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100% Reviver / Chapter 5: 5

Capítulo 5: 5

— Ellen? Ellen? — a chamo e ela abre os olhos — O que aconteceu com você?

Ela olha para mim parecendo não me reconhecer de início então começa a balbuciar coisas que eu não entendo.

— Ellen eu não te entendo.

— Nicho... — ela fecha os olhos completamente.

— Ellen? Ellen? — ela não responde. Pego meu celular e disco o número de Robert. Ele atende no terceiro toque.

— Oi Nick.

—Robert, preciso de você na minha casa. Em quanto tempo você pode chegar?

— Aconteceu alguma coisa com você? — preocupação está clara na sua voz.

— Não é nada comigo.

— Então... — ele relaxa com um suspiro —... Amigo eu estou um pouquinho ocupado agora, mas farei o possível pra chegar em uma hora.

Ótimo. O novo Robert deve estar com alguma de suas novas amiguinhas. Eu tenho que levar Ellen para um médico, mas não a levarei a um hospital até que Robert diga que ela precisa.

— Está certo Rob. — aceito sua "oferta" — Só... venha ok.

Desligo.

Olho para Ellen e ela parece dormir serenamente embora sua testa tenha um v formado entre as sobrancelhas. Suas roupas estão um pouco sujas e ela parece não ter tomado banho há pelo menos três dias. Ela tem ferimentos nos braços e nos joelhos, um corte acima do olho... Isso tudo é o que apenas dá pra ver sem um exame mais detalhado, o que Robert achará se procurar a fundo?

Não vou levá-la a um hospital e deixá-la sob os cuidados de um estranho que vai fazer mil perguntas sobre ela que eu não saberei como responder, mas também não posso ficar com ela aqui ao relento.

Pego Ellen em meus braços e a coloco no banco do passageiro do meu carro. Aperto seu cinto de segurança e deito um pouco o banco para que sua cabeça fique em uma posição boa. Fecho a porta e vou para o meu lado do carro. Dirijo a toda velocidade até a minha casa para esperar meu bom amigo médico.

Levo ela para minha cama e verifico seus sinais vitais. Ando de um lado para o outro até que ele chega.

— Ela parece ter tido uma leve concussão com o que quer que tenha acontecido com ela. — diz Robert ao examiná-la mais minuciosamente.

— O que você acha que aconteceu com ela? — peço não querendo parecer preocupado.

— Não sei. Talvez uma queda ou algum tipo de agressão.

— Estranho. Parece que sempre que eu a encontro, ela está quebrada. — Onde essa menina vive se metendo? — Você acha que ela precisa de um hospital?

— Não acho que seja necessário, Nick. — ele diz quando termina de colocar os curativos — Ela está apenas dormindo agora.

— Como você sabe? — Ele me dá um olhar "Talvez porque eu seja médico, seu idiota".

— Olha, quando ela acordar ela vai sentir um pouco dor de cabeça e talvez tontura e enjoo, mas isso é normal. Você deve comprar esses remédios pra ela. — Ele escreve uma receita e a entrega pra mim — Se a dor for muito forte ou se ela desmaiar ou parecer sonolenta você me chama ok. Os curativos que eu fiz agora precisam ser trocados amanhã quando ela acordar. Se você não quiser fazer isso, me chame e eu faço.

Concordo e pego a receita das suas mãos para ler. Não preciso estar olhando , pra saber que ele está claramente me observando e rindo de mim. No mínimo, está impressionado por eu trazê-la para a minha casa.

— Não é nada demais Rob. — me justifico ainda lendo o nome dos remédios — Eu só não podia fingir que não a vi e deixá-la na rua.

— Mas eu não disse nada. — ele fala rindo.

— E nem precisa. — levanto meus olhos para ele — Eu sei perfeitamente o que está passando nessa sua cabecinha perversa.

Seu sorriso aumenta e eu acabo rindo junto com ele. Que otário melhor amigo eu tenho. Depois de poucas recomendações, levo Robert até a porta e me despeço dele. A consulta não durou meia hora. Ele é muito competente. Ao voltar ao meu quarto paro na porta por um instante e observo essa forma feminina deitada ali. Robert tem razão. É estranho. Mas o que eu poderia fazer? Não confio na medicina de qualquer um e não sou um animal irracional ao ponto de não ajudar uma pessoa que precise de mim.

