido com o som familiar de conversas animadas. Takumi estava de pé, gesticulando entusiasticamente enquanto conversava com Mai sobre algo que parecia ser um novo romance que ele havia lido. Rintarou estava sentado no canto, com seu livro de sempre, e Taro, como de costume, já estava encostado na parede, aparentemente tirando uma soneca.
Kaori foi a primeira a notar minha chegada e se aproximou de mim com um sorriso.
— Pronto, Shin? Todo mundo está aqui para te ajudar! — ela disse, com o tom de sempre.
— Todo mundo, menos o Taro, que já está no seu próprio mundo dos sonhos — comentei, olhando para o garoto que roncava baixinho.
— Ele sempre dorme durante as reuniões — disse Takumi, dando de ombros. — Mas isso não significa que ele não vai dar sugestões depois. Ele é assim.
Então, Kaori foi até o centro da sala e chamou a atenção de todos. Aos poucos, as conversas foram diminuindo até que o silêncio se instalou.
— Pessoal, preciso da ajuda de vocês — ela começou. — Recentemente, teve um concurso que Shin participou, o Concurso de Escrita para Novatos, mas infelizmente... ele acabou em sétimo lugar. No entanto, ele acabou desafiando um cara que ficou em primeiro, um tal de Ryuuji.
— Sétimo lugar, sério?
— Ryuuji? Quem é esse?
Kaori então contou o que aconteceu no meu encontro com Ryuuji, incluindo a parte em que ele disse para eu desistir de escrever.
— Desistir? — Takumi foi o primeiro a reagir, com uma expressão de incredulidade. — Como alguém pode ser tão arrogante?
Mai franziu a testa, cruzando os braços.
— É incrível que ele tenha a coragem de dizer isso para alguém. Ele pode até ter ganhado esse concurso, mas isso não lhe dá o direito de menosprezar os outros!
Taro, que até então parecia estar dormindo, abriu um olho preguiçosamente.
— Talvez ele só esteja testando você — disse, bocejando. — Alguns gênios fazem isso... Para ver se você tem o que é preciso para enfrentar desafios. Ou, sei lá, ele é só um babaca mesmo.
Kaori cruzou os braços e balançou a cabeça.
— Não importa o motivo! O fato é que estamos todos vamos nos reunir para ajudar o Shin a melhorar sua escrita para ganhar dele. Todos estão dentro, certo?
Houve um pequeno múrmurio entre os membros do clube.
— Ei, Shin. Você disse que o desafiou, certo? — perguntou Takumi. — Mas por que fez isso?
Senti o peso de todos os olhares voltados para mim e, por um momento, a ansiedade quase me fez recuar. Mas eu sabia que não podia fugir disso. Respirei fundo e expliquei brevemente o que havia acontecido. Falei detalhadamente sobre o encontro com Ryuuji no trabalho, suas palavras duras com o seu irmão, Arata, e como aquilo o tinha afetado.
— E agora... eu realmente preciso melhorar. Preciso de toda a ajuda possível — terminei, sentindo um misto de alívio e constrangimento por expor minha situação assim.
— Uau, esse cara... é realmente um babaca — disse Taro enquanto se espreguiçava. — Eu vou te ajudar, Shin.
— Como ele teve coragem de dizer aquilo para o próprio irmão?! — disse Mai. — Eu vou te ajudar também!
Rintarou, que até então não tinha dito nada, ergueu o olhar do livro e me encarou por alguns segundos, antes de finalmente falar.
— Eu li a sua história, Shin. Não foi ruim, mas também não foi a melhor. Acho que Ryuuji provavelmente tem um nível técnico mais elevado, mas isso não significa que você não possa vencê-lo com algo criativo. — Ele deu de ombros. — Acho que podemos começar revisando o que você já escreveu.
— Concordo com o Rintarou — disse Takumi, se aproximando. — Se a gente entender melhor onde estão os pontos fortes e fracos da sua história, podemos trabalhar em cima disso.
Kaori sorriu, satisfeita com a receptividade de todos.
— E além disso, devemos também não só ler a história de Ryuuji mas as outras que ficaram em segundo e terceiro lugar também — sugeriu Rintarou, olhando para o grupo. — Se quisermos entender o que faz uma história ser considerada a melhor, precisamos ver o que os jurados valorizaram nessas obras.
Todos assentiram, e Kaori já começou a organizar como seria feita a leitura. Primeiro, analisamos a minha história.
