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23.61% Rebirth - O Despertar / Chapter 17: Insegurança e Silêncio

Capítulo 17: Insegurança e Silêncio

Era de madrugada. Eu estava na minha escrivaninha, com a lâmpada acesa, tentando encontrar ideias para a minha história. Escrever se revelava mais difícil do que eu pensava. O papel em branco parecia zombar de mim, enquanto eu rabiscava palavras que logo riscava.

Meus olhos pesavam, mas eu não podia parar.

Acabei cochilando por alguns minutos, a cabeça caindo sobre o caderno. Quando abri lentamente os olhos, o sol já estava nascendo, tingindo o céu de tons alaranjados. O cansaço me envolvia como um cobertor pesado, mas me levantei e me arrumei para mais um dia.

Na cozinha, minha mãe estava preparando o café da manhã. Quando me viu, notou minhas olheiras imediatamente.

— Você andou ficando acordado até tarde, não é? — ela comentou, uma preocupação suave na voz.

Eu apenas assenti, ainda meio atordoado.

Meu pai estava à mesa, lendo o jornal. Tentei ignorar a presença dele, mas foi difícil. Minha mãe me entregou o almoço, perguntando sobre o festival desportivo que se aproximava.

— Você quer que a gente vá? — perguntou, com Hana parecendo interessada.

Minha irmã Hana parecia ansiosa com a ideia, mas a ideia de ter minha família na plateia me enchia de vergonha por algum motivo.

— Não precisa, mãe. É só um festival escolar — respondi, olhando para a mesa.

Meu pai abaixou o jornal e olhou para mim.

— Você anda dormindo até tarde porque está escrevendo, não é? — Meu pai perguntou de repente. Sua voz era casual, mas a pergunta me pegou de surpresa.

Minha mão parou no meio do caminho ao pegar o copo de suco. Olhei para ele, hesitante, tentando decifrar o tom de suas palavras.

— Sim... — respondi, com cautela. Parte de mim esperava uma repreensão, mas outra parte — talvez mais esperançosa — queria acreditar que havia algo mais naquela pergunta.

Ele ergueu o olhar para mim e, pela primeira vez em muito tempo, havia um leve brilho em seus olhos. Um sorriso nostálgico curvou seus lábios.

— Está tudo bem. — Ele disse, sua voz mais suave do que eu esperava. — Eu também costumava escrever.

A revelação caiu sobre mim como uma pedra lançada na água, criando ondas de surpresa e curiosidade.

Meu pai... escrevendo? Ele, que sempre parecia tão... distante, havia se dedicado a algo tão criativo? Era difícil de imaginar. Mas isso me fez sentir uma espécie de... conexão também.

Peguei rapidamente minha mochila, e saí de casa.

Na escola, o festival desportivo já estava para começar, transformando o campo em um turbilhão de cores e sons. O ar estava repleto de gritos e aplausos vindos das bancadas lotadas, onde os pais acenavam com bandeirinhas e os colegas torciam com entusiasmo.

Os corredores masculinos se preparavam, ajustando suas faixas de cabeça e alongando os músculos. Eu estava com Seiji e Rintarou, e outros colegas de classe, todos eles ansiosos e energizados pelo ambiente vibrante. As risadas e conversas animadas ao nosso redor criavam uma atmosfera eletrizante, menos para mim.

— A equipe vermelha vai vencer este ano! — disse Seiji animado, amarrando uma faixa vermelha na cabeça.

Aiko se aproximou, sorrindo.

— Na verdade, o time azul vai ganhar — disse ela.

— Ei, qual é gente, todos sabem que na verdade o time amarelo vai ganhar — disse Akira rindo, se aproximando deles

Seiji deu uma risada e olhou para Akira.

— Está se achando só porque ganhou de mim naquela corrida na piscina, né? — ele provocou. — Mas hoje vou te mostrar o que é velocidade de verdade!

Akira respondeu com um sorriso desafiador.

— Hoje é o dia decisivo. Vamos ver quem realmente manda!

Aiko observava os dois com um sorriso divertido, enquanto o clima de competição crescia entre eles.

— Espero que vocês tenham guardado energia, porque essa disputa vai ser épica! — disse ela, incentivando ainda mais a rivalidade amigável.

Enquanto eles estavam animados, eu estava totalmente sem energia. Um bocejo escapou antes que eu pudesse segurá-lo, chamando a atenção de Rintarou.

— Você ficou jogando até tarde de novo, Shin? — perguntou, lançando-me um olhar cético enquanto ajustava os óculos.

Balancei a cabeça lentamente, ainda esfregando os olhos.

— Não. Estive... escrevendo — respondi, minha voz um pouco hesitante. — Aquela história que vocês leram, lembra?

Rintarou parou por um instante, como se estivesse tentando se lembrar, antes de dar um leve suspiro. Ele colocou uma mão no meu ombro, apertando-o de leve, e seu olhar se suavizou.

— Shin, eu entendo que você quer melhorar, mas não precisa se forçar tanto assim. — Ele falou com um tom calmo, mas que carregava uma preocupação que suas palavras quase não conseguiam esconder. — É só sua primeira história. Não precisa ser perfeita.

Seiji, levantou a cabeça.

— Rintarou tem razão, cara. Dá um tempo pra você mesmo. A gente sabe que você leva a sério, mas, sei lá, dorme um pouco, pelo menos.

— Eu sei. Mas eu quero ganhar o prêmio do concurso — respondi de forma direta, deixando escapar mais do que eu planejava.

O silêncio que se seguiu foi instantâneo, como se eu tivesse acabado de largar uma bomba na mesa. Os dois pararam o que estavam fazendo e me encararam como se não tivessem ouvido direito.

