(...)
Charlotte
Durante vinte longos anos, mantive minhas emoções aprisionadas até cruzar com Dylan, que desvendou o que me permitia ser uma mulher comum. Havia esquecido o que significava sentir amor e raiva.
Dylan, para mim, é um enigma.
Embora tenha aceitado ficar com ele, ainda busco entender o que me fascina nesse zumbi.
Será que ele carrega algum tipo de patógeno que provoca essa reação em mim?
Por que existe essa atração biológica entre nós?
Talvez um dia eu encontre a resposta, enquanto me deixo levar como as ondas do oceano.
Tivemos um momento íntimo, e não me importo se os outros ouviram. Passei duas décadas sozinha, e meu zumbi possui uma habilidade incrível, então que ouçam.
Depois de um tempo na cama, me levanto e digo que preciso de um banho. Dylan avisa pelo dispositivo que se juntará a mim no chuveiro. No banheiro, sinto alívio ao encontrar água corrente, toalhas e sabonetes.
Em vez de apenas tomar banho, fazemos amor sob o chuveiro.
Esse homem não se cansa?
Após consumir minha escassa energia, ele me auxilia no banho. Quando saímos, retorno ao quarto e desmaio de exaustão.
Ao acordar, meu corpo dói, e xingo mentalmente por ele ser tão insaciável. Coloco minha roupa e Dylan, seu uniforme. Deixamos o quarto, encontrando os outros em silêncio.
Spider rompe o silêncio, indicando que é hora de Dylan se alimentar. Sentada, aguardo enquanto ele se nutre. Depois, deixamos a casa em direção ao nosso destino.
Com as muralhas erguidas em uma década, deveríamos encontrar muitos zumbis, mas há poucos no caminho, o que me intriga.
Algo não está certo. Olho para o lado, mas não vejo nada. Dylan balança a cabeça em concordância; ele também percebe que há algo errado.
Caminhamos por horas sem avistar zumbis, o que traz alívio aos outros, mas me deixa inquieta. O silêncio indica que há algo de errado.
De repente, ouço passos. Olho para Dylan, que me sinaliza para ir. Mudamos de direção, me escondo e avisto um vulto. Aponto minha arma, e a pessoa para de andar.
"Não atire," - uma voz feminina diz, virando-se para mim, e vejo que é uma mulher.
"Por que está nos seguindo?" - Pergunto, aproximando-me cautelosamente. "Você é humana?"
"Sim."
"Por que há uma humana na terra dos mortos?" - Questiona Spider, aproximando-se com a arma apontada para ela.
"Melhor sairmos. Logo eles estarão aqui."
"Eles quem?" - Indago.
"Os sentinelas do alfa," - diz, segurando minha mão. - "Confie em mim. Só quero ajudar," - fala, e fico a observá-la enquanto ouço um grito. - "Eles estão vindo," - diz, apavorada. - "Por favor."
"Vamos," - digo, e ela começa a correr, seguimos em silêncio, e algum tempo depois, ela entra no metrô e abre uma porta. Ao entrarmos, ela remove a capa. - "Cacete," - exclamo ao ver sua barriga enorme. - "Você está grávida?"
"Sim," - confirma, sentando-se em uma cadeira. - "Sou Maria. Qual é o seu nome?"
"Sou Zero."
"Seu nome é um número, que peculiar," - diz, rindo. - "Ele é um zumbi," - comenta, levantando-se em direção a Dylan, e me coloco à frente dela. - "Entendi, vocês estão juntos," - fala, enquanto Dylan me abraça. - "Uma humana e um zumbi. Nunca imaginei presenciar algo assim."
"Por que estava nos seguindo?"
"Estou aqui para salvar outros humanos, e por isso estava seguindo vocês. Assim posso ajudar."
"Nos ajudar?"
"Sim, mas quero algo em troca."
"O que você deseja?"
"Quero que vocês me ajudem com o bebê. Não posso fazer uma cesárea sozinha, pois posso matá-lo se tentar. E se me ajudarem, ajudarei vocês a resgatar os humanos aprisionados."
"Você os viu?" - Pergunta Spider.
"Sim. Será difícil chegarem até eles. O prédio está cercado por sentinelas do alfa, mas os humanos conseguiram lacrar a entrada, e eles não conseguem entrar. Portanto, se me ajudarem, levarei vocês até os humanos."
"Quem garante que você não vai nos trair?"
"Se eu quisesse matar todos, teria feito isso enquanto vocês dormiam na casa. A única coisa que me importa é o meu bebê," - diz, colocando a mão em sua barriga.
"Está bem, eu faço."
"Você ficou maluca, Zero?" - Pergunta Mika.
"Se o prédio está cercado, iremos morrer, e se ela tem outro jeito de entrar sem atravessar o mar de zumbis, então irei ajudá-la," - respondo, abrindo minha bolsa, retirando uma faca e luvas cirúrgicas, colocando-as em minhas mãos. - "Deite-se," - ordeno, e a mulher obedece. - "Tem certeza, vai doer?"
"Isso não importa," - diz, e começo a cortar sua barriga com delicadeza, e ela começa a gritar. Dylan a segura, e alguns segundos depois, a mulher desmaia.
"Ela vai morrer se você não for rápida," - alerta Mika, e ignoro, corto a bolsa. Retiro o bebê, e ele começa a chorar. - "É um menino."
"Ele está infectado?" - Pergunta Spider.
"Não," - respondo, corto o cordão umbilical, entrego para Mika e limpo a mulher. Depois, pego o kit de primeiros socorros, tiro uma agulha e linha, e costuro o corte. - "Mesmo neste inferno, existem milagres," - digo ao me levantar.
"Mas ela está sozinha. Então, quem é o pai do bebê?" - Pergunta Mika, enquanto olho para o bebê.