O silêncio na sala enquanto eles liam me deixava nervoso, como se cada linha fosse uma sentença de julgamento.
— Sua história tem coração, Shin — disse Mai, finalmente, depois de terminar de ler. — Dá para sentir que você colocou muito de si nela, mas... acho que faltou profundidade em alguns pontos. Sabe? Talvez você pudesse explorar mais os conflitos internos dos personagens, como fez com Ainz. Ele é o que mais me conectou à trama.
Concordei, acenando a cabeça, sabendo que ela estava certa. Eu sabia que faltava algo, mas ouvir isso diretamente de outra pessoa era diferente. E doloroso, de certo modo.
Takumi foi o próximo a falar.
— Concordo com a Mai, mas vou acrescentar outra coisa. Acho que a narrativa em si precisa ser mais impactante. Algumas partes ficaram muito suaves, enquanto outras, que deveriam ser intensas, perderam força. Talvez trabalhar mais no ritmo ajude.
Kaori sorriu, como se já esperasse por essas sugestões.
— E é por isso que estamos aqui! — exclamou ela, energizada. — Vamos melhorar a história do Shin juntos!
A próxima hora foi dedicada a ler as histórias dos outros colocados. Rintarou realmente tinha razão, cada uma delas tinha algo que as destacava, mas, quando chegamos à história de Ryuuji, o ambiente na sala mudou. O silêncio que se seguiu enquanto todos liam era quase palpável. Eu já sentia a pressão nas primeiras páginas.
— Interessante, ele sabe como te prender logo no início — comentou Takumi, fechando os olhos como se ainda estivesse imerso na leitura. — O jeito como ele apresenta o protagonista e o conflito central, tudo acontece rápido, mas sem parecer apressado. A narrativa dele tem ritmo.
— Sim, e ele constrói a tensão de uma forma que te faz virar a página sem perceber — acrescentou Mai, franzindo a testa. — E as metáforas que ele usa... são tão impactantes. Cada uma parece um soco, mas ao mesmo tempo, nada soa exagerado.
Kaori, que também lia com atenção, olhou para mim com uma expressão que eu não conseguia decifrar.
— Ele realmente sabe usar os diálogos para expressar o conflito interno dos personagens. Tem um trecho em que o protagonista mal fala, mas dá para sentir tudo o que ele está sentindo. Não é só o que ele diz, mas o que ele não diz, entende?
Rintarou, sempre metódico, ajeitou os óculos e falou calmamente.
— O que me chamou a atenção foi a forma como ele constrói o clímax. É quase imperceptível até que, de repente, tudo faz sentido. O enredo é tecnicamente perfeito, e ele domina o uso de reviravoltas sutis. É como se ele soubesse exatamente onde o leitor vai estar emocionalmente em cada ponto da história.
Takumi balançou a cabeça, sorrindo meio sem graça.
— E o pior de tudo é que ele faz isso parecer fácil. Parece que ele está brincando com as expectativas do leitor o tempo todo, e você só percebe no final.
Eu, que havia passado as últimas páginas tentando entender como derrotar alguém assim, sentia a frustração crescer. Cada elogio parecia confirmar o que eu temia — Ryuuji era de um nível muito acima do meu.
Mas, ao mesmo tempo, ouvir esses detalhes sobre sua técnica me fez perceber que talvez o caminho não fosse tentar vencê-lo em seu próprio jogo, mas encontrar minha própria voz.
— Ele... é bom, não há dúvida disso — disse Taro, bocejando. — Mas isso não significa que você não possa vencê-lo. Se a sua história tiver algo que a dele não tem... algo que toque as pessoas de um jeito diferente... você tem chance. Técnicas podem ser aprendidas, mas a autenticidade vem de dentro.
— Exato! — concordou Mai, com um brilho nos olhos. — Ele pode ser ótimo em técnica, mas a sua história tem um coração, Shin. O Ainz, por exemplo, é um personagem com quem eu me conectei mais do que com qualquer um da história de Ryuuji. Ele é real, tem profundidade emocional.
Kaori assentiu com determinação.
— E é isso que pode fazer a diferença. Sua história não precisa ser tecnicamente perfeita, precisa ser autêntica, precisa tocar as pessoas de um jeito que só você consegue. Vamos trabalhar nisso!
E assim, com as sugestões e a ajuda de todos, uma nova chama de determinação começou a queimar dentro de mim. Eu ia trabalhar duro. Eu ia melhorar. E, com sorte, minha próxima história seria boa o suficiente para impressionar todos que a lessem.
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