— Concurso? Que concurso? — Rintarou finalmente quebrou o silêncio, sua voz baixa, mas cheia de surpresa.

Senti meu rosto esquentar e desviei o olhar.

— É... um concurso de escrita para novatos — admiti, tentando soar casual, mas minha voz parecia tremer levemente. — Achei que seria uma boa chance de testar minha história. Tenho certeza de que ela é boa o suficiente para ganhar.

A reação foi imediata. Seiji arregalou os olhos como se eu tivesse acabado de dizer que ia participar de uma competição mundial.

— Espera, espera... você se inscreveu num concurso de verdade? — Ele perguntou, se inclinando para mais perto de mim, os olhos brilhando de curiosidade. — Tipo, sério mesmo?

Assenti, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Seiji se virou para Rintarou.

— Cara, ele tá mesmo levando isso a sério! Ele nunca nos contou nada! — Disse, a voz uma mistura de surpresa e empolgação.

— E você escreveu tudo isso sozinho? — Rintarou perguntou, sua voz carregando mais admiração do que eu esperava.

— Ei, cadê a história? Deixa a gente ler de novo! Aposto que melhorou desde a última vez.

— Não, nem pensar! — protestei, balançando as mãos para afastar a ideia. — Ainda não está pronta pra ninguém ver!

— Qual é, Shin? Não seja tão tímido. — Seiji riu, se aproximando de mim com aquele brilho travesso nos olhos. — Vai, deixa a gente ler só mais um trecho! Ainda temos algum tempo antes da competição começar!

— Eu disse que não! — Insisti, tentando desviar enquanto ele começava a fazer cócegas em mim.

— Qual é! Por favorzinho! — Seiji implorou, enquanto continuava fazendo cócegas.

— Ei, para com isso! — Respondi entre risadas, enquanto tentava me afastar dele. 

— Só se prometer mostrar pra gente depois! — Seiji continuava, rindo junto comigo.

Rintarou observava a cena com um leve sorriso, balançando a cabeça.

— Seiji, deixa ele em paz. Ele vai mostrar quando estiver pronto — disse, e havia algo no tom dele que parecia quase um pedido por mim.

Seiji finalmente recuou, cruzando os braços com uma expressão fingida de indignação.

— Tá bom, tá bom. Mas olha lá, hein, Shin. Se você ganhar esse concurso e a gente não tiver lido a história antes, nunca vou te perdoar!

Ri, tentando recuperar o fôlego. Apesar das provocações, senti uma pontada de alívio ao perceber que eles realmente apoiavam minha decisão, mesmo sem entender completamente.

Então, a chamada para as corredoras dos 200 metros foi anunciada. A torcida gritava em apoio. Observei a pista e meus olhos pousaram nela.

Yuki parecia tão... linda, especialmente com o seu cabelo amarrado. 

— Em suas marcas... preparar... vai!

Elas começaram a correr. Ela liderava, correndo tão rápido e graciosamente que meu coração bateu mais forte. Ela conseguiu ganhar a corrida com tanta facilidade que não pude deixar de ficar admirado.

Seiji então percebeu meu olhar fixo nela.

— Se continuar olhando assim, ela vai perceber que você gosta dela — disse, rindo.

— Tá falando sério? — perguntei, tocando o rosto, tentando mudar minha expressão.

Fiquei envergonhado e saí dali, dizendo que ia cuidar dos equipamentos para a próxima modalidade.

Enquanto arrumava a corda para o cabo de guerra, ouvi Kazuki conversando com Yuki.

— Me compra uma bebida se o time azul ganhar — disse ele.

— Hã? Sem chance — respondeu Yuki, sorrindo.

— Pode ser uma água então.

— Você está bem confiante de que vai ganhar, Kazuki — disse ela, rindo.

— É claro, não tem como eu perder essa corrida — respondeu ele

— Então, se o seu time ganhar, eu compro um suco para você — disse ela, aceitando a aposta com um sorriso.

Eu observei a cena de longe, sentindo uma pontada de inveja e tristeza. Por que eu não conseguia falar com Yuki com a mesma facilidade que Kazuki? Parecia que, para ele, tudo era tão natural. Eles riam juntos, compartilhando momentos que eu só podia imaginar.

Cada sorriso de Yuki para Kazuki era como uma agulha perfurando minha autoconfiança.

Meus pensamentos começaram a girar. "O que há de errado comigo?" perguntei-me. "Por que minhas palavras sempre parecem se enrolar e me trair quando tento falar com ela?"

Lembrei-me de todas as vezes que tentei iniciar uma conversa e falhei miseravelmente. Minhas mãos suavam, minha garganta secava, as bochechas ficavam vermelhas e tudo o que eu conseguia fazer era gaguejar na frente dela.

Eu era realmente um idiota.

Eu também queria ser parte daquele mundo, compartilhar risadas e conversas despreocupadas com ela, mas, ao invés disso, me via preso em um ciclo de insegurança e silêncio.

Antigamente, os jogos eram a minha fuga, um refúgio onde eu podia ser quem quisesse. Mas naquele momento, a escrita havia se tornado esse novo espaço seguro — o único lugar onde eu podia expressar meus pensamentos sem medo de julgamento.

Porém, no mundo real, diante de Yuki, eu era apenas alguém tímido e desajeitado.

E, por mais que quisesse mudar isso, não sabia por onde começar.

O som distante do apito ecoou pelo campo, trazendo-me de volta à realidade. O Festival Desportivo ainda estava longe de terminar. E, no final das contas, eu teria que seguir em frente… mesmo com essa sensação incômoda dentro de mim.


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