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80.55% A Crônica do Contador de Histórias / Chapter 85: LXXXIV. DEDILHAR

Chapitre 85: LXXXIV. DEDILHAR

Quase toda a longa estrada para Torrente estava deserta.

O sol roçava as árvores e o vento tinha um ligeiro toque da friagem que o outono não tardaria a trazer. Fui primeiro a Foles buscar meu alaúde. Radagon havia insistido em que eu o deixasse lá na noite anterior, por medo de que o quebrasse em minha longa caminhada para casa.

Ao me aproximar da Foles, vi Droch encostado no umbral da porta deslizando uma moeda pelos nós do punho. Ele sorriu ao me ver.

— Olá, rapaz! Achei que você e seus amigos acabariam no rio, do jeito que saíram gingando ontem à noite.

— Gingamos em direções diferentes, de modo que a coisa se equilibrou.

Droch riu.

— Estamos com a sua dama lá dentro.

Reprimi o rubor e me perguntei como ele teria sabido da minha esperança de encontrar Alys por lá.

— Não sei se eu a chamaria propriamente de minha dama — retruquei. Afinal, Balken era meu amigo.

Ele deu de ombros.

— Como quer que a chame, o Radagon está com ela atrás do bar. Se fosse você, eu iria buscá-la antes que ele fique muito íntimo e comece a praticar seu dedilhado.

Senti uma onda de raiva e mal consegui engolir uma enxurrada de palavras ríspidas. Meu alaúde. Ele estava falando do meu alaúde. Entrei depressa, achando que quanto menos Droch visse a minha expressão, melhor seria.

Circulei pelos três níveis da Foles, mas Alys não se encontrava em parte alguma. No entanto, topei com o conde Augus, que me fez um convite entusiástico para sentar.

— Suponho que eu não conseguiria convencê-lo a me visitar em casa em algum momento, não é? — perguntou-me com ar tímido. — Estou pensando em oferecer um jantarzinho e sei de algumas pessoas que adorariam conhecê-lo. A notícia da sua apresentação já começou a se espalhar.

Senti uma pontada de ansiedade, mas sabia que conviver com a nobreza era uma espécie de mal necessário.

— Seria uma honra para mim, milorde.

Augus fez uma careta.

— Tem que ser milorde?

A diplomacia é de fundamental importância no trabalho de uma trupe e, em grande parte, é praticada respeitando os títulos e a hierarquia.

— E a etiqueta, milorde — respondi, com ar pesaroso.

— Dane-se a etiqueta — disse Augus, em tom petulante. — A etiqueta é um conjunto de regras que as pessoas usam para poder ser grosseiras umas com as outras em público. Eu nasci Renpy em primeiro lugar, Augus em segundo e conde por último — afirmou, e me lançou um olhar suplicante. — Ren, para abreviar?

Hesitei.

— Pelo menos aqui — pediu ele. — Eu me sinto meio como uma erva daninha no canteiro de flores quando começam a me tratar por "milorde" aqui.

Relaxei.

— Se isso o deixa feliz, Ren.

Ele enrubesceu, como se eu o tivesse lisonjeado.

— Então fale-me um pouco de você. Onde está hospedado?

— Do outro lado do rio — respondi, evasivo. Os beliches do Cercado não eram propriamente glamorosos.

Quando Augus me olhou com ar intrigado, continuei:

— Frequento a Academia.

— A Academia? — perguntou ele, claramente confuso. — Agora eles ensinam música?

Quase caí na gargalhada ao pensar nisso.

— Não, não. Eu estou no Arcano.

Arrependi-me prontamente de minhas palavras. O conde se encostou no espaldar da cadeira e me olhou constrangido.

— Você é feiticeiro?

— Oh, não — respondi, com ar displicente. — Estou apenas estudando. Sabe como é, gramática, matemática... — esclareci, escolhendo dois dos campos de estudo mais inocentes em que pude pensar, e ele pareceu descontrair-se um pouco.

— Acho que pensei simplesmente que você fosse... — Deixou a frase morrer e abanou a cabeça. — Por que está estudando lá? 

A pergunta me pegou desprevenido.

— Eu... eu sempre quis estudar na Academia. Há muitas coisas para aprender.

— Mas você não precisa de nada disso. Quer dizer... — tateou em busca das palavras — do jeito que você toca. O seu protetor com certeza o incentiva a se concentrar na sua música...

— Não tenho nenhum mecenas, Ren — retruquei, com um sorriso tímido. — Não que me oponha a essa ideia, entenda bem.

A reação dele não foi a que eu havia esperado.

— Maldito azar o meu! — exclamou e deu um tapa com força na mesa. — Presumi que alguém estava sendo reservado, guardando segredo sobre você. Maldição, maldição, maldição.

Recuperou um pouco a compostura e olhou para mim:

— Desculpe. É só que... — Fez um gesto frustrado e deu um suspiro. — Já ouviu o provérbio que diz "Com uma mulher o sujeito fica feliz, com duas, cansado..."

"...com três, elas passam a se odiar..." — emendei, balançando a cabeça.