Vou até a minha cama e me sento na beirada, olhando pra ela. Sua respiração é leve e vejo perfeitamente seus movimentos de inspirar e expirar. Se não fosse impossível, diria que um anjo desceu do céu e está dormindo na minha frente. Ela está ferida e cada vez que olho seus machucados, sinto uma ira irracional se acender dentro de mim pelo filho da puta que lhe fez isso. Ela só pode ter sido agredida de novo.

Apago as luzes e me deito ao seu lado sem nunca deixar de olhar para o seu rosto sereno. A luz da lua a banha e agora mesmo ela se parece ainda mais com uma criatura angelical. De repente ela se mexe e resmunga alguma coisa que eu não compreendo. A serenidade em seu rosto sumiu e agora ela parece agitada em seu sono. Não movo um único músculo para que ela não se assuste ao se encontrar na cama com um homem que ela mal conhece.

Mas da mesma forma repentina que ela se agitou, ela também se acalma e a serenidade volta às suas feições. Atrevo-me a levar uma das mãos até seu rosto e tiro uma mecha de cabelo que está sobre seus olhos. Ela se aninha, põe sua mão sobre a minha como um reflexo e eu permito até perceber que isso talvez já seja um pouco demais. Então eu movo minha mão do lugar e a descanso sob meu queixo. Não sei por quanto tempo fico olhando pra ela antes de adormecer.

Um par de olhos verdes está me encarando quando acordo de manhã. O susto é tão grande que jogo um dos meus braços sobre a mesinha de cabeceira e derrubo o despertador no chão, se espatifando.

— Meu Deus, você só pode estar querendo me matar. — digo me sentando na cama. — Eu poderia ter um ataque cardíaco agora mesmo.

— Imagina qual não foi a minha surpresa ao acordar em um lugar estranho ao lado de um cara estranho. — ela sorri — Mas acho que o seu rosto lindo diminuiu o impacto das coisas.

— Eu encontrei você jogada na rua e toda machucada ontem. — digo colocando os pés pra fora da cama e esfregando o rosto — Não tive escolha e te trouxe pra cá.

— Se eu estava tão mal assim porque não me levou a um hospital? Ou você achou que eu seria uma espécie evolutiva com poder auto curativo?

Ela é fantástica. Atrevida mesmo. Sorrio com sua ousadia.

— Não te levei a um hospital porque não confio muito na medicina de qualquer um com um diploma. E não acho que deveria aceitar suas brincadeiras sem que me diga como e porque foi parar naquele beco.

Seu sorriso some um instante e então ela o abre de novo.

— Bom, então acho que não vou mais brincar com você.

Balanço a cabeça na sua direção e me levanto totalmente, indo em direção ao banheiro.

— Olha, eu vou tomar um banho... a menos que você queira ir primeiro.

— Tudo bem pode ir. Preciso de uns minutos.

Entro no banheiro e tomo banho rapidamente pensando em como fazê-la falar sobre o que houve com ela. Quando saio do box enrolando uma toalha na cintura, ela está de pé na porta. Abro espaço pra que ela entre e paro na pia pra escovar os dentes. Ela vai para o chuveiro e vejo seus movimentos de se despir através do vidro. Desejo instantaneamente ser eu a pessoa a despi-la.

Vejo a silhueta do seu corpo magnífico debaixo da ducha, o que me deixa com uma ereção maior que a estátua da liberdade. Eu saio do banheiro perturbado, me visto e  escolho uma roupa minha pra ela vestir quando sair. Desço e coloco Nickelback no aparelho de som enquanto preparo nosso café da manhã, tentando e em certa parte conseguindo, manter a imagem dela nua fora da minha mente.

Não demora muito e ela desce. Senta-se no banquinho da mesa atrás de mim e sinto seus olhos na minhas costas.

— Você cozinha?

— Não sou dos melhores, mas arrisco um pouco na cozinha sim levando em conta que estou sempre sozinho aqui.

— Então não tem uma namorada ou uma empregada, ou até mesmo uma mãe pra fazer isso pra você?

— Não. — viro-me para ela, lambendo um dedo sujo de manteiga — Não tenho relacionamentos do tipo "namoro" com mulheres, não iria gastar dinheiro com uma mulher pra fazer algo que eu mesmo posso fazer e sobre a minha mãe... — volto minha atenção para as panquecas na frigideira — eu diria que está fora do contexto.

— Fora do contexto? Como assim?

