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77.27% A Crônica do Contador de Histórias / Chapter 66: LXV. TORRENTE

Capítulo 66: LXV. TORRENTE

Torrente ficava a pouco menos de cinco quilômetros da Academia, do lado oposto do rio Ometh.

Como ficava a apenas dois dias de viagem de Notrean cavalgando num alazão veloz, inúmeros nobres ricos, políticos e homens da corte construíam suas casas lá. Era convenientemente próxima do centro de governo da República e, ao mesmo tempo, situava-se a uma distância confortável do cheiro de peixe podre, piche quente e vômito de marinheiros bêbados.

Era um refúgio das artes; haviam músicos, dramaturgos, escultores, dançarinos e praticantes de uma centena de outras artes menores, inclusive a mais humilde de todas: a poesia.

Os artistas iam para lá porque a cidade oferecia aquilo de que todos mais precisavam: um público apreciador e abastado.

Torrente também se beneficiava da proximidade da Academia. O acesso ao sistema de canalização e a lâmpadas de simpatia melhorava a qualidade de vida local. Era fácil obter vidro de ótima qualidade, por isso janelas e espelhos eram comuns. Óculos e outras lentes polidas, apesar de caros, eram prontamente encontrados.

Apesar disso, havia pouca afeição entre as duas cidades. A maioria dos cidadãos de Torrente não gostava da ideia de centenas de pessoas mexendo com forças sobrenaturais que seria melhor deixar em paz. Ao ouvir a fala do cidadão comum, era fácil esquecer que fazia quase 300 anos que essa parte do mundo não via um arcanista arder na fogueira.

Para ser justo, convém mencionar que a Academia também nutria um vago desprezo pela população de Torrente, que era tida como comodista e decadente. As artes tão altamente apreciadas no local eram vistas como frívolas pelos integrantes da Academia. Era comum dizer-se que os alunos que a abandonavam tinham "atravessado o rio", e isso significava que mentes fracas demais para o mundo acadêmico tinham que se resignar a improvisar com as artes.

E os dois lados do rio, em última instância, eram hipócritas.

Os estudantes se queixavam dos músicos frívolos e dos atores canastrões, depois faziam fila para comprar os ingressos dos espetáculos.

A população de Torrente reclamava de haver artes antinaturais sendo praticadas a menos de cinco quilômetros de distância, mas, quando um aqueduto ruía ou alguém adoecia repentinamente, corria a chamar engenheiros e médicos formados na Academia.

No cômputo geral, tratava-se de uma trégua antiga e incômoda, na qual os dois lados se queixavam mas conservavam uma tolerância relutante.

Afinal, essa gente tinha sua serventia; apenas não se gostaria de ver a própria filha casar-se com um deles...

Como Torrente era um importante refúgio para a música e o teatro, talvez você imagine que eu passava muito tempo lá, porém nada estaria mais longe da verdade. Só visitara a cidade uma vez.

Alastor e Leif tinham me levado a uma taberna em que um trio de músicos habilidosos tocava alaúde, flauta e tambor. Eu havia comprado uma cerveja pequena por meio lumen e relaxado, com a absoluta intenção de aproveitar a noite com meus amigos...

Mas não conseguira. Minutos depois de iniciada a música eu praticamente fugira do salão. Duvido muito que você possa entender por que, mas suponho ter de explicar, para que as coisas façam algum sentido.

Eu não suportava ficar perto da música e não participar dela. Era como ver a mulher amada deitar-se com outro homem. Não. Na verdade, não.

Era como...

Era como os papa-doces que eu vira em Notrean. A resina de dâmara era totalmente ilegal, é claro, mas isso não vinha ao caso na maioria dos pontos da cidade. Era vendida embrulhada em papel encerado, como uma bala ou um caramelo. Chupá-la inundava o sujeito de euforia. Êxtase. Contentamento.

Passadas algumas horas, porém, a pessoa tremia, tomada por uma ânsia desesperadora de consumir mais. Essa ânsia piorava quanto mais se prolongava o uso da substância.

Uma vez, em Notrean, eu vira uma mocinha de não mais de 16 anos com os reveladores olhos encovados e os dentes assustadoramente brancos dos viciados. Ela implorava um doce a um marinheiro que o segurava tentadoramente fora do seu alcance. O homem lhe dissera que ela o teria, se tirasse a roupa e dançasse para ele, bem ali, no meio da rua.

A moça se despira, sem se importar com quem estaria olhando, sem se importar com o fato de ser quase o auge do inverno e de ela estar em pé sobre 10 centímetros de neve. Havia tirado a roupa e dançado desesperadamente, seus membros magros e pálidos sacudindo em movimentos patéticos e trôpegos.

Depois, ao ver o marinheiro rir e abanar a cabeça, ela se prostrara de joelhos na neve, implorando e chorando, freneticamente agarrada às pernas dele, prometendo qualquer coisa, qualquer coisa...

Era assim que eu me sentia ao ver músicos tocarem.

Não podia suportar.

A falta cotidiana da minha música era como uma dor de dentes a que eu houvesse me acostumado; eu sabia conviver com ela, mas ver o que eu queria balançando bem na minha frente era mais do que eu conseguia aguentar. 

Por isso, evitei Torrente até o problema da taxa escolar de meu segundo período me obrigar a atravessar outra vez o rio. Eu fora informado de que Devi era a pessoa a quem qualquer um podia pedir empréstimos, por mais aflitivas que fossem suas circunstâncias.

Assim, cruzei o Ometh na Ponte de Pedra e segui para Torrente.


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