"...e, com quatro, passam a odiar o sujeito" — concluiu Augus. — Bem, o mesmo se aplica duplamente aos mecenas e seus músicos. Acabei de escolher o terceiro, um flautista que luta com dificuldades — explicou, com um suspiro, e abanou a cabeça. — Eles brigam feito gatos num saco, por medo de não receberem atenção suficiente. Se eu soubesse que você ia aparecer, teria esperado.

— Você me lisonjeia, Ren.

— Estou é me dando pontapés, é isso que estou fazendo — retrucou ele, tornando a suspirar, com ar de culpa. — Isso não é justo. O Sephyn é bom no que faz. São todos bons músicos e superprotetores em relação a mim, como esposas de verdade — acrescentou, com um olhar de quem se desculpasse. — Se eu tentar incluir você, será um inferno. Já tive que mentir sobre aquele presentinho que lhe dei ontem.

— Quer dizer que eu sou sua amante? — Sorri.

Augus deu um risinho.

— Não vamos levar essa analogia longe demais. Prefiro ser promotor do seu casamento. Vou ajudá-lo a encontrar um mecenas adequado. Conheço todo mundo que tem vontade ou dinheiro num raio de 80 quilômetros, de modo que não deve ser muito difícil.

— Seria uma grande ajuda — afirmei, com ar honrado. — Os círculos sociais deste lado do rio são um mistério para mim. Por falar nisso, ontem conheci uma jovem e não descobri muita coisa a respeito dela. Se você está familiarizado com a cidade... — Interrompi-me, esperançoso.

Ele me deu um olhar cúmplice.

Ahhh, entendi.

— Não, não, não — protestei. — É a moça que cantou comigo. A minha Aloise. Eu só tinha a esperança de achá-la para lhe fazer uma visita de cortesia.

Augus me olhou como quem não acreditasse, mas não estava disposto a discutir.

— Muito bem, como é o nome dela?

— Alice — respondi. Augus pareceu esperar algo mais. — É só o que eu sei.

O conde soltou um grunhido.

— Como era ela? Diga-me cantando, se for preciso.

Senti o começo de um rubor no rosto.

— O cabelo dela era escuro, mais ou menos por aqui. — Usei uma das mãos para indicar um ponto um pouco abaixo do ombro. — Jovem, de pele branca — acrescentei. Augus me observou com ar de expectativa. — Bonita.

— Entendo — fez ele, esfregando os lábios. — Ela recebeu a gaita-de-foles de prata?

— Não sei. Pode ser.

— Mora na cidade?

Tornei a indicar minha ignorância encolhendo os ombros, sentindo-me cada vez mais tolo.

Augus riu.

— Você terá que me dar mais do que isso — disse. Olhou por cima do meu ombro e prosseguiu: — Espere, lá vem o Droch. Se há alguém capaz de achar uma moça para você, é ele. — Levantou a mão. — Droch!

— Na verdade, não é tão importante assim — apressei-me a dizer.

Augus me ignorou e fez sinal para que o homem parrudo viesse à nossa mesa.

Droch aproximou-se devagar e se encostou nela.

— Em que posso servi-los?

— O nosso jovem cantor precisa de umas informações sobre uma jovem que conheceu ontem à noite.

— Não posso dizer que eu esteja surpreso, havia uma boa safra de beldades aqui. Uma ou duas perguntaram por você. — Deu-me uma piscadela. — Quem despertou o seu interesse?

— Não é isso — protestei. — Ela foi a moça que fez o contracanto ontem. Tinha uma voz linda, e minha esperança era encontrá-la para podermos cantar um pouco.

— Acho que sei de que música você está falando — disse Droch, abrindo-me um sorriso largo e entendido.

Senti-me enrubescer furiosamente e recomecei a protestar.

— Ora, acalme-se. Essa eu vou guardar entre a língua e os dentes. Vou até me abster de contar ao Radagon, que é o mesmo que contar à cidade inteira. Ele fofoca feito uma colegial depois de tomar umas e outras — explicou, olhando-me com ar expectante.

— Ela era magra, de olhos profundos, cor de café — informei, sem pensar em como soava a frase. Apressei-me antes que Augus ou Droch fizessem alguma brincadeira. — O nome dela era Alice.

— Ahhh! — fez Droch, balançando a cabeça devagar e estampando um sorriso um tantinho irônico. — Acho que eu já devia saber.

— Ela mora por aqui? — perguntou Augus. — Acho que não a conheço.

— Você se lembraria — disse Droch. — Mas não, acho que não mora na cidade. Eu a vejo de vez em quando. Ela viaja, vive aparecendo e sumindo de novo — explicou. Coçou a parte de trás da cabeça e me deu um sorriso apreensivo. — Não sei onde você conseguiria encontrá-la. Cuidado, menino, aquela é capaz de roubar seu coração. Os homens ficam caídos por ela feito o trigo sob o gume da foice.

Encolhi os ombros, como se essas coisas não pudessem estar mais distantes do meu pensamento, e fiquei contente quando Augus mudou de assunto e começou a falar de um boato a respeito de um dos conselheiros da assembleia local. Ri da disputa implicante dos dois até acabar minha bebida, e em seguida me despedi e os deixei.


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