— Vai me falar sobre como conseguiu seus ferimentos?

— Não.

— Então acho que não vou falar de como minha mãe está fora do contexto.

Viro-me de volta pra ela a tempo de ver o seu sorriso e não sei por que, me vejo achando esse sorriso uma das coisas mais lindas que já vi.

— Tudo bem cheddar e peito de peru pra o seu sanduíche?

— Está perfeito.

— Quer suco, café ou leite?

— O que você vai beber?

— Suco.

— Então vou te acompanhar.

— Ótimo. Poupa o meu trabalho de preparar café. Na geladeira deve ter suco de abacaxi e laranja. Quer pegar, por favor?

— Claro.

Ela se levanta e vai até a geladeira. No caminho eu percebo que ela está usando minha camisa e apenas a minha maldita camisa. Deixei uma camisa e uma calça de moletom pra ela e só agora percebo que ela não colocou a calça. Mas que inferno! Ela chegou quando eu estava de costas e não vi, mas agora estou vendo toda a formosura do seu delicioso corpo.

Ela se abaixa pra pegar uma jarra na parte de trás e eu contemplo o início da sua bunda. Porra. Minha ereção adormecida está totalmente acordada agora. É possível desejar alguém como eu estou desejando essa menina agora? Acho que não.

Diante da situação e da provável barraca que deve estar formada na minha calça, eu lavo rapidamente as mãos e saio dando uma desculpa de que preciso fazer uma ligação. No banheiro, eu mal tenho tempo de trancar a porta e já estou abaixando a calça e a boxer juntas para tentar remediar a situação. Quando estou tocando a segunda, ouço uma batida na porta e com o susto eu gozo de novo na mão.

— Nicholas? Você tem visita.

— Estou saindo, Ellen. — digo, tentando não parecer ofegante.

— Ok.

Lavo as mãos e saio do banheiro. Ela está um pouco séria, mas logo a percebo tentando prender um riso.

— O quê? — peço desconfiado.

— Eu sei o que você estava fazendo aí.

Oh, oh! Fui pego. Droga.

— Olha, eu até entendo que você quisesse esconder isso de mim, mas não tinha uma desculpa melhor do que "tenho que fazer uma ligação" ?

— Mas eu tinha que fazer uma ligação. — digo com uma voz que não convence nem a mim mesmo.

Ela ergue uma das sobrancelhas.

— Ah sim? E onde está o seu celular?

— Uhm...

Ela sorri.

— Tudo bem, Nicholas. Todo mundo já passou por isso. Uma vez aconteceu comigo no meio de um jantar na casa de um amigo e eu tive que sair correndo.

— Sério? — Não sei porque, não gosto da ideia dela sair correndo porque estava excitada demais com alguém ou alguma situação.

—Ahan. Todo mundo já teve uma emergência estomacal.

Começo concordando e então paro com a reflexão sobre mim. O quê? Emergência estomacal? Eu chamaria de emergência erétil. Então é isso que ela acha que eu estava fazendo? Não contenho minha diversão e sorrio às gargalhadas. Não sei o que é mais desastroso: ela imaginar equivocadamente o que eu estava fazendo ou saber o que eu realmente estava fazendo. É constrangedor. Mas para não dar brecha pra que ela saia correndo daqui por achar que eu sou um completo tarado, eu deixo que ela acredite na sua hipótese acabo e concordo com seu pensamento.

— Bom, acho que devo fazer aquela ligação agora. — digo baixinho, mesmo sem precisar ligar pra ninguém, porque sou um idiota.

— Ah, aquele seu amigo médico está te esperando. — ela sorri e desce em seguida.

Quando ela some da vista, eu pego o celular e ligo pra ONG. Pergunto se posso levar alguém comigo hoje e como sempre, não me negam um favor. Decido levar Ellen para ver meu trabalho com os meninos. Não sei o que está acontecendo. Nunca quis mostrar a nenhuma mulher o que eu faço. Pelo menos não fora da cama. Mas com ela eu tenho essa necessidade de que ela veja meu trabalho e principalmente, que goste.

Desço e encontro Rob examinando Ellen no sofá da sala. Os botões da minha camisa que ela está usando estão abertos e eu tenho um vislumbre do seu corpo só de calcinha e sutiã. Parcialmente nua dessa forma, seus hematomas estão mais à vista. Escuto Robert perguntar sobre seus ferimentos, mas ela não responde. O que pode ter acontecido com ela desta vez? De repente me vejo esmurrar a parede ao meu lado. Os dois olham pra mim surpresos e dou de ombros sorrindo pra disfarçar.

— O que deu em você? — Rob pergunta com um sorriso malicioso — Onde você estava?

— Ele estava fazendo uma ligação. — responde Ellen.

— Exatamente. — confirmo.

— É mesmo? Porque Ellen me disse que você estava no banheiro.

— Dá um tempo, Robert. — Mas que porra. Ele quer me desmascarar?

— É, doutor. Ele teve um problema médico antes de fazer a ligação, por isso ele estava no banheiro quando você chegou.

Posso até ter enganado a Ellen, mas dado a roupa que ela está usando, minha demora em descer, meus relatos sobre já ter me masturbado pensando nela e a  esperteza do meu bom amigo, é claro que ele sabe o que eu estava fazendo lá em cima.

— Ok. — ele diz sem sequer se importar em parecer incrédulo. — Como foi com a sua ligação?

— Liguei pra ONG pra perguntar se a Ellen pode ir comigo hoje. Eles disseram que sim, — olho pra ela — é claro se você quiser.

— O que você faz nessa ONG? — Ellen me pergunta fechando os botões da camisa após Robert terminar de examiná-la.

— Ah, ele é fisioterapeuta. — Rob responde por mim — Ele ajuda varias crianças lá.

— Isso. — sorrio.

— Eu adoraria ir, mas não posso.

— Você vai fugir de novo? — pergunto chegando perto dela.

— Não, é que... a roupa que eu estava usando está imunda e eu não tenho o que vestir. Acho bonitinho você ter me dado uma roupa sua, mas aquela calça caberia duas de mim.

— Tudo bem então. Antes de ir, eu passo em uma loja e compro uma roupa pra você. Na volta compramos mais.

— Porque faria isso? — ela franze a testa — Não te pedi ajuda.

— Mas eu estou oferecendo.

Acho que Robert se sentiu sobrando aqui porque olho de lado e não o vejo mais por perto.

— Olha, Nicholas, eu sei que te devo uma explicação sobre o que houve na Casa da Rachel e sobre eu ter ido embora logo depois, mas...

— Você não me deve nada, Ellen.

— Mas...

— Você precisava de ajuda e eu ajudei. Agora você precisa de ajuda de novo e eu vou te ajudar de novo. Com o tempo, se você se sentir a vontade pra se abrir comigo eu estarei com os ouvidos a postos.

— Não posso aceitar. — ela balança veementemente a cabeça em negativa — Eu vim pra Miami com um objetivo e por mais que você seja um amor de pessoa, não posso aceitar sua ajuda de novo. Eu preciso encontrar algo digno pra fazer da vida pra poder ganhar algum dinheiro e cumprir meu objetivo. Eu não posso dar a você o pagamento que você quer e...

— Já disse que você não me deve nada. Não estou tentando dormir com você menina. Só quero te ajudar.

— Bom, — ela sorri — tecnicamente você já dormiu.

Não posso evitar o sorriso. Ela está me fazendo sorrir mais do que qualquer pessoa que eu conheço.  Acho que gosto disso. Gosto de como me sinto perto dela.

— Você me entendeu. Eu admito que quando nos conhecemos eu só queria transar com você, mas agora... — suspiro —agora não é mais bem assim.

Na verdade é, mas se eu quero saber o que acontece com ela eu preciso da sua confiança.

— Então não vai tentar fazer sexo comigo?

— Não. — Sim.

Ela parece pensar no que eu disse e eu mesmo me pego pensando nisso. Acabei de oferecer minha ajuda a uma menina que mal conheço e estou indo contra toda a minha maneira que eu escolhi viver nos últimos anos. Será se a minha curiosidade e a raiva que estou alimentando do possível bastardo que a maltratou valem o esforço de ajudá-la e me privar do sexo louco que quero fazer com ela?

— Ok, aceito sua ajuda. Mas eu ainda quero encontrar um emprego.

— Ótimo. Eu ajudo você a encontrar um emprego.

— Resolvido isso, só resta encontrar um lugar pra morar.

— Fique comigo. — digo sem nem me dar conta do que eu estou oferecendo. Um lugar na sua casa perto de você o tempo todo, é isso que você está oferecendo seu idiota. Minha cabeça está entrando em parafuso.

— Na sua casa? — ela parece surpresa e eu não posso voltar atrás.

— Sim. — mas eu posso contornar a situação — Ou pelo menos até você se fixar em um emprego e puder pagar o aluguel de um apartamento ou algo assim.

— O que você esta fazendo por mim agora é mais do que qualquer um já fez em toda a minha vida. — seus olhos são bastante sinceros enquanto ela diz isso — Obrigada.

— De nada.

É isso. Ela vai morar comigo um tempo. E eu não sei por que estou fazendo isso, mas eu estou fazendo e quero fazer. Nunca pensei que ao encontrá-la ontem daquele jeito faria com que hoje ela estivesse recebendo  convite pra morar comigo. Isso nunca aconteceu. Não em cinco anos. Não desde a Ada. É possível que eu tenha outra mulher na minha vida e não acabe destroçado? Sinceramente espero que sim porque não vejo como eu posso manter essa garota afastada da minha mente.

Saímos da loja aos risos por conta da cara que a vendedora fez quando a Ellen entrou vestindo apenas uma camisa minha que mal cobria a sua bunda. Ela preferiu ir quase nua a uma loja do que ir vestindo uma das minhas calças que segundo ela, ficaram enormes. Compramos uma calça jeans azul justa bem descolada com os joelhos rasgados, uma camisa regata branca e é claro, roupa íntima.

— Acho que ela nunca viu ninguém entrar numa loja da forma que você entrou Ellen, é isso. — digo já no carro a caminho da ONG.

— Mas você viu só a cara dela pra você? — ela não consegue parar de rir — Acho que ela pensou coisas imorais.

— Ah, isso não é um problema.

— Bom, pra mim é. Não quero que as pessoas pensem que estamos transando.

Meu sorriso desaparece. Está na cara que ela não quer ser confundida com alguma das mulheres que eu já comi. Ela deve achar que ainda a quero apenas para diversão como no dia em que nos conhecemos.

Mas a verdade é que nas últimas horas eu percebi que tê-la na minha vida apenas como uma amiga pode ser o que eu preciso para que ela confie em mim. Minha curiosidade em saber seus segredos está em níveis perigosamente altos.

— Não precisa se preocupar, Ellen. — digo olhando para ela — Ninguém pensaria isso.

— E por que não?

— Porque eu estou com você dando uma voltinha de carro e te levando para comprar coisas. — eu ajeito a gola da minha camisa e ela balança a cabeça sem entender — Eu nunca fiz isso com nenhuma das mulheres com quem eu transei.

— Eu imagino.  — diz ela distraída e eu franzo a testa. Eu nunca falei nada sobre mim a ela. Exceto hoje de manhã quando disse-lhe que não tinha namoradas pra cozinhar pra mim.

— O que quer dizer com "eu imagino"? — pergunto-lhe.

Ela dá de ombros, respondendo. — É que as garotas da Rachel me falaram um pouco sobre você quando souberam que tinha cuidado de mim.

— Oh! Já fizeram a minha fama pra você?  — peço divertido.

— É mais ou menos. Elas me falaram algumas coisas.

— Sério? Que tipo de coisas?

— Disseram que você é um canalha.

— Nossa! — digo sorrindo amplamente — Elas foram bastante bondosas comigo. Imaginava que me chamariam de coisa pior.

Ela sorri e nós continuamos nosso caminho até a ONG. O lugar funciona em Coral Way, um bairro residencial entre Downtown e Coral Glabes. Ao chegarmos, apresento Ellen a Ruth e ela nos leva até onde estão meus meninos.

— Tio Nick, tio Nick. — Liv vem ao meu encontro.

Eu me abaixo e ela pula no meu pescoço quase me sufocando. Liv é uma garotinha de oito anos muito esperta. Há dois, foi diagnosticada com paralisia cerebral e desde então, começou a ser atendida aqui, já que sua família não tem condições de procurar um profissional particular.

— Oi Liv. — digo afastando-a um pouco para poder olhar no seu rosto — Como você está hoje, pequena?

— Bem, tio Nick. — ela responde sorridente. Observo que ela tem uma pequena ferida nos dois cotovelos.

— O que houve com você Liv? Por que está machucada?

— Foi aquele menino chato que me derrubou do balanço. — diz ela cruzando os bracinhos emburrada e eu logo sei que ela se refere ao Matthew.

— Você e o Matt brigaram de novo? O que eu já falei sobre isso?

— Ele é muito chato, tio Nick. Eu estava brincando no balanço e aí ele pediu pra brincar também, mas eu não deixei. Depois ele me derrubou.

— E por que você não deixou ele brincar um pouquinho também? Você sabe que deve compartilhar.

— Por que eu ainda não tinha terminado.

Ela me conta novamente toda a história e eu escuto atentamente. É muito importante para essas crianças saberem que tem quem as ouça, quem lhes dê atenção. Atrás de mim eu ouço alguém me chamar.

— Nicholas? — é Mônica, a fisioterapeuta interina da ONG e uma das minhas poucas amigas — Você veio um pouco tarde. Já fizemos a interação inicial com os garotos.

— Desculpe o atraso, Mônica. — coloco Liv no chão e me viro pra ela — Eu tive algumas coisas pra fazer mais cedo. — só agora me lembro de Ellen, que parece estar encantada com tudo. Está sentada em um banquinho falando com dois garotinhos. Ela parece à vontade.

— Tudo bem. Essa é a garota da qual você falou? — ela pergunta referindo-se á Ellen.

— Sim. — faço um sinal pra ela se aproximar e ela fica em pé ao meu lado — Mônica, Ellen. Ellen essa é minha amiga Mônica. Ela é a fisioterapeuta daqui.

— Muito prazer. — diz Ellen.

— O prazer é meu. — elas apertam as mãos — Nicholas eu posso falar com você um momentinho?

— Claro. — respondo, depois me viro para Ellen — Você pode esperar aqui um instante?

— Tudo bem — ela sorri e acena para os dois garotos — Acho que fiz dois amigos. Vou ficar com eles.

Concordo e ela volta ao banquinho onde os dois estão. Mônica e eu vamos até a sua sala. No caminho até lá, conversamos sobre como foi a semana das crianças e sobre nossos planos para o fim de semana. Curiosa, ela me pergunta sobre Ellen, mas eu desconverso e digo que é apenas uma garota que está de visita passageira pela minha casa. Se ela acredita ou não, eu não sei, mas não toca mais no assunto.

Em seguida, ela me conta sobre a chegada de um novo garoto à ONG. Com diagnóstico de autismo. Nossa! É o tema da minha dissertação. Empaquei  no mestrado esse ano porque não tinha nenhum paciente ou conhecido com esse transtorno para que eu pudesse estudar o caso. Agora, se a família permitir, poderei continuar minha pesquisa. Mas segundo ela, os pais foram muito evasivos sobre a situação com o filho e conseguir uma assinatura de livre consentimento será uma tarefa difícil.

— Quero conhecê-lo, Mônica.

— Agora mesmo. — ela se levanta — Vamos.

Saímos da sala dela e vamos até a parte de trás da ONG. Há uma sala com vários brinquedos, computadores e, agora mesmo, está cheia de crianças. Com um olhar, eu identifico o garoto autista. Ele está sentado em um dos sofás, sozinho e desenhando em uma folha de papel.

— Ele não falou uma só palavra desde que chegou. As outras crianças estão caçoando um pouco dele porque ele não quer brincar e não fala nada.

— O que é normal para crianças assim. — digo, enquanto observo interessado — Você pode me dar o número do telefone dos pais dele? Quero falar com eles sobre o estudo que quero fazer. Espero que eles aceitem.

— Claro. Antes de você ir embora eu te dou.

— Ótimo. Qual o nome dele? Vou falar com ele.

— É Damian. Boa sorte.

Ela sorri e sai da sala me deixando com os garotos. Caminho até o sofá onde Damian está e me sento ao seu lado. Ele está desenhando uma casa com um cachorro e duas pessoas adultas. Há duas crianças também entre eles. Para um garoto de oito anos com autismo, é um belo desenho. Dá pra identificar claramente todas as coisas que ele deixa no papel. Resolvo puxar assunto.

— Você desenha muito bem, Damian.

Ele não fala nada. Nem sequer olha para mim. Apenas continua pintando.

— São os seus pais?

Nada.

— Você tem um cachorro na sua casa, Damian?

Nada.

— Esse é seu irmãozinho?

Nada. Acho que devo tentar outra medida. Pego uma folha em cima de uma mesinha que está á nossa frente e um lápis.

— Sabe, eu também desenho.

Nenhuma resposta. Levo na esportiva.

— Não acredita? Eu vou te mostrar. — posiciono a folha no meu colo — Vou fazer um autorretrato. Só que vai ser difícil você diferenciar isso de uma foto de verdade porque eu sou muito bom.

Ele continua olhando apenas para o seu desenho e eu começo com o meu. Faço um homem de pauzinhos como se fosse o corpo e uma bolinha na parte de cima representando a cabeça.

— Olha aqui. — mostro a ele — Eu disse que era um ótimo artista.

Seguro o desenho perto do seu rosto por um tempo e finalmente ele olha para ele. Demora uns cinco segundos olhando e volta a desenhar. Pelo menos isso me rendeu um pouco da sua atenção.

Fico olhando pra ele e vejo que ele sorri. Um sorriso rápido e tímido, mas ainda assim um sorriso. Alegro-me por dentro e ouso tocar seu cabelo com uma das mãos. Ele não se afasta, mas fica tenso. Retiro a mão sabendo que com ele tenho que ir bastante devagar.

Após observar Damian terminar seu desenho, volto até a parte da frente da casa e vejo que todos os garotos estão agora formando um círculo em volta de alguém. Ao me aproximar percebo que se trata de Ellen. Mônica está falando alguma coisa com eles e Ellen parece estar imitando uma galinha. Continuo observando de longe e vejo quando um dos garotos acerta sua mímica e toma seu lugar ao centro. Ela adorou estar aqui, eu sinto. E ao que parece, todos a adoraram também. Como não adorariam?

Quando acaba a brincadeira, eu assumo meu papel de fisioterapeuta e começo a trabalhar. Passa da uma da tarde quando termino com todos e levo Ellen para almoçar.

— O que você quer comer? — pergunto dentro do carro quando estamos saindo do estacionamento.

— Qualquer coisa. Estou faminta.

Sugiro irmos a um restaurante, mas ele parece ter outros planos.

— E se eu dissesse a você que gostaria de encontrar um lugar aqui pertinho para devorarmos um belo cachorro quente. — agora é a minha vez de franzir a testa para ela. Cachorro quente? Não se eu puder evitar.

— Cachorro quente? De jeito nenhum.

— Ora, por que não? Eu não acredito que você nunca comeu um cachorro quente.

— E eu não acredito que alguém possa comer. Aquilo no estômago é pior que um holocausto nuclear.

— Você é estranho. — ela sorri — Só não sei se isso é bom ou ruim.

— Espero que seja bom. — sorrio também. — Mesmo que esteja negando um simples cachorro quente.

— Se você está tão determinada a comer besteira, o que acha de irmos ao Subway? Pelo menos os sanduíches de lá não são um veneno em forma de comida.

Escolhemos nossos sanduíches e nos sentamos em uma mesinha na calçada coberta. O meu tem mais verduras do que o dela é claro. Ela parece não se preocupar nem um pouco com a saúde. Tenho que dar um jeito nisso, penso. Observo seu copo gigante de Coca Cola. A cada gole que ela toma eu enrugo a testa e ela ri de mim.

— O que foi agora? Além, é claro, de me fazer comer essa salada, — ela fala salada como se tivesse muita coisa verde no seu lanche — e ainda faz cara feia para a minha Coca Cola.

— Coca Cola é um veneno. Ficaria assombrada se soubesse a quantidade de coisas tóxicas que contém nela e o que ela pode fazer com você. Quando chegarmos em casa, vou te mostrar uns vídeos no YouTube só pra você ter ideia.

— Hmm, — ela engole o que tem na boca — eu já vi esses vídeos. Na verdade eu ri bastante.

— E mesmo assim você ainda toma? — pergunto incrédulo.

— Eu adoro Coca Cola. E é a mesma coisa de, por exemplo, um médico que fuma, ou um professor que fala errado em casa. Nós sabemos, mas não largamos.

Balanço a cabeça para a sua observação, sabendo que de certa forma ela está certa. Eu já vi isso. Na verdade, já fui vítima. Nos meus anos rebeldes e na pior fase da minha vida, eu fiz uso e abuso de substâncias que nem de longe se comparam com à "inofensiva" Coca Cola.

— Tudo bem então. — digo — Acho que você não vai morrer por causa disso. — sorrio — Vamos terminar logo, porque eu ainda vou te levar na Zara pra comprar roupas pra você.

— Obrigada. — ela dá outra mordida em seu lanche.

— Não há de que.


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